Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194
Acta paul. enferm. vol.31 no.5 São Paulo 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800067
Verificar la asociación entre datos demográficos y laborales, calidad de vida y ambiente de trabajo de los enfermeros.
Investigación transversal y correlacional en un hospital universitario terciario, a través de instrumentos autoaplicables. Participaron 143 enfermeros en el período comprendido entre enero y junio de 2017. La relación entre puntuaciones de la calidad de vida, ambiente de trabajo y datos demográficos y laborales fue analizada por el ajuste de modelos de regresión lineal múltiple con respuesta normal para cada ámbito del instrumento. Las relaciones fueron estadísticamente significativas si p <0,05.
El ambiente de trabajo presentó un promedio de 2,3 y la calidad de vida 14,1. Las asociaciones que mostraron significación estadística negativa fueron: trabajo en unidades especiales y cerradas, en los campos físico y psicológico; han recibido promoción en los últimos 12 meses, en el ámbito psicológico; evaluados positivamente, en el ámbito social; apoyo organizacional, en el ámbito social, y trabajan de 3640 horas semanales, en el ámbito ambiental. Las asociaciones positivas fueron: están satisfechos con el salario, en los ámbitos psicológico y ambiental; control sobre el medio ambiente, en el ámbito social, y tiempo de trabajo de seis a 15 y> 20 años, en el ámbito ambiental.
Las escalas presentaron puntuaciones favorables para calidad de vida y ambiente de trabajo. Las asociaciones mostraron significancia estadística en mejores puntuaciones de calidad de vida para los que están satisfechos con el salario y con el tiempo de trabajo por encima de seis años y puntuaciones menores para los que trabajan en unidades cerradas y especiales, 36-40 horas semanales, y que fueron promovidos y evaluados positivamente en los últimos 12 meses.
Descriptores Calidad de vida; Ambiente de trabajo; Gestión de la práctica profesional; Enfermeros
No ambiente hospitalar os profissionais de enfermagem permanecem em contato direto com a dor e o sofrimento por cuidarem das necessidades humanas básicas, com ênfase para as necessidades físicas e emocionais. Assim, esses trabalhadores podem ter comprometimento físico e mental contribuindo para a redução da capacidade laborativa e interferindo na qualidade de vida (QV).(1)
Ao avaliar a QV da equipe de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), bem como os fatores sócios demográficos e do trabalho, estudiosos verificaram QV relativamente baixa em todas as dimensões estudadas.(2) Outro estudo com o objetivo de investigar padrões próprios da profissão de enfermagem e a existência de associações que podem afetar a QV demonstrou que há prejuízo na qualidade do sono em especial no sexo feminino.(3)
Assim, a satisfação dos trabalhadores de saúde está diretamente relacionada ao ambiente em que está inserido, o que pode influenciar a qualidade da assistência prestada, reduzir o nível de burnout, diminuir a taxa de mortalidade e consequentemente, diminuir a rotatividade e o absenteísmo.(4)
Considera-se que os recursos para o desenvolvimento do trabalho são também muito importantes para a saúde e bem estar dos trabalhadores, pois promovem o engajamento no trabalho e produzem resultados positivos no trabalho em equipe e colaboração interprofissional reduzindo o estresse e burnout possibilitando o exercício da autonomia dos profissionais.(5)
O grau de satisfação no ambiente de trabalho (AT) também se relaciona com o interesse no trabalho, recompensas, relacionamento interpessoal com colegas e gerentes, riscos no trabalho, incluindo estresse e fatiga, além de outros fatores específicos da profissão.(6)
A sobrecarga de trabalho, suas condições, conflitos interpessoais, expectativas frustradas, falta de autonomia e duplas jornadas podem prejudicar o processo de trabalho de forma geral. Portanto, o AT saudável e inovador influencia positivamente na assistência ao paciente, assim como no bem estar do profissional.(7,8)
Portanto, verifica-se que tanto QV como AT interferem no processo de trabalho do enfermeiro, no entanto há escassez na literatura sobre como esses aspectos se articulam.
