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Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu

Aplicação de uma prova brasileira de vocabulário expressivo em crianças falantes do Português Europeu

Autores:

Ana Manhani Cáceres-Assenço,
Sandra Cristina Araújo Ferreira,
Anabela Cruz Santos,
Debora Maria Befi-Lopes

ARTIGO ORIGINAL

CoDAS

versão On-line ISSN 2317-1782

CoDAS vol.30 no.2 São Paulo 2018 Epub 17-Maio-2018

http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113

INTRODUÇÃO

A linguagem verbal é consensualmente o meio de comunicação mais usual nas sociedades modernas. A linguagem verbal é deste modo uma das mais importantes ferramentas para representar, traduzir e transmitir o pensamento e compreende regras complexas que envolvem sons, palavras, frases, significados, usos. Estas regras podem ser divididas em três grandes componentes: forma (fonologia, morfologia, sintaxe), conteúdo (semântica) e o seu uso (pragmática)(1).

A semântica implica o conhecimento e interpretação do significado das várias combinações de sons que formam as palavras, as frases e as expressões. A um nível básico, a semântica envolve todo o vocabulário, englobando os significados transmitidos pelas palavras individuais, formando assim o léxico de cada indivíduo(2).

A literatura aponta alguns fatores responsáveis pela estrutura organizacional do léxico de uma criança, entre os mais importantes estão a idade da aquisição desse léxico(3), para além do nível académico, o estatuto socioeconómico e a cultura(4,5).

O vocabulário é essencial para o desenvolvimento da linguagem e se mostra como uma medida extremamente relevante tanto para o domínio de outras habilidades linguísticas (2,6) quanto para identificar alterações no desenvolvimento típico de linguagem(7,8). Inclusive em crianças com alterações específicas no desenvolvimento da linguagem, seu vocabulário inicial foi capaz de predizer o prognóstico terapêutico(9).

Crianças entre 4 e 6 anos falantes do Português Brasileiro ampliam seu vocabulário em função da idade e este está associado ao desenvolvimento de habilidades morfológicas e de compreensão de linguagem(10). Desta forma, torna-se fundamental que a avaliação da linguagem de crianças contemple esta área desde idades precoces, o que possibilita a detecção de possíveis alterações e permite uma intervenção adequada de forma a atenuar ou mesmo eliminar estas dificuldades.

Todavia, quando se trata de uma avaliação de linguagem, é vital que se considere a língua que está sendo avaliada, especialmente o vocabulário, que é uma medida sensível a variações culturais(11). Um estudo recente indica que o desenvolvimento lexical inicial de crianças falantes do Português Europeu é similar ao de falantes do inglês, apesar de ainda assim ser possível notar diferenças nas primeiras palavras enunciadas, o que reforça a necessidade de instrumentos adequados à língua (12).

No entanto, em relação aos instrumentos de avaliação da linguagem na criança para a população portuguesa, ainda são muito poucos aqueles que analisam as diferentes dimensões da linguagem, particularmente ao nível semântico. Assim, neste estudo exploratório, foi utilizada a prova de vocabulário expressivo do teste de linguagem infantil – ABFW(13), desenvolvida no Brasil e adaptada para Português Europeu (PE). Tal prova é apontada como uma boa medida para avaliar o léxico de crianças em desenvolvimento típico e é também sensível em detectar transtornos de linguagem, além de ser amplamente utilizada em estudos com distúrbio específico de linguagem(14).

Este estudo teve como objetivo investigar o desempenho de crianças falantes do Português Europeu na prova de vocabulário expressivo do teste de linguagem infantil ABFW, verificando se haveria diferença entre as faixas etárias de 5 e 6 anos e entre os gêneros. Por fim, buscou-se verificar se os valores de referência adotados na população brasileira para classificar o desempenho como adequado seriam passíveis de utilização em Portugal.

MÉTODO

O estudo foi desenvolvido em parceria entre pesquisadores do Brasil e Portugal. A coleta de dados foi realizada por pesquisadores da Universidade do Minho, em Portugal, de acordo com os critérios éticos vigentes no país da instituição. O projeto foi aprovado pelo Conselho Científico da Universidade, pois critérios de confidencialidade e anonimato dos dados foram garantidos, bem como os dados coletados se restringem a fins acadêmicos.

