versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.109 no.6 supl.2 São Paulo 2017
https://doi.org/10.5935/abc.20180007
Declaração de potencial conflito de interesses dos autores/colaboradores da Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias: Abordagem das Lesões Anatomicamente Importantes Se nos últimos 3 anos o autor/colaborador das Diretrizes: | |||||||
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Nomes Integrantes da Diretriz | Participou de estudos clínicos e/ou experimentais subvencionados pela indústria farmacêutica ou de equipamentos relacionados à diretriz em questão | Foi palestrante em eventos ou atividades patrocinadas pela indústria relacionados à diretriz em questão | Foi (é) membro do conselho consultivo ou diretivo da indústria farmacêutica ou de equipamentos | Participou de comitês normativos de estudos científicos patrocinados pela indústria | Recebeu auxílio pessoal ou institucional da indústria | Elaborou textos científicos em periódicos patrocinados pela indústria | Tem ações da indústria |
Alberto Takeshi Kiyose | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Alexandre Siciliano Colafranceschi | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Antonio Sergio de Santis Andrade Lopes | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Auristela Isabel de Oliveira Ramos | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Carlos Manuel de Almeida Brandão | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Clara Weksler | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Dorival Julio Della Togna | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Evandro Tinoco Mesquita | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Fabio Biscegli Jatene | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Fábio Sândoli de Brito Júnior | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Fernando Antibas Atik | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Flavio Tarasoutchi | Bayer | Abbott | Não | Não | Não | Não | Não |
Guilherme Sobreira Spina | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
João David de Souza Neto | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
João Ricardo Cordeiro Fernandes | Não | Abbott | Não | Não | Não | Não | Não |
José Francisco Kerr Saraiva | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
José Luiz Barros Pena | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Lucas José Tachotti Pires | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Marcelo Luiz Campos Vieira | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Marcelo Westerlund Montera | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Márcia de Melo Barbosa | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Pablo Maria Alberto Pomerantzeff | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Paulo de Lara Lavitola | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Paulo Ernesto Leães | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Pedro Alves Lemos Neto | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Ricardo Mourilhe-Rocha | Não | Não | Não | Não | Novartis, Servier, AHA, SBC | Não | Não |
Ricardo Simões | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Robinson Poffo | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Roney Orismar Sampaio | Daiichi Sankyo, Novartis, Bayer | Não | Não | Não | Bayer | Não | Não |
Salvador Rassi | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Tarso Augusto Duenhas Accorsi | Não | Abbott | Não | Não | Não | Não | Não |
Tiago Costa Bignoto | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Valdir Ambrósio Moisés | Bayer | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
Vitor Emer Egypto Rosa | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
William Antonio de Magalhães Esteves | Não | Não | Não | Não | Não | Não | Não |
A indicação da intervenção cirúrgica ou percutânea no paciente com doença valvar está atrelada ao preciso diagnóstico anatômico e funcional, além do conhecimento da história natural da doença.
Nesta atualização da Diretriz Brasileira de Valvopatias de 2011, são contemplados apenas pacientes com valvopatia anatomicamente importante (estágios C e D da Diretriz da American College of Cardiology (ACC)/ American Heart Association (AHA), de 2014). As tabelas e fluxogramas que aqui constam demonstram passos sequenciais que norteiam o diagnóstico anatômico, etiológico e funcional, definindo a conduta alinhada às melhores práticas, com uso racional de recursos.
A avaliação clínica continua absolutamente fundamental, destacando-se a grande especificidade do exame físico para o diagnóstico anatômico e a anamnese como principais recursos para avaliação funcional e indicação para intervenção.
Além da proposta dos passos, esta Diretriz indica, para efeito de comparação, as recomendações das duas principais diretrizes internacionais - ACC/AHA 2017 e European Society of Cardiology (ESC)/European Association for Cardio-Thoracic Surgery (EACTS) 2017.
Vale ressaltar que a profilaxia de febre reumática, profilaxia da endocardite infecciosa, assim como indicações de intervenção na valvopatia pulmonar, mantém exatamente os mesmos princípios, conforme publicado na Diretriz brasileira de 2011 e descrito a seguir:
Primeiro passo: certificar-se de que a valvopatia é anatomicamente importante;
Segundo passo: avaliar a etiologia, incluindo história clínica e antecedentes pessoais, em conjunção com exames complementares;
Terceiro passo: avaliar os sintomas - uma vez definida a valvopatia anatomicamente importante, a avaliação dos sintomas secundários é fundamental na decisão de intervenção. O tratamento farmacológico está indicado para alívio dos sintomas até o tratamento intervencionista da doença valvar;
Quarto passo: avaliação de complicadores - na ausência de sintomas, a identificação de complicadores anatômicos e/ou funcionais (especialmente hipertensão pulmonar, remodelamento ventricular, disfunção sistólica, dilatação aneurismática de aorta, fibrilação atrial) pode ser determinante para intervenção nos pacientes assintomáticos;
Quinto passo: tipo de intervenção - o procedimento de correção da doença valvar pode ser cirúrgico ou transcateter, com indicação individualizada dependendo do risco operatório, das comorbidades e da decisão do Heart Team.
O Heart Team é um conceito no qual um conjunto de diferentes profissionais com experiência em doenças valvares compartilha a decisão sobre o melhor tratamento para um determinado paciente. Com a introdução de diferentes tipos de abordagem para o tratamento de pacientes com valvopatias, o Heart Team tem sido cada vez mais utilizado em seu manejo. É composto por diversas subespecialidades cardiológicas, com especialistas que exercem papéis diferentes e fundamentais em cada passo do cuidado: do cardiologista clínico (a quem cabe a seleção e a indicação de pacientes, além do acompanhamento pré e pós-intervenção), ao cirurgião cardíaco e ao hemodinamicista, responsáveis pela concretização dos procedimentos indicados pelo Heart Team. Além deles, o radiologista é importante na análise de dados para avaliar a possibilidade técnica de realização de cada tipo de intervenção; e o ecocardiografista, além de avaliar os dados pré-operatórios, pode também acompanhar o procedimento, colaborando para um melhor resultado.
Enquanto no Brasil e demais países em desenvolvimento a principal causa da estenose mitral (EM) é a febre reumática, nos países desenvolvidos observa-se aumento da incidência de EM degenerativa, associada à calcificação do anel mitral e que se desenvolve em pacientes idosos.
Nesta Diretriz, a EM é classificada como anatomicamente importante quando a área valvar mitral for menor do que 1,5 cm2.
