Prestes a completar 50 anos desde a primeira publicação de Takao Sakita e seus colaboradores, vamos entender a história, no que consiste a classificação de Sakita e qual a sua importância.
História
Desde os anos 60, através da então disponível na época, gastrocâmera, Sakita direcionava seus estudos à lesão ulcerada gástrica do câncer precoce, porém, a gastrocâmera possibilitava observar as características da lesão, mas não era possível a realização de biópsias através dela; em 1964, foi desenvolvida a gastrocâmera com fibroscópio e, conforme ocorriam as melhorias, biópsias, ressecção de pólipos, terapia da úlcera através de injeção de drogas, dentre outros procedimentos, passaram a se tornar possíveis.
Em maio de 1971, foi feita a primeira publicação descrevendo seus estudos, sob o título “Observations on the Healing of Ulcerations in Early Gastric Cancer: The life circle of the malignant ulcer”, e publicada no periódico Gastroenterology, iniciando o que viria a ser, até os dias atuais, uma das mais importantes ferramentas para a avaliação de lesões ulcerosas gástricas. A princípio, a classificação foi feita para avaliação do câncer precoce, porém, observou-se que a lesão poderia cicatrizar e sofrer uma recidiva, sendo assim chamado de ciclo evolutivo do câncer.
Em 1973, seu estudo publicado sob o título “Endoscopy in Diagnosis of early ulcer cancer”, no periódico Clinics in Gastroenterology, em estudo específico para achados endoscópicos, Sakita descreve a progressão da lesão ulcerada gástrica e nota que o câncer gástrico não tem relação com a úlcera péptica, ou seja, não resulta de sua degeneração, porém, o câncer precoce e a úlcera péptica seguem o mesmo ciclo evolutivo, classificado por Sakita pelas letras A (active – ativa), H (healing – em cicatrização) e S (scar – cicatrizada).
Os primeiros estudos de Sakita foram direcionados para elucidar o câncer precoce, posteriormente, demais endoscopistas observaram que o ciclo evolutivo e sua classificação poderiam se aplicar também à lesão péptica.

Classificação de Sakita
A classificação de Sakita consiste na caracterização dos estágios evolutivos de uma lesão ulcerada gástrica, e somente utilizada para lesão ulcerada benigna, porém, por sua semelhança evolutiva com o câncer precoce, há a necessidade de ser biopsiada.
É mais fidedigna em lesões agudas pois, em caso de recidiva, pode haver sequelas prévias, podendo assim alterar sua morfologia e estadiamento, sendo seu ciclo evolutivo classificado em três fases, e cada fase subdividindo-se em outras duas, sendo elas:
A – Active: A1, A2
H – Healing: H1, H2
S – Scar: S1, S2
A classificação de Sakita é utilizada para caracterização da lesão ulcerada gástrica e duodenal; no caso da úlcera duodenal, em quase sua totalidade, a biópsia não se faz necessária pois raramente são malignas. A biópsia só é recomendada caso seja observada alguma alteração não habitual, para que sejam descartadas causas não pépticas.


A importância da classificação de Sakita
A classificação de Sakita é um dos aspectos mais importantes na caracterização de uma lesão ulcerada quanto a sua fase evolutiva, é fundamental, pois demonstra os diversos estágios de uma mesma doença, nos mostrando, através de seu ciclo evolutivo, que o fato da lesão estar cicatrizada não representa necessariamente a cura da doença, o ciclo de atividade – cicatrização – cicatriz e, novamente, atividade, mostra as recidivas possíveis de uma doença complexa, como é o caso da doença ulcerosa péptica e do câncer gástrico.
É também de suma importância na conduta terapêutica. Através da análise do estágio em que se encontra a lesão, o médico tomará as medidas apropriadas para cicatrizar a lesão ou para que não ocorra novamente sua atividade, havendo uma abordagem voltada para a terapêutica.
Após 50 anos do primeiro estudo publicado por Sakita, vemos o quanto foi inovador, e, mesmo com a evolução da endoscopia digestiva e seus métodos de avaliação, ele continua atual e indispensável para a devida avaliação das lesões ulcerosas gástricas.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências
Boris Barone, Luiz Chehter. (2009). Einstein: Educ Contn Saúde. Fonte: http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/958-ECv7n19-10.pdf
Julio Pereira Lima, Carlos Eduardo O. dos Santos, Everson Luiz de Almeida Artifon, José Celso Ardengh, Asadur J. Tchekmedyian. (2019). Endoscopia Digestiva na Prática Clínica (1a ed.). Rio de Janeiro: Elsevier.
Machinski, J. M. (2020). SanarMed Colunistas – Doenças Ulcerosas Pépticas (DUP) e Classificações. Fonte: SanarMed: https://www.sanarmed.com/dup-e-classificacoes-colunistas
Sakita, T. (1973). Endoscopy in the diagnosis of early ulcer cancer. Clinics in Gastroenterology, pp. volume 2, número 2, pag 345-360.
Sakita, T., Oguro, Y., Takasu, S., Fukutomi, H., & Miwa, T. (1971). The Development of Endoscopic Diagnosis of Early Carcinoma of the Stomach. Japanese Journal of Clinical Oncology, 1(2), 113-128. Acesso em 5 de 1 de 2021, disponível em https://academic.oup.com/jjco/article/1/2/113/821749
Schilioma Zatterka, Jaime Natan Eisig. (2016). Tratado de Gastroenterologia: da graduação à Pós-graduação (2a ed.). São Paulo: Atheneu.
TAKAO SAKITA, M. Y. (maio de 1971). OBSERVATIONS ON THE HEALING OF ULCERATIONS. GASTROENTEROLOGY, pp. 835-844. Fonte: https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(71)80082-3/fulltext