Compartilhar

As Novas Faces da Medicina – uma Jornada e uma Perspectiva

As Novas Faces da Medicina – uma Jornada e uma Perspectiva

Autores:

Adib Jatene

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782X

Arq. Bras. Cardiol. vol.104 no.3 São Paulo mar. 2015

https://doi.org/10.5935/abc.20150023

O Professor Protásio da Luz, pesquisador de ciência básica, clínica e cardiologista renomado nos brinda com seu mais novo livro As Novas Faces da Medicina. Trata-se da apresentação de sua visão das bases científicas e humanísticas da medicina, sua evolução e seu porvir.

Com expressivas ilustrações, o livro apresenta-nos a importância da conexão da técnica com o humano, da ciência com o relacionamento de médicos e pacientes. “Não se trata ainda da anamnese. É apenas a primeira abordagem para conhecer a pessoa”. Nesta frase, aparentemente trivial, encerram‑se profundas sabedoria e experiência do profissional e professor de medicina realizando uma das grandes metas da universidade: propagar conhecimento para aprimoramento dos estudantes e médicos em geral.

Acima de tudo, a leitura convidativa nos leva a uma viagem pela história das conquistas da ciência e da medicina, com seu progresso tecnológico na compreensão das doenças e de seus tratamentos.

Em paralelo, o livro apresenta uma análise crítica do nosso sistema de saúde, englobando a formação, a especialização e a atuação dos médicos no Brasil, bem como a estrutura de financiamento e de atendimento, postas à disposição dos profissionais da saúde e a da população. Entre outros aspectos, é interessante descobrir como a medicina requer a tecnologia e, ao mesmo tempo, como pode ser humanizada e aplicada de um modo sensato e com visão holística. Por outro lado, o livro nos conduz à ideia da medicina como uma atividade fortemente voltada ao homem como comunidade social, transitando entre o individual e o coletivo. Por mais que a tecnologia tenha evoluído, o homem continua igual e, diante da doença, torna-se um ser aflito, angustiado e com medo. Costumo dizer que o oposto do medo não é a coragem; oposto do medo é a fé. Por isso, o médico atua junto ao indivíduo como pessoa e, ao mesmo tempo, está inserido em um contexto social, com profundas implicações. Mostra ainda a importância das instituições em ensinar e sustentar esse caminho, com exemplos pertinentes ao nosso meio. Nesse processo, o autor consegue fazer com que sua experiência pessoal contribua para uma sabedoria universalista e nos conduz por esse caminho de um modo suave, mas, ao mesmo tempo, claro, dinâmico e contemplativo. Sente-se, nesses relatos, a voz de Hemingway: “Se queres ser universal, fala sobre tua aldeia”.

O autor ainda nos dá sua contribuição sobre a necessidade e a oportunidade do uso do método científico, do rigor no desenho, da condução e conclusão de estudos experimentais e clínicos, além do espírito crítico do leitor, ao estudar artigos publicados nas diversas revistas médicas. Acima de tudo, coloca-nos frente a frente com a interface entre o método científico acadêmico e sua aplicação ao raciocínio clínico. Ao comentar sobre os mestres que nortearam seu caminho, ele nos introduz a algo que só recentemente veio a ser denominado “medicina baseada em evidências”, que não é senão a sistematização aplicada do método científico à atividade médica. Passa ao leitor sua vivência nos diversos aspectos da vida acadêmica, de um modo acessível e pertinente ao universo quotidiano de todos aqueles interessados em entender o fazer e o receber da medicina como algo entremeado na condição humana. Sobretudo, mostra a ciência médica como algo intuitivo e simples, não como algo inacessível e complicado. E, acima de tudo, de como o médico deve se imergir no método científico para formar um corpo sólido de conhecimento com bases cartesianas, porém de um modo até mesmo humilde, sem desprezar o senso comum. Isso tudo cultivando a honestidade de pensamento e de ação.

O livro termina com “Desafios futuros” que é uma reafirmação da crença na essência humana da medicina – “O médico nunca vai desaparecer...” sem perder a perspectiva de que a tecnologia continuará a nos fornecer modos melhores e eficazes de atuarmos, se mantivermos o pensamento crítico e a mente aberta ao novo. É oportuno e relevante analisar que “O novo não é necessariamente o melhor”, como didaticamente salienta o autor.

É um livro de especial significado para os estudantes de medicina, para os médicos, para os pesquisadores, para os administradores da saúde em geral, mas, também, por sua linguagem clara e objetiva, sem perda nenhuma de boa carga emocional, para o público em geral. Pode ser lido na ordem preferida pelo leitor, pois, embora de amplo espectro, todos capítulos se completam em si mesmos e têm grande relevância.

Adib Domingos Jatene

Professor Emérito da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo

Adib Jatene (in memorian); Editorial; Ensino; Conhecimento; Docentes de Medicina; Disseminação de Informação.