Participantes

Para a seleção dos indivíduos foi realizada amostragem por conveniência totalizando 150 crianças com idade entre 5 e 6 anos. As crianças foram divididas em dois grupos numericamente iguais de acordo com a faixa etária. No grupo de 5 anos, 57,3% dos indivíduos eram do gênero feminino, enquanto no grupo de 6 anos, 48%.

Todas as crianças frequentavam instituições de ensino públicas e cursavam o pré-escolar ou o 1º ano do 1º ciclo do ensino básico na região norte de Portugal. Todas foram identificadas pelos educadores/professores como tendo desenvolvimento típico.

Materiais e procedimentos

Inicialmente foi obtida autorização para a execução do estudo junto à direção das escolas. A seguir, foram realizadas reuniões com os professores e educadores das crianças selecionadas com o objetivo tanto de esclarecer sobre a pergunta de pesquisa e a forma de coleta de dados bem como solicitar que eles agissem como intermediários junto aos pais e responsáveis pelas crianças. Assim, os pedidos de autorização foram entregues aos pais e explicados os objetivos e os procedimentos do estudo e também assegurados o anonimato e confidencialidade das informações obtidas.

Para responder ao objetivo da pesquisa, foi utilizada a prova do vocabulário expressivo do teste de linguagem infantil – ABFW(13). A prova é composta por nove campos semânticos que devem ser sempre avaliados na mesma ordem sequencial, a saber: vestuário, animais, alimentos, meios de transporte, móveis e utensílios domésticos, profissões, locais, formas e cores, brinquedos e instrumentos musicais. Cada campo conceitual é constituído por um número diverso de vocábulos que perfazem o total de 118 palavras. Esta análise permite a verificação do grau de desenvolvimento semântico de crianças em desenvolvimento típico de linguagem e de crianças com alterações no desenvolvimento da linguagem.

Para que seu uso fosse apropriado ao contexto europeu, a palavra-alvo de 26 itens foi adaptada, porém a figura utilizada foi mantida. Seguindo a ordem da prova, os itens que sofreram adaptações foram: sandália (sapatilha), coruja (mocho), pintinho (pintainho), cachorro (cão), viatura (carro de polícia), foguete (foguetão), caminhão (camião), ônibus (autocarro), trem (comboio), sanduíche (sandes), macarrão (massa), pipoca (pipocas), banana (ananás), abajur (candeeiro), geladeira (frigorífico), privada (sanita), pia (lavatório), xícara (chávena), barbeiro (cabeleireiro), fazendeiro (agricultor), policial (polícia), marrom (castanho), violão (viola), gangorra (balancé), escorregador (escorrega) e balanço (baloiço).

A aplicação da prova ocorreu no ambiente escolar e de forma individualizada. As crianças demoraram entre 10 e 20 minutos para finalizar a avaliação.

As respostas foram registradas em áudio e, posteriormente, foram anotadas no protocolo de resposta. Para cada figura apresentada, a resposta foi categorizada como designação verbal usual (DVU) quando a criança utilizou o vocábulo usual; não designação (ND) quando a criança não respondeu ou respondeu “não sei”; ou processo de substituição (PS) quando a criança usou outra designação para o vocábulo. Nesse último caso, foi realizada a classificação da tipologia de substituição utilizada pela criança, porém, neste artigo, nos ateremos apenas aos dados obtidos com DVU.

Após o registro das respostas, foi realizada a soma do DVU e calculada sua percentagem em cada campo semântico e no total. Por fim, o desempenho de cada indivíduo em cada campo semântico e no total foi comparado aos valores de referência adotados na população brasileira e classificado como adequado, quando era igual ou superior ao valor de referência, ou abaixo do esperado, quando era inferior ao valor de referência.

