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Continuando nossa aula sobre a doença causada pelo novo Coronavírus e a saúde do idoso, iremos ressaltar outros aspectos importantes que são comuns à maioria dos pacientes idosos.
É extremamente importante que você esteja preparado para lidar com as particularidades desses, seja você médico, estudante de medicina ou outro profissional da saúde, é certeza de que você em algum momento terá de que lidar com esses elementos que serão abordados no contexto atual de pandemia.
A seguir iremos abordar a importância de peças chave da manutenção do idoso em tempos de pandemia, como a importância do isolamento social dos idosos, e seus impactos em nível psicológico e social, a importância da manutenção de campanhas de vacinação e, por fim, noções de segurança e higiene em instituições de longa permanência de idosos.
Complicações em Idosos
As complicações da COVID-19 podem ocorrer em quaisquer infectados pelo vírus. Porém, o paciente idoso como integrante do chamado grupo de risco, seja por ter mais condições de saúde subjacentes seja pela imunossenescência natural do envelhecimento, apresenta maior risco de doença grave. Assim, indivíduos mais velhos portadores do vírus inspiram maior vigilância e cuidado no tratamento e acompanhamento da infecção, visando sempre diminuir as complicações e a mortalidade.
Diante disso, iremos ressaltar as complicações possíveis mais importantes
Pneumonia refratária:
Após 10 dias ou mais de tratamento, alguns pacientes apresentaram exacerbação de sintomas clínicos ou achados radiológicos, não apresentam melhora óbvia dos sintomas respiratórios (como tosse, desconforto torácico e dispneia) depois de tratamento, não mantém temperatura corporal normal por três dias ou mais sem uso de glicocorticóides ou antipiréticos. Esses casos são reconhecidos como pneumonia por COVID-19 refratária e acarretam em complicações do quadro do paciente. Outros possíveis acometimentos pulmonares são o edema pulmonar e derrame pleural.
Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA):
A resposta imune ao dano tecidual causado pelo vírus pode levar à SDRA, na qual a insuficiência respiratória é caracterizada pelo rápido início de inflamação generalizada nos pulmões. Ocorre devido a um processo inflamatório pulmonar que induz dano alveolar difuso direto. Como consequência, temos hipoxemia profunda.
Quando termos SDRA? Saturação de O2<95% em ar ambiente; cianose; sinais de desconforto respiratório ou aumento da frequência respiratória (>30 irpm em adultos); diminuição da amplitude dos pulsos periféricos; insuficiência aguda respiratória; alteração do nível de consciência; febre persistente, aumento por mais de três dias ou recorrência após 48 horas.
Complicações Cardíacas:
Insuficiência cardíaca nova ou agravada, arritmia nova ou agravada ou infarto do miocárdio também integram o grupo de possíveis complicações.
Coagulação Intravascular Disseminada:
Coagulação intravascular disseminada: muitos pacientes internados com pneumonia por COVID-19 apresentaram atividade de coagulação aumentada, marcada por concentrações aumentadas de D-dímeros. Os mecanismos contribuintes incluem respostas sistêmicas a citocinas pró-inflamatórias mediadoras da aterosclerose, contribuindo diretamente para a ruptura da placa por inflamação local, indução de fatores pró-coagulantes e alterações hemodinâmicas, que predispõem à isquemia e trombose.
Gerenciamento da Solidão e Estresse Provocado pelo Isolamento Social nos idosos
Mesmo compreendendo a importância do isolamento social para a manutenção da saúde de grupos de risco, sabe-se que uma grande parte dos idosos já vivem em contextos os quais lhe impedem de ter uma sociabilidade adequada para manutenção da sua saúde mental, dessa forma, a situação pandêmica pode agravar problemas gerados pela solidão e estresse nessa parcela da sociedade.
Durante esse isolamento, o afastamento de familiares e amigos, assim como a impossibilidade de frequentar locais de convivência como praças e bares, podem levar o idoso a se sentir em situação de abandono, mesmo que esse entenda a urgência dessa medida de saúde. Além disso, a circulação de ideias que relativizam a vida, com a difusão de frases como “Não é uma pandemia tão séria, pois apenas idosos correm risco de morrer” colocam indiretamente a vida do idoso como menos importante. A difusão desse pensamento pode levar esses idosos a se sentirem inúteis e importantes.
