A colchicina pode ajudar a combater a inflamação pulmonar e a acelerar a recuperação de pacientes que apresentam quadros moderados e graves da Covid-19. É o que afirmam um grupo de pesquisadores da da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.
O estudo clínico, apoiado pela FAPESP e divulgado na plataforma medRxiv, em artigo ainda sem revisão por pares, apontou que o medicamento utilizado há décadas para o tratamento da gota demonstrou que a colchicina pode ser considerada uma opção benéfica e não cara para o tratamento da Covid-19.
De acordo com Renê Oliveira em entrevista à Agência FAPESP, médico que coordenou o estudo no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), “voluntários tratados com o fármaco ficaram livres da suplementação de oxigênio, em média, três dias antes do que os pacientes que receberam apenas o protocolo terapêutico padrão do hospital. Além disso, puderam voltar para casa mais cedo”.
Os pesquisadores que fizeram parte da pesquisa destacaram ainda que a redução no tempo de recuperação dos pacientes poderá também significar uma economia para a rede pública de saúde e ampliar o número de atendimentos.
Em média, cada dia de internação em UTI pode custar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por paciente. Já a colchicina é um medicamento barato e com potencial de uso em larga escala. O seu tratamento completo custa cerca de R$ 30 por paciente.
Como foi feita a pesquisa com a colchicina?
Os pesquisadores da USP foram responsáveis por um ensaio clínico controlado, randomizado e duplo-cego entre os dias 1º de abril e 6 de julho, com o objetivo de testar a hipótese da colchicina amenizar a tempestade de citocinas inflamatórias, comuns em quadros graves da Covid-19.
Os 38 pacientes participantes foram divididos em dois grupos de forma totalmente aleatória, em que alguns recebiam a colchicina, e outros apenas um placebo. Voluntários e médicos que administraram o medicamento não sabiam o que cada paciente havia recebido. Somente um terceiro grupo de pesquisadores.
Os pesquisadores concluíram, ao comparar os resultados dos grupos distintos, que a colchicina promoveu os seguintes benefícios:
- Reduziu o tempo de oxigenoterapia;
- Reduziu o tempo geral de internação;
- Diminuiu mais rapidamente os níveis de proteína C-reativa no sangue, molécula considerada o principal marcador de inflamação sistêmica.
Segundo os pesquisadores, a colchicina atua majoritariamente em dois tipos de células do sistema imune: os neutrófilos e os macrófagos.
Ela é responsável por reduzir a produção das chamadas citocinas inflamatórias – entre elas a interleucina-1 beta (IL-1β) e a interleucina-18 (IL-18) e, como consequência, também a interleucina-6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral (TNF).
Agora, os estudo avança para uma próxima fase de ensaio clínico que será aberta. Dessa forma, os pacientes serão convidados a participar e terão a certeza de estarem tomando o medicamento.
Confira o vídeo:
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