Para os pacientes reumáticos, a valvuloplastia mitral por cateter-balão (VMCB) continua sendo o tratamento de escolha, seguido pela cirurgia valvar.
No caso dos pacientes com EM degenerativa, o tratamento inicial de quem se apresenta sintomático é farmacológico, reservando-se intervenção para casos refratários. Nos pacientes com alto risco cirúrgico, o implante valvar mitral transcateter foi, até o momento, realizado em um número limitado de casos. Para a sua ampla indicação e realização, ainda são requeridos estudos que validem os seus resultados em maior escala.
Quadro 1 Passo 1: diagnóstico de estenose mitral importante
Características de estenose mitral importante | |
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Exame físico | • Facies mitralis • Estalido de abertura precoce • Primeira bulha hiperfonética • Segunda bulha hiperfonética • Sopro diastólico em ruflar, com reforço pré-sistólico se o paciente estiver em ritmo sinusal • Sinais de congestão pulmonar e insuficiência cardíaca direita • Presença de insuficiência tricúspide |
Eletrocardiograma | • Sobrecarga de átrio esquerdo • Sobrecarga de câmaras direitas • Fibrilação atrial |
Radiografia de tórax | • Índice cardiotorácico normal • Sinais de aumento de átrio esquerdo: Elevação do brônquio fonte esquerdo ("sinal da bailarina") Duplo contorno atrial à direita Quarto arco na silhueta cardíaca à esquerda • Sinais de congestão pulmonar |
Ecocardiograma | • Área valvar mitral < 1,5 cm2 • Gradiente diastólico médio átrio esquerdo/ventrículo esquerdo ≥ 10 mmHg • Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg em repouso • Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 60 mmHg com esforço |
Estudo hemodinâmico | • Indicado em caso de discordância entre achados clínicos e ecocardiográficos • Gradiente diastólico átrio esquerdo/ventrículo esquerdo ≥ 10 mmHg (espontâneo ou após prova com atropina e volume) • Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg |
Quadro 2 Passo 2: avaliação da etiologia - estenose mitral importante
Características etiológicas | |
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Febre reumática | • > 90% dos casos nos países em desenvolvimento • Sintomas entre a terceira e quarta décadas da vida • Fusão comissural, espessamento de cúspides • Comprometimento do aparelho subvalvar • Abertura em cúpula da cúspide anterior e redução da mobilidade da cúspide posterior • Acometimento mitroaórtico |
Degenerativa (calcificação do aparato valvar) | • 12 a 26% dos casos nos países desenvolvidos • Mais comum em idosos • Pode chegar a 60% dos casos em pacientes com mais de 80 anos de idade • Calcificação do anel valvar mitral • Ausência de fusão comissural • Relação com calcificação aórtica e coronariana |
Causas raras | • Congênita • Doenças reumatológicas (lúpus e artrite reumatoide) • Drogas (metissergida e anorexígenos) • Síndrome carcinoide • Doença de Fabry • Lesão actínica - pós-radioterapia |
Quadro 3 Passo 3: Avaliação de sintomas - estenose mitral importante
Sintomas | |
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Dispneia (NYHA II-IV) |
• Principal sintoma • Inicialmente com eventos que aumentam a pressão venocapilar pulmonar (esforço físico, fibrilação atrial e gestação) • Dispneia em repouso e dispneia paroxística noturna • Pode ser acompanhada por palpitações, hemoptise, disfonia, disfagia e tosse • Pode ser acompanhada por eventos embólicos (cerebrais, mesentéricos e de extremidades) |
Quadro 4 Passo 4: avaliação de complicadores - estenose mitral importante
Complicadores | |
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Hipertensão pulmonar | • Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg em repouso • Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 60 mmHg ao esforço (teste ergométrico ou ecocardiografia com estresse farmacológico) |
Fibrilação atrial de início recente | • Relação com remodelamento do átrio esquerdo • Manter razão normalizada internacional de 2,0 a 3,0 |
Quadro 5 Passo 5: tipo de intervenção - estenose mitral importante
Tipo | |
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Valvuloplastia mitral por cateter-balão | • Tratamento de escolha na etiologia reumática • Indicações: Sintomas classe funcional (CF) II-IV e/ou fatores complicadores Escore ecocardiográfico ≤ 8* (aparelho subvalvar e calcificação ≤ 2) |
• Em gestantes ou pacientes com alto risco cirúrgico, considerar se: Escore ecocardiográfico = 9-10 (aparelho subvalvar e calcificação ≤ 2) | |
• Contraindicações: Trombo em átrio esquerdo Insuficiência mitral moderada ou importante Fenômeno embólico recente | |
Tratamento cirúrgico (comissurotomia/troca valvar) | • Estenose mitral reumática classe funcional III-IV com contraindicações à valvuloplastia mitral por cateter-balão • Estenose mitral reumática com fatores complicadores, não elegíveis para valvuloplastia mitral por cateter-balão • Estenose mitral degenerativa refratária ao tratamento clínico |
Implante valvar mitral transcateter | Estenose mitral degenerativa refratária ao tratamento clínico, com contraindicação ou alto risco ao tratamento cirúrgico (em estudo) |
*Individualizar em casos de escore ecocardiográfico 9-10.
Quadro 6 Estenose mitral: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
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Valvuloplastia mitral por cateter-balão | • Estenose mitral reumática classe funcional II-IV, na ausência de contraindicações | I A | I A | I B |
• Estenose mitral reumática assintomática, com fatores complicadores, na ausência de contraindicações | I C | IIb C (se FA) |
IIa C (se alto risco tromboembolico ou de deterioração hemodinâmica) |
|
Tratamento cirúrgico (comissurotomia/troca valvar) |
• Estenose mitral reumática classe funcional III-IV com contraindicações à valvuloplastia mitral por cateter-balão | I B | I B | I C |
• Estenose mitral reumática assintomática com fatores complicadores, não elegíveis para valvuloplastia mitral por cateter-balão | IIa C | IIb C (Embolia recorrente) |
- | |
• Estenose mitral degenerativa refratária ao tratamento clínico | IIb C* | - | - | |
• Estenose mitral reumática assintomática em programação de outra cirurgia cardíaca | I C | I C | - | |
Implante valvar mitral transcateter | • Estenose mitral degenerativa refratária ao tratamento clínico, com contraindicação ou alto risco a tratamentocirúrgico | IIb C* | - | - |
*Considerar discussão junto ao Heart Team; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
Figura 2 Algoritmo para avaliação da estenose mitral importante. CF: classe funcional; FA: fibrilação atrial; VMBC: valvuloplastia mitral por cateter-balão.
