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Abordagem aos pacientes idosos durante a pandemia de COVID-19 – Parte 1 | Ligas

Abordagem aos pacientes idosos durante a pandemia de COVID-19 – Parte 1 | Ligas

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Em meio ao contexto de pandemia e disseminação da doença causada pelo COVID19, muito se tem discutido sobre políticas públicas de saúde e também maneiras de como o Brasil poderia superar essa crise.

Um dos primeiros passos para se conhecer melhor esse problema é saber como essa doença se comporta em meio a população, e a partir desses dados identificar quais grupos estão mais susceptíveis a desenvolver desfechos mais graves dessa infecção.

Partindo desse pressuposto, uma realidade muito importante da população brasileira é de que já temos uma porcentagem muito grande de idosos, e que a tendência da análise das faixas etárias sugere que estamos passando por um processo de envelhecimento da população.

Diante dessa realidade, entender como a COVID19, doença causada pelo novo SARS-CoV-2, se comporta nessas populações é extremamente importante para que você, estudante de medicina, médico ou outro profissional da saúde esteja bem informado sobre a atual situação de saúde da população, permitindo que você possa fazer a sua parte ao ajudar como pode, até mesmo sendo uma fonte de informação confiável para outras pessoas em tempo de crise. 

Para contribuir nesse processo, a Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral, por meio desse projeto em parceria com a Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Medicina (ABLAM) e a editora SANAR, tivemos a oportunidade de elaborar uma breve aula que irá abordar os pontos mais relevantes da interação entre o COVID19 e as populações mais idosas.

Taxa de Mortalidade da Covid-19 em Idosos

Mortalidade Geral:

No Brasil, o número de casos confirmados e de óbitos cresce diariamente, a última atualização na data da elaboração dessa aula (dia 20 de abril de 2020) aponta para a realidade de que a maior parte dos casos se concentrou na região sudeste do país, sendo seguida pelas regiões. Atualmente, já são mais de 40 mil casos confirmados em solo nacional, com 2845 óbitos, permitindo-se deduzir uma taxa de mortalidade de aproximadamente 7% na população Brasileira.

Mortalidade na População de Idosos:

Segundo os dados atualizados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe em 17 de abril de 2020 às 14h: A maior incidência de óbitos tem ocorrido na faixa etária a partir dos 60 anos, sendo que de 60 a 69 anos houveram 400 casos, de 70 a 79 anos houveram 454 casos e de 80 a 89 anos houveram 353 casos. Entre os óbitos confirmados por COVID-19, 72% tinham mais de 60 anos.

Óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por COVID-19 faixa etária - Ligas - Sanar Medicina

Também foi possível observar os dados que apontaram para o fato de que a cardiopatia foi a principal comorbidade associada e esteve presente em 711 dos óbitos, seguida de diabetes (em 502 óbitos), pneumopatia (152), doença neurológica (134) e doença renal (122). Em todos os grupos de risco, a maioria dos indivíduos tinham 60 anos ou mais. Isto é, idosos com comorbidade prévia se encontram no grupo de maior incidência de infectados, tornando-os mais suscetíveis ao óbito.

Óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por COVID-19 e grupos de risco > 60 anos - Ligas - Sanar Medicina

Pode-se observar que o comportamento da doença em solo brasileiro tem seguido as mesmas tendências observadas em estudos realizados internacionalmente. A observação e interpretação dos dados levantam a necessidade de uma abordagem mais aprofundada da saúde do idoso em solo nacional. Em um país como população em processo de envelhecimento é especialmente importante que você, profissional da saúde, saiba das peculiaridades e especificidades desses pacientes.

Grupos de Risco

A infecção pelo SARS-CoV-2 possui gravidade variável entre diferentes pacientes, enquanto a maioria das infecções cursa com sintomas gripais leves, alguns grupos de risco estão mais susceptíveis a desenvolver quadros mais graves da doença, que podem evoluir para falências respiratórias severas e possivelmente óbito. Como já mostrando na análise dos gráficos anteriores, a população idosa se encontra em uma situação mais propensa ao risco de desfechos fatais da doença, uma vez que a epidemiologia de certas doenças mostra que muitas das comorbidades associadas ao óbito são mais prevalentes em pacientes idosos, como já citado, cardiomiopatias, pneumopatias entre outras doenças.

Atualmente, já existe uma associação clara entre indivíduos com doenças pulmonares e os sintomas mais graves causados pela COVID19. Indivíduos asmáticos, com DPOC ou fumantes já possuem doenças de base que comprometem sua capacidade respiratória, e por relação direta possuem uma tendência de desenvolver os sintomas mais graves da doença.

Outra doença de base altamente prevalente na população, em especial na população mais idosa, é a Diabetes Mellitus. Evidências indicam a realidade de que indivíduos acometidos pela DM possuem um maior comprometimento da resposta imune e estão entre os grupos de risco mais susceptíveis a desenvolver piores desfechos da infecção pelo SARS-CoV-2.

Entre outras doenças de base comuns em casos graves, encontram-se as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares. A infecção pelo SARS-CoV-2 tem capacidade de descompensar certas doenças crônicas previamente controladas, e gerar quadros mais agudos por complicações de doenças altamente prevalentes como por exemplo a insuficiência cardíaca, assim como facilitar o desenvolvimento de outros acometimentos fatais como miocardite aguda e infarto agudo do miocárdio.

