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Aspectos clínico, tomográfico e histopatológicos do cisto do ducto nasopalatino

Aspectos clínico, tomográfico e histopatológicos do cisto do ducto nasopalatino

Autores:

Janaina Almeida Mesquita,
Anibal Henrique Barbosa Luna,
Cassiano Francisco Weege Nonaka,
Gustavo Pina Godoy,
Pollianna Muniz Alves

ARTIGO ORIGINAL

Brazilian Journal of Otorhinolaryngology

versão impressa ISSN 1808-8694

Braz. j. otorhinolaryngol. vol.80 no.5 São Paulo set./out. 2014

http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.05.020

Introdução

O cisto do ducto nasopalatino (CDNP) é um cisto não odontogênico de desenvolvimento que se origina da proliferação dos remanescentes epiteliais do ducto nasopalatino, o qual está presente durante a vida fetal e tende a regredir após o nascimento; porém, podem permanecer resmanescentes que proliferam e originam o cisto.1 , 2 É considerado um cisto raro, que acomete frequentemente homens entre a 4ª e 6ª décadas da vida.3 Geralmente, são assintomáticos, de crescimento lento e detectados após exame clínico e radiográfico de rotina.4 Tumefação na região anterior do palato, drenagem e dor, quando relatados, estão associados à infecção secundária ou à pressão sobre o nervo nasopalatino.2 Ao exame radiográfico, o cisto aparece posicionado na linha mediana como uma radioluscência em formato de coração, resultado da sobreposição da espinha nasal anterior.5 , 6 O tratamento é a enucleação da lesão, e o encaminhamento para exame histopatológico é fundamental para a conclusão do diagnóstico.1

Apresentação do caso

Paciente sexo feminino, 41 anos, leucoderma, foi encaminhada pelo ortodontista com suspeita de lesão em maxila. A paciente não apresentava queixas e referia exodontia do 11/21 por cárie na infância. Ao exame físico não foi observada assimetria facial e as mucosas apresentavam-se íntegras (fig. 1A). A tomografia computadorizada (TC) exibiu lesão única com aspecto hipodenso, bem definida, com aproximadamente 1,0 × 0,7 × 0,8 cm, no trajeto do ducto nasopalatino (fig. 1B). Foi realizada biópsia excisional (fig. 1C), e a peça foi encaminhada ao laboratório de Patologia Oral, onde microscopicamente observou-se a presença de uma cavidade cística revestida por delgado epitélio colunar pseudo-estratificado, constituído por uma a três camadas de células e cápsula cística do tipo fibrosa densa (fig. 1D). No lúmen cístico evidenciou-se a presença de infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear. A partir dos achados clínico-tomográficos e histopatológicos, confirmou-se o diagnóstico de cisto do ducto nasopalatino.

Figura 1  A, Aspecto clínico intrabucal, com ausência de anormalidades ao exame físico; B, TC da maxila em corte axial mostrando dimensão médio-lateral da lesão; Aquisição sagital da maxila evidenciando dimensão anteroposterior e supero inferior; C, Loja cirúrgica após enucleação total da lesão; D, Fotomicrografia evidenciando a presença de lesão cística revestida por delgado epitélio pseudoestratificado e cápsula fibrosa densa com infiltrado inflamatório crônica (HE, 40×). Em maior aumento, no canto direito inferior, evidencia-se a presença de células arredondadas e achatadas no epitélio de revestimento (HE, 400×). 

Discussão

Atualmente, é consenso que o desenvolvimento do CDNP está relacionado à proliferação dos remanescentes epiteliais do ducto nasopalatino.2 Trauma localizado ou presença de infecções na região, além de fatores raciais ou genéticos, têm sido apontados como possíveis causas,3 entretanto, a teoria da proliferação espontânea dos remanescentes epiteliais parece ser a explicação mais provável para o desenvolvimento da lesão.1

No caso relatado, sugere-se que o histórico de infecção, devido à perda dos incisivos centrais superiores por cárie na infância, possa ser considerado fator predisponente para o possível desenvolvimento do CDNP. No entanto, alguns estudos relatam fenômenos de degeneração no ducto nasopalatino em fetos humanos, em que o trauma e a infecção são incapazes de ter ocorrido.2

O exame por imagem é fundamental para auxiliar no diagnóstico e no tratamento do CDNP. No caso relatado, a TC revelou lesão medindo cerca de 1,0 cm, tamanho indicado para enucleação. Há a indicação de que radiolucência nessa área, quando maior que 0,8 cm, deve ser explorada cirurgicamente, e que a superior a 1,4 cm tem forte hipótese diagnóstica de cisto.6

A análise microscópica desta lesão foi bem característica de CDNP. Presença de epitélio colunar pseudoestratificado e cápsula cística do tipo fibrosa também foram encontrados na literatura.4 , 6 No entanto, outros tipos de epitélios de revestimento, como estratificado escamoso e pseudoestratificado cuboide, também podem ser observados. Presença diversificada de epitélios pode estar relacionada com posição do cisto dentro do canal. Fibras nervosas, provavelmente advindas do nervo nasopalatino, vasos sanguíneos e glândulas secretoras de mucosa também podem estar presentes.4

Mediante os aspectos clínicos e radiográficos, a suspeita inicial foi de cisto do ducto nasopalatino, e o tratamento de escolha, geralmente, é a enucleação cirúrgica, considerando a localização e o tamanho da lesão.3

Comentários finais

O conhecimento histopatológico da lesão, aliado a bom exame clínico e radiográfico, é fundamental para conclusão do diagnóstico e tratamento eficaz.

REFERÊNCIAS

1. Cicciù M, Grossi GB, Borgonovo A, Santoro G, Pallotti F, Maiorana C. Rare bilateral nasopalatine duct cysts: a case report. Open Dent J. 2010;4:8-12.
2. Pavankumar K, Sholapurkar AA, Joshi V. Surgical management of nasopalatine duct cyst: case report. Rev Clín Pesq Odontol. 2010;6:81-6.
3. Francolí JE, Marqués NA, Aytés LB, Escoda CG. Nasopalatine duct cyst: Report of 22 cases and review of the literature. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2008;13:438-43.
4. Bachur AM, Santos TCRB, Silveira HM, Pires FR. Cisto do ducto nasopalatino: considerações microscópicas e de diagnóstico diferencial. Robrac. 2009;18:58-62.
5. Suter VGA, Sendi P, Reichart PA, Bornstein MM. The nasopalatine duct cyst: An analysis of the relation between clinical symptoms, cyst dimensions, and involvement of neighboring anatomical structures using cone beam computed tomography. J Oral Maxillofac Surg. 2011;69:2595-603.
6. Scolozzi P, Martinez A, Richter M, Lombardi T. A nasopalatine duct cyst in a 7-year-old child. Pediatr Dent. 2008;30:530-4.