versão impressa ISSN 1809-2950versão On-line ISSN 2316-9117
Fisioter. Pesqui. vol.22 no.3 São Paulo jul./set. 2015
http://dx.doi.org/10.590/1809-2950/13997522032015
La práctica de ejercicios terapéuticos para mayores pretende mejorar el desempeño funcional. La prescripción de ejercicios domiciliarios es una práctica rutinera en la fisioterapia, pero su eficacia depende de la adhesión de los mayores, que a menudo es baja. El objetivo del estudio fue evaluar la adhesión y retención de mujeres mayores a un programa domiciliario e identificar los factores asociados a esta práctica. Este estudio es observacional exploratorio, formado por 96 mujeres mayores (71,3±5,16 años) sometidas a un programa de ejercicios en casa. Se evaluaron las medidas clínicas, funcionales y un cuestionario de adhesión para identificar los factores motivadores y las barreras. La tasa de retención fue del 86% y la de adhesión fue del del 36%, con un mínimo del 85% de frecuencia. Los modelos de regresión aplicados no fueron significativos y en los análisis estadísticos comparativos entre grupos se comprobó alta incidencia de factores negativos. La ausencia de correlación entre peor desempeño funcional y físico con la baja adhesión demuestra que este resultado es complejo y multifactorial, y que debe ser explorado también en los aspectos sociales, emocionales y culturales.
Palabras clave: Terapia por Ejercicio; Anciano; Cooperación del Paciente; Ejercicios
Paralelamente à transição demográfica no Brasil, em que o número de pessoas acima de 65 anos vem crescendo continuamente, ocorre também uma transição epidemiológica, relacionada à mudança no perfil de morbimortalidade, com as doenças infectocontagiosas sendo substituídas pelas crônico-degenerativas 1), (2 . Essa realidade aponta para uma complexidade crescente de atenção às necessidades dos idosos, por causa de seu impacto na saúde e nos níveis de independência e autonomia desta população 2 .
Os benefícios dos exercícios para idosos são bem estabelecidos na literatura: reduzem a síndrome da fragilidade, aumentam a velocidade da marcha, melhoram o desempenho nas atividades de vida diária (AVD), proporcionam independência e qualidade de vida 3)-(5 .
Após a alta do tratamento ambulatorial, a prescrição de exercícios domiciliares é uma prática frequente na fisioterapia 5), (6 . Estudos demonstram que pacientes que aderem a programas domiciliares relatam ter menos dor e mais força muscular, devido aos benefícios da prática regular de exercícios físicos 7), (8 . Um treinamento muscular tem como um dos princípios fisiológicos a reversibilidade, ou seja, os ganhos musculares obtidos em termos de força e resistência muscular são reversíveis com a interrupção da prática dos exercícios. Sendo assim, é imprescindível a adesão às orientações prescritas pelo fisioterapeuta, para que haja efetividade 7), (9), (10 .
O conceito de adesão é controverso na literatura 3), (8), (11 . O conceito mais utilizado define adesão a um programa de exercícios como a razão entre o número de sessões realizadas dividido pelo número de sessões ofertadas 12 . De acordo com a literatura, essa relação frequentemente é muito baixa. Evidências sugerem que 50% da população que inicia um programa de exercícios o interrompe em até seis meses 12), (13 .
É preconizada adesão mínima de 80% a 85% para que os resultados de intervenções terapêuticas sejam satisfatórios 7 . Outro conceito que deve ser diferenciado é o de retenção, que consiste na manutenção do vínculo de um indivíduo a um programa de exercícios, seja em caráter experimental ou clínico 14 . No entanto, o participante pode ter tido retenção em um programa, ou seja, fez-se presente do início ao fim mas falta a muitas sessões e por isso não tem uma adesão satisfatória 8 . Adesão e retenção podem ser explicadas por diferentes variáveis 14), (15 .
O perfil atual do idoso brasileiro indica maior prevalência de mulheres em relação aos homens, fenômeno definido por especialistas em geriatria e gerontologia como feminização da velhice 11 . Há maior prevalência de incapacidade e dependência funcional em idosos, particularmente do sexo feminino 6 .
O envelhecimento ativo deve ser a meta do cuidado ao longo da vida e a presença de alguma incapacidade funcional justifica a investigação, o cuidado e a reabilitação 16), (17 . São necessárias pesquisas para identificar a eficácia das orientações de exercícios domiciliares, por meio do uso de orientações verbais ou por cartilha, já que tal atividade é uma atuação constante do profissional de Fisioterapia 10 . Poucos estudos de intervenção analisaram a adesão como desfecho primário, e não existe um instrumento padrão-ouro para avaliar adesão de idosos aos exercícios 17 .
