versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.21 no.11 Rio de Janeiro nov. 2016
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152111.07842015
The scope of this study was to evaluate the association between the presence of common mental disorders and the impairment of subjective health conditions among the elderly. It involved a cross-sectional analytical survey conducted among all the elderly residents in the urban area of a Brazilian municipality with low population density. Mental disorders were evaluated using the short version of the Goldberg General Health questionnaire. Subjective and normative health conditions were evaluated and logistic regression was applied (OR/CI95%) with a 5% significance level. The survey included 419 elderly residents and the prevalence of mental disorders was 44.6%. The presence of mental disorders was greater among seniors who reported dissatisfaction with life, impairment in the mental and physical control of quality of life and with self-perception of the appearance of teeth and gums as negative. The prevalence of disorders was less identified between men and among those for whom oral health did not affect their relationships with other people The common mental disorder was identified in a significant number of the elderly investigated and the presence of this disorder has been mainly associated with oral health conditions.
Key words: Mental health; Elderly; Health; Prevalence; Epidemiology
O envelhecimento populacional é um dos fenômenos demográficos mais notórios da atualidade. Nos países desenvolvidos, a mudança na estrutura etária da população foi um processo lento e já consolidado. Já naqueles em desenvolvimento, esse processo iniciou-se mais tardiamente e vem ocorrendo num ritmo acelerado1,2. Apesar do prolongamento da vida ser uma conquista da sociedade, tal realidade é preocupante no Brasil, onde o envelhecimento populacional pode representar um problema, uma vez que esse processo nem sempre é acompanhado por ampliação da cobertura dos sistemas de proteção social e por melhoria das condições de vida e qualidade de vida das pessoas3.
O envelhecimento, processo natural e gradual, produz limitações e alterações no funcionamento do organismo do idoso, com consequente diminuição da qualidade de vida, que pode ser compreendida como um conjunto harmonioso de satisfações que a pessoa obtém no seu cotidiano, levando-se em consideração tanto os aspectos físicos quanto o psicológico e o social4. Tem-se observado o aumento da prevalência de enfermidades características deste estrato etário2 e dentre os problemas de saúde que acometem os idosos, encontram-se os transtornos mentais. Eles afetam de 20 a 25% de todas as pessoas em um dado momento de sua vida5 e estão presentes em cerca de um terço da população com mais de 60 anos de idade, apesar disso ainda são poucos os estudos epidemiológicos de morbidade psiquiátrica geral no idoso6-8. Dentre esses transtornos destacam-se o Transtorno Mental Comum (TMC).
O TMC é considerado uma situação de saúde que não preenche os critérios formais para diagnóstico de depressão e/ou ansiedade segundo as classificações Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders Fourth Edition (DSM-IV) e da Classificação Internacional de Doenças 10ª revisão (CID-10), mas que apresentam sintomas proeminentes que trazem uma incapacitação funcional comparável ou até pior do que quadros crônicos bem estabelecidos9. O TMC também denominado distúrbio psiquiátrico menor, transtorno não psicótico e morbidade psiquiátrica menor, se caracteriza por: insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração, queixas somáticas, episódio de humor, transtorno de humor, abuso de substâncias, ansiedade, transtorno nos hábitos alimentares10. Portadores de transtornos psíquicos, em geral, deixam de desempenhar adequadamente o autocuidado, comprometendo, por exemplo, sua saúde11.
Estudos prévios têm identificado a associação e o impacto dos TMC com outras condições de saúde, principalmente aquelas de caráter normativo7,8. No entanto, sabe-se que as condições normativas por si só não indicam o quanto as pessoas se sentem afetadas pela sua condição de saúde12,13. Constata-se ainda serem escassos os estudos populacionais domiciliares que investigam a associação entre TMC e condições subjetivas de saúde, entre elas incluem-se as condições de saúde bucal, situação pouco explorada entre os acometidos por esta enfermidade. Dessa forma, o presente estudo objetivou estimar a prevalência do TMC entre idosos residentes em um município brasileiro de pequeno porte populacional, assim como, verificar se a presença de tal transtorno foi associada ao comprometimento de condições subjetivas de saúde.
