versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.111 no.5 São Paulo nov. 2018
https://doi.org/10.5935/abc.20180233
Este interessante artigo publicado por Serpytis et al.,1 avaliou a presença de depressão e transtornos de ansiedade após infarto agudo do miocárdio, e as diferentes formas de apresentação e prevalência conforme o sexo e a idade dos pacientes.
Os autores observaram, em um período de até 31 dias após o infarto agudo do miocárdio, que mais de dois terços dos pacientes apresentaram depressão e/ou transtornos de ansiedade. As mulheres tiveram uma prevalência maior que os homens destas comorbidades e, também tenderam a ter apresentações mais graves tanto de depressão quanto de transtornos de ansiedade. Adicionalmente, nos homens, a depressão foi mais grave e o transtorno de ansiedade foi menos grave a medida em que tinham idade mais avançada; enquanto nas mulheres estas comorbidades tiveram uma apresentação linear, quanto a gravidade, independentemente do fator idade.1
Outros pontos interessantes foram que os homens diabéticos e/ou sedentários tiveram um maior escore de depressão, enquanto os homens tabagistas tiveram um maior escore de ansiedade. Quanto à hipercolesterolemia, observou-se que as mulheres apresentaram maiores escores para depressão e transtorno de ansiedade, o que não ocorreu com os homens. Também, em relação aos fatores de risco para doença arterial coronária, o sedentarismo foi associado aos maiores escores de depressão e transtorno de ansiedade entre as mulheres. Finalmente chamou a atenção o fato de que a hipertensão arterial sistêmica e o índice de massa corporal, não estiveram associados, de maneira alguma, à presença de depressão e/ou transtorno ansioso. Diante dos dados aqui apresentados, apesar das limitações já descritas pelos autores, podemos dizer que a depressão e transtorno de ansiedade têm alta prevalência nos 31 dias subsequentes ao infarto agudo do miocárdio.1
Dados de literatura nos mostram que a associação de alguns fatores de risco para a doença arterial coronária, como diabetes mellitus, hipercolesterolemia, tabagismo e sedentarismo, vêm sendo estudada nas últimas duas décadas e os estudos são concordantes no que diz respeito a estarem associados a depressão e transtorno de ansiedade nestes pacientes.2-6
Com relação ao mecanismo que poderia desencadear a depressão e transtorno de ansiedade após infarto agudo do miocárdio pode ser explicado como uma forma de estresse pós-traumático em que o indivíduo acometido por uma doença que o coloca em risco de morte iminente, além de fazê-lo pensar em como será sua vida após este evento clínico, como mudanças nos hábitos, possíveis sequelas e limitações às atividades da vida diária. A experiência da doença pode precipitar sentimentos e reações estressantes que incluem quadros de depressão e transtorno de ansiedade.7,8
Adicionalmente, nos últimos anos, na busca de novos conceitos para entender o desenvolvimento da depressão, e assim desenvolver melhores tratamentos, pesquisas demonstraram a participação do sistema imunológico, em particular, a resposta inflamatória como um contribuinte potencialmente importante para a fisiopatologia da depressão.9 É curioso saber que estes fatores inflamatórios como por exemplo a Proteína C-reativa, TNF-alfa e Interleucina-6 estão elevados também na fase aguda do infarto do miocárdio.10
Por fim, nos chama muito a atenção o fato de duas doenças com forte relação com fatores inflamatórios aparecerem de forma concomitante e com a prevalência aqui apresentada.
Esperamos que novos estudos sejam desenhados com o objetivo específico de elucidar esta curiosa associação.