Carreira em Medicina

7 Dicas para melhorar hoje mesmo sua empatia médica | Colunistas

7 Dicas para melhorar hoje mesmo sua empatia médica | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Desde que você entra na faculdade até provavelmente o atual momento de sua carreira, seja ela de acadêmico ou profissional, muito se ouve falar na importância da empatia médica em nossa formação.

Infelizmente, na maior parte dos exemplos que temos, muitos tópicos (que são importantes, sim) acabam sobrepondo o tema da empatia, como excesso de temas técnicos para estudar, enfermarias para evoluir, pacientes para atender e assim por diante.

Então, separei 7 dicas que podem te ajudar a avaliar e melhorar o seu grau de empatia médica hoje mesmo.

1. Fazer-se entendido

Do nível primário ao hospitalar, o médico eventualmente terá que lidar com excesso de pacientes, excesso de pessoas, fora o fato dos múltiplos vínculos profissionais que acabam sendo feitos e aceitos. Por estes motivos, a vida pode acabar sendo uma correria, ou, ao menos, parte dela. É necessário, então, atentar-se a uma característica simples e essencial: a de deixar as coisas claras, mesmo em tempo escasso.

Dito isto, você não precisa explicar a farmacologia dos medicamentos ou toda a parte fisiológica de determinada célula, mas seu paciente ou o responsável por ele tem que saber o motivo dos exames, medicamentos, tratamento, etc., como também a forma de fazê-los. Isso deve ser claro para que o mesmo não fique indo a outros médicos ou mesmo voltando até você para tirar dúvidas que nem deveriam existir, de maneira a evitar a criação de um verdadeiro “telefone sem fio” de informações médicas.

2. Dilema das expectativas

Lembre-se sempre que todo paciente que vai a uma consulta médica, vai com alguma expectativa na cabeça, seja ela da cura de uma doença, alívio de alguma dor ou mesmo a resolução de todos os problemas de sua vida (sim, há pacientes que vão pensar isso); isso também vale para aquela visita ao leito.

Então, nunca faça pouco das queixas de seu paciente ou dê menos atenção por ser uma “queixa boba”. Você não precisa focar em coisas que sabe que não são a prioridade atual, mas conduza uma boa conversa e deixe claro o que é prioridade no momento, e quanto às outras coisas mais simples ou que podem esperar, será dada a devida atenção no médio/longo prazo. Isto vale principalmente para você que trabalha em Atenção Básica: quem nunca teve aquele paciente idoso Hipertenso/Diabético descompensado que estava preocupado com a manchinha estética no rosto? Sim, a manchinha é importante para ele, mas ele tem que entender ali o que mais oferece riscos à sua saúde.

3. Você é a autoridade

Seja no consultório em uma consulta marcada, seja no leito de paciente internado, ou mesmo em um ambiente informal fora do trabalho, você é autoridade. As pessoas o terão como referência e confiarão na sua palavra. Tanto o paciente quanto os familiares irão querer ser supridos com informações preciosas e com o melhor arsenal médico que você puder oferecer, então, lembre-se do poder de sua posição.

Às vezes não atentamos a coisas simples como orientações gerais: melhora de dieta, atividade física, cessar tabagismo/alcoolismo, passando rapidamente por estes e muitos outros tópicos. Todavia, não são poucos os casos de pacientes que iniciaram/pararam determinada atividade “porque o médico falou”. A palavra de autoridade tem poder: o óbvio precisa ser dito, porque o óbvio precisa ser feito.

4. Coisa rápida

Esta dica funciona principalmente para você que trabalha na rede pública, onde geralmente aquele contato que o paciente terá com o médico talvez seja o único em muito tempo, e às vezes aparecerão algumas coisas não muito pertinentes ao seu ofício no momento, como dar uma olhada em algum exame, ajustar/renovar a receita antiga daquele hipertenso do pronto-atendimento, relembrar àquela mulher de meia idade a importância da mamografia e do preventivo, ou mesmo fazer um encaixe importante na agenda.

