Medicina da Família e Comunidade

Aleitamento materno: o que devo saber?

Aleitamento materno: o que devo saber?

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Imagem de perfil de Raíza Pereira

A amamentação constitui uma das questões mais importantes para a saúde humana, principalmente nos primeiros anos de vida, pois atende às necessidades nutricionais e metabólicas, além de conferir proteção imunológica ao lactente.

Recomendações do Ministério da Saúde e da OMS são:

– Aleitamento materno (AM) exclusivo nos primeiros 6 meses de vida.

– Introdução de alimentação complementar a partir dos 6 meses, não sendo recomendados outros leites como: industrializado, de vaca, soja, cabra, etc.

– O leite materno deve ser mantido, no mínimo, até os dois anos de vida

Vantagens do aleitamento materno:

a) Para o bebê:

– É um alimento completo do lactente até os 6 meses, apropriado para o organismo do bebê (nutrientes e digestão)

– Sempre pronto e na temperatura certa

– Contribui para a diminuição de maus tratos. Maior vinculo afetivo.

– Promove o perfeito desenvolvimento infantil.

– Menor incidência de doenças diarreicas e infecções do trato respiratório inferior, de otite média, de meningite bacteriana, etc

– Promove boa dentição, diminui incidência de cáries e problemas na fala

b) Para a Mãe

– Favorece a involução uterina, a perda de peso e diminui a hemorragia pós-parto

– Diminui risco de câncer de mama, ovário e endométrio

– Contraceptivo natural (o estímulo à amamentação exclusiva induz a um aumento do intervalo intergestacional; A lactação e amenorréia como método contraceptivo tem como princípios, além do estado de amenorréia das mulheres, a amamentação exclusiva dos seus filhos e a idade máxima de seis meses para o bebê. Nessas condições, a probabilidade acumulada de ocorrer uma nova gravidez nesse período é menor do que 2%)

 Envolvimento de toda a família

– É de muita importância a participação do pai e dos avós desde as consultas de pré-natal, até o parto e pós-parto;

– É dever do médico e da família encorajar e incentivar a mãe a amamentar;

–  É dever do pai ajudar no cuidado com a casa e os filhos;

– Importante não fumar na presença do bebê;

– Orientar a mãe a procurar o serviço de saúde em casos de dúvidas sobre a amamentação.

 Não usar mamadeiras, chucas, chupetas

– Maior risco de contaminar o leite e provocar doenças

– Atrapalha o aleitamento materno, induzindo a PEGA INCORRETA

– Pode modificar a posição dos dentes, prejudicar a fala e respiração fazendo o bebê respirar pela boca.

– É mais caro e sua preparação dá mais trabalho.

– Diminui o contato entre mãe e filho.

 Quando amamentar:

– Imediatamente após o parto ou até a primeira hora (considerando as condições clínicas)

– Livre demanda do bebê

– Quando bebê chorar – TABU –  Nem sempre choro é fome ou sede Pode ser sono, tédio, calor, frio, fralda suja, desejo de colinho, carinho… É importante avaliar a situação

Características das mamas

Em primeiro lugar, é importante entender a anatomia da mama, conforme imagem abaixo:

Fonte: https://pediatriadescomplicada.com.br/anatomia-da-mama/

Existem, então, alguns tipos de mamilos:

  1. Normais ou ProtusosEntre os tipos de mamilo, esse é o mais comum entre as mulheres. Os mamilos normais ou protusos se sobressai das aréolas e ficam rígidos facilmente quando são estimulados, ponto positivo na amamentação. 
  2. Mamilos Planos – Os mamilos planos ficam praticamente na mesma linha da aréola. Quando estimulados, também apresentam a mesma projeção dos mamilos normais ou protusos. Mulheres com mamilos planos podem apresentar algumas dificuldades no começo da amamentação. Isso porque o bebê costuma usar a língua para pressionar o mamilo contra o palato para o leite sair e nesse tipo de mamilo pode ser mais difícil. 
  3. Mamilos Invertidos: Os mamilos invertidos estão virados para dentro dos seios. A mesma dificuldade pode aparecer para mulheres com esse tipo do que a anterior. Como o mamilo invertido é menor, o bebê tem dificuldade de sugar e pode acabar machucando.
  4. Mamilos Compridos: Entre os tipos de mamilos, esse se destaca porque as mamães precisam tomar mais cuidado com a pega do bebê. Por ser muito saliente, o pequeno pode abocanhar somente o bico e causar dor, sangramento e rachaduras. 

IMPORTANTE LEMBRAR QUE NENHUM TIPO DE MAMILO IMPEDE A AMAMENTAÇÃO, O BEBÊ DEVE ABOCANHAR A ARÉOLA E NÃO APENAS O BICO!

COMO REALIZAR A PEGA CORRETA?

Fonte: https://amarepediatria.com.br/blog/importancia-da-pega-correta-do-bebe-na-amamentacao/

A melhor posição é aquela em que mãe e bebê estão confortáveis. O importante é que o corpo e a cabeça do bebê estejam alinhados, de modo que a criança não necessite virar a cabeça para pegar a mama;

Antes de iniciar a pega, a mãe deve palpar a aréola. Se esta estiver dura (túrgida), ela deve ordenhar um pouco de leite para facilitar a pega. Se a mulher tiver mamas muito volumosas, pode pressionar a mama contra o tronco, segurando-a e erguendo-a com a mão oposta (mama direita/mão esquerda), colocando os quatro dedos juntos por baixo da mama e o polegar acima da aréola pega da mama em ”C”.

