Print version ISSN 0102-6720On-line version ISSN 2317-6326
ABCD, arq. bras. cir. dig. vol.29 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2016
https://doi.org/10.1590/0102-6720201600010012
Deiscência de anastomose esofágica é frequente e ainda existem controvérsias qual tipo de anastomose é preferível para diminuir sua incidência.
: Comparar a anastomose terminoterminal versus a lateroterminal em termos de deiscência de anastomose, estenose de esôfago, e sintoma de refluxo gastroesofágico.
: Este estudo foi realizado por dois anos a partir de 2012. Anastomoses terminoterminal e terminolateral foram comparadas em termos de deiscência de anastomose, estenose de esôfago, sintoma do refluxo gastroesofágico, duração da operação e transfusão.
: Na comparação das anastomoses terminoterminal e terminolateral, respectivamente, a duração em minutos das operações foi de 127.63±13.393 e 130.29±10.727 (p=0,353); estenose esofágica foi observada em dois (5,9%) e oito (21,1%) casos (p=0,09); doença do refluxo gastroesofágico foi detectada em seis (15,8%) e três (8,8%) casos (p=0,485); deiscência de anastomose foi encontrada em cinco (13,2%) e um (2,9%) caso (p=0,203); duração do internamento na UTI neonatal foi significativamente menor na terminoterminal (11,05±2,438 dias) em comparação com terminolateral (13,88±2,306 dias, p<0,0001).
: Não houve diferença significativa entre as anastomoses terminoterminal e terminolateral, exceto para UTI neonatal que foi significativamente menor no grupo de anastomose terminoterminal.
Palavras-Chave: Anastomose; Atresia de esôfago; Cirurgia
Dehiscence of esophageal anastomosis is frequent and there are still controversies which type of anastomosis is preferred to diminish its incidence
To compare end-to-end anastomosis versus end-to-side anastomosis in terms of anastomotic leakage, esophageal stricture and gastroesophageal reflux symptom.
This study was carried out for two year starting from 2012. End-to-side and end-to-side anastomosis were compared in terms of anastomotic leakage, esophageal stricture, gastroesophageal reflux symptom, length of surgery and pack cell infusion.
Respectively to
end-to-end and end-to-side anastomosis, duration of surgery was 127.63±13.393 minutes and 130.29±10.727 minutes (p=0.353); esophageal stricture was noted in two (5.9%) and eight (21.1%) cases (p=0.09); gastroesophageal reflux disease was detected in six (15.8%) and three (8.8%) cases (p=0.485); anastomotic leakage was found in five (13.2%) and one (2.9%) cases (p=0.203); duration of neonatal intensive care unit admission was significantly shorter in end-to-end (11.05±2.438 day) compared to end-to-side anastomosis (13.88±2.306 day) (p<0.0001).
There were no significant differences between end-to-end and end-to-side anastomosis except for length of neonatal intensive care unit admission which was significantly shorter in end-to-end anastomosis group.
Key words: Anastomosis; Esophageal atresia; Surgery
Atresia esofágica tem frequência de um entre 3500 nascimentos vivos1,6. As taxas de sobrevivência de recém-nascidos submetidos à anastomose terminolateral e terminoterminal foram de 95% e 90% no estudo Touloukian e Seashore8. Deiscência de anastomose foi observada em 10% dos casos, enquanto estenose da anastomose em três casos. Em 30 anos de acompanhamento estudo realizado por Lindahl et al com pacientes submetidos à anastomose terminoterminal foi semelhante à terminolateral2. No estudo por Zhang et ai. anastomose terminotermial resultou em deiscências de anastomose em 16%; com 9% de fístula traqueoesofágica recorrentes; e 10% de estenoses9. Estudo de Pietsch et ai. não mostrou deiscência entre 10 casos, mas 9% entre anastomose terminolaterais4. Touloukian teve deiscência na anastomose terminolateral em 8%, menores que nas terminoterminais em 13%. Estenose esofágica foi menos frequente em pacientes submetidos à terminolateral (5%) em comparação com os submetidos à terminoterminais (13%)8.
O objetivo deste estudo foi comparer anastomoses terminoterminais com terminolaterais em termos de deiscência de anastomose, estenose esofágica e sintomas de refluxo gastroesofágico.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Ahvaz Jundishapur Universidade de Ciências Médicas. O consentimento informado foi assinado pelos pais.
