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A disseminação das campanhas antivacinas | Colunistas

A disseminação das campanhas antivacinas | Colunistas

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As campanhas antivacinas já possuem um histórico no Brasil, após a imunização ter sido instaurada de forma compulsória em 1904, no Rio de Janeiro, pelo Diretor Geral de Saúde Pública Oswaldo Cruz, com a finalidade de imunizar a população contra a varíola. Isso causou uma rejeição, principalmente pela população mais pobre, que não tinha acesso à informação de como o imunizante funcionava, passando a temer a medida imposta pelo governo de maneira autoritária. Tais grupos antivacinas foram surgindo com o discurso em defesa ao direito de liberdade de escolha da população, criticando essa imposição da vacina, que passou a ser denominada injeção de “veneno”. No entanto, foi em outro momento da história global que os grupos antivacinas ganharam força e mais adeptos, após a publicação de um artigo fraudulento do médico Andrew Wakefield, na revista britânica The Lancet, em 1998, que relaciona a síndrome de espectro do autismo com a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola),  mas esta relação foi descartada pela comunidade científica em novos estudos.

O movimento antivacinação foi adicionado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na lista sobre os dez maiores riscos à saúde global. Pois podem ser perigosos para as doenças que possuem seu combate ameaçado por esses movimentos, como: poliomielite, sarampo e atualmente a Covid -19. E esses movimentos estão cada vez mais intensos no Brasil e medidas de combate devem ser pensadas, pois assim como o saneamento básico, esgoto tratado e água potável fazem parte do sistema de saúde pública, as vacinas também estão inclusas. Além disso, as vacinas têm sua parcela de responsabilidade no aumento da expectativa de vida, porque diminuíram a mortalidade infantil.

Além desses movimentos, a queda na cobertura vacinal pode ter outros motivos, desde o subfinanciamento das propriedade de saúde pública, questões logísticas, como aquisição e distribuição, ausência de campanhas de conscientização da população e também a dificuldade de acesso das famílias aos serviços essenciais de saúde. Isso ocorre mesmo com o Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, que coordena as ações de imunização desenvolvidas pela rede pública de saúde brasileira.

Essas campanhas antivacinas foram as responsáveis pela criação de teorias conspiratórias sobre a vacina contra a covid -19 no início da campanha, fazendo com que a população duvidasse da sua eficácia, e assim, são considerados os principais motivos da não vacinação as crenças pessoais de que a vacina pode causar doença e pode não funcionar , além do medo gerado pelos possíveis efeitos colaterais que podem aparecer.  

Além disso existem outras teorias que circulam nas redes sociais dos grupos antivacinas que incluem as teorias de conspiração; alteração de DNA; Bill Gates; chips nas vacinas; que elas causam autismo; que contém mercúrio, fetos abortados, e ainda os perigos e ineficácia das vacinas, as pessoas estão compartilhando e acreditando nessas informações erradas.

Foto: Temas abordados nas publicações.
Fonte: Jornal da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto: Campanha de desinformação sobre vacina contra covid avança com testes no brasil

Segundo a OMS, outras  razões pelas quais as pessoas escolhem não se vacinar são complexas e incluem falta de confiança, baixo nível de escolaridade e renda, complacência, medo de reações adversas, por orientação médica, Tem aqueles que alegam motivos religiosos, filosóficos e costume familiar e cultural da vacina, para não se vacinar ou vacinar seus filhos. E ainda, a desinformação dos próprios profissionais de saúde e o descaso da divulgação sobre o ato de se vacinar. No entanto, essa atitude do indivíduo de não se vacinar e vacinar seu filho não traz perigo somente a eles, mas para as pessoas em seu convívio. Contribuindo para a redução da imunização populacional em geral e também para o aumento da possibilidade da volta de surtos de doenças que já tinham sido controladas.

As vacinas promovem a produção de anticorpos específicos contra o antígeno que invade nosso organismo, neste contexto, o vírus, acarretando em reações imunológicas que com a entrada desta partícula é produzida uma memória e assim, prepara o organismo, caso tenha uma futura invasão do antígeno vivo, levando a uma resposta imunológica mais rápida e eficiente. Ou seja, a vacina atenua ou até evita de maneira completa as doenças e suas consequências, evitando que pessoas vacinas adoeçam, além disso tem a capacidade de impedir que  a disseminação patológica ocorra pelas comunidades.

Sabe-se que as pessoas passaram a recorrer cada vez mais às mídias sociais para se informar e formar opiniões. E é nessa situação que encontram-se as páginas antivacinas, que apresentam seu conteúdo vinculado à sites estrangeiros de caráter antivacinacionista, considerando que o movimento é mais forte em países europeus e no Estados Unidos. causando resistência das pessoas, que duvidam do governo e da indústria farmacêutica, temendo os efeitos colaterais, e defendendo a liberdade de escolha e o direito ao próprio corpo. Mesmo sendo notícias sem cunho científico, muitas vezes copiadas de blogs que pregam tratamentos de saúde sem intervenção de químicos ou relatos de pais sobre os efeitos colaterais das vacinas.

Como combater?

Para combater a disseminação das informações errôneas e grupos antivacinas, os profissionais e estudantes da área da saúde precisam estar atentos, informados e atualizados para saber como orientar as pessoas sobre os riscos de sua recusa e os benefícios da vacinação trazidos por ela e para a saúde pública, além da qualidade de vida dos cidadãos. Já que a imunização é cientificamente comprovada, como a maneira mais eficaz de evitar e atenuar doenças.

Para isso é importante trazer informações de qualidade e de fontes com bases e dados científicos, de maneira didática, acessível e com linguagem clara, para combater o movimento antivacinas e negacionistas no país, levando assim, uma mensagem objetiva para a população brasileira sobre a necessidade e importância da vacinação em massa contra a Covid-19.

 Autora: Karina Paez

Instagram: @karinapaez21

O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Referências:

ANAIS XVI MOSTRA DE SAÚDE, 2019, Anápolis. Dimensões e consequências do movimento antivacina na realidade brasileira […]. Revista Educação em Saúde: [s. n.], 2019. 120-125 p. v. 7. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/234552458.pdf. Acesso em: 25 fev. 2021.

DIAS, Luiz Carlos. Movimento antivacinas: uma séria ameaça à saúde global. Jornal da Unicamp, [s. l.], 21 set. 2020. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-carlos-dias/movimento-antivacinas-uma-seria-ameaca-saude-global. Acesso em: 23 fev. 2021.

Movimento Antivacina é uma das dez ameaças para a saúde mundial. Sociedade Brasileira de Medicina Tropical , [s. l.], 11 abr. 2019. Disponível em: https://www.sbmt.org.br/portal/anti-vaccine-movement-is-one-of-the-ten-threats-to-global-health/. Acesso em: 25 fev. 2021.

SHIMIZU, Natiely Rallo. MOVIMENTO ANTIVACINA: A MEMÓRIA FUNCIONANDO NO/PELO (PER)CURSO DOS SENTIDOS E DOS SUJEITOS NA SOCIEDADE E-URBANA. 2018. 87-97 p. Tese (Mestranda em Divulgação Científica e Cultural no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo) – Universidade Estadual de Campinas, Revista do 5° Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura de Campinas, 2018. Disponível em: http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/edicc/article/download/5963/7310. Acesso em: 24 fev. 2021.