Manifestações clínicas em Idosos

Devido ao processo de envelhecimento do organismo, muitas vezes as manifestações clínicas de doenças são diferentes na terceira idade comparando-as com outras faixas etárias. Atualmente, a pandemia mundial causada pela infecção pelo vírus SARS-CoV-2 infectou milhares de idosos e tem colocado em destaque esse grupo que é considerado de risco para a doença. Esse risco pode ser explicado, por exemplo, pela imunosenescência e pela grande prevalência de comorbidades associadas nessa população.

Nesse contexto, as manifestações clínicas da Covid-19 mais comuns em adultos são febre, tosse, fadiga e escarro. Nos idosos esses sintomas também podem estar presentes, porém se deve lembrar que devido ao envelhecimento fisiológico o limiar da febre nessa faixa etária é alterado, fazendo com que nem sempre a febre se manifeste na mesma intensidade que um adulto jovem. Dessa forma, muitas vezes a infecção no idoso vai ser manifestada pela redução do nível de consciência, sonolência excessiva, falha na memória, confusão mental, perda de apetite e quedas, o que exige de você um olhar muito mais atento para essas condições, assim uma atenção diferenciada do acompanhante desse idoso.

Além disso, o sintoma de dispneia tem maior prevalência em idosos, o que pode indicar um maior grau de severidade da doença, tornando necessária e importante uma maior atenção às mudanças na frequência respiratória desse grupo. É necessário que você esteja atento a essas manifestações clínicas, pois elas também possuem valor prognóstico, pois além da maior fragilidade quanto a debilitação pelos sintomas, os idosos tem uma maior probabilidade de desenvolver as complicações da covid-19.

Também é válido ressaltar que existem manifestações indiretamente relacionadas à infecção pelo SARS-CoV-2, essas manifestações podem ocorrer como resultado do contexto atual de pânico e do isolamento social, resultando em transtornos psicológicos que apresentam sintomas ligados ao sentimento de abandono, solidão e medo da morte, que podem ser identificados em pacientes com tristeza excessiva, choros frequentes, discursos suicidas, entre outros.

Importância do Isolamento Social para o Idosos

As consequências da pandemia provocada pelo coronavírus ressaltaram contextos desafiadores, como a vulnerabilidade de idosos frente a infecções virais e o despreparo na abordagem emergencial de pacientes de faixa etária elevada. Nesse sentido, a alta taxa de mortalidade desse grupo etário tem gerado diversas discussões acerca de cuidados e medidas a serem tomadas para evitar a contaminação dessas pessoas. Com isso, entidades e associações extremamente importantes, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Infectologia, defendem a importância do isolamento social como uma ferramenta de proteção contra acometimento de idosos e de outros grupos de risco.

Para entender a relevância dessa medida, é importante destacar o modo de transmissão do SARS-CoV-2, que consiste, principalmente, no contato de gotículas de saliva contaminadas com mucosas do olho, da boca e do nariz e no contato com superfícies contendo o vírus. Portanto, uma pessoa infectada pode, rapidamente, contaminar o ambiente em que se encontra, pondo em risco os indivíduos que adentrem naquele local. Tal fato torna-se ainda mais preocupante quando verificamos o intervalo de tempo que o vírus permanece em algumas superfícies, que pode variar de horas a dias. Além disso, muitos indivíduos infectados são assintomáticos, dificultando o controle das transmissões.

Desse modo, a implementação do isolamento social evita aglomerações, as quais facilitam a disseminação do SARS-CoV-2, e diminui a circulação de pessoas contaminadas em espaços públicos. Consequentemente, a probabilidade de indivíduos pertencentes a grupos de risco, como é o caso de idosos, entrar em contato com o vírus diminuiria de forma considerável, fato que reduziria a sobrecarga de estabelecimentos de saúde e a taxa de mortalidade de infectados.

Sob essa perspectiva, o estabelecimento e a manutenção do isolamento social por um tempo adequado é uma estratégia válida para a atual situação, fato apontado ainda por estudos como um artigo publicado recentemente no jornal Lancet Public Health, a prorrogação do fim do isolamento pode adiar o ressurgimento de picos. Tal medida proporciona aos serviços de saúde mais tempo para lidar com a superlotação decorrente da pandemia.

Vale ressaltar que medidas de isolamento focadas apenas em grupo de risco aumentaria o risco de idosos contraírem a doença, pois manter apenas a reclusão de grupos vulneráveis enquanto que outras pessoas circulam em espaços públicos, mesmo mantendo o distanciamento social, não evitaria o potencial contato de idosos com o vírus. Além disso, uma pesquisa recente do Imperial College London demonstrou que a implementação de medidas de mitigação (ou seja, medidas mais brandas de isolamento) são menos eficientes no combate à transmissão da Covid-19, quando comparadas às formas mais duras de isolamento.

Por fim, é importante lembrar que o isolamento social pode provocar diversas consequências negativas para a saúde, deixando os indivíduos mais susceptíveis a passar por momentos de forte solidão, fator que tem sido associado ao aumento do risco de problemas cardiovasculares, cognitivos, psicológicos e imunológicos. Portanto, é crucial adotar medidas que minimizem a percepção de isolamento e solidão desses indivíduos.

https://youtu.be/P9A1t26191E

Liga: Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral

Sigla: AMGGES

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Autores:

  • Gustavo Pessoa Pinto (Presidente)
  • Francisca Thalia Magalhães Rodrigues
  • Débora Fontenele Alves
  • Amanda Beatriz Sobreira de Carvalho
  • Andressa Maria Guedes Lemos
  • Ana Rebeca Sousa de Freitas
  • Ivana Vasconcelos de Oliveira
  • Patrick Gonçalves de Oliveira
  • Cândido Rodrigues Maia Neto

Professor Orientador: Doutor Hiroki Shinkai