As hipóteses do estudo são: a) as taxas de adesão e retenção de um programa domiciliar são menores do que as recomendadas; b) idosas com pior desempenho funcional e com mais comorbidades associadas têm menor adesão a um programa de exercícios sem supervisão direta.
O objetivo desse estudo foi: a) verificar as taxas de adesão e retenção das idosas em um programa de exercícios domiciliares b) identificar fatores associados à adesão de idosas a um programa de exercícios domiciliares realizados com supervisão indireta de fisioterapeutas c) investigar quais motivadores e barreiras são mais prevalentes para as idosas que tiveram ou não adesão ao programa de exercícios.
Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas Gerais, sob o parecer de nº ETIC 38/2010, com a aprovação de um adendo.
Detalhes do projeto original encontram-se no Registro de Ensaios Clínicos Brasileiros - REBEC RBR9v9cwf. O estudo em questão foi uma continuidade de um ensaio clínico prévio. O protocolo de treinamento do programa domiciliar foi exatamente o mesmo do estudo ambulatorial registrado no REBEC.
Trata-se de uma amostra de conveniência, constituída por mulheres idosas da comunidade, com idade de 65 anos ou mais, que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
As idosas foram recrutadas em um ensaio clínico, pós-treinamento ambulatorial, no qual foram realizadas 30 sessões de exercícios de fortalecimento muscular, em 10 semanas, com duração de 50 minutos cada.
Foram excluídas do estudo as idosas que apresentaram alterações cognitivas detectáveis pelo Miniexame do Estado Mental, que foram submetidas a cirurgias ortopédicas dos membros inferiores e/ou com história de fratura nos últimos seis meses, apresentaram doenças neurológicas, e com condições clínicas e sensoriais que inviabilizaram a realização dos exercícios 18), (19).
O cálculo do tamanho da amostra foi realizado a partir da fórmula do modelo de regressão: 10(K+1), onde K representa o número de variáveis explicativas do modelo 20 . Foram selecionadas oito variáveis clínicas e funcionais, oito motivadores e oito barreiras, conforme referencial teórico. Portanto, 10(8+1)=90 idosas deveriam participar do estudo. Foram realizados três modelos de regressão logística para identificar fatores associados à adesão ao programa domiciliar.
Para caracterização da amostra, os dados sociodemográficos e as condições clínicas, como ocorrência de quedas, dor e comorbidades, foram obtidos por um questionário estruturado construído e aplicado pelos pesquisadores antes da intervenção domiciliar ( Anexo 1 ). Os testes funcionais foram realizados nesse mesmo ponto da pesquisa.
Em nosso estudo, o escore no Miniexame do Estado Mental foi usado como variável explicativa do modelo de regressão, para avaliar a associação da adesão com a capacidade cognitiva das voluntárias. A versão adaptada para população brasileira, que foi usada como referência, tem como pontos de corte: 13 pontos para analfabetos, 18 para escolaridade média e 26 para indivíduos de alta escolaridade 18), (19 .
Para avaliação da presença dos sintomas depressivos, foi utilizada a Escala de Depressão Geriátrica ( Geriatric Depression Scale, GDS ) (21)-(3 .
Para avaliação da capacidade funcional foram selecionados três testes funcionais: avaliação da velocidade de marcha, Timed Up and Go , e sentar e levantar da cadeira. Os três testes são facilmente realizados na prática fisioterapêutica - são de rápida aplicação, válidos e confiáveis para a população idosa 17 .
Para avaliação da velocidade de marcha habitual foi utilizada a relação distância/tempo (metros/segundo), medida em um espaço de 10 metros 25 . As participantes foram instruídas a andar em velocidade autosselecionada. A velocidade da marcha foi registrada apenas nos 6 metros centrais da pista, identificados lateralmente por marcas de fita, para evitar viés de aceleração e desaceleração 25 .
Para avaliação da mobilidade foi utilizado o Timed Up and Go Test . O teste consiste em avaliar o desempenho e o tempo gasto pelo indivíduo para levantar-se, a partir da posição sentada em uma cadeira padronizada com 45cm de altura do assento, sem braços, deambular três metros, girar, retornar para a cadeira e sentar-se novamente 26), (27 .
