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No momento crucial em que vivemos, a decisão do Reino Unido, de adiar a segunda dose da vacina, com o objetivo de aumentar o número de vacinados, deve ser vista com cautela. O assunto gerou muita controvérsia, com apoiadores e críticos de ambos os lados. Mas, nosso objetivo aqui não é discutir opiniões e sim, ciência.
Por isso, vamos falar sobre um estudo que buscou avaliar a resposta imune gerada após a primeira dose da Vacina da Pfizer, comparando os resultados em indivíduos previamente expostos ao vírus, com aqueles virgens da infecção pelo SARS-CoV-2.
Quais informações pesquisadas no estudo com a vacina da Oxford?
Dentre os profissionais de saúde, a maioria deles recebeu a vacina da Pfizer, e dados a respeito da resposta imune gerada pela vacina após a primeira dose são escassos.
Além disso, os ensaios clínicos não avaliaram também a resposta imune gerada naqueles com infecção natural prévia.
No estudo aqui analisado, foram precisamente estas informações pesquisadas.
Os pesquisadores buscaram quantificar a resposta imune à dose única da vacina BNT162b2, usando ensaios sorológicos, de neutralização de vírus e ELISpot, que avalia resposta humoral de células T.
Quantos e quem participou do estudo
Setenta e dois profissionais de saúde, integrantes do Imperial College Healthcare NHS Trust, que haviam sido vacinados entre 23 e 31 de Dezembro, participaram do estudo.
eles forneceram amostras de sangue antes de receberem a primeira dose da vacina, e repetiram a coleta de sangue após 21-25 dias de vacinação.
As amostras então foram submetidas à pesquisa de anticorpos contra o nucleocapsídeo e a proteína Spike do novo coronavírus.
Dentre os 72 participantes, 21 deles (29%) evidenciaram infecção prévia pelo SARS-CoV-2.
É interessante notar a forma de diferenciação da infecção prévia. Dos 21 participantes com evidência prévia de contato com o vírus, apenas 16 deles positivaram anticorpos.
Os restante 5 participantes demonstraram, com um certo período de atraso, resposta de células T, que pôde ser diferenciada da resposta produzida pela vacinação porque a resposta imune celular estava direcionada a diversos antígenos “não-Spike”.
Se lembrarmos bem, a vacina da Pfizer é uma vacina de RNAm que carrega a informação genética para produção da proteína de superfície Spike.
Resultados: previamente infectados com melhor resposta à vacinação
As titulações de anticorpos anti-Spike (anti-S) foram significativamente maiores naqueles participantes com infecção prévia, em comparação com os participantes virgens de infecção. Veja a diferença no gráfico abaixo:
Nos 5 participantes com resposta humoral prévia negativa e resposta celular positiva, as titulações de anticorpos foram intermediárias entre aqueles previamente infectados e aqueles sem contato prévio com o vírus.
Outro achado interessante do estudo foi a inversa correlação entre titulações de anti-S pós vacinação e idade, correlação esta que não foi evidenciada em indivíduos previamente expostos.
Confira na figura e logo abaixo a explicação:
Na avaliação em testes de neutralização do vírus e na avaliação da resposta imune de células T, os indivíduos previamente expostos também apresentaram melhores resultados.
Conclusão sobre adiar ou não a 2ª dose da vacina
O estudo concluiu que aqueles indivíduos com evidência de infecção prévia pelo SARS-CoV-2 apresentaram resposta imune mais robusta, tanto celular como humoral, após a primeira dose da vacina da Pfizer.
O pequeno número amostral não permite generalização dos resultados. No entanto, os achados podem contribuir para considerações importantes a respeito do uso otimizado das vacinas.
Alguns dos indivíduos sem exposição prévia ao vírus geraram resposta imune muito baixa após a dose única da Pfizer, resposta esta que pode não ser suficiente para protegê-los da doença, ou até mesmo não persistir até 12 semanas (tempo que o Reino Unido havia proposto para fornecer a 2ª dose adiada).
Além disso, a inversa correlação das titulações de anti-S com a idade pode levantar a necessidade de priorizar profissionais de saúde com idade mais avançada para recepção da segunda dose da vacina.
Por fim, o estudo mostra mais uma vez a necessidade de manter as medidas individuais e coletiva de prevenção da infecção, mesmo após a vacinação.
E dentre os profissionais de saúde, fica ainda mais evidenciado a necessidade do uso dos equipamentos de proteção individual.
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