Pediatria

15 mitos e verdades sobre alimentação infantil | Colunistas

15 mitos e verdades sobre alimentação infantil | Colunistas

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1. É recomendado que a criança mame nas primeiras horas após o nascimento

VERDADE. Recomenda-se que o bebê seja amamentado nas primeiras quatro horas de vida e, se possível, logo na sala de parto. Essa ação permite o contato pele com pele, compartilhamento bacteriano, estímulo à produção de leite e a própria nutrição do bebê. Ele deve ser feito a não ser que exista alguma limitação – como a infecção da mãe por HIV ou vírus T linfotrópico humano – ou que o bebê não tolere a amamentação – como em bebês com galactosemia. Abuso de drogas, psicose e neurose graves por parte da mãe também são contraindicações à amamentação.

 2. Introdução de alimentos antes dos seis meses complementa a amamentação

MITO. A introdução alimentar precoce é desencorajada pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria, que recomendam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade. O leite materno contém todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento da criança nesse período. Além disso, ele tem a vantagem de limitar o contato do bebê com bactérias e o consequente desenvolvimento de distúrbios gastrointestinais, diminui a incidência de doenças alérgicas e intolerância a leite de vaca, passa ao bebê anticorpos e imunoglobulinas, e ainda permite a criação de um laço físico e psicológico entre mãe e criança durante o ato da amamentação. A necessidade de outras fontes de alimento chega apenas após os seis meses, quando a alimentação complementar deve ser introduzida gradativamente.

 3. Mamadeira com farinha ajuda o bebê a dormir melhor

MITO. Esta é uma falácia espalhada não só na cultura popular, como nos próprios meios de comunicação. A adição de farinha na mamadeira de uma criança que não possui o trato gastrointestinal plenamente desenvolvido faz com que ela demore mais para digerir essas substâncias, podendo ter como consequência desconforto e distensão abdominal diante da quantidade excessiva de açúcares. O motivo da criança dormir mais e despertar menos vezes é a dificuldade que seu corpo encontra em digerir a refeição, que, além de aumentar sua glicemia, fornece baixa quantidade de fibras.

 4. São necessários complementos ao leite materno

MITO. A introdução de complementos à amamentação durante os primeiros seis meses é contraindicada pela Organização Mundial de Saúde, visto que reduz a duração do aleitamento materno e prejudica a absorção de ferro e zinco. Essa regra se aplica até mesmo a água e chás, que não têm grande valor nutricional nesse período.

 5. Existe um número determinado de vezes para a criança mamar durante o dia

MITO. Os lactentes possuem uma grande variação no comportamento alimentar, especialmente durante as primeiras semanas de vida. O tempo de esvaziamento do estômago imaturo pode durar de uma a quatro horas e o volume médio ingerido é de 60-90ml por mamada, de seis a nove vezes ao dia. No entanto, não existe uma frequência definitiva para as mamadas, que devem sofrer a autorregulação do bebê.  O Ministério da Saúde preconiza a alimentação à livre demanda, que se adequa em frequência e volume ao longo do primeiro mês, até assumir maior regularidade à medida que a criança passa a consumir mais leite em cada refeição. Ao final do primeiro ano de vida, o intervalo é, em geral, de três a cinco horas entre alimentações.

 6. Mamilos retraídos ou invertidos sempre inviabilizam a amamentação

MITO. Mães com mamilos retraídos ou invertidos podem enfrentar maiores dificuldades no momento da pega, mas, com o auxílio dos profissionais de saúde e com o uso da bomba mamária manual, a amamentação pode ocorrer sem maiores dificuldades para mãe e bebê. Recomenda-se o uso diário da bomba mamária manual nas semanas antes do parto em mulheres com mamilos retraídos, e, no caso de mamilos invertidos, a Sociedade Brasileira de Pediatria indica o uso de conchas e protetores flexíveis para viabilizar a amamentação.

 7. É normal a criança recusar um alimento na primeira vez que o experimenta

VERDADEIRO. Durante a introdução alimentar, o bebê entra em contato com cores, sabores e texturas muito diferentes das características do leite materno. Dessa forma, pode recusar alimentos nas primeiras tentativas e essa recusa é comum também ao longo do segundo ano de vida – a criança pode ter reações diferentes se o alimento for apresentado algumas semanas depois ou de forma isolada. Deve-se, no entanto, prestar atenção caso itens básicos da alimentação, como cereais e leite, forem rejeitados repetidamente, devendo-se investigar alergias alimentares e planejar a substituição dessas fontes de nutrientes por itens alternativos.