Análise dos dados

Os dados obtidos foram tratados estatisticamente no software SPSS versão 21. Visto que a distribuição dos dados respeitava a normalidade, a análise descritiva da percentagem do DVU considerou a média e seu desvio padrão, enquanto, para a classificação do desempenho, foi utilizado o valor bruto e sua distribuição de frequência. A análise inferencial foi realizada pelo teste t independente ao comparar os grupos e os gêneros, já o teste exato de Fisher foi utilizado para comparar a distribuição de frequência entre os grupos e os gêneros. O nível de significância adotado foi de 5%.

RESULTADOS

O desempenho do grupo de 6 anos teve média de DVU superior no total e nos campos semânticos animais, alimentos, meios de transporte, profissões, locais e brinquedos e instrumentos musicais ( Tabela 1 ).

Tabela 1 Comparação da percentagem média de DVU entre os grupos  

Campo semântico Faixa etária Média DP p
Total 5 anos 71,8 8,60 <0,001 *
6 anos 76,8 7,29
Vestuário 5 anos 68,4 17,40 0,153
6 anos 72,1 14,27
Animais 5 anos 83,6 11,67 0,024 *
6 anos 87,6 9,76
Alimentos 5 anos 73,7 11,28 0,040 *
6 anos 77,5 11,27
Meios de transporte 5 anos 76,5 11,29 0,038 *
6 anos 80,7 13,45
Móveis e utensílios 5 anos 73,8 10,63 0,220
6 anos 75,7 8,59
Profissões 5 anos 58,5 19,01 0,042 *
6 anos 64,7 17,50
Locais 5 anos 38,7 16,93 <0,001 *
6 anos 55,8 15,25
Formas e cores 5 anos 87,5 11,98 0,506
6 anos 88,8 12,52
Brinquedos e instrumentos musicais 5 anos 80,8 13,83 0,004 *
6 anos 86,4 9,26

*diferença estatística (p≤0,05) – Teste t

Legenda: DP = desvio padrão; p = valor de significância

Não houve diferença estatística entre os gêneros no DVU total em nenhum grupo ( Figura 1 ). No grupo de 5 anos, as meninas tiveram média superior nos campos semânticos vestuário e móveis e utensílios ( Tabela 2 ) e, no grupo de 6 anos, as meninas também tiveram média superior no campo semântico vestuário, mas os meninos tiveram média superior no campo semântico meios de transporte ( Tabela 3 ).

Legenda: DVU = designação verbal usual; p = valor de significância

Figura 1 Gráfico boxplot da percentagem média de DVU em cada gênero por faixa etária  

Tabela 2 Comparação da percentagem média de DVU entre os gêneros no grupo de 5 anos  

Campo semântico Gênero Média DP p
Vestuário Feminino 75,1 13,52 <0,001 *
Masculino 59,4 18,13
Animais Feminino 83,1 11,11 0,698
Masculino 84,2 12,53
Alimentos Feminino 75,8 9,65 0,058
Masculino 70,8 12,76
Meios de transporte Feminino 75,3 11,10 0,281
Masculino 78,1 11,51
Móveis e utensílios Feminino 75,9 9,34 0,047 *
Masculino 71,0 11,71
Profissões Feminino 60,2 19,82 0,373
Masculino 56,3 17,92
Locais Feminino 39,7 16,35 0,532
Masculino 37,2 17,83
Formas e cores Feminino 87,2 12,60 0,831
Masculino 87,8 11,28
Brinquedos e instrumentos musicais Feminino 81,8 14,44 0,485
Masculino 79,5 13,06

*diferença estatística (p≤0,05) – Teste t

Legenda: DP = desvio padrão; p = valor de significância

Tabela 3 Comparação da média de DVU entre os gêneros no grupo de 6 anos  

Campo semântico Gênero Média DP p
Vestuário Feminino 77,2 12,10 0,002 *
Masculino 67,4 14,64
Animais Feminino 85,7 10,83 0,123
Masculino 89,2 8,46
Alimentos Feminino 77,6 10,71 0,953
Masculino 77,4 11,91
Meios de transporte Feminino 77,5 13,66 0,047 *
Masculino 83,7 12,72
Móveis e utensílios Feminino 76,7 7,87 0,330
Masculino 74,8 9,22
Profissões Feminino 66,9 18,33 0,282
Masculino 62,6 16,66
Locais Feminino 55,1 16,09 0,711
Masculino 56,4 14,62
Formas e cores Feminino 89,2 14,02 0,809
Masculino 88,5 11,13
Brinquedos e instrumentos musicais Feminino 86,4 9,35 0,957
Masculino 86,5 9,30