Tendo isso em vista, é extremamente importante que você saiba lidar corretamente com pacientes idosos em situação de isolamento, de maneira a respeitar sua condição de saúde e funcionalidade. A seguir estão algumas medidas que podem ser tomadas por profissionais de saúde ou até mesmo acompanhantes e cuidadores de idosos para auxiliar no apoio à saúde mental dessas pessoas.
Espiritualidade e Crenças
Como grande parte dos idosos possuem espiritualidade acentuada (de acordo com o senso do IBGE, apenas 3,6% não tinham religião definida), é fato que o afastamento deles de cultos religiosos pode afetar seu bem-estar. Tendo isso em vista, muitos canais de televisão estão transmitindo cultos ao vivo para manutenção da espiritualidade das pessoas, dessa forma, pode-se apresentar aos idosos essas ferramentas, já que são de amplo acesso. Logo é de suma importância que os idosos tirem parte do seu dia para se sentirem conectados com sua crença, pois isso permite, inclusive, que eles lidem melhor com situações de adversidade, como a pandemia em questão.
Atividades Físicas
Outro fator importante para manutenção do bem-estar é a realização de atividades físicas, evitando ficar somente deitados ou sentados, sempre levando em consideração a sua integridade física, respeitando limitações. O idoso pode aproveitar o próprio espaço domiciliar para realização de atividades físicas. Exercícios práticos, como alongamentos, podem ser feitos facilmente em qualquer ambiente, além desses, para pessoas que vivem em ambientes maiores, caminhadas dentro de casa são ótimas opções para se manterem ativos.
Leitura e outras atividades de lazer
Ler livros, cozinhar, costurar, pintar entre outros hobbies são indicados também, o importante é manter-se ativo e com a mente sempre ocupada.
Acesso à Internet
Para idosos que tem acesso à internet, o uso de redes sociais é um meio de amenizar a sensação de solidão, buscando manter contato com família e amigos por meio de mensagens, ligações e vídeo-chamadas. Também, acessando conteúdos de mídia como vídeos divertidos, séries e filmes. Todas essas são ferramentas que amenizam a solidão e o estresse causados pelo isolamento social.
Proteção contra excesso de Informação
Outro elemento importante para a manutenção da saúde mental de idosos, ou até mesmo da população em geral nesse contexto, é se proteger contra o excesso de informações em tempos de pandemia, muitas vezes a superexposição a noticiários e jornais durante grande parte do dia pode agravar o sentimento de angústia e impotência diante da situação em que vivemos, por isso é importante “se desligar” um pouco para manter a própria saúde mental.
Educação e suporte dos mais jovens
Ademais, jovens que não se encontram em populações de risco tem papel fundamental nesse quadro, podendo oferecer ajuda aos idosos em atividades cotidianas como fazer compras ou ensinando-os a usar melhor as ferramentas digitais, por exemplo.
Não se pode esquecer também dos idosos que estão em isolamento nos hospitais por conta do diagnóstico de Covid-19. Como esses idosos não podem receber visitas, encontram-se em situação ainda mais limitada quanto a meios de amenizar seu estresse e solidão. Uma das formas de fazer eles se sentirem menos solitários apesar da distância é o envio de recados escritos ou até mesmo fotografias impressas por entes queridos, por exemplo.
É extremamente importante que os idosos compreendam a importância das medidas de isolamento, e ainda mais, é importante que eles entendam que não são um “peso” para a vida das pessoas, a ajuda vem por conta do reconhecimento do quanto eles são importantes para a nossa sociedade e, também, para auxiliar a manutenção do isolamento social efetivo.
Importância da Vacinação dos idosos em Tempos de Pandemia
A importância da vacinação a nível mundial e a nível de diversos contextos históricos, como forma de prevenção e de controle de muitas doenças, como febre amarela, rubéola, sarampo, entre outras, é grandiosa, pois o controle e a erradicação de doenças geram impacto positivo em sistemas de saúde de muitos países. Devido a essa grande importância, campanhas de imunização para diversas faixas etárias são criadas visando à maior adesão possível das vacinas existente e disponíveis, pois a alta cobertura vacinal traz benefícios, como a melhora e o aumento da expectativa de vida. Em um contexto atual de pandemia da COVID-19, é especialmente importante ressaltar a importância da vacinação de doenças como a gripe, que é de extrema importância para a manutenção de boas condições de imunidade da população.