A insuficiência mitral (IM) primária crônica é uma das valvopatias mais prevalentes mundialmente. A etiologia reumática ainda é predominante no Brasil, embora o prolapso da valva mitral tenha aumentado em frequência. Diferentemente das Diretrizes europeia e americana, dividimos as indicações de tratamento cirúrgico com base na etiologia reumática e não reumática. A plástica valvar mitral é o tratamento cirúrgico preferencial nos casos com anatomia favorável. Os pacientes de etiologia reumática têm menos probabilidade de plástica valvar com bons resultados, sendo necessária a troca valvar, na maioria dos casos.
Quadro 7 Passo 1: diagnóstico de insuficiência mitral primária importante
Características de insuficiência mitral primária importante | |
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Exame físico | • Ictus cordis desviado para a esquerda e para baixo • Primeira bulha hipofonética • Segunda bulha hiperfonética • Sopro sistólico regurgitativo ≥ +++/6+ • Sinais clínicos de insuficiência cardíaca direita |
Eletrocardiograma | • Sobrecarga de câmaras esquerdas • Arritmias atriais ou ventriculares (extrassístoles e taquicardia) e fibrilação arterial |
Radiografia de tórax | • Aumento da silhueta cardíaca com dilatação do ventrículo esquerdo e do átrio esquerdo • Sinais de congestão pulmonar |
Ecocardiograma | • Área do jato ≥ 40% da área do átrio esquerdo • Fração regurgitante ≥ 50% • Volume regurgitante ≥ 60 mL/batimento • Vena contracta ≥ 0,7 cm • Área efetiva do orifício regurgitante ≥ 0,40 cm2 |
Estudo hemodinâmico | • Indicado nos casos de dissociação clinicoecocardiográfica • Ventriculografia esquerda (importante se > 3+) • Avaliação de pressões intracavitárias |
Ressonância magnética | • Casos de dissociação clinicoecocardiográfica • Graduação da insuficiência mitral |
Quadro 8 Passo 2: avaliação de etiologia - insuficiência mitral primária importante
Características etiológicas | |
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Reumática | • Causa mais prevalente no Brasil • Espessamento com retração das cúspides • Acometimento comissural • Acometimento mitroaórtico • Frequente em adultos jovens |
Prolapso da valva mitral e doenças associadas (flail, Barlow) | • Segunda causa mais frequente no Brasil • Protrusão de cúspides para o átrio esquerdo ≥ 2 mm • Mais frequente na população de meia idade e idosa |
Outras causas | • Endocardite infecciosa • Síndrome de Marfan • Lúpus eritematoso sistêmico • Lesões traumáticas • Deformidades congênitas |
Quadro 9 Passo 3: avaliação de sintomas - insuficiência mitral primária importante
Sintomas | |
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Dispneia (classe funcional II-IV) e fadiga/fraqueza | • Congestão pulmonar • Inicialmente com eventos que aumentam a pressão venocapilar pulmonar (esforço físico, fibrilação arterial e gestação) • Dispneia em repouso e dispneia paroxística noturna • Pode ser acompanhada por palpitações, tosse e edema • Pode ser acompanhada por eventos embólicos |
Quadro 10 Passo 4: avaliação de complicadores - insuficiência mitral primária importante
Complicadores | |
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Ecocardiograma | • Fração de ejeção ≤ 60% • Remodelamento progressivo (diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo [DSVE] ≥ 40 mm) • Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg ou ≥ 60 mmHg ao exercício • Volume do átrio esquerdo ≥ 60 mL/m2 |
Eletrocardiograma | • Fibrilação arterial de início recente (< 1 ano) |
Quadro 11 Passo 5: tipo de intervenção - insuficiência mitral primária importante
Tipo de intervenção | Considerações |
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Plástica da valva mitral | • Tratamento de escolha • Pacientes reumáticos: resultados menos favoráveis • Prolapso valvar mitral de cúspide posterior (P2 isolado): melhores resultados |
Troca da valva mitral | • Indicada em caso de impossibilidade de plástica valvar |
Clipagem percutânea da valva mitral - MitraClip® | • Reservada a pacientes de alto risco ou com contraindicação cirúrgica com sintomas refratários • Insuficiência mitral degenerativa por prolapso • Condição anatômica favorável • Indicada após decisão do Heart Team |
Quadro 12 Insuficiência mitral primária: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
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Plástica da valva mitral (centros com experiência) |
Reumáticos | |||
• Sintomático (classe funcional ≥ II) | IIb C | IIb C | - | |
• Assintomático, com complicadores: | - | |||
Fração de ejeção entre 30 e 60% e/ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo ≥ 40 mm | IIb B | IIb B | ||
Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg ou fibrilação atrial | IIb B | |||
• Insuficiência mitral reumática, assintomática e sem complicadores | III | - | - | |
Não reumáticos | ||||
• Classe funcional ≥ II, com anatomia favorável | I B | I B | I B | |
• Assintomático, com anatomia favorável e complicadores: | ||||
Fração de ejeção entre 30 e 60% e/ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo ≥ 40 mm | I B | I B | I B DSVE≥45 mm |
|
Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg ou fibrilação atrial | IIa B | IIa B | IIa B | |
• Assintomático, insuficiência mitral por prolapso, com anatomia favorável e sem complicadores | IIa B | IIa B | IIa C AE ≥ 60 ml/m2 e ritmo sinusal |
|
Troca da valva mitral | Reumáticos | |||
• Sintomático (classe funcional ≥ II) | I B | - | - | |
• Assintomático, com complicadores: | ||||
Fração de ejeção entre 30 e 60% e/ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo ≥ 40 mm | I B | - | - | |
Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg ou fibrilação atrial | IIa B | - | - | |
• Insuficiência mitral reumática, assintomática e sem complicadores | III | - | - | |
Não reumáticos | ||||
• Classe funcional ≥ II, com anatomia desfavorável à plástica valvar | I B | I B | I B | |
• Assintomático, com anatomia desfavorável à plástica valvar e complicadores: | ||||
Fração de ejeção entre 30 e 60% e diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo ≥ 40 mm | I B | I B | I C Diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo ≥ 45 mm |
|
Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg ou fibrilação atrial | IIa C | IIa C | IIa B | |
• Assintomático, insuficiência mitral por prolapso, com anatomia desfavorável à plástica valvar e sem complicadores | III | III | III | |
Clipagem percutânea da valva mitral - MitraClip® | Insuficiência mitral não reumática, com alto risco ou contraindicação a cirurgia e com sintomas refratários | IIa B* | IIb B | IIb C |
*Em centros com Heart Team. SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
A IM crônica secundária, ou funcional, deve-se a alterações na geometria ventricular, resultando em má coaptação das cúspides valvares e aparecimento de refluxo valvar. Habitualmente é causada por doença isquêmica cardíaca ou por outras cardiopatias dilatadas, de diversas etiologias. As indicações de tratamento são distintas da IM primária, uma vez que o problema básico não está nas cúspides valvares. A indicação de intervenção na IM secundária deve ser restrita a casos refratários ao tratamento clínico convencional.