*diferença estatística (p≤0,05) – Teste t

Legenda: DP = desvio padrão; p = valor de significância

Os grupos não diferiram quanto à classificação de desempenho no DVU total e apenas o campo semântico formas e cores teve maior frequência de indivíduos de 6 anos com desempenho abaixo do esperado ( Tabela 4 ).

Tabela 4 Comparação da distribuição de frequência da classificação de desempenho dos indivíduos entre os grupos  

Campo semântico Faixa etária Classificação do desempenho p
Adequado Abaixo do esperado Total
n % n %
Total 5 anos 65 86,7 10 13,3 75 0,505
6 anos 61 81,3 14 18,7 75
Vestuário 5 anos 47 62,7 28 37,3 75 0,100
6 anos 36 48,0 39 52,0 75
Animais 5 anos 72 96,0 3 4,0 75 1,000
6 anos 72 96,0 3 4,0 75
Alimentos 5 anos 32 42,7 43 57,3 75 0,313
6 anos 25 33,3 50 66,7 75
Meios de transporte 5 anos 65 86,7 10 13,3 75 1,000
6 anos 66 88,0 9 12,0 75
Móveis e utensílios 5 anos 65 86,7 10 13,3 75 0,428
6 anos 69 92,0 6 8,0 75
Profissões 5 anos 67 89,3 8 10,7 75 0,802
6 anos 65 86,7 10 13,3 75
Locais 5 anos 6 8,0 69 92,0 75 0,303
6 anos 11 14,7 64 85,3 75
Formas e cores 5 anos 69 92,0 6 8,0 75 0,013 *
6 anos 57 76,0 18 24,0 75
Brinquedos e instrumentos musicais 5 anos 69 92,0 6 8,0 75 0,494
6 anos 72 96,0 3 4,0 75

* diferença estatística (p≤0,05) – Teste exato de Fisher

Legenda: n = número de indivíduos; p = valor de significância

Na averiguação da consistência interna dos itens que constituem a prova de vocabulário em questão, o Alpha de Cronbach apresentou um valor de .859, ou seja, o teste apresenta bons níveis de consistência interna(15), demonstrando assim que os itens que constituem o instrumento são homogêneos, não se verificando a existência de nenhum item que, retirado, possa melhorar a consistência interna do teste.

DISCUSSÃO

O objetivo principal deste estudo consistiu em investigar o desempenho de crianças falantes do Português Europeu em uma prova de vocabulário expressivo, buscando apontar se existem diferenças entre as faixas etárias estudadas e o gênero.

Os resultados demonstram um desempenho progressivo e proporcional à idade, ou seja, a faixa etária dos 6 anos apresenta uma média de desempenho superior à faixa etária dos 5 anos. Tal fato concorda com estudos brasileiros ao demonstrar que a média de DVU aumenta gradualmente em função da idade, ou seja, as crianças com mais idade apresentam melhor desempenho no vocabulário(4,10).

Entretanto, é interessante notar que para as categorias vestuário, móveis e utensílios, e formas e cores tal diferença entre as faixas etárias não teve significância estatística. É possível que este resultado decorra da familiaridade que tais campos semânticos apresentem desde faixas etárias anteriores, ou seja, as crianças nos anos finais da primeira infância já devem ter razoável domínio sobre os itens de tais campos semânticos.

Já no que diz respeito à influência do gênero no desempenho do vocabulário, meninos e meninas tiveram desempenho geral semelhante. Apenas diferenças pontuais foram encontradas: as meninas demonstraram maior domínio no campo semântico vestuário em ambas as idades; as meninas com 5 anos demonstraram maior domínio no campo semântico móveis e utensílios; os meninos com 6 anos demonstraram maior domínio no campo semântico meios de transporte.

