Anestesiologia

Anestesia: A descoberta que revolucionou a medicina | Colunistas

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Você já deve ter sido submetido a procedimentos que necessitaram de anestésicos, mas já parou para pensar quando ela surgiu e como era a medicina antes dela?

Linha do tempo:

Antes da criação do primeiro anestésico efetivo, todos os procedimentos cirúrgicos, fossem eles de pequeno ou grande porte, eram extremamente dolorosos. Foi em 1846, que o uso do éter sulfúrico puro passou a ser utilizado para sedar os pacientes. A insensibilidade total durante o ato cirúrgico, até então, era considerada uma utopia nos meios acadêmicos.

Embora fosse uma descoberta que mudaria o curso dos procedimentos cirúrgicos, foi apenas anos mais tarde que a anestesia se tornou norma. Isso porque, o uso do éter era algo novo é desconhecido, portanto, erros na dose medicamentosa levavam ao óbito por overdose ou permitiam que os pacientes despertassem no meio do procedimento. Isso fez com que os hospitais da época proibissem o uso da substância nas cirurgias, alguns profissionais referiam-se a droga como “influência do satan”.

No entanto, o primeiro passo para a anestesia geral foi dado por Joseph Priestley, ao descobrir o óxido nitroso (N2O) em 1773. O gás produzia uma sensação agradável, acompanhada de um desejo incontido de rir (por isso o nome de gás hilariante). Anos depois Faraday, físico inglês, descobriu que os vapores de éter possuíam efeitos inebriantes semelhantes aos do óxido nitroso. No entanto, essa descoberta foi ignorada pelos meios médicos.

Nos anos seguintes à sua descoberta, foram introduzidos novos agentes anestésicos. Ao óxido nitroso e ao éter seguiu-se o clorofórmio, utilizado pela primeira vez em 1847, no trabalho de parto. Paralelamente à anestesia geral por inalação, desenvolveram-se outros métodos de se obter a analgesia, como a anestesia local, venosa, raquianestesia.

Definição:

A palavra anestesia vem do grego (an, privado de + aísthesis, sensação). A anestesia geral chegou ao Brasil em 1847. Segundo informa Lycurgo Santos Filho, em sua História Geral da Medicina Brasileira, a primeira anestesia geral pelo éter foi praticada no Hospital Militar do Rio de Janeiro. O problema é que sua ação durava pouco tempo, portanto, os procedimentos realizados deveriam ser de pequeno porte.

O éter foi logo substituído pelo clorofórmio, que a partir de então se generalizou, suplantando as cirurgias até que novos agentes anestésicos foram descobertos e introduzidos na prática médica. Quando o FDA (Food and Drug Administration) foi criado, trouxe uma nova legislação e padrões farmacêuticos para a administração de medicamentos na hora das cirurgias.

Felizmente, a medicina evoluiu e consequentemente os anestésicos também. Atualmente, é possível realizar uma cirurgia complexa e que dure horas, sem o paciente acordar ou sentir dor.

Tipos de anestésicos:

Existem basicamente três tipos de anestesia: local, regional e geral.

Anestesia Regional:

É um procedimento visa anestesiar apenas a porção do corpo a ser operada, e o paciente pode permanecer acordado ou sedado. Os mais utilizados são:

– Bloqueio de nervos periféricos

– Anestesia raquidiana (ou raquianestesia):

é necessário uma agulha de pequeno calibre é inserida nas costas, de modo a atingir o espaço subaracnoide, dentro da coluna espinhal. Em seguida, um anestésico local é injetado dentro do líquido cefalorraquidiano (líquor). Para que a anestesia seja eficiente, é necessária somente uma pequena quantidade de anestésico local, sendo que esta é uma das grandes vantagens quando comparada com a peridural, pois, deste modo, o risco de uma intoxicação por anestésicos locais é muito pequeno.

Neste tipo de anestesia, perde-se a sensibilidade dos membros inferiores e da zona inferior do abdome. Os membros inferiores ficam dormentes e pesados, perdendo a mobilidade. 

Este efeito é temporário e desaparece ao fim de duas a três horas, recuperando totalmente a sensibilidade e a mobilidade.

A raquianestesia é muito usada para procedimentos ortopédicos de membros inferiores e para cesarianas.

– Anestesia peridural ou epidural:

É indicada na analgesia para o parto normal e nas cirurgias que envolvem tórax e abdome. Os anestésicos são injetados pela agulha e pode ser inserido um fino cateter, que permanecerá no espaço peridural. Ela é muito semelhante à raquidiana, porém há algumas diferenças: o local onde é administrado o anestésico local, o tipo de agulha e o volume de anestésicos utilizados.

Diferença entre peridural x raquidiana:

1. Na peridural o medicamento é injetado na região peridural, que fica ao redor do canal espinhal, e não dentro do espaço subaracnoide, como na raquianestesia.

2. Na anestesia peridural, o anestésico é injetado através da agulha e pode ser implantado um cateter, que permanecerá no espaço peridural.

3. A anestesia peridural pode continuar no pós-operatório para controle da dor nas primeiras horas após a cirurgia.

4. A quantidade administrada é bem menor na raquidiana.

Anestesia combinada raqui-peridural: combina os dois tipos anteriores, raquidiana e peridural.

Considerações finais:

O desenvolvimento dos anestésicos como conhecemos atualmente só foi possível devido à curiosidade, inteligência e estudos realizados a centenas de anos atrás. Antes, a dor estava entrelaçada com os procedimentos invasivos, algo que hoje em dia é inconcebível. Portanto, será empolgante acompanhar os novos avanços dessa área nos próximos anos. 

Referências:

  • REZENDE, JM. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São Paulo: Editora Unifesp, 2009. Breve história da anestesia geral. pp. 103-109. ISBN 978-85-61673-63-5. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.