Quadro 13 Passo 1: diagnóstico de insuficiência mitral secundária importante
Características de insuficiência mitral secundária importante | |
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Exame físico | • Primeira bulha hipofonética ou normofonética • Sopro protomesossistólico ou holossistólico com irradiação para linha axilar |
Eletrocardiograma | • Sinais de sobrecarga de câmaras esquerdas |
Radiografia de tórax | • Aumento da silhueta cardíaca por dilatação de câmaras esquerdas |
Ecocardiograma | • Quantificação da regurgitação: Fração regurgitante ≥ 50% Volume regurgitante ≥ 60 mL/batimento ERO ≥ 0,40 cm2 |
Estudo hemodinâmico | • Dissociação clinicoecocardiográfica • Graduação da insuficiência mitral pela ventriculografia esquerda |
Ressonância magnética | • Dissociação clinicoecocardiográfica • Graduação da insuficiência mitral |
ERO: área efetiva do orifício regurgitante (da sigla em inglês: effective regurgitant orifice).
Quadro 14 Passo 2: avaliação da etiologia - insuficiência mitral secundária importante
Características etiológicas | |
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Isquêmica | • Alterações segmentares da contratilidade • Disposição inadequada dos músculos papilares ou das cúspides valvares ("em tenda" ou com tracionamento apical - tethering - e/ou por falha na coaptação das cúspides) • Dilatação ou deformidade anular mitral • Avaliação de coronárias pela cinecoronariografia • Avaliação de viabilidade pela ressonância magnética de coração |
Dilatada | • Dilatação do anel valvar - dilatação ventricular • Disfunção ventricular sistólica • Disposição inadequada dos músculos papilares ou das cúspides valvares ("em tenda", ou com tracionamento apical - tethering - e/ou por falha na coaptação das cúspides) • Dissincronia ventricular • Alteração no acoplamento mecânico atrioventricular |
Cardiomiopatia hipertrófica | • Anormalidades funcionais dos músculos papilares • Desproporção espacial entre o ventrículo esquerdo • Deslocamento anterior da cúspide anterior da valva mitral - efeito Venturi |
Quadro 15 Passo 3: avaliação de sintomas - insuficiência mitral secundária importante
Sintomas | |
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Dispneia e fadiga/fraqueza | • Aumento da pressão diastólica final • Congestão venocapilar pulmonar • Pode ser acompanhada por palpitações, tosse, ascite, edema e dor torácica • Pode ser acompanhada por eventos embólicos |
Quadro 16 Passo 4: avaliação de complicadores - insuficiência mitral secundária importante
Complicadores | |
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Avaliação clinicoecocardiográfica | • Agravamento das condições de base sem outras causas atribuíveis (elevação de pressão sistólica da artéria pulmonar, aumento dos diâmetros ventriculares e queda da FEVE) • Sintoma refratário ao tratamento clínico otimizado |
FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
Quadro 17 Passo 5: tipo de intervenção - insuficiência mitral secundária importante
Tipo | Considerações |
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Cirurgia (plástica ou troca valvar) | Troca ou plástica valvar + revascularização miocárdica, quando indicada |
Clipagem percutânea da valva mitral - MitraClip® | Pode ser considerada após avaliação do Heart Team |
Quadro 18 Insuficiência mitral secundária: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
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Troca ou plástica da valva mitral | Isquêmica | |||
• Sintomático (classe funcional ≥ III) | IIb B | IIb B | IIb C | |
• Revascularização associada | IIa B | IIa B | I C (fração de ejeção > 30%) |
|
IIa C (fração de ejeção < 30%) |
||||
Dilatada | ||||
• Sintomático (classe funcional ≥ III) | IIb B | IIb B | IIb C | |
Clipagem percutânea da valva mitral - MitraClip® | Isquêmica | |||
• Sintomas refratários (classe funcional ≥ III), com alto risco ou contraindicação a cirurgia | IIb B | IIb | ||
Dilatada | ||||
• Sintomas refratários (classe funcional ≥ III) com alto risco ou contraindicação a cirurgia | Ib B | IIb C |
SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
A estenose aórtica (EAo) apresenta prevalência crescente na atualidade em razão do aumento da expectativa de vida e do consequente envelhecimento da população. Atualmente, a causa mais comum de EAo é a calcificação aórtica, que acomete principalmente pacientes idosos. O tratamento transcateter tornou-se uma opção à troca valvar cirúrgica em casos selecionados após avaliação cuidadosa da expectativa de vida, do grau de fragilidade e da anatomia valvar aórtica.
Quadro 19 Passo 1: diagnóstico de estenose aórtica importante
Característica de estenose aórtica importante | |
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Exame físico | • Pulso Parvus et Tardus • Sopro sistólico ejetivo com pico telessistólico • Hipofonese de B2 • Hipofonese de B1 • Fenômeno de Gallavardin • Desdobramento paradoxal de B2 |
Eletrocardiograma | • Sobrecarga de ventrículo esquerdo • Alteração de repolarização ventricular (padrão Strain) |
Radiografia de tórax | • Índice cardiotorácico pode ser normal • Sinais de congestão pulmonar |
Ecocardiograma | • AVAo ≤ 1,0 cm2 • AVAo indexada ≤ 0,6 cm2/m2 • Gradiente ventrículo esquerdo/Ao ≥ 40 mmHg • Velocidade máxima do jato aórtico ≥ 4,0 m/s • Razão das velocidades de fluxo entre a via de saída do ventrículo esquerdo e valva aórtica < 0,25 • Impedância valvuloarterial > 5,0 mmHg/mL/m2, sobretudo em pacientes com elevada pressão arterial |
Ecocardiograma sob estresse com dobutamina | • Indicação: AVAo ≤ 1,0 cm2 com fração de ejeção < 50% e gradiente médio ventrículo esquerdo/Ao ≤ 40 mmHg - EAo de baixo fluxo/baixo gradiente com fração de ejeção reduzida • Presença de reserva contrátil (aumento ≥ 20% do volume sistólico ejetado e/ou aumento > 10 mmHg no gradiente médio ventrículo esquerdo/Ao) + redução ou manutenção da AVAo (EAo importante se variação ≤ 0,2cm2) |
Teste esforço/ergoespirométrico | • Indicado apenas nos assintomáticos com FE normal |
Tomografia computadorizada de tórax multidetectora | • Escore de cálcio valvar aórtico acima de 1.650 UA reforça possibilidade de valvopatia importante • Mulheres podem apresentar menor intensidade de calcificação valvar (média: 1.200 UA) |
Estudo hemodinâmico | • Gradiente ventrículo esquerdo/Ao (pico) ≥ 50 mmHg |
Situação especial | • EAo de baixo fluxo/baixo gradiente com fração de ejeção preservada ("paradoxal") Área valvar aórtica indexada ≤ 0,6 cm2/m2 Fração de ejeção > 50% Gradiente médio ventrículo esquerdo/Ao < 40 mmHg Volume sistólico indexado < 35 mL/m2 Impedância valvuloarterial > 5,0 mmHg/mL/m2 Escore de cálcio valvar aórtico > 1.650 UA |
AVAo: área valvar aórtica; Ao: aórtica; EAo: estenose aórtica; FE: fração de ejeção.