O estudo justifica-se pois, torna-se relevante correlacionar a qualidade de vida e ambiente de trabalho dos enfermeiros com a finalidade de promover mudanças que possam interferir de forma positiva nessa qualidade de vida com repercussão na assistência prestada.
Assim, com a pergunta: “O ambiente de trabalho do enfermeiro interfere em sua qualidade de vida?” o objetivo desse estudo foi: verificar a associação entre dados demográficos e laborais, qualidade de vida e ambiente de trabalho dos enfermeiros.
Pesquisa quantitativa, transversal, desenvolvida em hospital público universitário do estado de São Paulo, de grande porte, nível terciário de assistência, referência da Rede de Atenção à Saúde 9, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (Protocolo n°. 62214116.7.0000.5411).
O estudo utilizou amostra não probabilística intencional composta por 143 enfermeiros, atuantes no período de janeiro-junho/2017, definida pela disponibilidade e aceitação do profissional em participar da pesquisa, o que correspondeu a 52% dos enfermeiros do hospital.
Para coleta de dados foram utilizados os instrumentos World Health Organization Quality of Life - versão abreviada (WHOQOL-Bref) e Nursing Work Index Revised (B-NWI-R), nas versões brasileiras validadas, preenchidos de forma autónoma pelo próprio entrevistado.(9,10)
O WHOQOL-Bref é um instrumento genérico de QV composto de 26 itens e quatro domínios - físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. É uma escala tipo Likert de um a cinco, o escore médio em cada domínio indica a percepção do indivíduo quanto à sua satisfação em cada aspecto em sua vida, relacionando-se com sua qualidade de vida. Quanto maior a pontuação, melhor essa percepção. O cálculo considerou o Escore Bruto (EB) mediante a soma das pontuações de cada questão e posteriormente foi gerado um Escore Transformado (ET 4-20), cujos valores variam de 4 a 20.(9) Quanto mais próximo do 20, melhor a percepção quanto a QV.
O instrumento B-NWI-R é um instrumento composto por 57 itens com quatro subescalas: autonomia, controle sobre o AT, relacionamento entre enfermeiros e médicos e suporte organizacional. Escala tipo Likert, com pontuação variando entre um e quatro: concordo totalmente; concordo parcialmente; discordo parcialmente e discordo totalmente. Valores abaixo de 2,5 representam ambientes favoráveis à prática profissional e acima de 2,5 pontos, ambientes desfavoráveis.(11) Cada escore foi calculado pela média das respostas dadas em seus itens.
As variáveis demográficas e laborais incluem: sexo, etnia, estado civil, tempo de trabalho semanal, trabalho em unidade com pacientes internados acima de 5 dias, promoção nos últimos 12 meses, avaliação negativa do desempenho profissional, turno de trabalho, outro emprego formal, tempo de trabalho, satisfação com o salário, nível acadêmico e local de trabalho.
De acordo com a característica da organização cenário da pesquisa os locais de trabalho foram agrupados em: enfermarias; unidades fechadas (UF) compostas por: centro cirúrgico, central de materiais e esterilização e unidades de terapia intensiva; unidades especiais (UE) que incluíram: serviço de hemodiálise, centro de diagnóstico por imagem, pronto socorro, centro de referência de imunizações, terapia antálgica, laboratórios, serviço de radioterapia, serviço de terapia nutricional, unidade organização de procura de órgãos; e gerência de enfermagem (GE) composta por: núcleo interno de regulação, comissão de controle de infecção relacionada a assistência à saúde e unidade de órteses e próteses.
As variáveis dependentes foram os escores das subescalas do instrumento B-NWI-R e pelos escores dos domínios do instrumento WHOQOL-Bref.
