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Atuação dos enfermeiros da estratégia saúde da família na atenção oncológica

Atuação dos enfermeiros da estratégia saúde da família na atenção oncológica

Autores:

Geize Rocha Macedo de Souza,
Luiza Helena de Oliveira Cazola,
Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira

ARTIGO ORIGINAL

Escola Anna Nery

versão impressa ISSN 1414-8145versão On-line ISSN 2177-9465

Esc. Anna Nery vol.21 no.4 Rio de Janeiro 2017 Epub 07-Ago-2017

http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2016-0380

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, no ano de 2030, serão 27 milhões de casos incidentes de câncer, com 17 milhões de mortes e 75 milhões de pessoas vivas anualmente com câncer.1 Para o Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima, para o biênio 2016 - 2017, aproximadamente 600 mil casos novos de câncer.2

Mediante o cenário oncológico, já em 2005, o Ministério da Saúde (MS) instituiu a Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO), determinando que o usuário portador de câncer deva receber cuidados que contemplem os diversos níveis de atenção, ou seja, a atenção primária e a especializada, de média e alta complexidade, com ações voltadas para o indivíduo e o coletivo, com foco na promoção da saúde e prevenção do câncer, bem como o diagnóstico oportuno e o apoio à terapêutica de tumores e cuidados paliativos.3

A Atenção Básica (AB), cenário estruturante para o desenvolvimento de várias ações no controle da neoplasia, constitui-se na porta de entrada do usuário nos serviços de saúde, caracterizando-se como um local privilegiado para a realização de ações de promoção e prevenção.4 A Estratégia Saúde da Família (ESF) deverá atuar, com ênfase, no cuidado à família, no desenvolvimento do vínculo, na longitudinalidade, na integralidade da atenção e na ação sobre os determinantes de saúde de uma população.5

O trabalho realizado pelo enfermeiro que atua na ESF envolve monitoramento das condições de saúde da população, como essência da atenção de enfermagem, seja individual ou no coletivo, no monitoramento de problemas de saúde e intervindo nos agravos de ordem patológica.6

O enfermeiro integrante da equipe das unidades de ESF tem posição de relevância, por exercer um papel proativo em suas atividades e destacar-se como o profissional mais preparado e disponível para apoiar e orientar o paciente e a família na vivência do processo de doença, tratamento e reabilitação.7

Os profissionais de saúde, especialmente os da enfermagem, devem incluir, em suas atividades diárias, a atenção domiciliar aos pacientes com câncer e seus familiares, atuando no sentido de apoiar a família, estabelecer vínculo, identificar os pensamentos angustiantes do doente de ter suas vontades atendidas, reconciliar-se consigo e com os outros, bem como apoiar a família no processo de morte, de forma solícita e humana.8

Vale destacar que a atuação do enfermeiro na atenção hospitalar em oncologia é amplamente discutida, porém a literatura pouco tem destacado ações de promoção e prevenção, cuidados continuados extra-hospitalares e/ou paliativos presentes na atenção básica.

Diante do problema, o presente estudo objetivou conhecer a atuação dos enfermeiros da ESF na atenção oncológica, visto que a assistência prestada a esse paciente e seus familiares é desafiante, devido às suas peculiaridades de adoecimento e dos diversos tipos de câncer que o profissional identifica em seu local de trabalho.

MÉTODOS

Estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, desenvolvido nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) do município de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul (MS).

A população foi composta por 99 enfermeiros que atuavam nas 39 UBSF, sendo três delas unidades rurais. Foram excluídas aquelas equipes que não contavam com enfermeiros.

Dessa forma, foram excluídas nove equipes que, no momento da coleta de dados, estavam sem os profissionais, nove enfermeiros que se encontravam de férias ou de licença médica e quatro que não aceitaram participar. Ao final, compuseram a amostra 77 enfermeiros de 37 unidades, que foram convidados a participar da pesquisa e que, após o aceite, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A coleta de dados primários ocorreu no período de outubro a dezembro de 2015, nas próprias unidades de saúde e de acordo com a disponibilidade dos enfermeiros.