Quadro 20 Passo 2: avaliação da etiologia - estenose aórtica importante
Características etiológicas | |
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Aterosclerótica/degenerativa | • Associação com senilidade • Prevalência: 3 a 5% da população > 75 anos • Relacionada à calcificação valvar aórtica • Presença de fatores de risco relacionados à aterosclerose • Associação com doença arterial coronariana (50% dos casos) |
Reumática | • Fusão comissural • Acometimento mitroaórtico • Faixa etária mais jovem • Associada a variados graus de insuficiência aórtica |
Bicúspide | • Prevalência: 2% da população • Associação com aortopatia (70% dos casos) • Orientação laterolateral da fenda comissural: preditor evolutivo de estenose aórtica |
Quadro 21 Passo 3: avaliação de sintomas - estenose aórtica importante
Sintomas | |
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Dispneia | Disfunção diastólica: hipertrofia ventricular esquerda ➔ redução de complacência ➔ deslocamento da curva pressão/volume ventricular para cima e para a esquerda ➔ elevação das pressões de enchimento ➔ hipertensão venocapilar pulmonar Disfunção sistólica: ocorre na hipertrofia inadequada (afterload mismatch) e baixo fluxo/baixo gradiente |
Angina | Desbalanço da oferta/consumo de oxigênio no miocárdio hipertrófico Redução do gradiente de perfusão miocárdico (pd2 elevada) |
Síncope | Resulta da incapacidade de incrementos de débito cardíaco em situações de redução expressiva da resistência periférica total Pode decorrer do uso de vasodilatadores (agentes deflagradores comuns) 50% dos casos estão associados a reflexo cardioinibitório |
Quadro 22 Passo 4: avaliação de complicadores - estenose aórtica importante
Complicadores | |
---|---|
Ecocardiograma | Disfunção de ventrículo esquerdo (fração de ejeção < 50%) Marcadores de mau prognóstico (área valvar aórtica < 0,7 cm2, velocidade máxima do jato aórtico > 5,0 m/s, gradiente médio ventrículo esquerdo/Ao > 60 mmHg) |
Teste ergométrico / ergoespirométrico | Ausência de reserva inotrópica no teste ergométrico e/ou baixa capacidade funcional Hipotensão arterial durante esforço (queda de 20 mmHg na pressão arterial sistólica) Presença de sintomas em baixas cargas |
Ao: aórtica.
Quadro 23 Passo 5: tipo de intervenção - estenose aórtica importante
Tipo | Considerações |
---|---|
Cirurgia de troca valvar aórtica | • Primeira escolha para pacientes de baixo risco e risco intermediário (STS) < 8%) |
Implante de bioprótese aórtica transcateter (TAVI) | • É necessária decisão do Heart Team institucional • Via transfemoral é a preferencial • Ampliada indicação para pacientes de risco intermediário (STS 4 a 8%) • Alto risco cirúrgico (STS > 8% ou EuroSCORE logístico > 20%) • Primeira escolha em risco cirúrgico proibitivo ou contraindicações à cirurgia convencional |
Valvoplastia aórtica por cateter-balão | • "Ponte terapêutica" para procedimentos definitivos (cirurgia/implante de bioprótese aórtica transcateter) • Paliação nos casos com contraindicações definitivas à cirurgia convencional e implante de bioprótese aórtica transcateter. |
STS: escore de risco da Society of Thoracic Surgeons, TAVI: implante de bioprótese aórtica transcateter (da sigla em inglês, transcatheter aortic valve implantation).
Quadro 24 Estenose aórtica: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
---|---|---|---|---|
Tratamento cirúrgico convencional | • Sintomas (classe funcional ≥ 2, síncope e angina) com risco cirúrgico baixo ou intermediário | I A | I A | I B |
• Assintomático em programação de outra cirurgia cardíaca (revascularização miocárdica, cirurgia de aorta torácica ou outra cirurgia valvar concomitante)* | I C | I B | I C | |
• Assintomático, com complicadores: | I B | I B | I C | |
Fração de ejeção < 50% | IIa | IIa B | I C | |
Ausência de reserva inotrópica no teste ergométrico e/ou baixa capacidade funcional | B | |||
• Assintomático com valvopatia crítica: | IIa C | IIa B | IIa C (BNP elevado para idade; PSAP>60 mmHg; velocidade máxima do jato > 5,5 m/s) |
|
Área valvar aórtica < 0,7 cm2 | ||||
Velocidade máxima do jato > 5,0 m/s | ||||
Gradiente médio ventrículo esquerdo/Ao > 60 mmHg | ||||
SITUAÇÕES ESPECIAIS | ||||
• Estenose aórtica importante de baixo fluxo/baixo gradiente com fração de ejeção reduzida | ||||
Com reserva contrátil | IIa B | IIa B | I C | |
Sem reserva contrátil | IIa C | - | IIa C | |
• Estenose aórtica importante paradoxal sintomático | IIa C | IIa C | ||
Implante de TAVI** | • Sintomático com expectativa de vida > 1 ano: | |||
Com contraindicações/risco proibitivo à cirurgia convencional | I A | I A | I B | |
Alto risco cirúrgico | I A | I A | IIa B | |
Risco cirúrgico intermediário | IIa A | IIa B | - | |
Valvoplastia aórtica por cateter-balão ** | • Sintomático com instabilidade hemodinâmica importante, impossibilidade momentânea de intervenção definitiva (TAVI ou cirurgia convencional) - "ponte terapêutica" | IIa C | IIb C | IIb C |
• Tratamento paliativo em pacientes sintomáticos e com contraindicações à cirurgia convencional e/ou TAVI. | IIb C | - | IIb C |
*Considerar intervenção em portadores de lesão moderada (Recomendação IIa C);
**Pré-requisito obrigatório: avaliação por Heart Team institucional, contemplando risco cirúrgico, grau de fragilidade, condições anatômicas e comorbidades; TAVI: implante de bioprótese aórtica transcateter (da sigla em inglês: transcatheter aortic valve implantation); Ao: aórtica; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
Figura 5 Algoritmo para avaliação da estenose aórtica importante. FE: fração de ejeção; TE: teste ergométrico; TAVI: implante de bioprótese aórtica transcateter (da sigla em inglês, transcatheter aortic valve implantation).
