Índice
A ultrassonografia morfológica no primeiro trimestre gestacional é um exame realizado nos três primeiros meses da formação fetal. Dentre sua vasta finalidade, com ela pode ser possível analisar a viabilidade dos fetos, idade gestacional, gestações gemelares, anatomia do feto e até mesmo avaliar risco de aneuploidias fetais.
Com o intuito de ser mais eficaz, é recomendado que se faça o exame pela primeira vez entre a décima primeira semana e décima quarta, aproximadamente. Vale ressaltar que, para ter um exame bem-sucedido, é necessário que se tenha conhecimento da utilização do equipamento e sua aplicabilidade, assim como compreender os principais processos do desenvolvimento e as principais anormalidades que podem acometer um embrião durante o primeiro trimestre.
O primeiro trimestre gestacional
É de suma importância entender que o primeiro trimestre é o mais crítico no que tange ao desenvolvimento fetal intrauterino, visto que as modificações mais extremas ocorrem nele. É a fase que tem início com a formação do zigoto e finaliza por volta da 14ª semana gestacional. A fase tem início com as diversas alterações celulares que irão fixar o zigoto na parede uterina, e também ocorre a formação dos anexos embrionários. Nas duas primeiras semanas, o embrião inicia o processo de nidação uterina, seguido de formação da cavidade amniótica, disco embrionário e desenvolvimento do saco coriônico.
Durante a terceira semana subsequente, o embrião em formação passa por mais modificações, visto que se inicia a gastrulação. Ou seja, o embrião passa a ser um disco embrionário trilaminar, com ectoderma, endoderma e mesoderma. Sendo assim, a morfogênese, que, posteriormente, será analisada via ultrassonografia, tem início. Ademais, percebe-se a gênese de importantes sistemas, como o cardiovascular, com o início da vasculogênese e angiogênese. Outro sistema é o sistema neural, com início da neurulação, originando a placa e o tubo neural. E, por fim, as vilosidades coriônicas começam a ser formadas.
Adiante, durante a quarta até a oitava semana, mais mudanças ocorrem. O embrião sofre dobramento, tornando-se mais cilíndrico. Outras modificações são perceptíveis: agora o coração primitivo está formado, podendo bombear sangue. Os pequenos brotos de membros superiores também podem ser vistos em torno do vigésimo sexto dia aproximadamente. Nas semanas seguintes, o embrião começa a conseguir responder a estímulos, por meio de reflexos ao toque, por exemplo. Subsequentemente, tem-se desenvolvimento dos primórdios dos dedos e, também, dos membros inferiores primitivos.
Da nona semana em diante, as modificações e transformações são cada vez mais visíveis. Na décima segunda, por exemplo, o sexo já pode ser distinguível via ultrassonografia. Logo em seguida, a cabeça passa a ficar mais ereta, os membros inferiores estão bem desenvolvidos. A partir da décima quinta semana, o feto entra no segundo trimestre gestacional, apresentando, cada vez mais, o aspecto de um bebê em desenvolvimento.

Fonte: https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/13943/mod_resource/content/3/un02/top03p04.html
A ultrassonografia
O ultrassom é o equipamento utilizado para diversos exames, entre eles, é utilizado para analisar órgãos internos, como rins, fígado, bexiga, e também para o acompanhamento fetal, visto que proporciona uma projeção do feto no momento do exame. Sendo assim, é necessário compreender brevemente sobre seu funcionamento e método de uso.
O ultrassom é um aparelho capaz de emitir um tipo de onda homônima, ou seja, ultrassom. Essas ondas sonoras possuem frequências acima do limiar audível do ser humano, ou seja, a frequência se encontra acima de 16 kHz, aproximadamente. A partir de elementos piezoelétricos, as ondas podem ser geradas por meio de transdutores. Assim, após geradas, estas ondas irão se propagar em meios líquidos e sólidos, como os tecidos e órgãos. Quanto menos denso o material, mais fácil e rápida a propagação ocorre. De acordo com o exposto, pode-se, portanto, inferir que a ultrassonografia é capaz de auxiliar na análise de órgãos, observar suas condições fisiológicas e patológicas, quando existirem.
A terminologia utilizada para interpretar as imagens baseia-se nos ecos que esses sons emitem. Sendo assim, inicialmente, tem-se o termo ecogenicidade, que se refere à capacidade que diferentes estruturas possuem de refletirem as ondas, formando os ecos. Outro termo é o anecoico, em que não existem ecos gerados, visto que as ondas atravessaram totalmente as estruturas, que geralmente são líquidos. Essas estruturas são visíveis como imagens pretas na tela projetada. O hipoecoico é quando ocorre uma reflexão intermediária, portanto, a imagem oscilará entre branco e preto, sendo projetada como cinza, típica de tecidos mais moles. Ao contrário do hipoecoico, observa-se o hiperecoico, em que a reflexão foi elevada, marcando uma imagem esbranquiçada e brilhante. Este último é visível em ossos e também em gases.