Para a coleta de dados, foi utilizado um formulário constituído de 25 questões fechadas, que abordaram as seguintes variáveis: quanto à caracterização sociodemográfica e profissional do enfermeiro: sexo, faixa etária, vínculo empregatício, tempo de serviço na ESF e na área adscrita, tipo de vínculo empregatício, especializações e capacitações realizadas referentes à atenção oncológica; quanto à atuação na atenção dessa área: pacientes com câncer em sua área e atividades com os pacientes e seus familiares, entendimento sobre a PNAO, facilidades e dificuldades em assistir pacientes e capacitações mencionadas como necessárias pelos profissionais. O formulário foi validado após um pré-teste aplicado a 10 profissionais de saúde, sendo uma enfermeira com especialização em oncologia, uma com experiência em atendimento ao paciente oncológico e oito que já atuaram na Estratégia Saúde da Família.

As entrevistas ocorreram em horário previamente agendado pelos enfermeiros, individualmente, realizadas pelas próprias pesquisadoras e com duração média de 45 minutos.

Foi realizada análise descritiva dos dados que foram organizados em planilha eletrônica Microsoft Office Excel®, sendo as questões agrupadas conforme respostas afins e apresentados em formato de tabelas.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa vinculado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob o Parecer n. 1.249.953.

RESULTADOS

O estudo encontrou, na análise das características sociodemográficas e profissionais dos enfermeiros da ESF, uma predominância do sexo feminino (91%), na faixa etária de 31 a 40 anos (54%), com vínculo empregatício estatutário (77%), tempo de atuação na ESF e na área adscrita de 24 a 72 meses, correspondendo a 40% e 46% respectivamente.

Para o quesito especialização, 77% afirmaram possuir e, dentre estes, 58% com especializações relacionadas à área de saúde pública ou saúde da família. Em relação à capacitação em saúde oncológica, mais da metade afirmou não ter realizado, 65%.

Como pode ser identificada na tabela 1, a maioria dos enfermeiros possuía pacientes oncológicos na sua área adscrita e realizava acompanhamento destes, predominantemente, por meio da visita domiciliar, seguido da realização da consulta de enfermagem.

Tabela 1 Perfil do atendimento e atividades desenvolvidas pelos enfermeiros da atenção primária à saúde na atenção oncológica, no município de Campo Grande (MS). 

Variáveis n N %
Pacientes com câncer na área adscrita 77
Sim 60 78
Não 17 22
Atendimento/acompanhamento dos pacientes com câncer 60
Sim 57 95
Não 3 5
Atividades realizadas com pacientes com câncer(1) 57
Visita domiciliar 52 91
Consulta de enfermagem 31 54
Procedimentos técnicos 29 51
Discussão na reunião de equipe 24 42
Atendimento aos familiares dos pacientes com câncer 60
Sim 32 53
Não 28 47
Atividades realizadas com os familiares dos pacientes com câncer(1) 32
Orientações sobre os cuidados com o paciente com câncer 19 59
Orientações sobre a saúde do próprio cuidador 18 56
Apoio psicológico 11 34
Direitos do paciente com câncer 1 3
Outros 3 9
Possui conhecimento sobre cuidados paliativos 77
Sim 66 86
Não 11 14
Realiza cuidados paliativos 66
Sim 31 47
Não 35 53
Cuidados paliativos realizados(1) 31
Orientações gerais sobre os cuidados com alimentação, higiene e conforto, prevenção de úlceras e evitar álcool e fumo 28 90
Diminuição da dor 12 39
Atendimento médico e controle de exames 2 6
Não realiza cuidados paliativos(1) 35
Não há necessidade 20 57
Não possui pacientes com câncer 10 29
Despreparo para atender este usuário 5 14
Não há procura pelo usuário 3 9
Não há procura pela equipe 2 6
Sobrecarga de trabalho 1 3
Realiza orientações sobre quimioterapia e radioterapia 77
Sim 30 39
Não 47 61
Orientações realizadas sobre quimioterapia e radioterapia(1) 30
Cuidados com a alimentação 26 87
Efeitos colaterais 16 53
Cuidados com a pele 13 43
Regularidade do tratamento 10 33
Ingestão hídrica 3 10
Cuidados com esforço físico 2 7
Cuidados de higiene 1 3
Vacinas 1 3

(1)Poderia ser assinalada mais de uma alternativa.