Estudo transversal analítico censitário conduzido entre todos os idosos (≥ 60 anos de idade) residentes e domiciliados em área urbana de um município brasileiro de pequeno porte populacional (Ibiaí – Minas Gerais). Os dados foram coletados, entre janeiro de 2011 a julho 2012, por acadêmicos do décimo período do curso de odontologia segundo padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 199714. Participaram da coleta de dados examinadores que foram treinados e calibrados (Kappa simples inter/intra examinadores) em um estudo piloto conduzido entre sessenta idosos de outro município. Os examinadores apresentaram concordância ≥ 0,61 para todas as condições normativas de saúde bucal avaliadas, conforme escala proposta por Fleiss15 e modificada por Cicchetti et al.16. Foi aplicado um questionário semiestruturado, precedido pela assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, sendo garantida a privacidade dos participantes durante a coleta de dados. Foram avaliados todos os idosos encontrados após visita a todos os domicílios da área urbana do município e incluídos no presente estudo aqueles que responderam as questões referentes à presença de TMC.
A variável dependente – transtornos mentais comuns – foi avaliada pela versão abreviada do Questionário de Saúde Geral de Goldberg (QSG)17, adaptado para a língua portuguesa e cultura brasileira18. Trata-se de um instrumento estruturado que tem por objetivo identificar o perfil sintomático de saúde mental de pessoas com distúrbios psiquiátricos não extremos – transtornos depressivos e de ansiedade de gravidade leve a moderada17 considerando cinco fatores: estresse psíquico; desejo de morte; desconfiança do próprio desempenho; distúrbios do sono e distúrbios psicossomáticos, além de escore relativo à saúde geral19. O instrumento contém 12 questões cujas respostas são emitidas numa escala que varia de 1 a 4 pontos, que se referem ao nível de concordância de cada um dos itens apresentados. A apuração das respostas neste estudo seguiu o sistema de pontuação adotado por Goldberg17, o qual implica que as respostas um e dois sejam recodificados como “zero” referente à ausência de distúrbio psiquiátrico e as respostas três e quatro sejam recodificados como “um” referente à presença de distúrbio psiquiátrico. Em um segundo momento é feita a soma das doze respostas recodificadas em um e zero gerando o escore do QSG. Os escores gerados variam de um a doze e o ponto de corte é 3/4, ou seja, os idosos que apresentaram escores um, dois e três foram considerados sem transtorno, assim como os que apresentaram o escore zero (ausência de transtorno em todas as questões), e aqueles que apresentaram de quatro a doze foram considerados com transtorno; sendo assim quanto mais próximo de zero, melhor a saúde/bem estar e quanto mais próximo de doze, maior o comprometimento na saúde. A aproximação do score seis denota a presença de transtornos psiquiátricos19.
As variáveis independentes investigadas foram referentes às características demográficas, socioeconômicas e comportamentais, e às condições normativas e subjetivas de saúde. As variáveis relativas às condições demográficas foram: sexo (feminino, masculino) e idade (60 a 67 anos, 68 a 75 anos e 76 anos ou mais). As condições socioeconômicas foram avaliadas por: situação conjugal (com companheiro, sem companheiro), raça autodeclarada (branco, amarelo, negro pardo), escolaridade (sem escolaridade, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos e 9 anos ou mais) e renda per capita (1 salário ou mais, menos de 1 salário). No grupo de comportamentos foram avaliados os hábitos tabagista (ausente, presente), etilista (ausente, presente) e pratica de atividade física (ativo, nem ativo/nem inativo, inativo). As condições normativas de saúde avaliadas foram: uso de medicamentos (não, sim) e presença de doença sistêmica (ausência, presença). No que diz respeito às questões subjetivas de saúde – principais variáveis independentes – avaliou-se a satisfação com a vida (muito satisfeito, satisfeito, nem satisfeito, nem insatisfeito, insatisfeito e muito insatisfeito), sendo posteriormente classificados como “satisfeitos” (muito satisfeito, satisfeito, nem satisfeito, nem insatisfeito) e “insatisfeitos” (insatisfeito e muito insatisfeito). A qualidade de vida foi avaliada pela versão validada no Brasil do 12 - Item Short-Form Health Survey (SF-12), a partir de seus domínios físico e mental (com risco, sem risco) cujos pontos de corte nos escores gerados foram 56,57 e 60,75, respectivamente, nos quais a qualidade de vida insatisfatória nos domínios referidos foram estimadas por valores superiores a esses pontos de corte20,21.
