versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.113 no.3 São Paulo set. 2019 Epub 10-Out-2019
https://doi.org/10.5935/abc.20190186
O estudo de Villela et al.,1 mostrou maior preferência e consumo de sal por hipertensos em relação aos normotensos, independentemente da idade.
Foi observada uma relação entre maior preferência por sal e sexo masculino e consumo de álcool. A população idosa e afrodescendente hipertensa apresentam a maior sensibilidade ao sal.
A sensibilidade ao sal aumenta com o avanço da idade.2 Uma das razões é que o rim é menos capaz de conservar sódio em resposta à restrição dietética ou de remover o sódio após o consumo excessivo.3,4 Tanto os ratos quanto os humanos idosos têm uma capacidade limitada de excretar uma carga de sódio administrada de forma aguda.3,5,6
Há muito tempo se reconhece que a redução do teor de sal na dieta possibilita um melhor controle da pressão arterial. Além disso, sabe-se agora que existem diferentes graus de sensibilidade ao sal na população hipertensa e normotensa. Portanto, no tratamento não farmacológico da hipertensão, a redução de sal é uma das intervenções mais importantes.4 Entretanto, dietas com restrição de sal não são bem toleradas pela maioria dos pacientes. Muitas tentativas de substituir o sal por outras substâncias foram empregadas. A adição de orégano aos alimentos, no estudo de Villella, resultou na preferência pelas amostras com menor teor de sal em todos os grupos estudados.
Assim como a hipertensão é uma doença multifatorial, o fenômeno da sensibilidade ao sal também é multifatorial, envolvendo aspectos genéticos, ambientais e relacionados ao envelhecimento. Portanto, a sensibilidade ao sal também aumenta com a idade, sendo mais acentuada em afrodescendentes, obesos e pacientes com síndrome metabólica e/ou doença renal crônica.6 Portanto, o excesso de ingestão de sal durante muitos anos provavelmente desempenha um papel significativo no desenvolvimento de hipertensão nesses grupos. Os normotensos sensíveis ao sal podem ter maior probabilidade de desenvolver hipertensão.
Os mecanismos relativos à sensibilidade ao sal ainda não são totalmente compreendidos. A menor ativação do sistema renina-aldosterona pode explicar a maior queda na PA com ingestão reduzida de sódio em idosos, afrodescendentes e pacientes com DRC. O comprometimento da excreção renal de sódio pode inicialmente levar à expansão do volume e, em seguida, à hipertensão.
Múltiplos genes têm sido implicados na patogênese da hipertensão, incluindo aqueles que regulam a absorção de sódio, os quais devem, sem dúvida, participar do fenômeno da sensibilidade ao sal.
Portanto, as conclusões do estudo de Villela et al.,1 trazem novas informações sobre as preferências relacionadas ao sal de diferentes extratos de nossa população, bem como a possibilidade de diminuir o teor de sal nos alimentos com substituição por outras especiarias, como o orégano.