A maior parte dos entrevistados relatou ter conhecimento sobre cuidados paliativos, porém, mais da metade, afirmou não realizá-los por considerarem desnecessários. Em relação à quimioterapia e radioterapia, houve uma prevalência na não realização de orientações direcionadas à temática e, quando estas ocorriam, estava majoritariamente direcionada à orientação com alimentação.

Na tabela 2, verificou-se que a maioria dos enfermeiros desconhecia a PNAO e que poucos possuíam um bom entendimento sobre atenção oncológica. Referente às dificuldades em assistir o paciente oncológico, menos da metade relatou possuí-las, sendo a falta de capacitação em oncologia o motivo preponderante. Já para as facilidades, dentre os que referiram possuir, as orientações sem abalo emocional foram as mais relatadas.

Tabela 2 Conhecimento, dificuldades e facilidades dos enfermeiros da atenção primária à saúde na atenção oncológica, no município de Campo Grande (MS). 

Variáveis n N %
Conhece PNAO 77
Sim 3 4
Não 74 96
Entendimento sobre atenção oncológica 77
Cuidados com o paciente com câncer 53 69
Prevenção e diagnóstico do câncer 25 32
Ações de assistência desde a promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos 10 13
Orientações quanto à doença 9 12
Coleta de preventivos e seguimento dos exames alterados 2 3
Dificuldade ou facilidade em assistir paciente oncológico 77
Dificuldade 35 45
Facilidade 23 30
Não responderam 19 25
Dificuldades(1) 35
Falta de capacitação em oncologia 23 66
Desconhecimento sobre a doença e o tratamento 16 46
Sobrecarga de trabalho 12 34
Falta de materiais e insumos 7 20
Paciente e familiares não aceitam a doença 5 14
Facilidades(1) 23
Orientações sem abalo emocional 21 91
Realização de procedimentos técnicos 4 17
Experiência profissional 2 9
Necessidade de cursos/capacitações 77
Sim 74 96
Não 3 4
Temas da atenção oncológica(1) 74
PNAO 57 77
Cuidados paliativos 55 74
Cuidados com familiares 50 68
Tratamentos 43 58
Promoção, prevenção 39 53
Outros 3 4

(1)Poderia ser assinalada mais de uma alternativa.

No que tange a cursos e capacitações, quase a totalidade dos enfermeiros afirmou ter interesse em adquirir novos conhecimentos, principalmente, sobre a PNAO e os cuidados paliativos.

DISCUSSÃO

Nesse estudo, verificou-se predomínio de enfermeiros do sexo feminino, semelhante aos achados de outra pesquisa que evidenciou a participação das mulheres em maior proporção na enfermagem, uma vez que ela é associada ao trabalho feminino.9 A idade oscilou entre 24 e 62 anos, com predominância da faixa etária de 31 a 40 anos, diferentemente do encontrado em pesquisa realizada em município do Sul do Brasil, que identificou profissionais mais jovens.6

O vínculo empregatício está em uma condição favorável que possibilita a consolidação das diretrizes da atenção primária à saúde,10 o que pode ser considerado como um resultado positivo para esse estudo, já que a maioria dos enfermeiros é estatutária. O tempo de atuação na ESF e na mesma área adscrita variou de 2 a 6 anos, já em outros estudos, o tempo médio na mesma área foi de 3 anos.6,10

A maioria dos enfermeiros possuía especialização, e mais da metade relacionada à saúde pública e/ou saúde da família, resultados semelhantes, quando comparados ao encontrado em outra pesquisa que obteve apenas 62,5% dos profissionais capacitados nessas mesmas áreas.10

A insuficiência de profissionais capacitados em atenção oncológica pode indicar fragilidades no desenvolvimento de suas atividades, já que 65% dos enfermeiros não a possuem, fato este que necessita de intervenções, pois a PNAO prevê a capacitação dos profissionais de saúde em todos os níveis da atenção.3

A realidade de pacientes em tratamento oncológico está cada vez mais frequente na comunidade, assim, a assistência de enfermagem requer do profissional da saúde, além do conhecimento técnico-científico, a afetividade, a comunicação, a sinceridade e a empatia, que se configuram como elementos construtivos do cuidado.11 Dessa forma, o enfermeiro deve estar preparado para prestar uma assistência de qualidade, visto que a maioria deles declarou a presença de pacientes com câncer em suas áreas adscritas e que os acompanha.