As condições de saúde bucal avaliadas foram divididas em condições normativas e subjetivas. As normativas avaliadas foram: edentulismo (ausente, presente), uso de prótese (ausente, presente), necessidade de prótese total superior (não necessita, necessita) e inferior (não necessita, necessita), necessidade de prótese superior e/ou inferior (não necessita, necessita), índice de placa visível (edêntulo, ausente, presente), sangramento gengival (edêntulo, ausente, presente), cálculo (edêntulo, ausente, presente), bolsa periodontal (edêntulo, ausente, presente), perda de inserção (edêntulo, ausente, presente), condição periodontal comprometida (edêntulo, ausente, presente), alteração de tecido mole (ausente, presente), necessidade de tratamento dentário (edêntulo, ausente, presente), necessidade de tratamento odontológico (ausente, presente). O Índice de Placa Visível – IPV foi utilizado para avaliação normativa da higiene bucal, com ligeira modificação, tendo como referência somente seis dentes índices (11, 31, 16, 26, 36 e 46). A avaliação da condição periodontal utilizou o Índice Periodontal Comunitário (CPI), que permite avaliar a condição periodontal quanto à higidez, sangramento e presença de cálculo dentário ou bolsa periodontal, atual proposta da OMS14, sendo complementada pelo exame da Perda de Inserção Periodontal (PIP). Na avaliação do comprometimento da condição periodontal considerou-se como “presente” os idosos que tiveram pelo menos uma das avaliações das condição periodontal comprometida (sangramento, cálculo, bolsa periodontal e perda de inserção). Na necessidade de tratamento dentário foi considerada a avaliação apenas do elemento dental (nenhum tratamento, restauração de uma superfície, restauração de duas ou mais superfícies, coroa por qualquer razão, faceta estética, tratamento pulpar e restauração, extração, remineralização de mancha branca), de acordo com os parâmetros estabelecidos pela OMS14. Já na análise de tratamento odontológico, considerou-se a avaliação da necessidade de tratamento dentário, tratamento periodontal e de prótese dentária, sendo considerado como “presente” os idosos que necessitavam de tratamento em pelo menos uma das avaliações.
Quanto às condições subjetivas de saúde bucal foi avaliada a autopercepção da saúde bucal (positiva, negativa), da mastigação (positiva, negativa), da aparência de dentes e gengivas (positiva, negativa), da fala devido aos dentes e gengivas (positiva, negativa) do relacionamento com outras pessoas em função da saúde bucal (não afeta, afeta) e da dor de dentes e gengivas nos últimos seis meses (nenhuma dor, alguma dor).
Para a análise dos dados, empregou-se o software SPSS® Statistics 18.0. Na análise descritiva incluiu-se a frequência absoluta (n) e a relativa (%) para variáveis categóricas. Para as variáveis quantitativas foram apresentadas medidas de média e desvio padrão (DP). Em seguida foram conduzidas análises univariadas a partir do Teste Qui-quadrado. Foram incluídas nas análises múltiplas aquelas variáveis que apresentaram nível de significância (valor-p) igual ou inferior a 0,2013,22. Foram feitas regressões logísticas para estimativa do modelo múltiplo (OR), ficando retido no modelo os fatores que permaneceram associados ao nível de p ≤ 0,05, com intervalos de 95% de confiança (IC95%). Os princípios éticos deste estudo estiveram de acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Brasil, n°196/96, sob aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, CEP/Unimontes.
Estimou-se a participação de 461 idosos do município, foram encontrados nos domicílios 459, dos quais 419 participaram (TR = 90,80%). A prevalência dos transtornos mentais comuns foi de 44,6%, referente a 187 idosos. A média de idade dos idosos foi de 71,72 anos (DP = 8,74), a escolaridade média de 1,70 anos de estudo (DP = 2,50) e a renda per capita de 353,82 reais (DP = 258,69). A maioria dos entrevistados foi do sexo feminino (58,7%), se autodeclarou como parda (53,2%), possuía alguma doença sistêmica (87,3%) e apresentou qualidade de vida satisfatória (Tabela 1).
Tabela 1 Caracterização da população idosa de Ibiaí/MG/Brasil, 2011/2012, quanto à presença de transtornos mentais, condições demográficas, socioeconômicas, comportamentos, condições normativas e subjetivas de saúde. n = 419.
* Valores com n menor que os respondentes. ** Salário mínimo em 2010 vigente na época da coleta de dados, início de 2011, de R$ 510,00 correspondente a $ 309,05 dólares.
