versão impressa ISSN 0021-7557
J. Pediatr. (Rio J.) vol.90 no.1 Porto Alegre jan./ev. 2014
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2013.05.006
A influência social é um dos fatores associados à prática de atividade física em adolescentes,1 e se caracteriza pela influência exercida pelos pais, amigos, professores, parentes, dentre outros grupos, sobre a atividade física, podendo ocorrer de forma direta - por meio modelação do comportamento,2 , 3 e indireta, por meio do fornecimento de apoio social.
A prática de atividade física e o apoio social dos pais e dos amigos representam as formas de influência social mais frequentemente estudadas em adolescentes.4 , 5 A modelação do comportamento humano é um dos construtos da Teoria da Aprendizagem Social, o qual pressupõe que o comportamento humano é adquirido e modificado a partir da observação do comportamento e de experiências de aprendizagem com pessoas socialmente importantes.5 , 6 Nesse sentido, entende-se que a atividade física dos pais e dos amigos atuaria como um modelo para a prática dos adolescentes - influência indireta.7 , 8 Desse modo, adolescentes - influência indireta. com pais e/ou amigos fisicamente ativos seriam mais prováveis de serem mais ativos, mas os resultados dos estudos ainda são inconclusivos a esse respeito.4 , 5
A atividade física desses dois grupos também pode exercer uma influência direta sobre a atividade física dos adolescentes, por meio do apoio social. Há evidências de que pais e amigos fisicamente mais ativos oferecem mais apoio social,4 e de que esse apoio está positivamente associado à prática de atividade física em adolescentes.6 Pais e amigos podem influenciar na participação dos adolescentes em atividade física mediante o fornecimento de diferentes tipos de apoios, como incentivar, estimular, praticar junto, oferecer ou transportar os adolescentes até os locais de prática.9 O apoio social também pode exercer uma influência indireta sobre a atividade física, aumentando a percepção de autoeficácia.4 , 5 Maiores níveis de autoeficácia têm sido observados entre adolescentes que recebem mais apoio social dos pais e dos amigos.10 , 11 Esse construto tem-se associado, consistentemente, a maiores níveis de atividade física em adolescentes.12 Entretanto, poucos estudos analisaram simultaneamente essas associações.5 , 11
Dessa forma, identificar os mecanismos pelos quais os pais e os amigos podem influenciar as atividades físicas dos adolescentes é importante para a construção de intervenções mais efetivas e para aumentar os níveis de atividade física desse grupo.4 , 5 O presente estudo analisou associações diretas e indiretas da prática de atividade física e do apoio social dos pais e dos amigos com o nível de atividade física de adolescentes.
Trata-se de estudo epidemiológico transversal que envolveu adolescentes de 14 a 19 anos de idade, de ambos os sexos, que estudavam em escolas do ensino médio das redes pública e privada do município de João Pessoa, PB. Para determinar o tamanho da amostra foi considerada uma prevalência de 50% (<300 minutos por semana de prática de atividade física); intervalo de confiança de 95%; erro máximo tolerável de três pontos percentuais; efeito de desenho (deff) igual a 2; e um acréscimo de 30% no tamanho da amostra para compensar possíveis perdas e recusas.
A amostra foi selecionada por conglomerados em dois estágios. No primeiro, foram selecionadas, sistematicamente, 30 escolas de ensino médio, distribuídas proporcionalmente por tipo (públicas e privadas) e região geográfica do município (norte, sul, leste, oeste). No segundo estágio, foram selecionadas 135 turmas, distribuídas proporcionalmente por turno (diurno e noturno) e série de ensino (1ª, 2ª e 3ª séries).
Todas as informações foram coletadas por meio de questionário preenchido pelos próprios escolares em sala de aula no horário regula. A coleta de dados foi realizada entre maio e setembro de 2009, por equipe previamente treinada, composta por seis alunos do curso de graduação em Educação Física.
Foram excluídos os adolescentes que estavam fora da faixa etária em estudo (< 14 ou > 19 anos de idade), os que deixaram várias questões sem respostas e aqueles que tinham alguma limitação física ou mental.
As variáveis sociodemográficas foram: sexo, idade e classe econômica. A metodologia da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP13 foi utilizada para determinar a classe econômica dos adolescentes. Essa proposta agrupa as famílias nas seguintes classes: A (maior nível), B, C, D e E (menor nível).