Dentre as atividades desenvolvidas para os pacientes oncológicos, este estudo identificou a visita domiciliar e a consulta de enfermagem como as mais frequentes, o que também foi constatado em um estudo observacional realizado em 27 unidades de saúde da família, distribuídas em 10 estados brasileiros.12

A visita domiciliar se fortalece como estratégia assistencial, de prevenção de agravos e promotora da saúde, evidenciada como ferramenta de cuidado aos usuários condicionados a doenças crônicas13 e, no presente estudo, quase a totalidade dos profissionais referiu realizá-la, possibilitando ao paciente oncológico e seu familiar uma avaliação com olhar singular do enfermeiro. Por outro lado, uma pesquisa realizada em Assis/SP encontrou menores percentuais (78%) na sua realização e 22% afirmou não as desempenhar.14

A consulta de enfermagem é um importante instrumento que propicia a aproximação do indivíduo e da família ao enfermeiro, por isso espera-se que todos os profissionais a realizem, embora tenha sido a segunda atividade mais citada nesse estudo. Ela contribui para a redução dos índices de depressão, fadiga, distúrbios do padrão do sono, estresse, nível da dor, de maneira a assegurar a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes.15

Além de realizar atividades de acompanhamento ao paciente, a equipe de ESF deve prestar assistência aos seus familiares. Outro estudo evidenciou que cuidadores e familiares de pessoas com doença terminal necessitam de apoio físico, prático e psicossocial para suportarem as demandas que requerem o cuidado domiciliar, no entanto há relutância por parte dos cuidadores e familiares, em expressar suas próprias necessidades.11

Nessa pesquisa, mais da metade dos profissionais realizou atendimento aos familiares dos pacientes oncológicos, fornecendo-lhes orientações, tanto sobre cuidados aos pacientes como cuidados com a sua própria saúde, o que contradiz um estudo realizado em Botucatu/SP, que não identificou qualquer assistência direta dos profissionais da ESF aos cuidadores ou familiares de pacientes em cuidados paliativos, apesar de ser uma atividade que lhes compete.16 O foco do cuidado está na pessoa com câncer, e as necessidades do cuidador ou familiar são frequentemente negligenciadas pelos profissionais de saúde.11 Uma pesquisa realizada na Escócia propõe que as equipes de atenção primária à saúde sejam proativas e busquem, dentro de suas localidades, os cuidadores, pois eles tendem a não se identificar e não pedem ajuda.17

O desenvolvimento de um sistema adequado para cuidados paliativos (CP) envolve a contribuição das partes interessadas de cada Estado-nação junto com o apoio global. O Reino Unido, a Bélgica e o Canadá já possuem excelentes sistemas de CP pediátricos aplicados. Os pacientes dependem de seus cuidadores para oferecerem orientação adequada, atender às necessidades e fornecer o apoio necessário até sua morte.18 Os cuidados paliativos (CP) também fazem parte da assistência do enfermeiro, que deve ser disseminador da terapêutica paliativa, mesmo de forma cautelosa e progressiva, podendo ser desenvolvida em diferentes contextos, inclusive no ambiente domiciliar.8 A maioria dos cuidados paliativos domiciliares em Ontário/Canadá é prestada pelo sistema de saúde pública que identifica os pacientes necessitados desse tipo de cuidado, coordena as ações e contrata a prestação de serviços, principalmente, o de enfermagem.19

Apesar de ser um tema discutido desde a década de 1960,20 enfermeiros da ESF afirmaram desconhecer o que são CP, o que é inquietante devido às fragilidades existentes dos pacientes oncológicos e seus familiares. Isso se torna ainda mais grave quando a maioria dos pesquisados declarou não os realizar, tendo como principal justificativa a sua não necessidade. E, no entanto, o cuidado deve ser iniciado no momento do diagnóstico.18 Estudos mostram que profissionais da ESF se sentem despreparados para desempenhar esse tipo de assistência ao paciente e à família no domicílio.16

O tratamento do câncer, em sua maior parte, é caracterizado por um processo traumático para os pacientes e seus familiares, devido às várias alterações fisiológicas, físicas e psicológicas.21 Os enfermeiros da ESF devem estar atentos a essas alterações e, assim, realizarem orientações que contribuam para melhorar a qualidade de vida de seus pacientes.