Na análise descritiva do QSG constatou-se que a maioria dos idosos respondeu positivamente as questões (Tabela 2).
Tabela 2 Distribuição da frequência da população idosa de Ibiaí/MG, quanto aos transtornos mentais comuns, 2011/2012, n = 419.
* Valores com n menor que os respondentes.
Quanto à análise univariada constatou-se a associação (p ≤ 0,20) entre a presença de transtornos mentais comuns com variáveis demográficas e com condições normativas e subjetivas de saúde (Tabela 3).
Tabela 3 Análise univariada dos fatores associados a transtornos mentais comuns entre idosos. Ibiaí – MG, Brasil, 2011/2012 (n = 419).
* Valor com n menor que os respondentes
Na análise múltipla mantiveram-se associadas (p ≤ 0,05) a presença de transtornos mentais comuns e as seguintes variáveis: sexo, satisfação com a vida, domínio mental e físico da qualidade de vida, autopercepção da aparência de dentes e gengivas e do relacionamento em função da saúde bucal (Tabela 4).
O crescimento da população idosa provoca um aumento de pessoas com risco de adquirir doenças neurológicas e psiquiátricas23. Tais doenças constituem um grave problema clínico e de saúde pública, além de associarem-se a um pior padrão de qualidade de vida relativa à saúde24,25. Entre os idosos de Ibiaí a prevalência de transtornos mentais comuns foi de 44,6%, bem superior às taxas encontradas em Fortaleza – CE (26,4%)6, Montes Claros – MG (29,3%)7, Feira de Santana – BA (29,9%)26, e na China (26%)27. Muitos fatores contribuem para tal aumento, como o crescimento do número de morbidades e incapacidades inerentes ao envelhecimento, eventos estressantes da vida, isolamento social e dificuldades econômicas26,28. A maior prevalência de transtornos mentais entre os idosos de Ibiaí esteve associada às características sociodemográficas e, principalmente, a condições subjetivas de saúde.
A presença destes transtornos entre os idosos do presente estudo foi menor entre homens, corroborando estudos prévios que haviam identificado menor prevalência desses transtornos no sexo masculino8,26,27. Homens e mulheres desempenham papéis distintos na sociedade. A maioria das mulheres atualmente tem dupla jornada de trabalho, exercem funções oriundas da sua inserção no mercado de trabalho formal, assim como referentes ao seu papel familiar, dentre elas as tarefas domésticas e a educação dos filhos. Essa sobrecarga de trabalho as torna mais propensas a situações de conflitos, cansaço, estresse e sofrimento, situação que pode estar associada a uma maior morbidade psíquica nesse grupo. Além disso, as mulheres têm uma maior autopercepção negativa da saúde quando comparadas aos homens, sendo assim, expressam com maior facilidade seus sintomas29,30 e reconhecem mais prontamente a presença de doenças.
A presença de transtornos mentais foi maior entre os idosos que relataram insatisfação com a vida no presente estudo. A satisfação com a vida na velhice pode estar relacionada à sensação de conforto, bem-estar, saúde, relações pessoais, entre outros31, podendo ser uma avaliação subjetiva da qualidade de vida. Era esperado que os idosos acometidos por TMC relatassem insatisfação com a vida, em função das possíveis consequências desses transtornos.
Em Ibiaí, os idosos com transtorno mental apresentaram maior comprometimento dos domínios físico e mental da qualidade de vida. A qualidade de vida relacionada à saúde, em particular, abrange o impacto da doença e do tratamento na capacidade de uma pessoa para realizar atividades diárias, sendo um conceito multiatributo que engloba diversas dimensões, inclusive física, mental ou funcional e bem-estar psicológico32. A prevalência de doenças crônicas e múltiplas, dentre as quais os transtornos mentais comuns, têm aumentado entre idosos, ocasionando na maioria das vezes incapacidades ou limitações funcionais, sociais e psicológicas na vida diária das pessoas, comprometendo assim os domínios físico e mental deles33,34. Além disso, ressalta-se a possibilidade de causalidade reversa nessa associação. Condições subjetivas de saúde, ou seja, autopercepção das condições de saúde, também podem estar associadas à saúde mental.
