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Abertura de uma nova seção na RC&SC

Abertura de uma nova seção na RC&SC

Autores:

Gilberto Hochman,
Everardo Duarte Nunes

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123

Ciênc. saúde coletiva vol.20 no.1 Rio de Janeiro jan. 2015

http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014201.00202014

Como parte das reflexões sobre os seus vinte anos de existência, a revista Ciência & Saúde Coletiva publicará ao longo de 2015 a série Construtores da Saúde Coletiva. O objetivo é publicar um conjunto de artigos sobre personagens/atores que contribuíram decisivamente - com ideias e ações - para a construção do campo da saúde coletiva no Brasil. A revista publicará ao menos um (1) artigo em cada um dos números de 2015. Desse modo, a Ciência & Saúde Coletiva acompanha virtuosamente iniciativas de seções permanentes sobre a história do campo da saúde há muito existentes em periódicos prestigiosos, como o American Journal of Public Health com o seu "Voices from the Past". Partimos do pressuposto de que a saúde coletiva foi construída historicamente por uma multiplicidade de indivíduos, grupos e instituições em várias áreas do conhecimento e de prática profissional, situados no Brasil e também no exterior. Também compreendemos que esse foi um processo historicamente polifônico e polissêmico que, por isso mesmo, constrange monopólios - sejam eles interpretativos, institucionais ou políticos. Esse entendimento deve incentivar, hoje, um debate aberto sobre o presente e o futuro da saúde da população brasileira.

Os Construtores da Saúde Coletiva foram homens e mulheres que, de diferentes maneiras, pensaram, escreveram, discursaram, agiram, organizaram, administraram e, fundamentalmente, desejaram e imaginaram instituições, associações, políticas e sistemas de saúde mais públicos, nacionais, inclusivos e igualitários. Imaginação e práticas que foram eivadas de contradições, conflitos e diferenças profundas sobre os caminhos a serem seguidos, em momentos e lugares diversos. As próprias terminologias que identificaram o campo são parte desse processo: higiene, saúde pública, medicina preventiva, medicina social, saúde coletiva. Foram legados e escolhas situadas no tempo e espaço. Os consensos possíveis foram certamente frutos dessa construção histórica denominada de saúde coletiva, cujos efeitos não poderiam ser antecipados por aqueles que, desde meados do século XX, refletiram e agiram sobre o quadro da saúde brasileira.

Nesta série será incentivada a diversidade temporal, ideológica, institucional, profissional, organizacional e geográfica. Personagens/atores internacionais, especialmente latino-americanos, que influenciaram a saúde coletiva brasileira serão contemplados. Toda escolha é dramática e incompleta, mas acreditamos que uma seleção inicial deve ser um consistente ponto de partida para a recuperação da trajetória mais recente do campo - e de suas diferentes vozes -, a partir de um conjunto de perfis biográficos e que novos nomes devem ser sugeridos e incorporados. Não se trata de ratificar ou erigir um panteão. Ao contrário, devemos sim celebrar nossos construtores, mas situando-os criticamente em seu tempo, na história. Pretende-se também iluminar personagens que são menos visíveis, alguns efetivamente esquecidos, nas narrativas mais assentadas sobre a reforma sanitária e sobre a criação do Sistema Único de Saúde. Como marco temporal privilegiaremos personagens que tiveram atuação mais saliente a partir do final da Segunda Guerra Mundial, em particular, desde 1964, ano do golpe civil-militar que encerrou a experiência democrática inaugurada em 1945.

Cada artigo, que será avaliado por pares, deverá ser, ao mesmo tempo, um perfil e um balanço crítico da trajetória profissional e política e das ideias de cada um dos construtores. Devem ser contempladas informações biográficas, produção intelectual - seja acadêmica, na imprensa, material didático, discursos, entrevistas e comunicações para o grande público - atuação profissional, associativa e política. Seguindo a advertência de Pierre Bourdieu, não nos iludiremos com as biografias, mas apostamos nelas como uma das possibilidades de compreensão da construção da saúde coletiva como campo intelectual, profissional e institucional. O balanço entre trajetória política, intelectual e profissional é, certamente, um desafio, dados os limites de um artigo científico. Todavia, a proposta não é dar conta de todas as dimensões do personagem e de sua obra, mas, sim, dos aspectos mais relevantes e de maior impacto na saúde coletiva, no sistema de saúde e na reforma sanitária.

Enfim, os editores da série convidam autores e leitores a conhecer e a homenagear aqueles que ajudaram a imaginar e a construir a saúde coletiva e, também, o Brasil.