Figura 6 Algoritmo para avaliação da estenose aórtica baixo-fluxo e baixo-gradiente com fração de ejeção reduzida. FE: fração de ejeção.
A insuficiência aórtica (IAo) crônica pode decorrer de alterações das cúspides valvares e/ou alterações do ânulo da valva aórtica. Destacamos a manutenção do tratamento clínico em pacientes reumáticos assintomáticos e com função ventricular normal que apresentam dilatação ventricular.
Quadro 25 Passo 1: diagnóstico de insuficiência aórtica importante
Característica de insuficiência aórtica importante | |
---|---|
Exame físico | • Sopro diastólico aspirativo decrescente com B1 hipofonética • Sopro mesossistólico de hiperfluxo • Sopro de Austin-Flint (jato da insuficiência aórtica não permite a abertura valvar mitral, gerando sopro diastólico em ruflar) • Pulso em martelo d'água ou Corrigan: ascenso rápido e alta amplitude • Divergência entre pressão sistólica e diastólica • Sinais clínicos de aumento de pressão de pulso: sinal de Musset, sinal de Becker, dança das artérias, sinal de Muller, • sinal de Quincke, sinal de Rosenbach, sinal de Gerhard, sinal de Traube, sinal de Duroziez, sinal de Mayne e sinal de Hill |
Eletrocardiograma | • Sinais de sobrecarga de câmaras esquerdas |
Radiografia de tórax | • Aumento da silhueta cardíaca às custas de dilatação do ventrículo esquerdo • Sinais de dilatação ou ectasia da aorta |
Ecocardiograma | • Avaliação da etiologia da doença valvar, diâmetro da aorta ascendente, diâmetros ventriculares e função ventricular • Quantificação da regurgitação: Vena contracta> 0,6 cm Largura do jato > 0,65 Área do jato ≥ 60% Fração regurgitante ≥ 50% Volume regurgitante ≥ 60 mL/batimento ERO ≥ 0,30 cm2 |
Estudo hemodinâmico | • Necessário nos casos de dissociação clínico-ecocardiográfica (elevação da pressão de enchimento, regurgitação aórtica durante a aortografia). |
Ressonância magnética | • Avaliação da aorta • Avaliação de função ventricular em casos limítrofes • Avaliação da função valvar nos casos de dissociação clinicoecocardiográfica |
Tomografia de tórax | • Avaliação da aorta |
ERO: área efetiva do orifício regurgitante (da sigla em inglês: effective regurgitant orifice).
Quadro 26 Passo 2: avaliação da etiologia - insuficiência aórtica importante
Características etiológicas | |
---|---|
Reumática | • Alta prevalência em nosso meio • Geralmente associada à lesão mitral • Frequente em adultos jovens |
Aterosclerótica | • Geralmente associada à estenose aórtica • Frequente na população idosa |
Bicúspide | • Associada a alterações da aorta (aneurisma, dissecção e coarctação) • Frequente em adultos jovens |
Doenças relacionadas à alteração da geometria da raiz da aorta | • Hipertensão arterial sistêmica, dissecção da aorta ascendente, síndrome de Marfan, espondilite anquilosante, aortite sifilítica, osteogênese imperfeita, síndrome de Ehlers-Danlos, síndrome de Reiter, estenose subaórtica e defeito do septo interventricular com prolapso da cúspide aórtica |
Outras | • Endocardite infecciosa, degeneração mixomatosa, lesões traumáticas e artrite reumatoide |
Quadro 27 Passo 3: avaliação de sintomas - insuficiência aórtica importante
Sintomas | |
---|---|
Dispneia | Ocorre por aumento da pressão diastólica final secundária à sobrecarga de volume sanguíneo no ventrículo esquerdo, e consequente congestão venocapilar pulmonar |
Angina | Ocorre pela redução da reserva miocárdica. Pode ocorrer angina noturna pelo aumento da regurgitação valvar decorrente da bradicardia durante o sono |
Síncope | Baixo débito cardíaco efetivo |
Quadro 28 Passo 4: avaliação de complicadores - insuficiência aórtica importante
Complicadores | |
---|---|
Ecocardiograma | • Fração de ejeção < 50% • Diâmetro diastólico de ventrículo esquerdo > 70 mm (não reumático) e > 75 mm (reumático) • Diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo > 50 mm (não reumático) e > 55 mm (reumático) • Diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo indexado > 25 mm/m2 |
Tomografia e ressonância magnética | • Fração de ejeção < 50% • Valva bicúspide com indicação de intervenção + raiz da aorta > 45 mm |
Quadro 29 Passo 5: intervenção - insuficiência aórtica importante
Tipo de intervenção | Considerações |
---|---|
Cirurgia (troca valvar) | • Tratamento de escolha • Troca valvar combinada com correção da aorta ascendente, quando indicada |
Implante de bioprótese aórtica transcateter (TAVI) | • Requer estudos que validem a sua indicação |
TAVI: implante de bioprótese aórtica transcateter (da sigla em inglês, transcatheter aortic valve implantation).