ORDENHA DE ALÍVIO

Ordenha realizada quando a mama estiver muito cheia. O ideal é oferecê-la apenas para o próprio filho com copinho ou colher

FASES DO LEITE MATERNO

  1. COLOSTRO:

– leite dos primeiros dias após o parto

– alimento ideal nos primeiros dias de vida

– protege o bebê contra muitas doenças

– maior conteúdo de eletrólitos, proteínas, vitaminas lipossolúveis (vit A dá coloração

amarelada), minerais e imunoglobulinas (IgA, lactoferrina); menos gordura, lactose e vitaminas

hidrossolúveis

– Facilita a eliminação do mecônio nos primeiros dias de vida e permite a proliferação de

Lactobacillus bifidus na luz intestinal.

  • LEITE MATERNO DE TRANSIÇÃO

– Aproximadamente do 6o dia até a segunda semana pós-parto.

– Intermediário entre o colostro e o maduro.

  • LEITE MATERNO MADURO

– a partir da 15 dias pós parto

– maior teor lipídico e de lactose; menor quantidade de proteínas

– Valor energético: 67-70Kcal/100ml (=leite maduro)

– início da mamada: leite anterior é ralo e doce, ocorrendo predomínio de proteína do soro e

lactose: defende o bebê contra infecções e mata a sede

– meio da mamada: maior quantidade de caseína

– final da mamada: grande concentração de gordura, necessária para saciar o lactente:

engorda o bebê

CARACTERÍSTICAS DO LEITE MATERNO

– IgA específica: atua contra patógenos os quais a mãe é exposta e que será transferida para

o RN (reveste a mucosa intestinal impedindo a agressão por bactérias, toxinas ou antígenos estranhos.)

IgA secretória: não é digerida pelas secreções gástrica e intestinal não sendo absorvida.

– Fator bífido: carboidrato nitrogenado, substrato para o crescimento do Lactobacillus bifidus. (bacilos anaeróbios que compõem a flora intestinal predominantemente em crianças amamentadas exclusivamente ao peito. São flora saprófita e impedem proliferação de microorganismos patogênicos.)

– Lisozima: produzida por macrófagos e neutrófilos. Age através da lise da parede celular de bactérias Gram – e +.

– Lactoferrina: uma proteína carreadora de ferro que, por quelação diminuía biodisponibilidade de ferro para os patógenos principalmente Staphylococcus sp., E. coli e Candida sp. E aumenta a biodisponibilidade para o lactente. A terapia com ferro oral pode inibir esse processo.

– A concentração proteica é adequada para o crescimento normal do lactente e não provoca sobrecarga renal

– A relação caseína/proteínas do soro no leite de vaca é cerca de 80/20, ocorrendo a formação de um coalho mais duro, dificultando a digestão e aumentando o tempo de esvaziamento gástrico.

– A proteína do soro com maior concentração no leite humano é a alfalactoalbumina humana, que tem potencial alergênico praticamente nulo.

– O LM tem maior digestibilidade, pois tem lipase, que é ativada logo que entra em contato com os sais biliares no duodeno.

– Contém ácidos graxos de cadeia longa que têm ação primordial no desenvolvimento neuropsicomotor e na formação da retina

– A lactose é o principal carboidrato do LM que por hidrólise fornece glicose e galactose, sendo esta importante para formação dos cerebrosideos

– A menor concentração de sódio no LM impede a sobrecarga renal e diminui o risco de desidratação hipertônica frente a qualquer tipo de agravo

– O ferro está em baixa concentração em ambos os leites, porém a biodisponibilidade do ferro do leite humano alcança 50%, sendo apenas 10% do ferro do leite de vaca absorvido.

– constituição não uniforme: cada mãe produz um leite especial para seu filho.

– Fácil digestão

– à tarde e à noite o teor de gordura é maior do que pela manhã.

– conteúdo de gordura é maior no final da mamada

DEZ PASSOS PARA SUCESSO DO AM:

1. Ter uma norma escrita sobre aleitamento materno, que deve ser rotineiramente transmitida a toda a equipe do serviço

2. Treinar toda a equipe, capacitando-a para implementar essa norma

3. Informar todas as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação

4. Ajudar a mãe a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto.

5. Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos.

6. Não dar a recém-nascido nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser que tenha indicação clínica.

7. Praticar o alojamento conjunto: permitir que mães e bebês permaneçam juntos 24 horas por dia.

8. Encorajar a amamentação sob livre demanda.

9. Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas.

10. Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio à amamentação, para onde as mães devem ser encaminhadas por ocasião da alta hospitalar.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


REFERÊNCIAS:

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica . Saúde da Criança: nutrição infantil, aleitamento materno e alimentação complementar. CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA. Brasília: Ed. Ministério da Saúde, 2009. 112p.
  • CECATTI, José Guilherme et al. Introdução da lactação e amenorréia como método contraceptivo (LAM) em um programa de planejamento familiar pós-parto: repercussões sobre a saúde das crianças. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 4, p. 159-169, 2004.