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Alimentação é suficiente para combater a Anemia Ferropriva? | Colunistas

Alimentação é suficiente para combater a Anemia Ferropriva? | Colunistas

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde, anemia consiste numa condição em que o número de hemácias ou a concentração de hemoglobina estão abaixo dos valores de referência, comprometendo funções fisiológicas pela oferta reduzida de oxigênio.

A anemia ferropriva consiste na anemia mais comum e mais facilmente tratável, com maior prevalência na infância e cujos sintomas são predominantemente resultantes da deficiência de ferro. Diante de tais aspectos, discute-se o fato de uma alimentação adequada e rica em ferro ser o suficiente para combater esse quadro.

Metabolismo do Ferro

O Ferro está presente em nosso organismo de forma complexada a proteínas essenciais, como a hemoglobina e a mioglobina, a proteínas de armazenamento como a ferritina, e a proteínas de transporte como a transferrina. Além disso, também exerce importante função no metabolismo, participando de processos tais quais a síntese do DNA e reações de oxirredução.

O Ferro pode ser ingerido, na alimentação, sob a forma de íon ferroso (Fe2+ – ferro hêmico), mais facilmente absorvido, ou sob a forma de íon férrico (Fe3+ – ferro não hêmico). E, apesar de ter uma forma bem definida de entrada no corpo humano, não possui um mecanismo de excreção específico, sendo perdido diariamente pela urina, pela menstruação, descamação dos epitélios e inclusive pelo suor.

Nesse sentido, para que os estoques desse mineral não sofram alterações significativas, a ingestão de ferro, a sua absorção intestinal, e o seu reaproveitamento após a degradação de hemácias devem ser intensamente regulados.

Causas da Anemia Ferropriva

Como o corpo humano não apresenta mecanismos para a excreção de ferro, as principais causas da anemia ferropriva estão relacionadas à perda de sangue, à má absorção de ferro, e à insuficiência dele na dieta.

A causa mais comum da deficiência de ferro é a ingestão não correspondente à necessidade desse, principalmente durante os períodos de rápido crescimento na infância e na puberdade. Esse descompasso entre ingestão e demanda também pode ocorrer na gravidez.

A perda de sangue é um outro contribuinte para esse quadro. Mulheres em idade reprodutiva têm risco aumentado devido à menstruação. Por outro lado, a perda de sangue pelo trato gastrointestinal é também um importante fator para a anemia ferropriva, especialmente quando gradual e presente por um longo período de tempo. O sangramento ocorre devido a lesões (como úlceras), a cânceres (colorretal e gástrico), a infecções recorrentes (Helicobacter pylori) e, inclusive, a malformações vasculares.

Ademais, a má absorção intestinal do ferro é igualmente significativa, geralmente ligada a doenças inflamatórias do intestino – as quais podem também gerar sangramento dependendo da gravidade -, a cirurgias bariátricas, a obesidade, e até a causas genéticas (como a anemia ferropriva refratária ao ferro).

Tabela 1: Principais causas da Anemia Ferropriva
Adaptado de: Lopez, Anthony, et al. “Iron deficiency anaemia.” The Lancet 387.10021 (2016): 907-916.

Apresentação Clínica

Inicialmente, os sintomas muitas vezes passam despercebidos e são resultantes da redução moderada dos estoques de ferro, destacando-se fadiga, problemas de concentração e astenia (diminuição da força física).

Com o decréscimo na concentração da hemoglobina e, consequentemente, com a anemia instalada, observa-se sintomas como a intensificação da fadiga, irritabilidade, perda de massa corporal, taquicardia, palidez cutânea e das mucosas, redução na capacidade física do indivíduo e pica (impulso para se alimentar de substâncias não usuais, como terra e gelo).

Como combater?

Uma dieta com maior biodisponibilidade de ferro pode ser uma grande ajuda para tratar a deficiência desse mineral. O ferro hêmico está presente em alimentos de origem animal e é mais absorvido pelo corpo – carnes, vísceras, ovo -, ao passo que o ferro não hêmico está presente em alimentos de origem vegetal – leguminosas, verduras, cereais, hortaliças, frutas e outros – e é absorvido em menor proporção.

Além do ferro em si, outros fatores podem influenciar sua assimilação pelo organismo, destacando-se a vitamina C. Ela também é recomendada por aumentar a capacidade de absorção do mineral, principalmente do ferro não-hêmico. Por outro lado, deve-se evitar alimentos com altas concentrações de cálcio, de fibras e cafeína, os quais reduzem significativamente a absorção do ferro.

Tabela 2: Presença de ferro nos alimentos e sua biodisponibilidade
Adaptado de: De Angelis, R.S.& Ctenas, M.L.B. 1993; e de Franco, G., 1999.

Contudo, embora a ingestão aumentada de ferro amplie a oferta desse mineral ao organismo, ela é insuficiente para recuperar completamente suas reservas. Dessa maneira, uma alimentação que priorize fatores os quais favoreçam a absorção de ferro é mais eficiente quando aliada à ingestão oral de sulfato ferroso.  

Caso o paciente apresente uma condição que prejudique a absorção intestinal de ferro ou perda crônica de sangue, ele não responderá bem à administração de ferro oral. Assim, é necessário uma suplementação de ferro por via intravenosa.

Conclusão

Portanto, deve-se afirmar que uma dieta rica em ferro representa mais verdadeiramente uma medida profilática que uma medida de combate à anemia ferropriva, visto que auxilia na manutenção das reservas de ferro, mas não tem efeitos significativos na sua recuperação completa. A ingestão de alimentos ricos nesse mineral é importante para garantir melhor eficiência do tratamento, bem como de vitamina C e redução de ingestão de fibras, de cálcio e de cafeína.

Para que o tratamento tenha a maior eficácia possível, é importante determinar a causa ou as múltiplas causas do quadro de anemia, para então decidir dentre as alternativas de tratamento, a que melhor se adequa àquela situação específica.

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Autora: Beatriz Cunta Gonçalves, Estudante de Medicina

Instagram: @biaemedicina