O estado nutricional foi verificado pelo índice de massa corporal (IMC = massa corporal [kg] / estatura [m]²), utilizando-se medidas autorreferidas de massa corporal (kg) e estatura (m). Os adolescentes foram classificados como "sem excesso de peso" (baixo peso + peso normal) e "com excesso de peso" (sobrepeso + obesidade).14
A medida de atividade física foi efetuada por questionário previamente testado (reprodutibilidade - CCI = 0,88; IC 95%: 0,84-0,91; validade: comparou-se a medida do questionário atual com a de quatro recordatórios de 24 horas de atividades físicas - Spearman´s rho = 0,62; p < 0,001; κ = 0,59).15 Os adolescentes referiram a frequência (dias/semana) e a duração (minutos/dia) das atividades físicas moderadas e vigorosas praticadas por 10 minutos ou mais por dia na semana que precedeu a coleta de dados, a partir de uma lista contendo 24 atividades, com possibilidade de o adolescente acrescentar até duas atividades. Determinou-se o nível de atividade física através da soma dos produtos dos tempos pelas frequências de prática, resultando num escore em minutos por semana. Os adolescentes foram classificados de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (fisicamente ativos: aqueles que relataram prática de atividade física igual ou superior a 300 minutos por semana).16
A influência social foi operacionalizada por duas medidas: prática de atividade física e apoio social dos pais e dos amigos. A prática de atividade física do pai, da mãe e dos amigos foi mensurada pela questão "Durante uma semana típica ou normal, em quantos dias (sua mãe/seu pai/seus amigos), pratica (m) atividades físicas como, por exemplo, caminhar, correr, ir à academia de ginástica, musculação, andar de bicicleta, esportes?", com as categorias de respostas variando de nenhum a cinco ou mais dias por semana. Os seguintes níveis de reprodutibilidade foram identificados para essas questões: pai - CCI = 0,92 (IC 95%: 0,90-0,94); mãe - CCI = 0,90 (IC 95%: 0,87-0,92); amigos - CCI = 0,82 (IC 95%: 0,76-0,86).
O apoio social dos pais e dos amigos foi mensurado por uma escala com 10 itens, cinco para cada. Os adolescentes informaram a frequência (nunca, raramente, frequentemente, sempre) com que os seus pais e amigos forneciam algum tipo de apoio social (estimular, praticar junto, assistir, convidar, comentar sobre a prática, transportar ou fornecer transporte) durante uma semana típica (consistência interna: α = 0,81-0,90 e reprodutibilidade: CCI = 0,89-0,91).17
A percepção de autoeficácia foi mensurada por uma escala com 10 itens, que consideraram o quanto os adolescentes se percebiam capazes de praticar atividade física, mesmo com a presença de barreiras. Um exemplo de questão adotada foi: "Eu posso praticar atividade física na maioria dos dias da semana, mesmo que meus amigos me chamem para fazer outras coisas" Todos os itens foram ancorados por escala Likert de quatro pontos, variando de "discordo muito" a "concordo muito" (consistência interna: α = 0,76 e reprodutibilidade: CCI = 0,75).17
O teste do Qui-quadrado foi utilizado para comparar os resultados das variáveis sociodemográficas e da prática de atividade física, e o teste t independente foi utilizado para comparar valores médios de apoio social e de autoeficácia entre os adolescentes dos sexos masculino e feminino. Essas análises foram realizadas no programa STATA 12.0.
A modelagem por equações estruturais foi utilizada para avaliar as associações diretas e indiretas da atividade física e do apoio social de pais e amigos com o nível de atividade física dos adolescentes.18 Os parâmetros foram estimados pelo método de máxima verossimilhança, a partir do programa AMOS 20.0. Os resultados são apresentados por meio de coeficientes de regressão padronizados (β), e os resultados das associações mediadas foram estabelecidos pela multiplicação dos coeficientes beta da associação direta entre cada variável com o nível de atividade física dos adolescentes.
A avaliação de ajuste do modelo foi efetuada por meio dos seguintes parâmetros: teste do Qui-quadrado (χ2); Root Mean Square Error of Aproximation (RMSEA) - valores abaixo de 0,05 indicam ajuste adequado, considerando o intervalo de confiança de 90%; Root Mean Square Residual (RMR) - valores abaixo de 0,05 indicam ajuste adequado e; Goodness of Fit Index (GFI), Adjusted Goodness of Fit Index (AGFI) e Comparative Fit Index (CFI), cujos valores para os últimos três indicadores devem ser iguais ou superiores a 0,90 para indicar ajuste adequado do modelo. A avaliação das mudanças no ajuste do modelo foi efetuada pelo Aike Information Criterio (AIC) e Expected Cross-Validation Index (ECVI).18
O modelo inicial que serviu de base para comparação de mensuração incluiu três construtos (apoio social dos pais, dos amigos e percepção de autoeficácia), e quatro variáveis mensuradas diretamente não foram tratadas como construtos (atividade física do pai, da mãe, dos amigos e dos adolescentes).