A autopercepção é a interpretação que uma pessoa faz do seu estado de saúde e das suas experiências no contexto de sua vida diária. Em geral, esse julgamento é baseado nas informações e nos conhecimentos disponíveis sobre saúde e doença, pode ainda ser mediado pela experiência prévia e pelo contexto social, cultural e histórico da pessoa35,36. Estudos conduzidos entre idosos brasileiros evidenciaram que a autopercepção negativa da saúde bucal foi maior entre idosos dentados do que entre edentados, possivelmente pelo fato dos poucos dentes remanescentes na boca apresentarem-se em condições precárias, agindo como fatores causais de dor; interferências negativas na aparência, mastigação e relacionamentos desses idosos36-38. A autoavaliação da saúde bucal é multidimensional refletindo a experiência subjetiva das pessoas sobre o seu bem-estar funcional e social39,40. Existem evidências de que a autopercepção negativa da aparência é a principal explicação para autopercepção negativa da saúde bucal36. Ressalta-se ainda que idosos com autopercepção e ou condições cognitivas comprometidas podem apresentar piores condições de saúde bucal22,41.
Entre idosos de Ibiaí, a autopercepção negativa da aparência dos dentes e gengivas foi maior entre aqueles com transtornos mentais comuns, estudos prévios não avaliaram tal associação. A autoavaliação da saúde bucal pode estar associada a fatores objetivos e subjetivos, portanto, não dissocia-se da saúde em geral36,42, pois essa autoavaliação sofre influência da presença de doenças sistêmicas, da saúde mental e ou da condição normativa de saúde bucal. Os idosos de Ibiaí, em sua maioria, autoperceberam a sua saúde bucal de forma positiva, porém a autopercepção negativa da aparência em função da condição de saúde bucal parece interferir na vida dessas pessoas podendo gerar transtornos mentais comuns. Além disso, precárias condições de saúde bucal, possivelmente, são responsáveis pela autopercepção negativa da saúde bucal das pessoas com transtornos mentais comuns. Considera-se ainda a possibilidade de causalidade reversa nesta associação.
Apesar dos idosos investigados possuírem precárias condições de saúde bucal e a autopercepção negativa da aparência dos dentes e gengivas estar associada à presença de TMC, estas parecem não influenciar nas relações sociais já que a presença de TMC foi menor entre aqueles em que a saúde bucal não afetou o relacionamento com outras pessoas. Ressalta-se que o processo de envelhecimento pode ser acompanhado de outros problemas e comprometimentos sistêmicos2,4, sendo que este conjunto de fatores pode impactar de forma mais drástica do que problemas bucais. Além disso, observa-se entre idosos brasileiros uma conformação com suas condições de saúde bucal, mesmo sendo precarias36, o que evidencia o baixo impacto dessas condições na vida diária e no relacionamento com outras pessoas.
Quanto a limitações da investigação é importante salientar que a associação entre transtornos mentais comuns e condições subjetivas de saúde é dinâmica. Portanto, causas e efeitos variam ao longo da vida em uma relação de retroalimentação, assim, em estudos transversais não é possível estabelecer uma relação temporal entre as associações observadas. Algumas variáveis que podem confundir tal associação não foram analisadas nesta investigação. Ressalta-se, ainda, que o questionário utilizado tenha limitações a serem consideradas. Por outro lado, acredita-se que os resultados apresentados podem ser comuns a idosos de municípios da região que apresentem condições contextuais similares às de Ibiaí, tais como o porte populacional e o índice de desenvolvimento humano dentre outras condições.
O transtorno mental comum foi identificado na maioria dos idosos investigados, sendo sua presença maior entre idosos do sexo masculino, que relataram insatisfação com a vida, com comprometimento dos domínios físico e mental da qualidade de vida, e que possuíam uma autopercepção negativa da aparência dos dentes e gengivas e impacto da saúde bucal no relacionamento com outras pessoas. Dessa forma, identificou-se a associação dos transtornos, principalmente, com piores condições subjetivas de saúde dos idosos, acatando a hipótese em investigação. Portanto, subtende-se que a presença desses transtornos está relacionada a uma pior percepção dos idosos quanto às suas condições de saúde geral e bucal, assim como a qualidade de vida insatisfatória. Ressalta-se ainda que se trata de uma amostra de idosos residentes em um município de pequeno porte populacional que possui indicadores sociais baixos, indicando a possibilidade da influência do ambiente, no qual estão inseridos, na presença desses transtornos e nas questões subjetivas de saúde. Considera-se que as políticas de atenção ao idoso devem considerar a necessidade da assistência a saúde mental dessa população visando garantir um envelhecimento com qualidade de vida e saúde.