Sabe-se que a vacinação é importante para pessoas de qualquer faixa etária, porém existem grupos populacionais que devem ser alvos prioritários de muitas vacinas, devido à maior probabilidade e à maior susceptibilidade de risco de contaminação por muitos agentes infecciosos. Nesse contexto de imunizações, os idosos devem receber uma atenção especial quando se fala de medidas de saúde pública, pois devido as alterações imunológicas relacionadas ao envelhecimento, o que aumenta o risco de comorbidades e de infecções, esses idosos constituem um grupo de risco em tempos de pandemia.
Portanto, o controle ideal da vacinação dos idosos é capaz de reduzir o risco de graves quadros infecciosos, de prevenir o descontrole e agravamento de doenças crônicas e, consequentemente, de melhorar a vida dessas pessoas. As vacinas são especialmente importantes para prevenir o surto de certas doenças que estavam em condição de controle ou até mesmo erradicadas, evitando severos impactos no sistema de saúde brasileiro.
Em tempos de pandemia, como a pandemia de COVID-19, é importante voltar a atenção para os riscos de descontinuidade da vacinação rotineira das pessoas, devido a importante necessidade de isolamento social, com o intuito de evitar contaminações pelo SARS-CoV-2. Além disso, outros fatores contribuintes para com a descontinuidade de vacinação das pessoas são os tabus alimentados por parte da população, como a ideia de que o risco da não vacinação é baixo, quando comparado ao período preocupante de COVID-19, ou até mesmo ideias erradas de que as vacinas tornam as pessoas mais “propensas a adoecerem”.
Essa descontinuação de vacinações pode favorecer o aumento de prevalência de doenças previamente controladas, e agravar ainda mais a situação de serviços de saúde que já enfrentam sérios problemas com a superlotação de casos de COVID-19. Justamente por isso entidades importantes como a OMS ressaltam a importância da elaboração de estratégias de vacinação mesmo em contexto de isolamento, desde que realizadas de maneira compatível às normas de segurança e isolamento locais.
Justamente por esses fatores, a situação de pandemia e a falta de cobertura vacinal representam riscos conjuntos à saúde pública e isso ressalta a necessidade das autoridades e dos profissionais de saúde estarem atentos às estratégias que possam garantir a vacinação de forma segura da população, levando em consideração os dados epidemiológicos e os riscos de cada região e populações, bem como a estrutura do sistema de saúde de cada país.
É especialmente importante ressaltar que no contexto atual de pandemia de COVID-19, campanhas de vacinação em massa devem ser evitadas, em respeito às normas de segurança que preconizam a não formação de aglomerações e o importante e distanciamento físico entre as pessoas.
Por esse motivo, os locais utilizados e as estratégias abordadas para a realização das vacinações deve estar de acordo com a capacidade dos sistemas de saúde do local e com os dados epidemiológicos. É essencial uma completa análise da atual conjuntura, medindo riscos e benefícios para que as tomadas de decisões sejam precisas e benéficas para profissionais de saúde e para toda a comunidade.
Importância da Prevenção em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI)
Dentro do contexto de grande disseminação da doença causada pelo SARS-CoV-2, parte da comunidade médica voltou sua atenção para um grupo de pacientes de risco em condições bem específicas. Tratam-se dos idosos institucionalizados, ou seja, aqueles que habitam instituições de longa permanência do idoso (ILPI). Essas instituições existem com o intuito de abrigar idosos que, por falta de suporte familiar ou comprometimento funcional, são incapazes de cuidar de si próprios. Grande parte desses idosos geralmente estão em condições de fragilidade, ou com idade muito avançada, acamados, com múltiplas comorbidades e doenças crônicas altamente incapacitantes como demências ou distúrbios de marcha, o que os tornam incapazes de exercer suas atividades de vida diária, sendo dependentes das ações dos cuidadores.
