versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.109 no.1 São Paulo jul. 2017
https://doi.org/10.5935/abc.20170077
Uma mulher de 79 anos de idade, sem histórico médico passado relevante, foi internada em nosso departamento de emergência devido a dispneia com esforço mínimo e desconforto torácico que perdurava há 2 semanas. A análise da gasometria sanguínea mostrou hipoxemia e hipocapnia graves. A troponina estava ligeiramente positiva. Apesar do teste de dímero-D ter sido negativo, foi realizada TC com contraste para excluir embolia pulmonar. Ela mostrou um grande defeito de preenchimento centrado no plano da válvula pulmonar (Painéis A e B). O ecocardiograma transtorácico à beira do leito mostrou uma grande massa ecodensa, aparentemente móvel, estendendo-se através da via de saída do ventrículo direito, válvula pulmonar e tronco pulmonar, com dilatação das câmaras do lado direito e gradiente transtricúspide de pico de 70 mmHg (Painéis C e D). O ultrassom de compressão venosa dos membros inferiores foi negativo para trombose venosa profunda. A paciente manteve-se estável mas necessitou de fração de inspiração de oxigênio elevada para manter a saturação acima de 90%. Como a embolia pulmonar foi considerada improvável, devido aos achados clínicos, a paciente foi submetida à cirurgia cardíaca. A cirurgia revelou uma massa perolada na artéria pulmonar principal obliterando quase todo o lúmen e com extensão a montante para a válvula pulmonar e via de saída do ventrículo direito (Painel E). O tumor foi excisado tanto quanto possível e a válvula pulmonar foi substituída por um homoenxerto. O exame patológico foi compatível com angiossarcoma.
O angiossarcoma da artéria pulmonar é extremamente raro e tem um prognóstico muito ruim. Pode ser clínico e radiologicamente indistinguível do tromboembolismo agudo ou crônico da artéria pulmonar. Nossa suspeita clínica foi aumentada pelo teste negativo de dímero D e ultrassom venoso, e a aparente infiltração de paredes arteriais pulmonares na TC.