 8. Mel deve ser evitado no primeiro ano de idade

VERDADEIRO. A identificação de esporos de Clostridium botulinum corroborou para a consenso de que o mel deve ser evitado no primeiro ano de vida como medida de saúde pública, mitigando, assim, casos de botulismo infantil.

 9. Leite de vaca é um ótimo substituto quando a amamentação não é possível

MITO. O leite da vaca é difundido como um alimento rico em proteínas e gorduras, sendo ideal para o crescimento de crianças. No entanto, ele não é capaz de substituir o leite materno ou as fórmulas aprovadas pela ANVISA. O leite de vaca possui quantidades inadequadas de proteínas, sódio, ferro e ácido linoleico e aumenta a perda intestinal de sangue, predispondo um quadro de anemia ferropriva. Sendo assim, o consumo de leite de vaca, especialmente o desnatado, não é recomendado para crianças menores de um ano de idade.

 10. Criança gordinha é criança saudável

MITO. Tem-se a noção de que crianças devem crescer e ganhar peso durante os primeiros anos de desenvolvimento. O ganho de peso, no entanto, não é um indicador absoluto de saúde. Se alimentado com uma dieta rica em gordura, o bebê pode chegar a uma condição de ganho de peso acompanhada de retardo do esvaziamento gástrico, distensão e desconforto abdominal. Já dietas ricas em carboidratos causam fermentação intestinal indevida e flatulências. O ideal é fazer a introdução alimentar acompanhada do leite materno e priorizar sempre alimentos com alto valor nutricional para impulsionar o desenvolvimento da criança.

 11. O bebê suga mais facilmente na mamadeira que no seio materno

VERDADEIRO. A mamadeira é um artifício usado com frequência devido a sua praticidade e facilidade de aderência da criança. Dependendo do furo no bico, a criança faz um menor esforço para alimentação e pode acabar até por preferir a mamadeira à mamada no seio. No entanto, o Ministério da Saúde recomenda a amamentação ou, caso não seja possível, o uso do copinho. Isso se deve ao prejuízo que a mamadeira gera ao deixar de desenvolver corretamente a musculatura facial, visto que o movimento da boca e da língua usado para a sucção da mama é diferente do da mamadeira. Além disso, deve-se restringir o uso de apoiadores de mamadeira, que podem facilitar o desenvolvimento de otite média no lactente.

 12. A introdução alimentar deve se iniciar com alimentos pastosos

VERDADEIRO. Desde o início, deve-se procurar apresentar à criança refeições amassadas, evitando usar o liquidificador e a peneira, preservando assim sua integridade nutricional. Aos poucos, a família poderá apresentar alimentos de consistência aumentada de acordo com a evolução da criança.

 13. A alimentação da família influencia na da criança

VERDADEIRO. Ao final do segundo ano de vida, a criança já deve ser capaz de sentar-se à mesa com a família e compartilhar as refeições. Antes disso, no entanto, ela já tem contato com o quotidiano alimentar da casa, espelhando os comportamentos dos pais. Fica difícil manter o interesse da criança em comidas saudáveis sem o exemplo e estímulo por parte dos outros membros da família.

 14. Alimentos ricos em gordura, sal e açúcar devem ser evitados

VERDADEIRO. É importante evitar a oferta de alimentos ricos em sal e açúcar à criança antes do primeiro ano de idade, visto que podem influenciar nos hábitos e preferências alimentares futuros e predispor agravos como anemia, alergias, sobrepeso, obesidade, dislipidemias, hipertensão arterial e diabetes. Alimentos industrializados tendem a conter muito sal, sendo incluídos nesse grupo.

 15. Algumas mães produzem um leite mais “fraco”

MITO. O leite inicialmente produzido pela mãe é de coloração clara e aspecto fino. Apesar de não parecer, o colostro possui menos gordura que o leite maduro e é rico em anticorpos, fatores de crescimento, vitamina A, sódio e zinco. Tem ainda um efeito laxante que facilita a eliminação de mecônio, prevenindo, assim, quadros ictéricos. Depois de uma semana, a mãe passa a produzir o leite de transição e, no 15º dia, o leite maduro. Esses possuem maior quantidade de gorduras e nutrientes voltados para o desenvolvimento da criança nesse estágio, possuindo também o aspecto clássico popularmente esperado do leite materno.