A relação entre os escores dos domínios da QV pelo instrumento WHOQOL-Bref, B-NWI-R e os fatores demográficos e laborais foi analisada pelo ajuste de modelos de regressão linear múltipla com resposta normal para cada domínio do WHOQOL- Bref. As relações foram consideradas estatisticamente significativas se p<0,05. A análise foi feita com o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 21.0.
A amostra do estudo tem como características predominantes: sexo feminino, etnia branca, sem companheiro, que trabalha 36-40 horas semanais, no período diurno ou noturno, em unidades com pacientes internados acima de 5 dias; não têm outro emprego formal e com menos de 5 anos de tempo de trabalho. Quanto ao desempenho profissional, a maioria foi avaliada positivamente, não foi promovida nos últimos 12 meses e não está satisfeita com o salário. Ressalta-se a alta porcentagem de enfermeiros com nível acadêmico superior à Graduação (Tabela 1).
Tabela 1 Dados demográficos e laborais dos enfermeiros (n=143)
Variável | n(%) | |
---|---|---|
Sexo | ||
Feminino | 127(88,8) | |
Masculino | 16(11,2) | |
Etnia | ||
Branca | 117(81,8) | |
Parda | 19(13,3) | |
Negra | 07(4,9) | |
Estado Civil | ||
Sem companheiro | 75(52,4) | |
Com companheiro | 68(47,6) | |
Tempo de trabalho semanal | ||
30h | 49(36,7) | |
36–40h | 82(57,3) | |
Dupla jornada | 12(8,4) | |
Trabalho em unidade com pacientes internados acima de 5 dias | ||
Sim | 75(52,4) | |
Não | 68(47,6) | |
Promoção nos últimos 12 meses | ||
Sim | 16(11,2) | |
Não | 127(88,8) | |
Avaliação negativa desempenho profissional | ||
Sim | 06(4,2) | |
Não | 137(95,8) | |
Turno de Trabalho | ||
Diurno ou noturno | 131(91,6) | |
Diurno e noturno | 12(8,4) | |
Outro emprego formal | ||
Sim | 18(12,6) | |
Não | 125(87,4) | |
Tempo de Trabalho | ||
<5 anos | 69(48,3) | |
6 a 10 anos | 31(21,7) | |
11 a 15 anos | 24(16,8) | |
16 a 20 anos | 11(7,7) | |
>20 anos | 08(5,6) | |
Satisfação com o salário | ||
Sim | 43(30,1) | |
Não | 100(69,9) | |
Nível Acadêmico | ||
Graduação | 31(21,7) | |
Especialização | 91(63,6) | |
Mestrado | 19(13,3) | |
Doutorado | 02(1,4) | |
Local de Trabalho | ||
Enfermarias | 44(30,8) | |
Unidades fechadas | 40(28,0) | |
Unidades especiais | 43(30,1) | |
Serviços gerenciais | 16(11,2) |
A aplicação da escala B-NWI-R demonstrou que a média dos itens gerais do instrumento e de suas subescalas é menor que 2,5, conforme ilustrado na tabela 2.
Tabela 2 Escala B-NWI-R e as subescalas: controle sobre o ambiente, autonomia, relação médico-enfermeiro e suporte organizacional (n=143)
Escalas | Média | Mínimo | Máximo |
---|---|---|---|
B-NWI-R-Geral | 2,3 | 1,2 | 3,7 |
B-NWI-R-Controle Ambiente | 2,4 | 1,0 | 3,9 |
B-NWI-R-Autonomia | 2,1 | 1,0 | 3,6 |
B-NWI-R-Relação Médico-Enfermeiro | 2,3 | 1,0 | 4,0 |
B-NWI-R-Suporte Organizacional | 2,2 | 1,0 | 3,6 |
B-NWI-R: Nursing Work Index - Revised - Versão brasileira
A QV, mensurada pelo WHOQOL-Bref, evidenciou que, tanto no geral quanto nos diferentes domínios a média é superior a 14 (Tabela 3).