Ultrassonografia morfológica
A ultrassonografia é extremamente eficaz para auxiliar no monitoramento do feto durante o pré-natal. Como já citado, é realizado a partir da décima primeira semana, podendo identificar várias condições normais ou patológicas do feto ou da gestação em si. Para que o exame seja eficaz, o profissional deve estar atento ao funcionamento e também no modo de utilização para um estudo mais complexo e amplo da gestação.
O método de análise é feito sempre no intervalo do comprimento cabeça-nádega (CCN), possuindo certa de 45 e 84 mm, aproximadamente. Outro ponto importante é a via de acesso para realizá-lo, podendo ser via abdominal, como a mais recomendada, ou via transvaginal, quando existirem limitações que interfiram no exame, como obesidade materna ou posição fetal, por exemplo.
É importante frisar que o ultrassom é um equipamento capaz de auxiliar na análise e diagnóstico de problemas durante o desenvolvimento e que, de maneira individual, pode não ser muito específico em seus diagnósticos. Desse modo, costuma-se utilizar a observação de sutis alterações no feto que podem ser indicativos de anormalidades patológicas. Nesse viés, a transluscência nucal (TN), análise do osso nasal (ON) e ducto venoso (DV) são pontos importantes para essa identificação.
Como exemplos, em casos de anomalias cromossômicas ou de malformações cardíacas, a TN se encontra aumentada. Com relação ao ON, observa-se o ângulo frontomaxilofacial, que, em casos de fetos com trissomia do cromossomo 21, tendem a possuir um perfil plano. Por fim, o DV, em que se observa as ondas de sístole, diástole e contrações cardíacas, em casos de trissomia, podem estar ausentes algumas ondas específicas. Além das citadas, existem diversas anormalidades que podem ser identificadas durante o exame ultrassom. No entanto, as enfatizadas aqui são as mais ressaltadas pela literatura.

Fonte: https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/rastreamento-ultrassonografico-de-cromossomopatias-no-primeiro-trimestre-da-gestacao
Riscos do ultrassom
Na literatura, a respeito dos riscos do ultrassom, existem diversas controvérsias. No entanto, até então, sabe-se que a ultrassonografia tende a ser um exame sem riscos evidentes ao feto e à mãe. Todavia, assim como qualquer procedimento médico, é de suma importância enfatizar que é um método que, em uso excessivo e por tempo prolongado, pode ter implicações físicas, como geração de vibrações e aumento de temperatura.
Conclusão
Em suma, a ultrassonografia morfológica é um método de exame muito simples e, em sua maior parte das vezes, extremamente eficaz durante o pré-natal no período do primeiro trimestre. Com ele, sutis modificações intrauterinas podem ser observadas, como a transluscência nucal ou o osso nasal, que podem estar alterados em casos de cromossomopatias. Além disso, pode-se obter uma melhor estimativa da idade gestacional ou descobrir se é uma gestação gemelar.
Sugestão de leitura complementar
- Parto livre no mar: quais os riscos desse procedimento?
- O que é o programa de especialização em ultrassonografia do Cetrus?
- Aborto induzido: o que é, legislação e polêmicas
- Candidíase vulvovaginal: causas, sintomas, diagnóstico e tratamento
- Qual a relação entre diabetes mellitus e candidíase?
O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Referências:
- MOORE, K.L. & Persaud, V. Embriologia Básica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
- Ultrassonografia obstétrica entre a 11ª e a 14ª semanas: além do rastreamento de anomalias cromossômicas – https://www.scielo.br/pdf/rbgo/v33n1/a08v33n1.pdf
- Revista brasileira de ultrassonografia – https://sbus.org.br/wp-content/uploads/2015/09/rbus-marco-de-20131.pdf
- Ultrassonografia no primeiro trimestre da gravidez – https://sogirgs.org.br/area-do-associado/ultrassonografia-no-primeiro-trimestre-da-gravidez.pdf
- Orientações práticas da ISUOG: realização do exame de ultrassonografia de primeiro trimestre – https://www.isuog.org/uploads/assets/uploaded/768ada08-7ed0-4999-8195666e8ccae3f5.pdf
- Conceitos da Física do Ultrassom –https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/28799/1/DOC082003.pdf
- Interpretação de resultados de ultrassonografia no pré-natal de baixo risco – http://repocursos.unasus.ufma.br/provab_20171/ssr1/atencao_pre_natal/und1/media/pdf/pag12_pdf.pdf