Alergologia e imunologia

Amamentação e a COVID-19 | Colunistas

Amamentação e a COVID-19 | Colunistas

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A amamentação é um processo que envolve maior vínculo entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança e com a habilidade defendê-la de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional. O aleitamento materno é o alimento mais completo para lactentes, trazendo benefícios tanto para a criança quanto para a nutriz. Dessa maneira, a pandemia de COVID-19 — doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2 — trouxe preocupações com relação à amamentação.

Epidemiologia

O leite materno reduz a mortalidade infantil em crianças menores de 5 anos, podendo evitar até 13% das mortes de causas evitáveis nesta faixa etária em todo o mundo. A proteção do leite materno contra mortes infantis é maior quanto menor é a criança. Assim, a mortalidade por doenças infecciosas é seis vezes maior em crianças menores de 2 meses não amamentadas, diminuindo à medida que a criança cresce, porém ainda é o dobro no segundo ano de vida, pois, quanto maior a idade da criança, menor a estimativa de ela estar em aleitamento materno.

A amamentação previne a morbimortalidade entre as crianças de países subdesenvolvidos e aquelas com menor nível socioeconômico. Enquanto, para os lactentes de mães com maior escolaridade, o risco de morrerem no primeiro ano de vida era 3,5 vezes maior em crianças não amamentadas, quando comparadas com as amamentadas; para as crianças de mães com menor escolaridade, esse risco era 7,6 vezes maior. Mas, mesmo nos países mais desenvolvidos, o aleitamento materno previne mortes infantis. Como observado nos Estados Unidos, por exemplo, acredita-se que o aleitamento materno poderia evitar, a cada ano, 720 mortes de crianças menores de um ano.

Benefícios do leite materno

Melhor nutrição: o leite humano possui todos os nutrientes essenciais para o completo desenvolvimento e crescimento da criança, sendo melhor digerido por ela e, ainda, capaz de suprir sozinho todas as necessidades nutricionais nos primeiros 6 meses. Além disso, é uma importante fonte de proteínas, gorduras e vitaminas nos meses seguintes até o 2º ano de vida.

Menor custo financeiro: para uma família com pouca renda, não amamentar e comprar fórmulas infantis pode representar grande parte de sua renda mensal. Em 2004, o gasto médio mensal para alimentar um bebê nos primeiros 6 meses variou de 38-133% do salário mínimo, dependendo da marca da fórmula infantil. Além de gastos com mamadeiras e gás de cozinha, acrescenta-se os gastos com problemas de saúde que crianças não amamentadas costumam ter mais comumente.

Efeito positivo no desenvolvimento cognitivo: o aleitamento materno contribui para o melhor desenvolvimento cognitivo. A maioria dos estudos comprovam que as crianças amamentadas apresentam vantagem nesse aspecto, sobretudo quando comparadas com não amamentadas de baixo peso ao nascimento. O mecanismo pelo qual isso se dá ainda não foi elucidado, havendo estudiosos que defendem que a presença de substâncias no leite são as responsáveis pelo melhor desenvolvimento cerebral, enquanto outros acreditam que são fatores comportamentais ligados ao ato de amamentar.

Evita diarreia: fortes evidências mostram que o leite materno protege conta diarreia; tal proteção diminui quando o aleitamento materno deixa de ser exclusivo, assim como diminui com o avançar da idade da criança. Inclusive, crianças não amamentadas apresentam um risco 3 vezes maior de desidratarem e virem a óbito em decorrência da diarreia quando comparadas com crianças amamentadas.

Evita infecção respiratória: a proteção contra infecções respiratórias se mantém constante nos primeiros 2 anos de vida, sendo maior quando a amamentação é exclusiva até os 6 meses, assim como diminui a gravidade dos episódios de infecção respiratória, sobretudo pneumonia, bronquiolite e otites.

Diminui o risco de alergias: a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida diminui o risco de alergia à proteína do leite de vaca, dermatite atópica, asma e outras alergias. A exposição a doses de leite de vaca nos primeiros dias de vida parece aumentar o risco de alergia a este, por isso a importância de evitar o uso de fórmulas infantis.