Foi realizado no Hospital Imam Khomeini de Ahvaz Jundishapur Universidade de Ciências Médicas, Ahvaz, Irã. Neste estudo dois grupos de recém-nascidos submetidos à anastomoses teminoterminais e terminolaterais foram comparados em termos de estenose de esôfago, apresentação de refluxo gastroesofágico, tempo em unidade de terapia intensiva neonatal, e mortalidade. O refluxo gastroesofágico foi avaliado clinicamente. Estenose de esôfago foi confirmada utilizando radiografia de contraste. A duração do estudo foi de dois anos. Setenta e dois casos foram inscritos e os dados foram analisados usando SPSS versão 13.0 (Chicago, IL, EUA).
Anastomose terminoterminal foi feita em 38 casos e terminolateral em 34. A taxa de recorrência foi de cerca de zero nos dois grupos.
TABELA 1 - Comparação das anastomoses entre os dois grupos de pacientes
Terminoterminal (n=38) | Terminolateral (n=34) | p | |
---|---|---|---|
Duração da operação (min) | 127,63±13,393 | 130,29±10,727 | 0,353 |
Estenose esofágca | 2 (5,9%) | 8 (21,1%) | 0,09 |
Refluxo gastroesofágico | 6 (15,8%) | 3 (8,8%) | 0,485 |
Deiscência anastomótica | 5 (13,2%) | 1 (2,9%) | 0,203 |
Traqueomalatia associada à problema respiratório | 10 (26,3%) | 20 (41,2%) | 0,216 |
Internamento em UTI | 11,05±2,438 | 13,88±2,306 | <0,0001 |
Mortalidade | 6 (15,8%) | 7 (20,6%) | 0,761 |
Transfusão (cc/kg) | 12,37±3,233 | 12,35±3,074 | 0,983 |
A duração do internamento no grupo terminoterminal (11,05±2,438) foi significativamente menor do que o do grupo terminolateral (13,88±2,306, p <0,001).
Neste estudo, deiscência de anastomose foi mais frequente na anastomose terminoterminal. Brunet et ai. referem deiscência significativamente maior nos pacientes que foram submetidos à anastomose terminolateral (8/19) do que os com terminoterminal (4/19). Touloukian e Seashore, por sua vez, referem deiscência em 5% nos submetidos à terminolateral em comparação com 13% na terminoterminal8. Existem diferenças entre os resultados desses estudos. A principal pode estar relacionada com duração do acompanhamento. Nos recém-nascidos a deiscência da anastomose foi mais frequente em pacientes submetidos à terminoterminal. Em 25 anos de seguimento Poenaru et al atendeu 111 neonatos com atresia de esôfago; em 74 com terminoterminal, sete (9,5%) desenvolveram deiscência5; de 37 recém-nascidos que foram submetidos à anastomose terminolateral quatro (10,8%) a tiveram4. Em estudo de Pietsch et ai. nenhum dos 10 recém-nascidos submetidos terminoterminal teve deiscência de anastomose. De 42 recém-nascidos que foram submetidos à anastomose terminolateral deiscência estava presente em 9% do casos4. Refluxo gastrointestinal foi observado em quatro (10,5%) dos casos de Touloukian7. Neste estudo, refluxo gastrointestinal estava presente em 8,8%, o que é ligeiramente menor do que o referido por Touloukian7. No entanto, a duração do acompanhamento neste estudo foi menor do que relatado por estes autores7. Também, refluxo gastroesofágico foi mais frequente nos submetidos à terminolateral em relação à terminoterminal. Os resultados aqui observados foram semelhantes aos de Touloukian e Seashore8. Em estudos anteriores, o tipo de anastomose não teve diferença significativa entre sobreviventes ou não após o tratamento de atresia esôfago3. Estenose esofágica e vazamento foram menos frequentes na anastomose terminoterminal. Como mencionado acima, existem algumas diferenças entre os resultados dos estudos. Eles podem estar relacionados com a duração do acompanhamento, a experiência do cirurgião, e cuidados neonatais após a operação.
As limitações deste estudo são que ele foi feito em um único centro e com relativamente curto acompanhamento. Outro estudo multicêntrico com mais acompanhamento é recomendado.
Não houve diferença significativa entre as anastomoses terminoterminais e terminolaterais, exceto para a extensão do internamento na unidade de cuidados intensivos neonatais que foi significativamente menor no grupo de anastomose terminoterminal.