As covariáveis idade, classe econômica e o estado nutricional foram incluídas nos modelos para avaliar suas associações com a atividade física dos adolescentes. Também foi considerada a associação da classe econômica com o apoio social e a prática de atividade física dos pais. Foram mantidas, no modelo final, as covariáveis que apresentaram valor p < 0,05, ou que promoviam melhoria na sua qualidade de ajuste.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (0062/2009). Os adolescentes < 18 anos de idade que participaram do estudo foram autorizados pelos pais ou responsável, e os com idade > 18 anos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Dos 2.859 adolescentes que fizeram parte da amostra final (perdas e recusas totalizaram 17,8%), 498 foram excluídos por não terem informações completas para as variáveis analisadas no presente estudo. Não foram identificadas diferenças significativas nas características sociodemográficas, nível de atividade física, apoio social, autoeficácia e atividade física dos pais e dos amigos entre os que foram incluídos e aqueles excluídos das análises. Analisaram-se dados de 2.361 adolescentes, com média de idade igual a 16,4 anos (DP = 1,2), 56,6% do sexo feminino e 53,2% pertenciam às classes econômicas de nível baixo a médio.
Aproximadamente cinco em cada dez adolescentes praticavam 300 minutos ou mais por semana de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa (51,1%), sendo o sexo masculino mais ativo (53% vs. 47%; p < 0,01), e com escores de apoio social dos pais e dos amigos mais elevados do que o feminino (p < 0,05) - tabela 1.
Tabela 1 Informações sociodemográficas, prática de atividade física dos pais e dos amigos, nível de atividade dos adolescentes e fatores psicossociais, João Pessoa, PB, 2009
Variáveis | Masculino | Feminino | p | ||
---|---|---|---|---|---|
% (n) | % (n) | ||||
Faixa etária | 0,025a | ||||
14-16 anos | 66,3 | (680) | 70,7 | (944) | |
17-19 anos | 33,7 | (345) | 29,3 | (392) | |
Classe econômica | 0,020a | ||||
A | 11,3 | (104) | 9,2 (111) | ||
B | 40,1 | (368) | 35,6 | (431) | |
C | 41,6 | (382) | 47,8 | (579) | |
D, E | 7,0 (64) | 7,4 (90) | |||
Nível de atividade física do adolescente | < 0,001a | ||||
0 min/sem | 9,8 (101) | 21,1 | (282) | ||
10-149 min/sem | 9,8 (100) | 21,1 | (282) | ||
150-299 min/sem | 13,3 | (136) | 18,9 | (253) | |
= 300 min/sem | 67,1 | (688) | 38,9 | (519) | |
Prática de atividade física do pai | 0,047a | ||||
0 dia/sem | 49,1 | (491) | 50,4 | (653) | |
1-2 dias/sem | 25,9 | (259) | 21,9 | (284) | |
3-4 dias/sem | 11,9 | (119) | 11,5 | (147) | |
= 5 dias/sem | 13,1 | (131) | 16,2 | (211) | |
Prática de atividade física da mãe | < 0,007a | ||||
0 dia/sem | 50,9 | (518) | 50,5 | (668) | |
1-2 dias/sem | 24,5 | (250) | 19,9 | (264) | |
3-4 dias/sem | 12,6 | (127) | 13,9 | (184) | |
= 5 dias/sem | 12,0 | (122) | 15,7 | (208) | |
Prática de atividade física dos amigos | < 0,001a | ||||
0 dia/sem | 5,9 (60) | 15,5 | (204) | ||
1-2 dias/sem | 28,5 | (289) | 37,7 | (497) | |
3-4 dias/sem | 36,8 | (374) | 29,6 | (390) | |
= 5 dias/sem | 28,8 | (293) | 17,2 | (224) | |
M (DP) | M (DP) | ||||
Autoeficácia | 27,7 | (6,6) | 27,4 | (6,7) | 0,194b |
Apoio social dos amigos | 16,8 | (5,0) | 13,4 | (4,8) | 0,001b |
Apoio social dos pais | 12,7 (4,2) | 11,8 (4,2) | 0,001b |
DP, desvio-padrão
M, média.
a Teste do qui-quadrado para heterogeneidade.
b Teste t independente.
