Coronavírus

80% dos recuperados de COVID-19 tiveram sequelas cognitivas

80% dos recuperados de COVID-19 tiveram sequelas cognitivas

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Imagem de perfil de Sanar

Um levantamento inédito feito pelo Instituto do Coração (InCor) com recuperados de COVID-19 descobriu que 80% dos participantes da pesquisa tiveram sequelas cognitivas, como dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória e diminuição da coordenação motora.

Coordenado pela neuropsicóloga Lívia Stocco Sanches Valentin, o estudo deixa evidente que a recuperação física nem sempre implica em recuperação cognitiva. “Daí a importância de se incluir na avaliação clínica dos pacientes pós-COVID-19 de qualquer gravidade sintomas de problemas cognitivos, como sonolência diurna excessiva, fadiga, torpor e lapsos de memória”, disse a especialista, em comunicado oficial.

A descoberta é tão importante que a Organização Mundial da Saúde (OMS) está aguardando os resultados finais do estudo para adotar a metodologia desenvolvida na pesquisa como padrão-ouro em âmbito mundial no diagnóstico e na reabilitação da disfunção cognitiva pós-COVID.

Outros estudos já tinham detectado a persistência de manifestações neurológicas após a infecção por SARS-CoV-2, como o realizado por Clarissa Lin Yasuda, professora da Universidade Estadual de Campinas.

Das 4.500 pessoas que responderam um questionário online realizado pela médica, 34% afirmaram ter sonolência diurna e dores de cabeça dois meses após a doença, e 40% relataram alterações de memória.

Por isso, médicos de diversas especialistas recomendam um check-up geral para pacientes recuperados, mesmo aqueles que tiveram sintomas leves da doença ou que não identificaram sequelas ainda.

Diagnóstico via jogo

A pesquisadora do InCor usou o jogo digital MentalPlus, criado por ela em 2010 com o objetivo de detectar possíveis disfunções neurológicas em pacientes prejudicados após o uso de anestesia geral profunda.

No caso das implicações relacionadas à COVID-19, Valentin disponibilizou o jogo para 185 pessoas que testaram positivo entre março e setembro de 2020. Os participantes eram diversos, com diferentes idades, classes sociais e estágio da doença (leve, moderado ou severo). Atualmente, a pesquisa está sendo ampliada para 430 pacientes.

Alguns dos relatos que ouviu durante o estudo passam por dormir repentinamente enquanto anda de bicicleta ou toma banho, não saber se fez refeições e até desaprender a andar de moto.

Em entrevista à CNN Brasil, o publicitário Pedro Peres, que participou da pesquisa, descreveu seus sintomas de confusão mental. “De não conseguir distinguir as coisas. É uma fração de segundo, parece que o corpo está tentando reagir, aí tem uma travinha e solta”.

Além de confusão mental, dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória, problemas de compreensão ou entendimento e mudanças comportamentais e emocionais, o estudo também detectou diminuição na capacidade visuoperceptiva.

“Muitas pessoas perderam a coordenação motora e caem muito”, afirmou Valentin, explicando que os exames de ressonância magnética demonstram que a função executiva é afetada em pessoas que já contraíram o SARS-CoV-2.

“Em uma pessoa saudável, essa função faz com que ela planeje o dia e busque estratégias para atenuar problemas, por exemplo. Se a pessoa perde essa função ou se ela ficar comprometida, isso pode interferir no trabalho e nas relações sociais, e, com isso, levar à depressão, ansiedade, angústia e agressividade”.

Reversão do quadro com recuperados de COVID-19

Essas sequelas acontecem, segundo o estudo, porque o vírus entra pelas vias aéreas, compromete o pulmão e, com isso, baixa o nível de oxigênio. Essa dessaturação afeta diretamente o cérebro e acomete o sistema nervoso central, causando o comprometimento de algumas funções.

A boa notícia é que com exercícios específicos o quadro pode ser revertido. O próprio jogo digital MentalPlus também está ajudando os participantes na recuperação das sequelas.

“A gente sugere que se faça exercícios aeróbicos e de concentração simples, como yoga, pilates. E também aqueles que estimulem o cérebro”, explicou a neuropsicóloga do InCor à CNN Brasil.

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