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Abdome Agudo Inflamatório: apendicite | Colunistas

Abdome Agudo Inflamatório: apendicite | Colunistas

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O abdome agudo é uma condição clínica caracterizada por uma dor intensa e súbita e que requer tratamento clínico imediato e, na maioria das vezes, cirúrgico. É uma das principais emergências da prática médica ao apresentar uma alta incidência e elevado risco de gravidade que, muitas vezes, pela dificuldade de estabelecimento de diagnóstico, acarreta o óbito do indivíduo.

Nesse sentido, a precisão e a rapidez da investigação da patologia são imprescindíveis para a tomada de decisão quanto ao tratamento, a fim de garantir sua eficiência e sua efetividade diante do quadro.

Para isso, a anamnese detalhada associada ao exame físico e exames laboratoriais e de imagens é de fundamental importância para estabelecer o diagnóstico. Deve-se levar em consideração a idade do paciente, o sexo, doenças e cirurgias prévias, local e características da dor, irradiação, tempo em horas de evolução, alterações intestinais, febre e vômitos.

Quadro clínico do abdome agudo?

O exame físico deve ser geral e específico. O geral permite avaliar as mucosas, a pressão arterial, a frequência cardíaca, a hidratação ou desidratação, observando assim a condição do paciente. O específico avalia o local da dor, a irradiação, a presença ou não de rigidez da parede abdominal, a dor de descompressão à palpação e a distensão, que podem ser evidenciados por sinais clínicos específicos que levam a um melhor direcionamento na condução do caso.

A dor decorrente do quadro de abdome agudo, em geral, anuncia o início da inflamação visceral, embora, nem sempre, permita a localização da víscera inflamada durante o exame físico. Na evolução do quadro, a inflamação compromete o peritônio parietal que é rico de nervos da parede abdominal e influencia na defesa voluntária e involuntária muscular.

É importante se atentar para os sinais de alarme de um quadro de dor aguda (Quadro I).

Quadro I: Sinais de alarme em pacientes com dor aguda.

O médico deve ficar sempre atento para afecções que podem simular um quadro de abdome agudo, como doenças pleuropulmonares (derrame pleural, pleurite), geniturinárias (infecções de vias urinárias, pielonefrite), cardíacas (infarto agudo do miocárdio, pericardite constritiva), além de processos infecciosos e metabólicos e entre outras causas.

Classificação

O quadro de abdome agudo pode ser classificado em cinco grupos:

1. Inflamatório: apendicite aguda, colecistite, pancreatite.

2. Perfurativo: úlcera perfurada e diverticulite perfurada.

3. Vascular: obstrução arterial e venosa de artérias mesentéricas superior ou inferior.

4. Hemorrágico: gravidez ectópica rota, traumas hepático, esplênico e intestinal.

5. Obstrutivo: volvo, bridas e aderências intestinais.

Apendicite Aguda

A apendicite é uma das causas mais comuns de abdome agudo inflamatório, por isso precisa ser considerada no diagnóstico diferencial de todo paciente que se apresente com dor aguda na região abdominal.

Ela é caracterizada por um processo inflamatório agudo e purulento decorrente, na maioria das vezes, da dificuldade de drenagem do conteúdo apendicular e, consequentemente, o aumento de volume do apêndice.

O diagnóstico precoce ainda é o objetivo clínico mais importante na apendicite, assim como em todas as outras classificações de abdome agudo. Primariamente, com base na anamnese e no exame físico, o diagnóstico é eminentemente clínico. A apresentação típica inicia com dor periumbilical, causada pela ativação dos neurônios aferentes viscerais, seguida por anorexia e náuseas. A dor localiza-se então, no quadrante inferior direito conforme o processo inflamatório evolui para envolver o peritônio parietal sobrejacente do apêndice. Esse padrão clássico de dor migratória é o sintoma mais preditivo de apendicite aguda.

Podem ocorrer crises de vômitos, febre baixa e leucocitose. Entretanto, essas características clínicas podem variar. É importante salientar que em alguns pacientes podem ocorrer obstrução do intestino delgado relacionada com a inflamação regional contígua. Além disso, pode haver perfuração e/ou formação de abscessos como complicações da afecção.

Exame Específico do Abdome

O exame identifica ruídos intestinais reduzidos e sensibilidade focal com retraimento voluntário. A sensibilidade que ocorre no apêndice pode ser identificada no ponto Mc Burney. Esse ponto localiza-se a 1/3 da distância da espinha ilíaca superior anterior até o umbigo.

Alguns sinais podem indicar um quadro de apendicite aguda, como:

1. Sinal de Blumberg: Caracterizado pela descompressão brusca do ponto de Mc Burney.

2. Sinal do Obturador: Paciente sente dor ao fazer uma rotação interna do quadril.

3. Sinal do Iliopsoas: considera-se positivo quando o paciente refere dor ao estender o quadril direito.

4. Sinal de Rovsing.

Este último é caracterizado pela realização da palpação no quadrante inferior esquerdo do abdome e é considerado positivo quando o paciente, nesse momento, refere dor em quadrante inferior direito. Essa palpação é realizada procurando-se “ordenhar” o intestino grosso a partir do sigmoide, retrogradamente, em direção ao cólon descendente, transverso e finalmente ascendente, onde o acúmulo de gases e/ou fezes gera a dor, pois é o local que está o apêndice.

Exames Complementares

Nos estudos laboratoriais, a contagem de leucócitos é elevada (com mais de 75% de neutrófilos). Uma contagem de leucócitos alta (> 20.000/mL) associada aos sinais e sintomas da patologia sugere gangrena ou perfuração do apêndice. A uroanálise é útil para a exclusão de pielonefrite ou nefrolítiase.

Os exames de imagem, como a tomografia computadorizada (TC), auxiliam na avaliação de pacientes com suspeita de apendicite aguda.

Tratamento

Na maioria dos quadros, apendicite aguda é tratado com a remoção cirúrgica imediata do apêndice.

Conclusão

O abdome agudo é uma das principais emergências da prática médica ao apresentar alto risco de gravidade e óbito quando não tratada imediatamente. Por isso, é importante a identificação e diferenciação precoce da patologia.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

– Porto, C.C. Semiologia Médica. Coeditor Arnaldo Lemos Porto- 8ed.- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

– SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed. Saunders. Elsevier.

– VELASCO, I.T.; et al. Medicina de emergência: abordagem prática. USP, 2019.

– Zaterka, S.; Eisig, J.N. Tratado de Gastroenterologia da Graduação à Pós-graduação. 2ed. Editorial Ateneu, 2016.