Dentre os principais efeitos colaterais dos tratamentos quimioterápicos e radioterápicos, estão náuseas e vômitos, neutropenia, mucosite, xerostomia, lesões de pele, sentimento de fadiga e angústia, entre outros.22-24 Diante disso, é preocupante que apenas pouco mais da metade dos enfermeiros preste orientações para melhor adaptação ao tratamento.

Oferecer apoio, realizar a prestação de serviços e melhorar a qualidade de vida dos pacientes oncológicos são prioridades nas diretrizes do Reino Unido.25 A PNAO estabelece diretrizes para o controle do câncer no Brasil, desde a promoção da saúde até os cuidados paliativos, fortalecendo as estratégias de controle e qualificando a atenção oncológica.3

Porém, merece destaque, neste estudo, o fato de que a quase totalidade dos enfermeiros desconhece as diretrizes da PNAO e uma minoria entende, de forma correta, as propostas da atenção oncológica, o que pode ocasionar um impacto negativo na qualidade da assistência prestada aos pacientes oncológicos.

Dentre as principais dificuldades elencadas para assistir pacientes com câncer, está a falta de capacitação em oncologia, também citada em um estudo realizado no Brasil e em Portugal,26 no qual os profissionais de enfermagem declararam a falta de capacitação como motivo de insatisfação. Uma pesquisa realizada com enfermeiras zambianas também revelou que a falta de formação oncológica contribui para as experiências negativas e impedem a prestação de cuidados de enfermagem ideal, preocupação essa existente em países desenvolvidos e em desenvolvimento,27 o que evidencia, mais uma vez, a necessidade de capacitar os profissionais da atenção primária à saúde para o atendimento ao paciente oncológico.3

Quanto às facilidades relatadas pelos enfermeiros, predominou-se a prestação de cuidados ao paciente oncológico em que não ocorre abalo emocional, fato este não relatado por outros pesquisadores que revelaram o câncer como uma das doenças que mais gera sofrimento aos profissionais.21 Outro estudo realizado na Província de Isfahan, no Irã, com enfermeiros oncológicos destacou a necessidade de programas de intervenção para aliviar o estresse, prevenir o esgotamento desses profissionais, pois eles desempenham um importante papel no atendimento do paciente com câncer.28 Espera-se um abalo psicológico e emocional diante das exigências da oferta de cuidados técnico-assistenciais, que podem levar a uma comoção a ser vivenciada por esses trabalhadores em sua rotina.29

Uma pesquisa realizada no Reino Unido com enfermeiras oncológicas e enfermeiras comunitárias avaliou suas competências autorrelatadas e demonstrou que as enfermeiras comunitárias estavam menos confiantes em reconhecer os sintomas tardios da doença e identificaram maior necessidade de receberem treinamentos, uma vez que seu papel é contínuo no acompanhamento dos pacientes com câncer.30 A educação permanente tem sido um instrumento importante para a construção da competência profissional, contribuindo para a organização do trabalho.31

Dessa maneira, a maioria dos enfermeiros propôs, para a melhoria da assistência aos pacientes oncológicos, capacitações voltadas para a PNAO, sendo esta de grande relevância, uma vez que visa à qualificação, especialização e educação permanente dos profissionais de saúde, os quais têm papel fundamental para o controle do câncer.3

CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

A atenção prestada pelo enfermeiro é realizada de forma variável, tanto na assistência direta ao paciente como aos seus familiares, o que evidencia, principalmente, que os profissionais inseridos nas equipes de ESF estão despreparados para assistirem os pacientes portadores de câncer em suas áreas adscritas.

Diante de tal despreparo, a assistência oferecida pela atenção primária à saúde do município se fragiliza, ocasionando um impacto negativo na prestação de cuidados e na qualidade de vida desses pacientes e seus familiares.

O desconhecimento dos enfermeiros sobre a PNAO constitui um desafio para os gestores, visto que ela norteia a assistência ao usuário com câncer, sendo necessária sua ampla divulgação dentro das equipes de ESF. O investimento nesse profissional é imprescindível, devido à necessidade explícita de educação permanente, para qualificá-lo e garantir ao paciente oncológico e seus familiares uma assistência eficiente e modificadora.

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