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Síndrome inflamatória multissistêmica em adulto com COVID-19

Síndrome inflamatória multissistêmica em adulto com COVID-19

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A síndrome inflamatória multissistêmica em crianças com COVID-19 é uma nova condição descrita, associada à exposição ao vírus SARS-CoV-2. Guarda semelhanças com a doença de Kawasaki ou síndrome do choque tóxico.

Aqui neste post pretendemos trazer relato de caso de homem adulto que se apresentou ao hospital de Nova Iorque com quadro de síndrome inflamatória multissistêmica Kawasaki-like, no contexto de infecção pelo novo coronavírus, similar àquela relatada em crianças.

Vamos ao caso:

Caso clínico de Síndrome inflamatória multissistêmica em adulto com COVID-19

Apresentação do caso

Paciente masculino, 45 anos, sem comorbidades, apresentou-se na emergência com história de 6 dias de febre, odinofagia, diarreia e dor bilateral em extremidades inferiores.

Apresentou também conjuntivite e exantema difuso. Relata ter cuidado da esposa que estava infectada com SARS-CoV-2 há duas semanas atrás. Negou sintomas respiratórios, não havia feito uso de nenhuma medicação.

Exames iniciais

  • Teste RT-PCR para SARS-CoV-2: positivo.
  • Radiografia de tórax: consolidações intersticiais difusas, típicas de COVID-19.
  • Sinais Vitas:
    • Febril, apesar de uso de antipiréticos (Tmax 39,4°C)
    • Hipotenso (PAS 80 – 90 mmHg)
    • Taquicardia com episódios de FA, com resposta ventricular rápida
    • Oxigenação complementar: 1 – 2L via cânula nasal

Exame físico

  • Cabeça e pescoço:
    • Injeção conjuntival não exsudativa, bilateral.
    • Edema em região esquerda de pescoço, com linfadenopatia palpável.
    • Edema periorbital com eritema.
    • Queilite labial;
  • Pele:
    • Pápulas eritematosas em alvo, e placas com escurecimento central, envolvendo dorso, palma, pescoço, couro cabeludo, tronco e coxas.
Apresentações da Síndrome inflamatória multissistêmica em adulto com COVID-19

Exames laboratoriais

  • Hemograma:
    • Leucocitose, linfopenia com linfócitos atípicos, neutrofilia, e neutrófilos em banda aumentados.
  • Hiponatremia
  • Elevação de enzimas hepáticas
  • Marcadores inflamatorios elevados (VHS, ferritina, PCR, D-dímero, procalcitonina e IL-6)
  • Troponinas e BNP elevados
  • Anti-HIV e culturas de sangue: negativos

Exames complementares

  • Tomografia contrastada de pescoço revelou inflamação e edema envolvendo pálpebra inferior bilateral e espaço pré-septal, bem como linfadenopatia suboccipital reativa (maior linfonodo medindo 1,8 cm).
  • Eletrocardiograma demonstrou elevações de ST nas derivações ântero-laterais, levando a cateterismo do coração esquerdo, que mostrou artérias angiograficamente normais.
  • Um ecocardiograma transtorácico subsequente apresentou hipocinesia global da parede ventricular esquerda, com leve a moderada redução da fração de ejeção (40%).
  • Um exame da lâmpada de fenda de ambos os olhos confirmou conjuntivite difusa com quemose, bem como a presença de células inflamatórias dentro da câmara anterior, indicativo de uveíte.
  • Uma biópsia da pele foi realizada em uma pápula no dorso, com histologia revelando raras coleções de neutrófilos com queratinócitos necróticos, e infiltrado dérmico de células mistas intersticiais esparsas, com alterações na interface vacuolar.

Diagnóstico e conduta

Devido à multiplicidade de sintomas do paciente, o mesmo fechou critério diagnóstico da AHA para Doença de Kawasaki, sendo diagnosticado com síndrome inflamatória multissistêmica Kawasaki-like.

Recebeu doses terapêuticas de heparina de baixo peso molecular, imunoglobulina intravenosa, e dose única do inibidor de IL-6 Tocilizumabe.

Após completados os dias de tratamento, o paciente mostrou significativa melhora clínica, recebendo alta após 9o dia de internamento.

Discussão do caso

A apresentação clínica do paciente acima compartilha uma impressionante semelhança com a nova síndrome inflamatória multissistêmica em crianças.

O paciente, com exceção da sua idade, encaixa-se na atual definição de caso proposta pela OMS e CDC. Sabe-se que em crianças, estas experimentam a doença como consequência pós infecção pelo SARS-CoV-2.

No entanto, no caso acima, permanece desconhecido se o paciente manifestou a síndrome após episódio de infecção assintomática pelo SARS-CoV-2, ou se a síndrome ocorreu como manifestação direta da infecção aguda.

O caso acima serve como alerta para a presença desta nova síndrome também em adultos, bem como ressaltar a melhora do paciente após administração de anticoagulantes, imunoglobulina e Tocilizumabe.

É importante reconhecer a possibilidade da síndrome inflamatória multissitêmica em adultos, associada à COVID-19. Mas também deve-se levar em conta que o caso pode ser isolado, e não representar o padrão de doença nos adultos.

Mais investigações serão necessárias para elucidar a questão da presença da síndrome em adultos infectados pelo SARS-CoV-2.

Confira o vídeo:

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