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Aprendendo a arte da editoria científica

Aprendendo a arte da editoria científica

Autores:

Mario Jorge Sobreira da Silva,
Giselle Goulart de Oliveira Matos,
J. Rodolfo M. Lucena,
Laís Picinini Freitas,
Suelen Carlos de Oliveira

ARTIGO ORIGINAL

Cadernos de Saúde Pública

versão On-line ISSN 1678-4464

Cad. Saúde Pública vol.33 no.12 Rio de Janeiro 2017 Epub 18-Dez-2017

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00200817

A popularização da ciência e da saúde coletiva foi uma grande motivação para a escolha das Editoras de CSP em ilustrar as capas dos fascículos de 2017 com o tema Arte de Rua1. Esse mesmo desejo foi a inspiração para promover o primeiro programa de estágio em editoria científica no Brasil. Assim como as telas urbanas que recobrem as cidades parecem, para muitos, ser pouco adequadas para abrigar a nobreza e a beleza das grandes obras de arte, pesquisadores em formação, para muitos, não são elegíveis para aprender a grandeza da arte de editorar.

Nas ruas a arte livre é um meio de comunicação do cidadão, da sociedade. Suas formas de representação revelam os anseios, os desafios, a criatividade e a cultura existentes em cada lugar. Além de entreter quem circula pelas cidades, é um espaço de manifestação e de ativismo político da população, especialmente dos setores marginalizados. A originalidade presente na expressão de cada obra promove uma unicidade irreproduzível. CSP nos ensinou que assim deve ser a editoria científica. Livre, autônoma, independente. Dotada de personalidade e do anseio de inovar. Singular, na sua identidade, e plural, na diversidade e dinâmica da sua atuação. Atenta à conjuntura política e marcada por um posicionamento público de defesa do direito à saúde como um bem inalienável.

Outro aprendizado fundamental que tivemos, que coaduna com o tema dos fascículos de CSP em 2017, tem relação com a finalidade da publicação científica. O acesso aberto, gratuito e irrestrito às publicações científicas 2 é entendido como um direito. O conhecimento produzido pela ciência precisa ser colocado à disposição da sociedade, para que possa ser utilizado. Especialmente em um periódico dedicado a abordar questões de saúde pública. O que seria da arte de rua se seu acesso estivesse restrito a um museu ou a uma galeria? Certamente, limitaria sua funcionalidade, perderia sua razão de existir.

A oportunidade de vivenciar os desafios da editoria científica também nos permitiu compreender como definir a política editorial de uma revista; realizar avaliação de qualidade da publicação científica, principalmente quanto ao rigor metodológico das pesquisas; estabelecer estratégias de comunicação e divulgação científica em plataformas digitais; calcular e analisar indicadores de avaliação dos periódicos; identificar aspectos que comprometem os padrões de integridade e ética em pesquisa; e sistematizar o processo de editoração científica. Sem dúvida, esse arsenal de informações e experiências é um potente instrumental para o pesquisador, especialmente para aquele que ainda está em formação. Ter a clareza de que a ciência é socialmente construída, que deve ser realizada com responsabilidade, ética e qualidade, e deve estar a serviço da sociedade.

Por essas e outras, os bastidores da publicação científica, entendido e divulgado como uma grande “caixa preta” por muitos estudantes e pesquisadores, é, na verdade, um lugar simplesmente fascinante para quem tem a oportunidade de conhecê-lo. A dedicação exercida por quem faz editoria é algo extraordinário e admirável. Assim como o trabalho minucioso e muito bem planejado realizado pelo grafiteiro nas ruas, os editores cuidam de todos e de cada detalhe em particular para que o conjunto da obra seja simplesmente surpreendente e extremamente útil para a sociedade. A dedicação e a tenacidade necessárias ao exercício dessas atividades são dignas de grande respeito. Trabalho dispendioso, abnegado, íntegro e em prol da coletividade.

Desejamos muita vitalidade aos artistas das ruas e aos profissionais que se dedicam à arte da editoria científica. Apenas seres humanos com alto nível de sensibilidade são capazes de enxergar o potencial existente em um grande muro cinzento ou em um aluno. Cláudia, Luciana (Kalu) e Marilia, seremos eternamente gratos por esta oportunidade.

REFERÊNCIAS

1. Carvalho MS, Coeli CM, Lima LD. Dias melhores virão! Cad Saúde Pública 2017; 33:e00212016.
2. Carvalho MS, Coeli CM, Lima LD. CSP: bem comum da Saúde Coletiva. Cad Saúde Pública 2017; 33:e00133517.