Justamente por isso torna-se necessário ressaltar a importância do risco que essa população específica está submetida, pois suas condições de vida, moradia e convívio os tornam extremamente vulneráveis à infecção pelo SARS-CoV-2, da mesma maneira estão muito mais propensos a desenvolverem as formas mais graves dessa doença, com maior possibilidade de desfechos fatais. A propagação do vírus nesses ambientes é excepcionalmente preocupante pois esses idosos muitas vezes convivem em contato próximo com os outros habitantes das ILPI, como outros idosos, seus cuidadores, profissionais da saúde e funcionários em geral. Dessa forma, esse ambiente favorável a infecção torna necessária a existência de normas de biossegurança específicas que devem ser conhecidas por você, médico, enfermeiro, cuidador, estudante da área da saúde ou outro profissional que frequente essas instituições.
Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) emitiu uma nota com recomendações de segurança e higiene para Instituições de Longa Permanência do Idoso, que serão abordadas brevemente a seguir.
Antes de mais nada, é preciso ressaltar a importância de todos aqueles que trabalham nas ILPI devem ser assistidos de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados e materiais de limpeza que permitam uma boa manutenção das condições sanitárias das instituições. É excepcionalmente importante suspender todo tipo de “visita” que possa ocorrer durante o período de isolamento, e fazer um manejo inteligente do fluxo de pessoas, para garantir o mínimo de contato possível, assim como garantir um local de isolamento para aqueles idosos que apresentarem sintomas gripais.
Pacientes que estiverem com sintomas respiratórios devem permanecer isolados em condições ideais de ventilação e deve ser reduzido ao mínimo seu trânsito por outras áreas da instituição, com intuito de diminuir seu contato com outros idosos e profissionais sujeitos ao risco de infecção. Quando o contato for inevitável deve-se observar as recomendações de distância mínima de 2 metros entre as pessoas presentes no ambiente. Recomenda-se que o idoso em condição de isolamento respiratório deva permanecer nesse estado por pelo menos 14 dias, e não há necessidade de encaminhar esse idoso a outro serviço de saúde caso não haja agravamento da sua condição de saúde.
Outro ponto extremamente importante está na disponibilidade de locais onde qualquer pessoa que chegar à instituição possa realizar a higiene adequada das mãos, assim como pontos com dispensadores de solução de Álcool a 70% em locais estratégicos, a higiene das mãos deve ser realizada antes e depois do contato com qualquer paciente, mesmo que luvas tenham sido usadas, elas devem ser descartadas.
O uso de EPI deve ser feito de maneira adequada, com máscaras cirúrgicas ou lenços, reservando as máscaras N95 para profissionais da saúde em contato direto com os idosos. Deve-se tomar cuidado especial com pessoas com cabelos compridos, que devem prender os cabelos ao entrar na instituição e uso de adereços como anéis que não é recomendado. Profissionais da saúde que vão entrar em contato com idosos com sintomas respiratórios devem estar devidamente equipados com equipamentos de proteção como máscara, gorro, óculos luvas e avental descartável. Qualquer caso suspeito de infecção pelo SARS-CoV-2 deve ser obrigatoriamente notificado.
É sempre importante ressaltar a importância do isolamento desses pacientes para que se possa tentar manter sua saúde em tempos difíceis, e somente respeitando-se as normas de segurança e higiene é possível reduzir os impactos dessa doença em uma população de risco vulnerável.
Por fim, ressaltamos a importância de se discutir a saúde do idoso em geral, com todos os pontos abordados, pois trata-se de uma parcela importante da população que deve ter sua saúde assistida de todos os meios possíveis para que sua vida possa ser preservada com qualidade, funcionalidade e saúde.
Liga: Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral
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Autores:
- Gustavo Pessoa Pinto (Presidente)
- Francisca Thalia Magalhaes Rodrigues
- Débora Fontenele Alves
- Amanda Beatriz Sobreira de Carvalho
- Andressa Maria Guedes Lemos
- Ana Rebeca Sousa de Freitas
- Ivna Vasconcelos de Oliveira
- Patrick Gonçalves de Oliveira
- Cândido Rodrigues Maia Neto
Professor Orientador: Doutor Hiroki Shinkai