A avaliação do desempenho funcional de sentar-se e levantar-se é usada como uma medida indireta da força de músculos proximais dos membros inferiores, associada à incapacidade e ao declínio da função. Foi utilizada uma cadeira padrão de 45cm, tendo como referência a altura do chão28.
Não há um questionário de adesão validado e adaptado para a população idosa brasileira até o momento. Portanto, baseado na literatura e no contexto cultural, econômico e social do Brasil, foi desenvolvido pelos pesquisadores deste estudo, um questionário de adesão, com três eixos - os motivos de falta às sessões, os fatores motivadores e as barreiras. Para elaboração desse instrumento, foi realizado um estudo piloto, que foi aplicado a dez idosas que estavam participando de programas de atividade física 8 . Foram feitos ajustes e adequações necessárias até chegar à versão final do questionário, que foi usado neste estudo. Foi realizada confiabilidade intra e interexaminador, através do coeficiente Kappa, que demonstrou excelente concordância - Intra (Kappa=0,846) e Interexaminadores (Kappa=0,822).
O ensaio clínico que precedeu este estudo foi constituído de um grupo de idosas que realizou um programa de fortalecimento muscular. O grupo de fortalecimento muscular foi constituído por exercícios de membros inferiores, nas contrações concêntricas e excêntricas, 3 séries de 8 repetições de cada exercício. Detalhes desse ensaio clínico encontram-se no estudo prévio, já publicado 29 .
Finalizado o programa de fortalecimento muscular, foi proposto um acompanhamento indireto das idosas com a realização de exercícios domiciliares, para manutenção da capacidade funcional. Foi realizada uma reunião com as voluntárias, na qual foram expostos os objetivos da nova etapa da pesquisa, e aquelas que concordaram em participar foram treinadas no programa domiciliar. Os exercícios domiciliares realizados pelas idosas foram os mesmos exercícios de fortalecimento que estavam sendo realizados ambulatorialmente, porém sem carga, para evitar compensações e desencadear quadros dolorosos. O próprio peso do membro contra a gravidade já representa um estímulo ao músculo, que pode ser capaz de manter adequado nível funcional 7 .
As participantes receberam uma cartilha detalhada com fotos ilustrativas, explicação e treinamento de todos os exercícios, e um diário dividido por semanas, que deveriam preencher com os dias, horários e procedimentos dos exercícios realizados em casa 30 . A cartilha de orientações dos exercícios encontra-se em anexo . Essas atividades foram acompanhadas por telefone pelas pesquisadoras quinzenalmente. O programa domiciliar também teve duração de 10 semanas, com três sessões semanais de aproximadamente 50 minutos e a supervisão foi indireta. Durante as dez semanas, cada participante recebeu cinco telefonemas. Após esse período, foram reavaliadas, e foi aplicado o questionário de adesão. Nesse ponto, o diário de adesão com todos os registros feitos pelas participantes foi recolhido para análise.
Em nosso estudo foram consideradas aderentes as idosas que tiveram 85% ou mais de frequência no programa de exercício 14 . Em trinta sessões propostas, foram permitidas cinco faltas. Como o programa era realizado em casa, foi considerada falta a não realização dos exercícios. Portanto, constituíram perdas as idosas que não terminaram o programa ou que faltaram a seis ou mais sessões de exercícios durante as dez semanas de intervenção.
A descrição da amostra foi realizada por meio de medidas de tendência central (média e desvio-padrão) e frequência para as variáveis socioeconômicas e clínicas. Para análise da distribuição dos dados foi utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov.
Foram construídos três modelos de regressão logística múltipla com o objetivo de identificar a contribuição das variáveis selecionadas para explicar a adesão das idosas ao programa de exercícios. As variáveis explicativas que entraram no modelo foram determinadas pelo referencial teórico. A análise estatística foi cegada, realizada sem o conhecimento das questões envolvidas e sem nenhum envolvimento com as voluntárias.
O primeiro modelo tinha como objetivo identificar a contribuição das variáveis clínico-funcionais - presença de dor, história de queda recorrente, número de comorbidades, capacidade cognitiva, sintomas depressivos e capacidade funcional - avaliadas por meio de três testes: velocidade de marcha, Timed up and Go , teste de sentar e levantar da cadeira 18)-(21), (25)-(28 .
Os outros dois modelos verificaram se existia associação dos motivadores (oito itens) e das barreiras (oito itens) do questionário de adesão com a adesão das idosas aos diferentes programas de exercício terapêuticos. Esses itens foram avaliados por meio do questionário de adesão desenvolvido pelos pesquisadores. A interpretação da análise de regressão logística foi definida como risco relativo de ocorrer a não adesão.