Quadro 30 Insuficiência aórtica: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
---|---|---|---|---|
Cirurgia de troca valvar | Sintomas | I B | I B | I B |
Fração de ejeção < 50% | I B | I B | I B | |
Diâmetros ventriculares | IIa B Reumático diâmetro diastólico de ventrículo esquerdo > 75 mm ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo > 55 mm |
IIa C diâmetro diastólico de ventrículo esquerdo > 70 mm ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo > 50 mm ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo indexado > 25 mm/m2 |
IIa B diâmetro diastólico de ventrículo esquerdo >70 mm ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo >50 mm ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo indexado >25 mm/m2 |
|
Ia B Não reumático diâmetro diastólico de ventrículo esquerdo > 70 mm ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo > 50 mm ou diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo indexado > 25 mm/m2 |
||||
Implante valvar transcateter | Sintomático com expectativa de vida > 1 ano com contraindicações/risco proibitivo à cirurgia convencional | IIb C* | - | - |
*Considerar discussão junto ao Heart Team; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
Figura 8 Algoritmo para avaliação da insuficiência aórtica importante. FE: fração de ejeção; DDVE: diâmetro diastólico de ventrículo esquerdo; DSVE: diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo; TAVI: implante de bioprótese aórtica transcateter (da sigla em inglês, transcatheter aortic valve implantation).
A maioria dos casos de insuficiência tricúspide (IT) é funcional/secundária e ocorre pela dilatação progressiva do anel valvar tricúspide. Dentre as causas primárias, destacamos a febre reumática. A correção de valvopatias do lado esquerdo do coração não necessariamente corrige a IT ou impede a sua progressão, principalmente quando o anel valvar é maior do que 40 mm e/ou a regurgitação é de moderada a importante. Nos casos de IT secundária e isolada, o tratamento medicamentoso é preferível e a cirurgia deve ser indicada em casos refratários.
Quadro 31 Passo 1: diagnóstico de insuficiência tricúspide importante
Características da insuficiência tricúspide importante | |
---|---|
Exame físico | • Turgência jugular patológica • Segunda bulha hiperfonética (hipertensão arterial pulmonar) • Sopro sistólico regurgitativo em borda esternal esquerda com sinal de Rivero-Carvallo • Hepatomegalia |
Eletrocardiograma | • Sobrecarga de câmaras direitas • Fibrilação atrial |
Radiografia de tórax | • Sinais de aumento de câmaras direitas • Congestão pulmonar se lesão concomitante do lado esquerdo • Retificação/abaulamento de tronco pulmonar |
Ecocardiograma | • Área do jato ≥ 10 cm2 no interior do átrio direito • Fluxo reverso nas veias hepáticas • Volume regurgitante denso, triangular e pico precoce no Doppler contínuo • Vena contracta≥ 0,7 cm • Diâmetro do anel ≥ 40 mm • Falha de coaptação das cúspides |
Estudo hemodinâmico | • Em caso de dissociação clinicoecocardiográfica • Mensurar real pressão sistólica da artéria pulmonar em casos de falha de coaptação das cúspides |
Ressonância magnética | • Em caso de dissociação clinicoecocardiográfica |
Quadro 32 Passo 2: avaliação da etiologia - insuficiência tricúspide importante
Características etiológicas | |
---|---|
Primária | • Acometimento reumático • Prolapso e degeneração mixomatosa • Lesão actínica por radiação (pós-radioterapia) • Trauma torácico fechado • Endocardite infecciosa • Biopsia endomiocárdica de repetição • Síndrome carcinoide • Congênita (Ebstein) • Eletrodos de marcapasso ou desfibrilador |
Secundária | • Dilatação do ânulo tricúspide (> 40 mm ou > 21 mm/m2) • Doença valvar do lado esquerdo do coração • Fibrilação atrial de longa duração • Hipertensão arterial pulmonar primária • Miocardiopatia de ventrículo direito (isquêmica, displasia arritmogênica, miocárdio não compactado e cardiomiopatia hipertrófica) • Pericardite constrictiva |
Causas raras | • Doenças reumatológicas • Drogas (metissergida/anorexígenos) • Doença de Fabry |
Quadro 33 Passo 3: avaliação de sintomas - insuficiência tricúspide importante
Sintomas | |
---|---|
Dispneia (NYHA II-IV) |
• Na insuficiência tricúspide secundária, decorre da doença do lado esquerdo do coração (congestão venocapilar pulmonar e hipertensão arterial pulmonar) • Dispneia aos esforços e paroxística noturna |
Fadiga | • Principal sintoma • Associada a dor e edema de membros inferiores • Mais comum na insuficiência cardíaca direita |
NYHA: New York Heart Association.
Quadro 34 Passo 4: avaliação de complicadores - insuficiência tricúspide importante
Complicadores | |
---|---|
Ecocardiograma | • Insuficiência tricúspide primária: dilatação progressiva de ventrículo direito |
Quadro 35 Passo 5: tipo de intervenção - insuficiência tricúspide importante
Tipo | |
---|---|
Plástica tricúspide com anel protético | • Tratamento de escolha • Indicações: Abordagem cirúrgica de outra valvopatia na presença de anel tricuspídeo ≥ 40 mm e/ou insuficiência tricúspide moderada a importante Insuficiência tricúspide isolada, refratária ao tratamento clínico, sem contraindicações e de baixo risco cirúrgico • Contraindicações: disfunção sistólica do VD importante |
Troca valvar cirúrgica | • Quando plástica contraindicada • Preferência por prótese biológica |
Implante valvar transcateter | • Sintomas refratários ao tratamento clínico, com contraindicação ou alto risco a tratamento cirúrgico (em estudo) |
VD: ventrículo direito
Quadro 36 Insuficiência tricúspide: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
---|---|---|---|---|
Plástica tricúspide com anel protético | • Abordagem de outra valvopatia e insuficiência tricúspide importante | I C | I C | I C |
• Abordagem de outra valvopatia e anel tricúspide ≥ 40 mm | I C | IIa B | IIa C | |
• Abordagem de outra valvopatia, insuficiência tricúspide importante e sinais de disfunção de ventrículo direito | IIa C | IIa B | IIa C | |
• Abordagem de outra valvopatia, insuficiência tricúspide moderada a importante e/ou anel ≥ 40 mm com pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 70 mmHg | IIa C | IIb C | IIaC | |
• Insuficiência tricúspide importante isolada refratária ao tratamento clínico | IIa C | IIa C | IIa C | |
• Insuficiência tricúspide importante primária assintomática isolada com dilatação ou perda de função progressiva de ventrículo direito | IIb C | IIb C | IIa C | |
Troca valvar cirúrgica | • Insuficiência tricúspide com indicação de abordagem sem possibilidade de plástica | I C | I C | I C |
• Preferência para prótese biológica | I B | - | - | |
Implante valvar tricúspide transcateter | • Refratária ao tratamento clínico, com contraindicação ou alto risco a tratamento cirúrgico (em estudo) | IIb C* | - | - |
*Considerar discussão junto ao Heart Team; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
A estenose tricúspide (ET) é uma complicação infrequente da cardiopatia reumática; quando presente, está associada à doença mitral da mesma etiologia. O tratamento medicamentoso deve ser instituído no paciente sintomático enquanto aguarda procedimento cirúrgico.
