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ARQUIVOS DE GASTROENTEROLOGIA - 50 ANOS

ARQUIVOS DE GASTROENTEROLOGIA - 50 ANOS

Autores:

Adávio de OLIVEIRA e SILVA

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos de Gastroenterologia

versão impressa ISSN 0004-2803

Arq. Gastroenterol. vol.50 no.1 São Paulo jan./mar. 2013

http://dx.doi.org/10.1590/S0004-28032013000100001

O tempo envelhece depressa

Antonio Tabucchi

Recebi um e-mail no dia 8 de janeiro de 2013, do meu irmão Ricardo Viebig, Editor Chefe dos Arquivos de Gastroenterologia, nossa revista que está completando 50 anos de idade neste ano. Era um fim de tarde e ele me pediu que escrevesse uma página, uma memória viva a ser publicada no número comemorativo dessa data. Representa esse um evento raro em nosso país. Confesso que a emoção tomou conta de mim, ele não viu, mas lágrimas vieram aos meus olhos. Encontrava-me junto a Denise, minha mulher que tem caminhado comigo nesse longo trajeto. Ela inquietou-se quando lhe comuniquei o conteúdo de e-mail recebido, no momento em que digitava um capítulo do meu novo livro a ser publicado “Carcinoma Hepatocelular no Cirrótico. Da Hepatocarcinogênese ao Transplante de Fígado”. Imediatamente procurei me lembrar o que escrevera um dos nossos escritores maiores Raduan Nassar no seu livro lapidar “Lavoura Arcaica”: “Os homens que não se rebelam contra o curso da corrente do tempo, não recebeu suas iras, mas seus favores”. A partir desse pensamento, mesmo reconhecendo que não seria merecedor dessa honraria, resolvi aceitá-la. Retornei, então, no tempo, voltando imediatamente ao Recife, ano de 1966, quando era estudante de Medicina na Universidade Federal de Pernambuco. Nessa época meu mentor era o Prof. Djalma Vasconcelos, referência na especialidade no Brasil. Consultei-o, indagando para onde deveria me dirigir visando especialização em gastroenterologia. Não titubeou e disse para me dirigir ao IBEPEGE (Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Gastroenterologia), em São Paulo. Submeti-me ao Concurso de Admissão e fui aprovado. Passei, então, a conviver com os melhores especialistas nessa área da medicina. Figurava entre esses os Profs. José Fernandes Pontes, Luiz Caetano da Silva, Agostinho Bettarello, José Vicente Martins Campos, Joel Carlos Cunha, José Carlos Lins, Ivaldo Malta Calheiros Gatto, Arnaldo de Godoy, Akira Nakadaira, Thiago Pontes, Henrique Walter Pinotti, estes infelizmente não mais convivem conosco, enquanto outros como José de Souza Meirelles Filho, Vinícius Paride Conte, Schlioma Zaterka, José Polizzini, Thales de Brito, Nelson Michelsohn, Mounib Tacla, alguns ainda envolvidos no preparo de novos gastroenterologistas. Convivi, portanto, com o “creme de la creme”, os notáveis da especialidade no País. Foi esse grupo de devotados que criou também o primeiro “Curso de Mestrado em Gastroenterologia” reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC e que mantinha a nossa principal revista médica voltada à formação e divulgação de conhecimento e pesquisa, os ARQUIVOS de GASTROENTEROLOGIA. Nesses 50 anos de divulgação do conhecimento, ela se mantém firme, linda, elegante, indexada, publicando trabalhos científicos de pesquisadores nacionais e estrangeiros a cada 3 meses, sendo órgão oficial do Instituto Brasileiro de Estudo e Pesquisas da Gastroenterologia e outras Especialidades – IBEPEGE, do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva – CBCD, da Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva – SBMD, da Federação Brasileira de Gastroenterologia – FBG, da Sociedade Brasileira de Hepatologia - SBH e da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, obedecendo às recomendações de que toda matéria relacionada à pesquisa humana ou animal deva obedecer às recomendações da Declaração de Helsinque (1964 e suas versões posteriores de 1975, 1983 e 1989).

Porém, tudo na vida não são flores, em 1978 houve um cisma na Instituição, levando a que alguns profissionais citados anteriormente se desligassem do IBEPEGE, mas a entidade permaneceu viva ainda sob a responsabilidade arrojada do Prof. José Fernandes Pontes, o qual mesmo se sentindo mais isolado, mais envelhecido, desencantado, não se curvou, congregando com novos jovens mantendo a Instituição viva, bem como essa grande obra cultural da gastroenterologia brasileira, os ARQUIVOS de GASTROENTEROLOGIA. Mas para tal, precisou de “ombros e corpos fortes” de alguns Sísifos (significando a palavra obstinação) como os Drs. Ricardo Guilherme Viebig, Fernando Pardini e Mounib Tacla, levando a que permanecesse como a mais importante revista do país. Como esse ser mitológico grego, esse trio continuou rolando diariamente não uma pedra que deslizava tão logo atingia o topo da montanha, mas carregando um ideal de manter essa revista viva. São responsáveis, sobretudo, pela imortalidade dessa histórica revista. Foi o desprendimento desse grupo que juntos com a nossa competente bibliotecária, Cecília Pinheiro, têm tornado perene essa publicação trimestral, implementando o conhecimento nessa área tão importante da Clínica Médica. Vida mais longa ARQUIVOS de GASTROENTEROLOGIA.

Adávio de OLIVEIRA e SILVA