Tabela 3 Qualidade de vida - WHOQOL-BREF e os domínios físico, psicológico, social e meio ambiente (n=143)
Domínios | Média | Mínimo | Máximo |
---|---|---|---|
Geral | 14,1 | 4,0 | 20,0 |
Físico | 15,5 | 8,0 | 20,0 |
Psicológico | 14,2 | 8,0 | 19,3 |
Social | 15,2 | 6,7 | 20,0 |
Meio Ambiente | 14,1 | 8,0 | 19,0 |
WHOQOL-BREF: World Health Organization Quality of Life - Versão abreviada
As associações realizadas entre os fatores demográficos e laborais com o WHOQOL-Bref com seus domínios (físico, psicológico, social e meio ambiente) e B-NWI-R com as subescalas (autonomia, controle sobre o ambiente, relação médico-enfermeiro e suporte organizacional) que foram estatisticamente significativas estão descritas na tabela 4.
Tabela 4 Regressão linear múltipla para a associação dos fatores demográficos e laborais com os domínios do WHOQOL- Bref e B-NWIR com p<0,05
Variável | β | IC95% | p-value | |
---|---|---|---|---|
Domínio Físico | ||||
Unidades especiais | -1,53 | −2,49 | −0,57 | 0,002 |
Unidades fechadas | -1,25 | −2,05 | −0,45 | 0,002 |
Domínio Psicológico | ||||
Unidades especiais | -1,11 | −2,07 | −0,16 | 0,023 |
Unidades fechadas | -1,19 | −1,98 | −0,39 | 0,004 |
Recebeu promoção | -1,14 | −2,08 | −0,20 | 0,017 |
Satisfeito com o salário | 0,76 | 0,04 | 1,48 | 0,039 |
Domínio Social | ||||
Avaliação positiva desempenho. | ||||
profissional | −2,73 | −4,72 | −0,75 | 0,007 |
B-NWI-R Controle Ambiente | 3,65 | 1,39 | 5,91 | 0,002 |
B-NWI-R Suporte Organizacional | −4,91 | −8,11 | −1,70 | 0,003 |
Domínio Ambiental | ||||
36-40 | −0,74 | −1,33 | −0,14 | 0,015 |
Tempo de trabalho >20 anos | 2,65 | 1,18 | 4,12 | 0,000 |
Tempo de trabalho 11 a 15 anos | 1,01 | 0,17 | 1,85 | 0,018 |
Tempo de trabalho 6 a 10 anos | 1,02 | 0,33 | 1,70 | 0,004 |
Satisfeito com o salário | 1,09 | 0,47 | 1,71 | 0,001 |
Assim, na associação com o domínio físico, o trabalho em UE foi em média 1,53 (p= 0,002) e nas UF 1,25 (p= 0,002) pontos menor que nos demais tipos de unidade. A associação do domínio psicológico da QV com os fatores demográficos, laborais e com a escala B-NWI-R apresentou que, em média, o escore é 1,11 (p=0,023) pontos menor entre os que trabalham em UE, 1,19 (p=0,004) pontos menor entre os que trabalham nas UF e 1,14 (p=0,017) pontos menor entre os que receberam promoção nos últimos 12 meses. Como fator positivo mostrou que é, em média, 0,76 (p=0,039) pontos maior entre os que estão satisfeitos com o salário. Os dados evidenciaram que a associação entre o domínio social do WHOQOL-Bref, escala B-NWI-R e fatores demográficos e laborais têm importância estatística para os que foram avaliados positivamente, pois em média é 2,73 (p=0,007) pontos menor; entre os que têm suporte organizacional, com média 4,91 (p=0,003) pontos menor; e entre os que têm controle sobre o ambiente, com média 3,65 (p=0,002) pontos maior. Na associação do domínio ambiental da escala de QV com a escala B-NWI-R e fatores demográficos e laborais, a significância estatística referiu-se aos que trabalham 3640 horas, pois o escore nesse domínio é em média 0,74 (p=0,015) pontos menor. No entanto, nesse domínio destacaram-se os aspectos com média de escore maior no que se refere ao tempo de trabalho que são: 2,65 (p=0,000) pontos entre os que trabalham mais que 20 anos, 1,01 (p=0,018) pontos entre os que têm 11-15 anos e 1,02 (p=0,004) entre os que têm de 6-10 anos. Também destacou-se aspecto favorável relacionado aos que estão satisfeitos com o salário, pois o escore nesse domínio é, em média, 1,09 (p=0,001) pontos maior.