Para comparação entre grupos aderente e não aderente foi utilizado Teste-t independente ou Man-Whitney U, de acordo com a distribuição dos dados. Para comparação das variáveis em frequência foi utilizado o qui-quadrado. O nível de significância aceito foi α de 5% para todas as análises realizadas.
As análises foram realizadas pelo programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows (Versão 17.0).
Participaram do ensaio clínico prévio 151 idosas da comunidade. Após o término do programa, foi dada às participantes a opção de continuar os exercícios em um programa domiciliar com supervisão indireta. Dessas 151, 113 optaram por continuar o programa de exercícios e 95 foram reavaliadas após as 10 semanas. Houve uma perda de 18 participantes. As recusas para a reavaliação foram por motivo de cirurgia, viagem, problemas familiares ou falta de interesse no estudo. A média de idade do grupo domiciliar foi de 71,3 anos. A Figura 1 representa o fluxograma das perdas. As características descritivas da amostra se encontram na Tabela 1 , e os testes clínicos e funcionais na Tabela 2 .
Tabela 1 Características sociodemográficas e clínicas da amostra
Variável | Aderentes (n=30) | Não Aderentes (n=83) | ||
---|---|---|---|---|
%(n) | Média (+/- DP) | %(n) | Média (+/- DP) | |
Idade (anos) | 71,36 (5,16) | 70,72 (5,18) | ||
Estado Civil | ||||
Casada | 20 (6) | 38,6 (32) | ||
Solteira | 13,3 (4) | 13,3 (11) | ||
Divorciada | 13,3 (4) | 13,3 (11) | ||
Viúva | 53,3 (16) | 34,9 (29) | ||
Peso (kg) | 68,20 (9,17) | 70,93 (12,89) | ||
Altura (m) | 1,53 (5,41) | 1,54 (5,61) | ||
Ter Filhos (sim) | 90 (27) | 86,7 (72) | ||
Comorbidades (sim) | ||||
Cardiopatia | 0 (0) | 9,6 (8) | ||
HAS | 70 (21) | 72,3 (60) | ||
AVE | 3,3 (1) | 1,2 (1) | ||
Diabetes | 13,3 (4) | 21,7 (18) | ||
Artrite | 30 (9) | 43,4 (36) | ||
Doença Pulmonar | 6,7 (2) | 8,4 (7) | ||
Depressão | 16,7 (5) | 18,1 (15) | ||
Osteoporose | 20 (6) | 24,1 (20) | ||
Incontinência Urinária | 30 (9) | 16,9 (14) | ||
Labirintite | 16,7 (5) | 16,9 (14) | ||
Doença Vascular | 20 (60) | 19,3 (16) |
Legenda: HAS = Hipertensão Arterial Sistêmica; AVE= Acidente Vascular Cerebral
Tabela 2 Variáveis Explicativas
Variável | n | Média | Desvio Padrão | Frequência (%) | p | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Aderentes | Não Aderentes | Aderentes | Não Aderentes | Aderentes | Não Aderentes | Aderentes | Não Aderentes | ||
MEEM ** | 30 | 83 | 26,7 | 25,89 | 2,42 | 2,85 | 0,86 | ||
EDG ** | 30 | 83 | 3 | 4,03 | 2,95 | 2,7 | 0,31 | ||
Quedas *** | 30 | 83 | 8 (26,7) | 30 (36,1) | 0,26 | ||||
nº Comorbidades ** | 30 | 83 | 2,26 | 2,48 | 1,43 | 1,45 | 0,34 | ||
Velocidade de marcha * | 30 | 83 | 5,63 | 5,19 | 0,84 | 1,23 | 0,13 | ||
TUG * | 30 | 83 | 11,22 | 11,24 | 2,45 | 9 | 0,18 | ||
Teste Sentar e Levantar * | 30 | 83 | 14,51 | 14,68 | 3,52 | 2,95 | 0,81 | ||
Sintomas de Dor *** | 30 | 83 | 22 (73,3) | 69 (83,1) | 0,23 |
MEEM: Miniexame do Estado Mental; EDG: Escala de Depressão Geriátrica, TUG: Timed up and Go * Teste-T ** Man Whitney U *** Qui-quadrado
A taxa de retenção ao programa foi de 84,07% e a taxa de adesão foi de 33,09%, calculadas a partir das 113 que iniciaram o programa domiciliar. Participaram do estudo de exercícios domiciliar 23 participantes a mais que o mínimo necessário, baseado no cálculo amostral=90.
