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Anemias no adulto | Colunistas

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Definição

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia é uma condição, na qual a hemoglobina sanguínea está abaixo dos níveis normais em razão de uma carência de um ou mais nutrientes essenciais. A redução do número de hemácias, do hematócrito e da concentração da hemoglobina precisa ser analisada a partir de dois aspectos:

  1. Anemia Relativa: o volume plasmático aumenta, mas não há aumento de hemácias, com isso há uma hemodiluição. 
  2. Anemia Verdadeira: ocorre diminuição do volume total de hemácias no organismo.

A anemia pode se manifestar por meio de três mecanismos:

  1. Diminuição da produção de eritrócitos: é a forma mais comum, na qual o valor de reticulócitos pode variar entre normal e diminuído. Essa redução da produção se dá em virtude de um distúrbio da diferenciação, da proliferação ou da maturação dos eritroblastos na medula óssea.
  2. Diminuição da sobrevida dos eritrócitos: o tempo médio de vida das hemácias varia entre 90 e 120 dias; diversas situações podem reduzir a sobrevida eritrocitária.
  3. Perda excessiva de sangue: quando a perda não é em grande quantidade, o organismo consegue promover mecanismos de compensação. Já nas perdas maiores, instala-se uma situação de emergência que requer reposição imediata, a fim de evitar o choque hipovolêmico.

Sinais e sintomas

Geralmente, os sintomas descritos pelos pacientes tendem a ser inespecíficos e a presença desses dependerá de alguns fatores, tais como: gravidade, velocidade com que se instala, idade do paciente e comorbidades. Pode-se dividir as manifestações clínicas em agudas e crônicas.

Na anemia aguda, como ocorre nas perdas sanguíneas, as manifestações ocorrem em razão da redução abrupta do volume intravascular, sendo que o paciente passa a apresentar tontura, hipotensão postural, síncope e taquicardia. Em situações mais graves pode evoluir para choque hipovolêmico e, não havendo a pronta intervenção, levar ao óbito.

Diante de uma anemia crônica, todos os sintomas apresentados estão relacionados pela diminuição da capacidade de transportar o oxigênio e, assim, uma baixa perfusão tecidual. Quando a evolução é lenta, os mecanismos de compensação, como redução da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio e o aumento da frequência e do débito cardíaco, são capazes de manter a distribuição de oxigênio nos tecidos, de maneira que os pacientes permaneçam assintomáticos, mesmo com os baixos níveis de hemoglobina.

Dentre as queixas relatadas pelos pacientes, estão: fadiga, letargia, cefaleia, tontura, dificuldade de concentração, vertigens, lipotimia e palpitações. Durante o exame físico, um dos achados mais clássicos é a palidez cutâneo-mucosa. Já nos quadros mais graves, pulso amplo, edema de membros inferiores, estase jugular, sopro cardíaco de ejeção e hepatomegalia congestiva.

Em casos de anemia ferropriva, as alterações ungueais como unhas quebradiças e coiloníquia, além de queilite angular podem se fazer presentes.

Exames complementares

Alguns exames podem se fazer úteis para o diagnóstico da anemia, dentre eles: 

  • Hemograma: para avaliação qualitativa e quantitativa dos elementos celulares do sangue;
  • Reticulócitos: são as células vermelhas em circulação que possuem os resíduos das organelas citoplasmáticas, é considerada uma das formas mais simples e econômica para realizar a classificação preliminar da anemia;
  • Ferritina e Ferro Sérico: a ferritina é a proteína de reserva de ferro de maior importância, encontrada em todas as células; é um dos melhores exames para diferenciar a anemia ferropriva da anemia não ferropriva.  Já o ferro sérico  quantifica o ferro circulante que está ligado à proteína;
  • Capacidade Ferropéxica e Índice de Saturação da Transferrina: a capacidade ferropéxica é a capacidade do sangue ligar o ferro à transferrina; o índice de saturação da transferrina representa a relação entre o ferro plasmático e a capacidade total de ligação do ferro;
  • Eletroforese da hemoglobina: seu uso permite identificar hemoglobinas anormais.

Anemias microcíticas

A principal causa dessa anemia é a deficiência de ferro, considerada universalmente a forma mais comum de anemia. A anemia por deficiência de ferro produz sinais e sintomas como fadiga, tonturas, astenia, palpitações e palidez cutâneo-mucosa.

O tratamento da anemia por deficiência de ferro consiste, primariamente, em identificar e tratar a causa base. Realizar reposição de ferro oral por um período suficiente para corrigir a anemia e refazer os depósitos, além de uma boa orientação nutricional.

Talassemias

Grupo de doenças congênitas, hereditárias, resultantes da ausência ou de um desequilíbrio na síntese das cadeias constituintes da hemoglobina. O diagnóstico é baseado na quantificação da hemoglobina e das frações de cadeia da globina por eletroforese.

Anemias normocíticas

São aquelas que possuem o Volume Corpuscular Médio (VCM) dentro dos níveis normais.

Anemias hiperproliferativas

Cursam com aumento da produção de precursores eritróides e são causadas por perda aguda de sangue ou por destruição periférica das hemácias.

Anemias hipoproliferativas

As anemias hipoproliferativas, com resposta medular inadequada ano nível de hemoglobina, têm diversas causas que agem por mecanismos distintos, podendo dividir-se em: patologias intrínsecas da medula óssea (anemia aplásica, leucemias, linfomas e neoplasias sólidas com invasão da medula óssea e mielodisplasia) secundárias à ação inadequada da eritropoetina (anemia de doença crônica, insuficiência renal e endocrinopatias) e secundárias à carência de ferro.

Anemias macrocíticas

Tendem a ser menos frequentes, sendo mais comuns entre os idosos. A macrocitose pode estar presente sem anemia. As principais causas da anemia macrocítica, estão relacionadas com o alcoolismo, hepatopatias e hipotireoidismo, além de causas hematológicas, como anemias megaloblásticas e as síndromes mielodisplásicas.

Tratamento

O tratamento das anemias é muito variável e deve ser feito de acordo com a causa base da anemia.

  1. Anemia Ferropriva: a melhor opção é o ferro oral, por meio de ferro elementar com a dose de 3 a 5 mg/kg/dia, durante 1 a 2 meses objetivando a normalização dos valores de hemoglobina e por 3 a 6 meses visando a restauração dos estoques de ferro no organismo; não se deve ultrapassar a dose diária de 200 mg/dia. De suma importância uma boa orientação nutricional com aumento do consumo de alimentos ricos em ferro (carne vermelha, vegetais verde-escuros, leguminosas, cereais integrais), além disso observar alimentos que interferem na sua absorção (leite, ovos, queijos, chás, chocolate).
  2. Anemia Megaloblástica: reposição de vitamina B12 na dose de 1000 mcg, via oral, a cada 24h até a correção da deficiência. Reposição de ácido fólico, na dose de 5 mg, via oral, de 24/24h até que se tenha a correção da deficiência e, nas causas irreversíveis, manter uso contínuo.

Autor: Liamara F. Scrovonski

Instagram: https://www.instagram.com/liamara_scrovonski/

Referências

Alves, BIREME /. OPAS /. OMS-Márcio. Anemia | Biblioteca Virtual em Saúde MS. https://bvsms.saude.gov.br/anemia/. Acesso em 05 de Março de 2022.

DE SANTIS, Gil Cunha. Anemia: definição, epidemiologia, fisiopatologia, classificação e tratamento. Medicina (Ribeirão Preto), v. 52, n. 3, p. 239-251, 2019.


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