Os resultados desta pesquisa possibilitam a realização de outros estudos e representam avanço do conhecimento sobre a inter-relação entre o ambiente de trabalho e a qualidade de vida dos enfermeiros o que poderá contribuir para a elaboração de estratégias de melhoria nesse ambiente que repercutam na qualidade de vida desse profissional e na qualidade da assistência aos pacientes e familiares por meio do aprimoramento dos processos de trabalho.
Destaca-se como limitação do estudo que os dados foram coletados por meio de questionários autoaplicados, assim a honestidade nas respostas foi exclusivamente dos profissionais participantes.
Os dados demográficos e laborais evidenciaram predominância de profissionais do sexo feminino o que reforça o perfil da enfermagem nacional e internacional.(12) Pesquisa brasileira apontou que aproximadamente 86% dos enfermeiros são do sexo feminino e 52% na faixa etária de até 35 anos, evidenciando uma profissão feminina, de adultos jovens.(13)
Predominaram também o trabalho em jornadas de 36-40h/semana, turno único de trabalho e menos de cinco anos de atividade profissional. Esses dados são corroborados pelo perfil da enfermagem no Brasil, pois 41,5% têm carga horária de trabalho semanal de 31 a 40 horas, 71% trabalham no período diurno e 36,5% têm menos de cinco anos de trabalho na área.(13)
Trabalhadores que se dedicam de forma exclusiva ao seu trabalho têm menor exposição aos agentes infecciosos e apresentam menor risco de adoecimento. Além disso, conseguem conviver com a família tendo a possibilidade de construir vínculos afetivos e sociais que interferem positivamente na promoção da saúde e prevenção de doenças.(1)
O trabalho em unidades onde os pacientes permanecem internados acima de cinco dias, caracterizando-se como tempo de convivência do enfermeiro com o paciente e sua família, possibilita vínculo favorecendo o cuidado, mas também o envolvimento emocional. A literatura afirma que a equipe de enfermagem no ambiente hospitalar é a de maior dedicação no que se refere ao tempo, atenção e cuidados às necessidades fisiológicas e emocionais dos pacientes e suas famílias, com exposição a dor e ao sofrimento destes, o que pode refletir em sua vida.(1)
Os resultados afirmaram que, predominantemente, os enfermeiros têm curso de especialização. Esses dados estão de acordo com o perfil dos enfermeiros do Estado de São Paulo, pois 73,2% realizaram pós graduação lato sensu.(14) Estudo realizado nessa mesma instituição hospitalar evidenciou perfil semelhante aos encontrados nessa pesquisa.(15) Infere-se assim, que os enfermeiros têm buscado seu aprimoramento profissional por meio de cursos formais.
