versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.111 no.2 São Paulo ago. 2018
https://doi.org/10.5935/abc.20180132
Caro Editor,
Foi com grande prestígio que li o artigo “Fitosteróis no Tratamento da Hipercolesterolemia e Prevenção de Doenças Cardiovasculares”, de Cabral e Klein, publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia.1 Os autores discorrem sobre a posologia de fitosteróis no tratamento da hipercolesterolemia, mostrando o consenso atual de renomadas diretrizes e a aprovação por agências reguladoras mundiais.
Como mencionado, o principal mecanismo de ação dos fitosteróis é por meio da redução (30% a 50%) na absorção intestinal de colesterol.1 Os autores, no entanto, deixam claro que é primordial o acompanhamento a longo prazo, para explorar a relação da suplementação de fitosteróis com o risco de doenças cardiovasculares. Adicionalmente, reforço outra investigação importante: a análises de hormônios sexuais séricos durante ensaios clínicos randomizados baseados na administração de fitosteróis.
Recentemente mostrei que a ingestão de colesterol pode estar relacionada com aumento da testosterona total em homens, ao passo que o uso de estatinas pode anular este potencial.2 Talvez o uso de fitosteróis também pode atenuar os níveis séricos de testosterona total em homens (Figura 1).
Figura 1 Proposta para analisar os níveis séricos de testosterona durante suplementação de fitosteróis. Os fitosteróis aumentam a excreção do colesterol, repercutindo na diminuição do colesterol sérico. Visto que o colesterol é importante na síntese de hormônios sexuais, a diminuição da testosterona sérica aliada à suplementação de fitosteróis é uma hipótese. Portanto, testar este conceito é útil e, a princípio, inovador. Setas pontilhadas significam a condução de fitosteróis; setas lisas significam diminuição de níveis séricos de colesterol e testosterona.
Em um teste, a ingestão de 8,6 g/d de fitosteróis refletiu na excreção diária de 28 mg de colesterol/g de peso seco fecal, sendo resultante de um aumento em 20 mg/g em comparação com o período antecedente ao teste.3 Tais proporções refletem na excreção de colesterol fecal diária aproximadamente em 230 mg sem a ingestão de fitosteróis e 810 mg com a ingestão de fitosteróis, pois a média de excreção fecal diária dos seres humanos é de 128 g de peso úmido, o qual corresponde a 29 g de peso seco.4
Aponto que a ingestão diária de 500 a 1.000 mg de colesterol pode resultar no aumento aproximadamente de 130 ng/dL de testosterona total em homens. Em ratos, a ingestão de fitosteróis durante 22 dias reduziu a testosterona sérica em 33%, em comparação com o controle.5 De acordo com meu conhecimento, não há estudos que analisaram hormônios sexuais em associação com a administração de fitosteróis em humanos. Portanto, além da necessidade citada de analisar a longo prazo a administração de fitosteróis, também é substancial cogitar mensurações de hormônios sexuais neste âmbito.