Diminui risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes: segundo revisão publicada pela OMS, indivíduos amamentados apresentam pressão sistólica e diastólica mais baixas, menores níveis de colesterol total e menor risco (37% menos) de desenvolver diabetes tipo 2 (DM2). Este último benefício estende-se também à mãe, pois foi descrita uma redução de 15% na incidência de DM2 para cada ano de lactação devido a melhor homeostase da glicose em mulheres que amamentam.

O que as mamães precisam saber sobre a amamentação e a COVID-19?

Até o momento, não há confirmação científica significativa publicada que estabeleça nexo causal entre a transmissão do SARS-CoV-2 pelo aleitamento materno. Logo, ainda parece improvável, portanto, que a COVID-19 seja transmitida do leite materno para bebês através da amamentação ou pela oferta do leite extraído por uma mãe que é confirmada/suspeita de ter a doença.

Se uma mãe com confirmação/suspeita da COVID-19 está amamentando, não há necessidade de fornecer um complemento com fórmulas infantis ou outros tipos de leite. A adoção dessa medida reduzirá a quantidade de leite produzido pela nutriz, o que poderá comprometer o seguimento da amamentação. As mães que amamentam devem ser aconselhadas e apoiadas para incentivar o posicionamento e a pega correta para garantir a produção adequada de leite materno. Também devem ser aconselhadas sobre alimentação responsiva, que corresponde a como responder aos sinais de fome do bebê, sobre a percepção da suficiência do leite materno e aumentar a frequência das mamadas quando necessário.

Acredita-se que recém-nascidos e bebês têm baixo risco de infecção por COVID-19. Entre os poucos casos confirmados de infecção em crianças pequenas, a maioria experimentou apenas sintomas leves ou era assintomática. A amamentação e o contato pele a pele reduzem significativamente o risco de morte em lactentes e proporcionam vantagens imediatas e ao longo da vida para a saúde e o desenvolvimento. A amamentação também tem grande vantagem de reduzir o risco de câncer de mama e de ovário na mãe. Diante disso, seus inúmeros benefícios superam substancialmente os riscos potenciais de transmissão e doença associados ao SARS-CoV-2.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a amamentação deve ser mantida por falta de elementos que comprovem que o leite materno possa causar disseminação do SARS-CoV-2 e deverá ser mantida em caso de infecção pelo COVID-19, desde que a mãe deseje amamentar e esteja em condições clínicas adequadas para fazê-lo. Logo, a mãe infectada pelo SARS-CoV-2 deve ser orientada para realizar algumas medidas, a fim de reduzir o risco de transmissão do vírus através de gotículas respiratórias durante o contato com a criança. Veja a seguir algumas orientações:

1. As mães devem lavar as mãos com água e sabão e/ou usar álcool em gel 70% por pelo menos 20 segundos antes de tocar o bebê ou antes de retirar o leite materno, seja por extração manual ou na bomba extratora;

2. Usar máscara facial (cobrindo completamente nariz e boca) durante as mamadas e evitar falar ou tossir durante a amamentação. Quanto ao uso da máscara, é importante:

  • Substituir as máscaras assim que ficarem úmidas, seja a caseira ou descartável ou ao tossir, espirrar e a cada mamada;
  • As máscaras descartáveis devem ser descartadas imediatamente após o uso e não devem ser reutilizadas;
  • As máscaras caseiras de tecido devem ser de uso pessoal e lavadas com água sanitária após o seu uso.
  • Para colocar e retirar a máscara, não tocar na frente da máscara, o ideal é utilizar as alças de elástico ou tecido;
  • Caso a mãe não disponha de máscara facial, utilizar um pano limpo cobrindo nariz e boca durante a amamentação;

3. Se a mãe espirrar ou tossir em um lenço de papel, deverá descartá-lo imediatamente e usar álcool em gel 70% ou lavar as mãos por pelo menos 20 segundos novamente com sabão e água limpa;

4. Se a nutriz optar pela extração do leite, deverá fazer rigorosamente a limpeza das bombas de extração de leite após cada uso;

6. Deve-se considerar a possibilidade de solicitar a ajuda de alguém que esteja saudável para oferecer o leite materno em copinho, xícara ou colher ao bebê;

7. É necessário que a pessoa que vai alimentar o bebê aprenda a fazer isso com a ajuda de um profissional de saúde.

O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.