A ausência de diferença entre os gêneros com relação ao vocabulário já havia sido apontada em estudos anteriores(11,16,17). As diferenças pontuais provavelmente decorrem da familiaridade das crianças com tais campos semânticos, o que envolve questões culturais. Se considerarmos o universo lúdico típico de cada gênero, veremos que itens de vestuário, móveis e utensílios domésticos estão mais presentes nas brincadeiras das meninas, ao passo que os meios de transporte estão mais presentes nas brincadeiras dos meninos. Assim, pelo desenvolvimento do vocabulário infantil ser dependente das experiências às quais são expostas, tal fato fica justificado(1,4,5,7).

Por fim, verificamos se os valores de referência adotados na população brasileira para classificar o desempenho como adequado seriam passíveis de utilização em Portugal. Os resultados indicam que mais de 80% dos indivíduos de cada faixa etária teve desempenho classificado como adequado, sugerindo que tal prova possa ser capaz de identificar restrições no vocabulário de crianças falantes do Português Europeu.

É importante, porém, notar que os campos semânticos vestuário, alimentos e locais tiveram alta percentagem de crianças com desempenho abaixo do esperado. Além disso, o campo semântico formas e cores apresentou diferença estatística entre as faixas etárias, sendo que mais indivíduos de 6 anos tiveram desempenho abaixo do esperado do que os de 5 anos. Estes campos semânticos foram apontados por uma pesquisa brasileira com crianças entre 6 e 7 anos da região nordeste do Brasil como sendo exatamente aqueles com maior índice de desempenho abaixo do esperado (11). Este fato aponta a necessidade de pesquisas mais aprofundadas com relação aos valores de referência em diferentes regiões, pois as variações do Português falado em cada região (do Brasil e de Portugal) podem afetar o desempenho das crianças em campos semânticos específicos.

Em síntese, a prova de vocabulário utilizada demonstrou boa consistência interna e foi capaz de apontar o desempenho lexical das crianças avaliadas, o que já havia sido confirmado em estudos brasileiros com populações em desenvolvimento típico e alterado de linguagem(4,8-11,18-21). Dessa forma, seu uso nos parece ter potencial de quantificar o vocabulário de crianças no final da primeira infância (5 e 6 anos) falantes do Português Europeu, o que pode contribuir para a área de linguagem, vista a escassez de testes que permitam a avaliação de crianças com esta faixa etária em Portugal.

Este estudo traz como limitação a ausência da análise dos processos de substituição realizados pelas crianças e a restrição das faixas etárias analisadas. Porém, por se tratar do primeiro estudo resultante da parceria entre pesquisadores do Brasil e Portugal, tais limitações deverão ser solucionadas futuramente uma vez que já estão sendo realizados estudos em Portugal com a finalidade de analisar essas questões.

De forma geral, este estudo apresenta contribuições para a prática clínica e educacional, pois aponta a necessidade do uso de instrumentos culturalmente adaptados que avaliem o desenvolvimento da linguagem, mais especificamente do vocabulário, em sua fase pré-escolar. Apesar de não se constituir num instrumento já validado para o Português Europeu, o instrumento aqui utilizado demonstra viabilidade para quantificar o vocabulário de crianças no final da primeira infância. Logo, tem potencial também para identificar crianças que precisam ser encaminhadas para uma avaliação mais detalhada de linguagem e que possam se beneficiar de programas de intervenção precoce, contribuindo para minimizar possíveis consequências de tais alterações, quanto para garantir uma comunicação mais efetiva às crianças e qualidade de vida a suas famílias.

CONCLUSÃO

O desempenho geral de crianças falantes do Português Europeu na prova de vocabulário expressivo foi melhor no grupo de 6 anos, mas não teve diferença estatística entre os gêneros. Alguns campos semânticos parecem ser mais influenciados pelas variações culturais e geográficas. Os valores de referência adotados na população brasileira para classificação do desempenho indicaram que mais de 80% das crianças de cada faixa etária estava adequada, sugerindo que tal prova tem potencial como um instrumento de avaliação do vocabulário em Portugal.

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