Constatou-se que a avaliação de desempenho profissional foi positiva, no entanto, não houve promoção nos últimos 12 meses e foi evidenciada insatisfação com o salário. Outro estudo corrobora esses achados, pois destacou que os fatores no ambiente hospitalar que influenciam na QV dos profissionais de enfermagem são: exposição aos danos físicos e emocionais, estrutura ambiental deficitária, falta de recursos materiais, insatisfação com a remuneração salarial, bem como, sobrecarga de trabalho, dimensionamento inadequado, processo de trabalho desgastante, acidentes de trabalho e falta de valorização e reconhecimento profissional.(16)
Pesquisa realizada com enfermeiros na Grécia verificou que enfermeiros satisfeitos com seu trabalho avaliam positivamente sua QV, especialmente por compararem sua saúde com a saúde dos pacientes a quem prestam assistência, e por receberem apoio organizacional. No entanto, referem insatisfação com a carga horária, o salário, perspectivas profissionais e educação permanente.(6)
O AT mensurado pela escala B-NWI-R demonstrou ambiente favorável, tanto nos itens gerais do instrumento quanto das subescalas: autonomia, controle sobre o ambiente, relação médico-enfermeiro e suporte organizacional. Estudo realizado em dois hospitais públicos, um acreditado e outro não, revelou que os enfermeiros de ambos hospitais têm autonomia, controle sobre o ambiente, respeito entre médicos e enfermeiros e suporte organizacional favoráveis, independentemente do local em que trabalhavam.(15) Outro estudo que adaptou e validou a escala B-NWI-R apresentou resultados semelhantes com a média das subescalas abaixo de 2,5.(17)
Similarmente, estudo realizado em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais públicos e privados no Brasil também não apresentou diferenças na aplicação da escala e ambiente favorável.(14) Ambientes com características favoráveis ao trabalho do enfermeiro estão diretamente relacionados à qualidade assistencial, satisfação e bem estar profissional.(11,18,19)
A QV percebida pelos enfermeiros e mensurada pelo WHOQOL-Bref, evidenciou que, tanto no geral quanto nos domínios físico, psicológico, social e meio ambiente, está com escore próximo do 20 o que denota satisfação. Esse estudo é corroborado por outro estudo que analisou a QV de enfermeiros e destacou a predominância de satisfação dos profissionais de enfermagem no exercício laboral.(20)
A percepção positiva da QV denota capacidade para o trabalho e evidencia que o trabalho tem importância no processo de autorrealização pessoal e profissional.(1)
Embora no geral a QV e AT sejam considerados favoráveis, o domínio físico do WHOQOL-Bref para os que trabalham em UE e UF apresentou menor escore do que em outros ambientes e fatores. Caracterizado, entre outros aspectos, pela presença de desconforto e fadiga este resultado corrobora outro estudo que buscou analisar as características do AT do enfermeiro em serviço hospitalar de emergência e verificou que as limitações de recursos e condições de trabalho inadequadas para o atendimento podem gerar desmotivação, sobrecarga física e psíquica aos trabalhadores, podendo interferir diretamente na qualidade da prestação do serviço.(21)
A relação do domínio psicológico que compreende o aprender, a memória e concentração e sentimentos, entre outros, também evidenciou menor escore entre os que trabalham em UE e UF. Estudo que avaliou as características do ambiente da prática profissional dos enfermeiros e sua relação com o burnout em 17 UTI brasileiras, mostrou influência do ambiente na satisfação no trabalho, percepção da qualidade do cuidado e na intenção de deixar o emprego, quando mediadas pelo sentimento de exaustão emocional.(19) As UE apresentam dificuldades no AT, pois estão relacionadas à superlotação, falta de recursos e de profissionais dificultando a realização das atividades de cuidado.(21)
Neste mesmo sentido, observou-se que enfermeiros que receberam promoção nos últimos 12 meses tiveram o domínio psicológico da QV prejudicado. Destaca-se que promoção pode relacionarse à mudança de horário e dias de trabalho desejados pelo enfermeiro e não, necessariamente, melhor rendimento salarial. Porém, simultaneamente, a área de atuação e suas relações e diferentes competências, como as exigidas pela gerência, podem apresentar-se como desafios incorrendo em sentimentos negativos como ansiedade e sofrimento.