Os resultados da análise de modelagem por equações estruturais alcançaram valores aceitáveis para os índices de ajuste, mesmo após a realização de ajustes no modelo inicial, como exclusão das covariâncias entre a atividade física dos pais e dos amigos e das associações com o valor p > 0,05 (figs. 1 e 2).
Figura 1 Modelo final para análise da associação entre prática de atividade física (AF), apoio social dos pais (ASA) e dos amigos (ASA), percepção de autoeficácia (AE) e nível de atividade física moderada a vigorosa (AFMV) em adolescentes no Nordeste do Brasil, para o sexo masculino (X2 = 1539,571; p < 0,001; RMR = 0,045, GFI = 0,912, AGFI = 0,891, CFI = 0,859, RMSEA = 0,063; IC 90%: 0,060-0,066). a p < 0,05; b p < 0,01. →, associação não significativa (p > 0,05).
Figura 2 Modelo final para análise da associação entre prática de atividade física (AF), apoio social dos pais (ASP) e dos amigos (ASA), percepção de autoeficácia (AE) e nível de atividade física moderada a vigorosa (AFMV) em adolescentes no Nordeste do Brasil, para o sexo feminino (X2 = 1539,571; p < 0,001; RMR = 0,045, GFI = 0,912, AGFI = 0,891, CFI = 0,859, RMSEA = 0,063; IC 90%: 0,060-0,066), AIC = 1655,571, ECVI = 1,216; IC 90%: 1,217-1,309). a p < 0,05; b p < 0,01. →, associação não significativa (p > 0,05).
A prática de atividade física dos amigos se associou de forma direta e significativa com o nível de atividade física dos adolescentes de ambos os sexos (masculino β = 0,11; p < 0,001, e feminino β = 0,07; p < 0,05). A prática de atividade física do pai se associou com a do filho (β = 0,10, p < 0,001), e da mãe com a da filha (β = 0,08; p < 0,05).
Foi identificada uma relação indireta entre a prática de atividade física do pai (masculino β = 0,03; p < 0,05, e feminino β = 0,04; p < 0,01), da mãe (masculino β = 0,02; p < 0,05, e feminino β = 0,03; p < 0,01) e dos amigos (masculino β = 0,11; p < 0,01, e feminino β = 0,07; p < 0,01) e o nível de atividade física dos adolescentes, sendo parte das associações mediada pelo apoio social.
O fornecimento de apoio social por parte dos pais e dos amigos se associou tanto de forma direta (pais: masculino β = 0,14; p < 0,01, e feminino β = 0,17; p < 0,01; amigos: masculino β = 0,22; p < 0,01, e feminino β = 0,20; p < 0,01) quanto indireta, mediada pela percepção de autoeficácia (pais masculino β = 0,002; p < 0,05, e feminino β = 0,01; p < 0,05; amigos: masculino β = 0,011; p < 0,05, e feminino β = 0,01; p < 0,05), com o nível de atividade física dos adolescentes.
Os resultados deste estudo demonstraram que os pais e os amigos têm influência social sobre a prática de atividade física dos adolescentes, tanto por meio de modelação do comportamento, quanto por meio do fornecimento de apoio social. A atividade física dos pais e dos amigos se mostrou diretamente associada ao nível de atividade física dos adolescentes e, de forma indireta, sendo parcialmente mediada pelo apoio social desses grupos. O apoio social dos pais e dos amigos se associou diretamente ao nível de atividade física dos adolescentes, e parte das associações foi mediada pela percepção de autoeficácia.
