versão impressa ISSN 2176-9451versão On-line ISSN 2177-6709
Dental Press J. Orthod. vol.22 no.3 Maringá mai./jun. 2017
http://dx.doi.org/10.1590/2177-6709.22.3.009-010.edt
O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo.
Winston Churchill, político e escritor britânico.
A cada dia, a Ortodontia vem reduzindo a necessidade de exodontias para o tratamento ortodôntico. Um dos motivos para essa mudança de conduta baseia-se nos achados de estudos publicados no início dos anos 80 por pesquisadores da University of Washington, reportando taxas de recidiva do alinhamento dentário semelhantes em casos tratados com ou sem exodontias dos pré-molares1,2. Assim, divulgou-se que a decisão de extrair dentes não aumentaria as chances de uma maior estabilidade do tratamento ortodôntico em longo prazo. Entretanto, o cerne dos estudos de Little et al.1,2 foram as alterações no alinhamento dentário. Se considerarmos além do apinhamento, uma análise da literatura revela que esse pressuposto pode ser um equívoco, e o estopim reverberado poderá, no futuro, danificar os nossos ouvidos e, nos pacientes, os dentes.
No tocante à estabilidade da correção sagital, mais especificamente sobre o tratamento da Classe II, havia um dogma, ainda recorrente na Ortodontia, de que os molares deveriam terminar em relação de Classe I, sob risco de uma maior recidiva do tratamento3. Entretanto, essas assertivas não se sustentam quando a estabilidade do tratamento é analisada comparativamente entre os protocolos com extrações de dois pré-molares superiores e aqueles sem extrações4. Uma revisão sistemática recente apontou como inconclusiva a estabilidade, se maior ou menor, do tratamento da Classe II quando realizado com ou sem extrações5. Por outro lado, parece haver uma evidência, embora relativamente fraca, de que os casos com má oclusão de Classe III tratados compensatoriamente com extrações de dentes inferiores são mais estáveis do que aqueles tratados sem extrações6,7.
Se as extrações parecem reduzir o risco de recidiva do tratamento ortodôntico compensatório da má oclusão de Classe III, o mesmo caminho tem sido traçado pelos resultados dos estudos examinando a estabilidade do tratamento não cirúrgico da mordida aberta anterior. Estudos clínicos têm apontado que a estabilidade parece maior quando o tratamento na dentição permanente é realizado com extrações, seja em adolescentes8 ou em adultos9. Especula-se que a estabilidade seja maior no tratamento com extrações justamente porque são utilizados dois mecanismos que auxiliam no fechamento da mordida aberta anterior: o “princípio de ponte levadiça” e a mesialização dos dentes posteriores8.
Mas por que retornamos a esse tema? Graças ao advento e popularização da ancoragem esquelética, percebe-se um aumento significativo na divulgação de propostas de tratamento em que erros esqueléticos sagitais são compensados por meio da distalização em bloco dos dentes superiores, nos casos de Classe II; ou dos inferiores, nos casos de Classe III. Também, ganha corpo a opção de intrusão dos dentes posteriores nos casos de mordida aberta anterior, com auxílio de recursos de ancoragem esquelética. Esses protocolos de tratamento apresentam a grande vantagem de reduzir a indicação de exodontias; porém, se for verdadeira a perspectiva de uma menor chance de recidiva das alterações sagitais e verticais (mordida aberta anterior) nos casos tratados com extrações, é provável que estejamos aumentando o risco de recidiva com o auxílio da ancoragem esquelética, sem extrações.
Nesse momento, ao optar por tal protocolo de tratamento, seria prudente informar ao paciente sobre a possibilidade de estarmos fazendo a opção por um tratamento com maior risco de recidiva. Pelo menos, enquanto aguardamos uma resposta da ciência.