Por outro lado, enfermeiros satisfeitos com o salário apresentaram escore maior no domínio psicológico. Em sentido oposto, porém corroborando este resultado, profissionais brasileiros e portugueses insatisfeitos com o salário relataram desvalorização profissional, instabilidade profissional na carreira e mal-estar oriundo da má remuneração.(22)
Quando analisado o domínio social (relações e suporte social) destaca-se escore maior para enfermeiros com controle sobre o ambiente, conforme mensurado na subescala do B-NWI-R, mostrando que um AT favorável à prática diária do enfermeiro pode oportunizar relacionamentos saudáveis nos ambientes pessoal e profissional. Depreende-se destes achados que determinadas competências como autonomia, comunicação, relacionamento interpessoal, liderança, controle de risco, equilíbrio emocional, entre outras, pretendidas durante o desenvolvimento da formação e atuação deste profissional, possam refletir positivamente em suas relações sociais.(23,24)
Contrastaram nesta pesquisa os dados que apresentaram menor escore no domínio social da QV do enfermeiro, embora o AT tenha proporcionado suporte organizacional. Em oposição, estudos indicaram que o suporte organizacional é resultante de um modelo de gestão que possibilita ao enfermeiro exercer seu processo de trabalho e administrar com critérios bem definidos, assim como ressaltaram a importância do apoio e da comunicação com a chefia da enfermagem no AT.(14,21)
Ainda no domínio social, o escore foi menor entre os enfermeiros que obtiveram avaliação positiva a respeito de seu desempenho profissional. Tal resultado diverge da perspectiva de que o profissional que atende as expectativas institucionais teria relações e suporte social satisfatórios.
Nesse sentido, estudo que consistiu em analisar o processo de avaliação de desempenho de enfermeiros em organizações de saúde ressaltou a complexidade desse processo e que o desenvolvimento de um sistema de avaliação considerando a percepção de justiça dos enfermeiros avaliados poderá aumentar a satisfação e motivação no trabalho, o nível de desempenho, os comportamentos de cidadania e o comprometimento organizacional inerente ao ato de avaliar.(25)
Os achados referentes ao domínio ambiental que envolvem aspectos como segurança física, oportunidade de recreação/lazer e transporte evidenciaram escore maior para enfermeiros que trabalham a mais de seis anos e satisfeitos com o salário. Estes resultados apresentaram relação com estudo que verificou maiores níveis de satisfação no trabalho entre profissionais de saúde de maior idade em aspectos como: possibilidades de promoção, horário, variedade de tarefas, estabilidade no emprego, relacionamento entre a diretoria e os trabalhadores e oportunidades de formação e satisfação global.(26)
Em contrapartida, escore menor no domínio ambiental foi evidenciado entre os enfermeiros que trabalham período de 36-40 horas semanais. Tais dados remeteram a estudo de reflexão sobre as condições de trabalho e o adoecimento dos trabalhadores de enfermagem, determinados por jornadas superiores a 30 horas, onde verificou-se fatores intimamente relacionados aos aspectos da QV do profissional neste domínio, como: diminuição da capacidade para o trabalho e absenteísmo provocados pela doença, elevação de custos dos afastamentos, impacto sobre o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores, além das implicações sobre a qualidade da assistência.(27)
Predominaram enfermeiros do sexo feminino, etnia branca, especialistas, sem companheiros, trabalhando de 36-40 horas semanais, em unidades com pacientes internados acima de cinco dias, no período diurno ou noturno, sem outro emprego formal e insatisfeitos com o salário. As respostas dos enfermeiros aos instrumentos específicos indicaram boa QV e AT favorável. As associações mostraram importância estatística negativa nos dados: trabalho em unidades especiais e fechadas nos domínios físico e psicológico; receberam promoção nos últimos 12 meses no domínio psicológico; avaliados positivamente e suporte organizacional no domínio social; e trabalham de 3640 horas no domínio ambiental. Foram observadas associações com importância estatística positiva em: estão satisfeitos com o salário nos domínios psicológico e ambiental; controle sobre o ambiente no domínio social e tempo de trabalho de seis a 15 e maior que 20 anos no domínio ambiental.