Neste estudo, verificou-se que os adolescentes que perceberam que os seus pais e amigos praticavam atividades físicas com maior frequência tinham maiores níveis de prática das mesmas. Revisões realizadas por Seabra et al.19 e Edwardson et al.4 observaram que, em geral, pais e mães fisicamente ativos eram mais prováveis de ter filhos igualmente ativos.19 Entretanto, Trost e Loprinzi5 não identificaram evidências de associações entre a atividade física dos pais e de seus filhos (adolescentes de 13-18 anos de idade). Essas divergências podem ser atribuídas às medidas de atividade física, às análises estatísticas e às diferenças de idade dos participantes.4 , 19
Uma particularidade encontrada neste estudo foi que a atividade física do pai se associou positivamente com a do filho, e a da mãe com a da filha. Uma das explicações para esse achado é que adolescentes do sexo masculino normalmente identificam-se mais com os pais e as suas práticas, enquanto que os do sexo feminino com as das mães. Entretanto, os resultados dos estudos ainda são conflitantes sobre o alinhamento entre o sexo dos pais e o dos filhos para a associação da prática de atividade física desses grupos.19
Os adolescentes que tinham amigos que praticavam atividade física com maior frequência apresentaram maiores níveis de atividade física, corroborando com os achados de outros estudos.3 , 20 Entre os adolescentes mais velhos, é esperado que a atividade física dos pais tenha menor influência direta na atividade física dos filhos, pois, geralmente, as atividades destes são realizadas na ausência dos adolescentes, reduzindo as oportunidades de aprendizagem por observação.20 Em contrapartida, com o passar dos anos, os adolescentes tendem a se espelhar mais em seus amigos, pois, na adolescência, estes se tornam naturalmente as pessoas mais próximas, com as quais eles compartilham atitudes, normas, valores e preferências, o que acaba influenciando na adoção de vários comportamentos, incluindo a atividade física.3 , 8 Essa relação também pode estar associada à necessidade de pertencerem aos grupos de convívio social dos seus amigos. Sendo assim, adotar comportamentos semelhantes seria uma das formas de ser aceito no grupo.3 , 21
A atividade física dos pais e dos amigos também se associou de forma indireta com nível de atividade física dos adolescentes, sendo parte das associações mediadas pelo apoio social. Esses resultados indicam que pais e amigos com maior prática de atividade física eram mais prováveis de oferecer apoio social, reforçando resultados de estudos prévios.3 , 11 É possível que pais e amigos ativos atribuam maior importância à prática de atividade física e ao fornecimento de apoio social.7 , 22
Semelhante aos resultados de outros estudos,2 , 21 o fornecimento de apoio social por parte dos pais e dos amigos se associou de forma direta, positiva e significativa com o nível de atividade física dos adolescentes. Revisões sistemáticas identificaram uma relação positiva e consistente entre o apoio social e o nível de prática de atividade física em adolescentes.6 , 9 Pais e amigos podem favorecer a participação dos adolescentes em atividades físicas com a oferta de vários tipos de apoio social.1 , 2
Este estudo demonstrou que parte das associações do apoio social dos pais e dos amigos com o nível de atividade física dos adolescentes foi mediada pela autoeficácia. Resultados semelhantes foram descritos em outros estudos com adolescentes.23 , 24 Tem-se observado que adolescentes que percebem um maior apoio social dos pais e dos amigos se sentem mais capazes de superar barreiras para a prática de atividades físicas.12 , 23 Além de influenciar diretamente na participação em atividades físicas, dar apoio social ajuda os adolescentes a se sentirem mais capazes de realizar atividades, mesmo na presença de barreiras. Segundo Bandura,25 receber assistência dos pais e dos amigos pode reduzir a percepção dessas barreiras, aumentando as chances de prática de atividade física.
Este estudo apresenta algumas limitações, como: impossibilidade de estabelecer relação causal entre a atividade física e o apoio social dos pais e dos amigos com nível de atividade física dos adolescentes, por se tratar de um estudo transversal; a medida de atividade física dos pais e amigos foi baseada no relato dos próprios adolescentes, e não considerou o tempo de prática. No entanto, as questões utilizadas alcançaram níveis satisfatórios de reprodutibilidade e têm sido utilizadas em outros estudos.11 , 22 Este estudo também apresenta pontos fortes, como: recorreu a uma amostra representativa de escolares do ensino médio e com poder estatístico adequado; utilizou análise de modelagem por equações estruturais, permitindo avaliar associações diretas e indiretas das variáveis independentes; utilizou instrumentos validados e aplicados por pessoas previamente treinadas.
Conclui-se que os pais e os amigos exercem influência social sobre a prática de atividade física dos adolescentes. Pais e amigos fisicamente ativos, além de servirem como um modelo para a atividade física dos adolescentes, tendem a fornecer mais apoio social. Por sua vez, quando pais e amigos forneciam mais apoio social, os adolescentes passavam a referir maiores níveis de atividade física. Por fim, maior apoio social por parte dos pais e dos amigos se associou a maiores níveis de autoeficácia, e esta a maiores níveis de atividade física.
Intervenções para aumentar a atividade física dos adolescentes devem incluir ações no sentido de estimular a participação dos pais e dos amigos nas mesmas, facilitar e criar oportunidades de práticas conjuntas desses grupos com os adolescentes, esclarecer sobre a importância do apoio social deles, e orientá-los sobre como oferecer diferentes formas de apoio social para a prática de atividade física.