O primeiro modelo de regressão, com as variáveis clínicas e funcionais, não apresentou significância estatística (p=0,09). O modelo de regressão logística múltipla também não foi significativo com os motivadores à prática de exercícios (p=0,053), nem com as barreiras (p=0,053).
A barreira, mais frequentemente relatada pelas idosas que tiveram adesão ao programa, foi a participante não considerar sua saúde boa (68,4%) - "Se minha saúde fosse melhor, eu seria mais ativa" . Para aquelas que foram consideradas perda no estudo, a barreira mais frequente foi a dor - "Difícil fazer exercícios quando estou com dor". No entanto, a dor foi barreira importante em ambas as categorias, aderentes e não aderentes.
Comparando os dois grupos, o único item que teve diferença estatística entre os aderentes e não aderentes foi a barreira "Tenho dificuldade em realizar todos os exercícios" (p=0,04). No entanto, apesar das idosas que não aderiram relatarem mais dificuldade, isso não justificou a falta de adesão no modelo de regressão. Resultados dessa análise encontram-se na Tabela 3 .
Tabela 3 Análise Descritiva das Barreiras
Barreiras | Aderentes | Não Aderentes | P |
---|---|---|---|
Eu me sinto da mesma forma se estiver ou não fazendo exercícios | 15,8 | 5,3 | 0,09 |
Tenho medo de me machucar fazendo exercícios | 13,2 | 14 | 0,58 |
Sinto que não tenho força para fazer exercícios | 5,3 | 17,5 | 0,07 |
Se minha saúde fosse melhor, eu seria mais ativa | 68,4 | 59,6 | 0,26 |
Não me interesso por exercícios | 7,9 | 8,8 | 0,59 |
É difícil fazer exercícios quando estou com dor | 52,6 | 70,2 | 0,07 |
É difícil fazer exercícios quando estou triste | 15,8 | 22,8 | 0,28 |
O mau tempo atrapalha a realização dos exercícios | 13,2 | 14 | 0,58 |
Me sinto muito cansada quando me exercito | 13,2 | 22,8 | 0,18 |
Tenho medo de cair quando faço exercícios | 15,8 | 22,8 | 0,28 |
Tenho dificuldade em realizar todos os exercícios | 7,9 | 22,8 | 0,04 |
Legenda: % das idosas que relataram que o item descrito foi uma barreira para fazer o exercício proposto
Quanto aos motivadores, o item que foi menos frequente para as idosas que não aderiram ao programa foi "Exercício é um dos meus lazeres preferidos". Resultados dessa análise encontram-se na Tabela 4 .
Tabela 4 Análise Descritiva dos Motivadores
Motivadores | Aderentes | Não Aderentes | P |
---|---|---|---|
Fazer exercícios regularmente melhora a minha saúde | 100 | 100 | - |
Eu prefiro seguir um programa de exercícios supervisionados | 84,2 | 93 | 0,15 |
Eu prefiro exercícios em grupo a exercícios domiciliares (casa) | 89,5 | 93 | 0,40 |
Eu gostaria de continuar com o programa de exercícios | 97,4 | 94,7 | 0,47 |
Me sinto mais disposta quando estou fazendo atividade física | 100 | 98,2 | 0,60 |
Fico satisfeita quando me exercito | 100 | 100 | - |
Exercícios melhoram a minha concentração | 94,7 | 96,5 | 0,53 |
Exercícios me ajudam espiritualmente | 97,4 | 89,5 | 0,15 |
Faço exercícios mesmo quando não estou com vontade | 81,6 | 68,4 | 0,12 |
Exercício é um dos meus lazeres preferidos | 78,9 | 66,7 | 0,14 |
Eu sinto menos dor quando faço exercícios regularmente | 84,2 | 91,2 | 0,23 |
Fico menos estressada quando faço exercícios | 84,2 | 94,7 | 0,09 |
Legenda: % das idosas que relataram que o item descrito foi um motivador para fazer o exercício proposto
A primeira hipótese foi confirmada pelo estudo - as taxas de adesão e retenção a um programa domiciliar são menores do que as recomendadas. Comparada com dados descritos na literatura, a taxa de adesão encontrada nesse estudo foi mais baixa do que a de programas com supervisão, e essa baixa adesão pode ser relacionada à falta de interações sociais e de variabilidade nos programas propostos. Um programa de exercícios supervisionados proporciona ao idoso maior suporte técnico, tanto em termos profissionais quanto de equipamentos, mais segurança, e oportunidades de socialização 30 .