Lembre-se que há a grande necessidade do bom senso. Não é para lotar ambulatórios ou transformar um pronto-atendimento em PSF, mas, se houver o tempo e for de fato importante/pertinente, por que não fazer aquela coisa rápida que trará impacto positivo na vida de seu paciente? Não esqueça de sempre diferenciar aqueles que possuem real necessidade daqueles que querem apenas agir de má fé e aproveitar o momento ou boa vontade do profissional.

5. Pacientes com barreiras comunicativas

Nessa classe englobo todos aqueles pacientes que terão alguma dificuldade de comunicação ou entendimento, seja por deficiências físicas, educacionais ou culturais. Por vezes, atenderemos pacientes cegos, surdos, analfabetos, imigrantes que não entendem a língua portuguesa, entre outros, o que acaba criando uma barreira comunicativa tanto na hora de conversar, quanto de escrever.

Idealmente, esses pacientes costumam vir com algum acompanhante, então, o acompanhante acaba sendo a ponte para um melhor entendimento do que se passa. Mas, existem os casos em que aquele paciente idoso que não sabe ler e já não enxerga tão bem, vai aparecer sozinho em seu consultório. Aqui, há de se ter paciência.

A primeira coisa a se fazer nos casos de paciente com dificuldades comunicativas e que esteja sozinho, é solicitar ao mesmo trazer alguém junto nas próximas consultas, mas você não pode depender disso, então procure maneiras de simplificar/adequar a comunicação, seja com letras maiores, desenhos explicativos dos comprimidos e horários nos receituários, ou mesmo procurando alguém para auxiliar na conversa (você ficará surpreso na quantidade de gente que entende linguagem de libras ou mesmo outras línguas estrangeiras). O importante é o paciente entender o que deve ser feito.

6. Condições financeiras

No serviço público ou mesmo em consultórios particulares, principalmente naqueles especialistas que possuem filas lotadas no SUS, teremos pacientes de baixa renda que juntaram dinheiro para uma única consulta. Na hora de prescrever ou orientar, cuidado para não pesar a mão na caneta. Há sempre a necessidade de analisar as possíveis alternativas e condições financeiras do paciente, pois, se você prescreve “o melhor medicamento”, que também é o mais caro, muitas vezes o paciente fica com vergonha, pega a receita e vai embora com um sorrisinho, mas não toma o remédio.

Isso também vale para a situação oposta. Às vezes, no serviço de atenção básica/SUS em geral, nos habituamos a prescrever apenas o que está nas prateleiras da farmácia do PSF, sendo que podemos realizar uma terapêutica um pouco mais efetiva/satisfatória com medicamentos comprados. Portanto, aqui a conduta é simples: converse sobre a condição financeira do seu paciente e ofereça opções a ele; procure também saber o preço daquilo que você costuma prescrever habitualmente. Com a prática esse é um problema facilmente contornável, mas que se não for dada a devida atenção, pode sim causar danos à saúde daquele que vai até você.

7. Amor de alguém

Por último, e não menos importante, sempre que conversar, examinar ou tratar um paciente, lembre-se sempre: essa pessoa é o amor da vida de alguém. É prudente, ao falar ou tocar outro ser humano, imaginar como você gostaria que fizessem se ali estivesse alguém muito querido por ti, ou mesmo você próprio, afinal, é aqui que mora a essência da empatia.

Talvez seja fácil escrever e pontuar todas essas dicas e características, mas o principal mesmo é adaptá-las a sua realidade, uma vez que encontraremos todo tipo de gente, dos mais variados níveis socio-educacionais, fora o fato de que cada profissional trabalha em níveis de ambientes diferentes.

Em geral, uma mensagem deve ficar clara em sua mente: empatia médica, mais do que uma forma de exercer a medicina, é uma forma de exercer a humanidade.

Fabrício Mateus

Médico formado pela Universidade Federal de Mato Grosso, atualmente cursando Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade no Hospital Geral Universitário (Universidade de Cuiabá).

Instagram: @DrFabricioMateus (https://www.instagram.com/drfabriciomateus/)