A importância da socialização é refletida em muitas atividades culturais rotineiras realizadas pelos indivíduos, como reuniões de família, cultos religiosos e pode explicar porque a adesão aos exercícios em casa foi muito baixa 23 . Em um estudo semelhante, um grupo que realizou a intervenção com supervisão direta teve aproximadamente quatro vezes mais adesão para completar o estudo do que o grupo que apenas realizou os exercícios por conta própria 14 .
A atenção terapêutica que é fornecida aos idosos é importante para o engajamento no programa. Se o idoso recebe um suporte social e se sente cuidado, ele se motiva a continuar vigilante em relação aos exercícios 30 . Há evidências na literatura que aquelas idosas com maior aderência são as mais propensas a se envolver em outros programas de promoção à saúde e isso está diretamente ligado a seu comportamento. Assim, a adesão pode ser um marcador para um traço de personalidade relacionado à motivação e à autoeficácia 24), (30 .
A segunda hipótese do estudo não foi confirmada, ou seja, não houve correlação entre adesão e as condições clínicas e funcionais avaliadas. Verificou-se por meio dos testes funcionais e da avaliação clínica que as participantes de nosso estudo apresentaram nível funcional e condição de saúde suficientemente boa para que pudessem dar continuidade aos exercícios por meio de um programa domiciliar. No entanto, não foi demonstrado pelas análises estatísticas que boas condições de saúde favoreceram a adesão ao programa domiciliar.
Um aspecto positivo desse estudo é que as idosas previamente participaram de um programa de exercício ambulatorial com supervisão direta e, durante essa permanência, elas receberam estímulos e orientações adequadas para a sua continuidade. Os exercícios foram ensinados com a devida técnica, minimizando o medo da realização incorreta que poderia aumentar a intensidade da dor e orientar sobre os malefícios de uma vida sedentária 31 .
Estratégias para promover a adesão e contribuir para o sucesso da reabilitação devem ser incentivadas pelos fisioterapeutas clínicos 23 . Orientações mais simples, incentivos motivacionais dos benefícios do exercício, oferecer apoio social e reforço positivo, fornecer lembretes como cartilhas e telefonemas são algumas dessas estratégias. A assistência de profissionais com experiência pode ser muito onerosa, especialmente em programas de longo prazo, por isso temos necessidade de buscar outras alternativas de cuidado 10), (23), (30 .
Ensaios clínicos randomizados que visam demonstrar efetividade de intervenções são usualmente realizados em condições ambientais extremamente controladas, que não condizem com a realidade clínica. A adesão ao que está sendo proposto é condição obrigatória para qualquer intervenção ser positiva e, por isso, são necessárias investigações que permitam extrapolar os resultados para prática clínica e incentivar a adesão das pacientes. Estudos qualitativos podem elucidar a compreensão do tema e devem ser incentivados.
A duração do estudo foi pequena e isso pode ter contribuído para taxas de adesão maiores do que a realidade, apesar de já terem sido baixas. Exercícios realizados em longo prazo são mais difíceis de se manter uma frequência ideal.
Em contrapartida, um fator que poderia contribuir negativamente é que o programa desenvolvido era constituído de exercícios gerais, sem um objetivo específico individualizado. De acordo com alguns autores, exercícios preventivos são menos estimulantes do que os curativos, que têm como objetivo o alívio de algum problema de saúde 21 . E as participantes deste estudo não estavam fazendo o exercício para reabilitar alguma lesão, mas sim para manutenção do estado de saúde e prevenção.
O instrumento utilizado pelos autores para avaliar motivadores e barreiras da adesão pode não ter sido sensível para detectar os fatores que explicam a adesão, assim como as variáveis clínicas e funcionais escolhidas.
Os resultados desse estudo só podem ser extrapolados para mulheres idosas, tendo em vista que a amostra era exclusivamente feminina.
Nosso estudo não mostrou relação direta de piores condições de saúde com a baixa adesão. Isso quer dizer que ter um maior número de comorbidades associadas ou pior desempenho funcional não tem impacto direto na falta de adesão ao programa de exercícios domiciliares. O entendimento da adesão é um desafio para gestores e profissionais da saúde, e por isso deve ser profundamente investigado, sob todos os aspectos de saúde, física, emocional e social.
Minimizar as barreiras e incentivar os motivadores a praticar exercícios regulares pode ser fator determinante na prevenção de agravos de saúde e manutenção de independência física e funcional de idosos.