Quadro 37 Passo 1: diagnóstico de estenose tricúspide importante
Características de estenose tricúspide importante | |
---|---|
Exame físico | • Estalido de abertura precoce • Primeira bulha hiperfonética • Sopro diastólico em ruflar, com reforço pré-sistólico se paciente em ritmo sinusal em borda esternal esquerda que aumenta com a inspiração • Sinais de congestão sistêmica |
Eletrocardiograma | • Sobrecarga de átrio direito • Fibrilação atrial |
Radiografia de tórax | • Aumento de átrio direito |
Ecocardiograma | • Área valvar tricúspide ≤ 1,0 cm2 • Gradiente diastólico médio átrio direito/ventrículo direito ≥ 5 mmHg • Aumento isolado de átrio direito • Pressure half time tricúspide ≥ 190 ms |
Estudo hemodinâmico | • Casos de dissociação clinicoecocardiográfica • Gradiente diastólico átrio direito/ventrículo direito ≥ 5 mmHg |
Ressonância magnética | • Casos de dissociação clinicoecocardiográfica |
Quadro 38 Passo 2: avaliação da etiologia - estenose tricúspide importante
Características etiológicas | |
---|---|
Reumática | • Causa mais prevalente • Espessamento com retração das cúspides • Acometimento comissural • Frequente em adultos jovens |
Outras | • Endocardite infecciosa • Lúpus eritematoso sistêmico • Síndrome carcinoide • Deformidades congênitas • Mixoma atrial • Lesão actínica (pós-radioterapia) |
Quadro 39 Passo 3: avaliação de sintomas - estenose tricúspide importante
Sintomas | |
---|---|
Fadiga | |
• Principal sintoma | |
• Associada a dor e edema de membros inferiores | |
• Ausência de dispneia | |
• Pode estar associada a palpitações, ascite e sinais de disfunção hepática |
Quadro 40 Passo 4: avaliação de complicadores - estenose tricúspide importante
Complicadores | |
---|---|
Eletrocardiograma | • Fibrilação atrial |
Congestão sistêmica | • Avaliação de comprometimento hepático (elevação de enzimas e alteração do coagulograma) |
Quadro 41 Passo 5: tipo de intervenção - estenose tricúspide importante
Tipo | |
---|---|
Valvuloplastia tricúspide por balão | • Tratamento de escolha • Possível fazer em pacientes com refluxo tricuspídeo moderado • Contraindicado se presença de trombo refratário à ACO e/ou vegetação |
Troca da valva tricúspide | • Opção em caso de impossibilidade de valvoplastia por balão • Preferência por prótese biológica • Preferível se associada à cirurgia para tratamento da valvopatia mitral |
ACO: anticoagulação oral.
Quadro 42 Estenose tricúspide: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
---|---|---|---|---|
Valvuloplastia tricúspide por cateter-balão | • Estenose tricúspide importante isolada, sintomática e sem contraindicações | IIa C | IIb C | - |
• Valvuloplastia mitral por cateter-balão concomitante | I C | I C | - | |
• Valvuloplastia tricúspide por cateter-balão com insuficiência tricúspide importante | III | - | - | |
Troca da valva tricúspide ou plástica (comissurotomia) | • Estenose tricúspide importante sintomática com contraindicação à valvuloplastia tricúspide por cateter-balão | I C | I C | I C |
• Estenose tricúspide importante, isolada e sintomática | IIa C | I C | IC | |
• Prótese biológica | I C | - | - |
SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
Desde as Diretrizes Brasileiras de Valvopatias de 2011, foram publicados dados embasando o uso dos novos anticoagulantes orais (NOACs), inibidores diretos da trombina ou antifator X, em pacientes valvopatas.
Devido ao alto risco de fenômenos embólicos, esses pacientes continuam a apresentar indicação de anticoagulação em diversas situações clínicas. A varfarina segue sendo a principal medicação a ser utilizada. Com relação aos NOACs, é importante ressaltar que não houve trabalhos delineados especificamente para essa população que demonstraram benefício do seu uso para valvopatas. Assim, mantém-se a contraindicação à sua utilização nos grupos de maior risco: EM reumática e prótese mecânica.
Também não se recomenda a aplicação do escore CHA2DS2-VASc em pacientes com valvopatia anatomicamente importante; isso porque essa avaliação subestima o risco em pacientes com escore ≤ 1.
Quadro 43 Anticoagulação - recomendações
Condição clínica | Medicação | SBC | AHA | ESC |
---|---|---|---|---|
Valva nativa com fibrilação atrial | ||||
• Estenose mitral | Varfarina (INR 2,0-3,0) NOACs AAS 200 mg |
I B III C IIb B |
I B - - |
I B III - |
• Demais valvopatias | Varfarina (INR 2,0-3,0) NOACs AAS 200 mg |
I B IIa C IIb B |
I C IIa C - |
I B IIa B - |
• Valva nativa com evento embólico prévio | Varfarina (INR 2,0-3,0) NOACs |
I B III C |
- - |
- - |
Prótese biológica | ||||
• Fibrilação atrial | Varfarina NOACs |
I B IIbC |
I B - |
I C - |
• Ritmo sinusal mitral (6 primeiros meses) |
Varfarina NOACs |
IIb B III |
IIa C - |
IIa C - |
• Ritmo sinusal aórtica (6 primeiros meses) |
Varfarina AAS NOACs |
IIb B IIb C III |
IIa C - - |
IIb C IIb C - |
• Ritmo sinusal mitral (> 6 meses) |
Varfarina AAS NOACs |
III III III |
- - - |
- - - |
• TAVI em fibrilação atrial | Varfarina AAS + clopidogrel NOACs |
I B IIbC IIbC |
- - - |
- - - |
• TAVI ritmo sinusal | Varfarina AAS + clopidogrel (6 meses, seguido por AAS por período indefinido) NOACs |
- III - |
- - - |
- - - |
Prótese mecânica | Varfarina NOACs orais |
I B III B |
I B III B |
I B - |
*Até 3 meses do implante, se baixo risco de sangramento; TAVI: implante de bioprótese aórtica transcateter (da sigla em inglês: transcatheter aortic valve implantation); INR: índice internacional normalizado; NOACs: novos anticoagulantes orais; AAS: ácido acetilsalicílico; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
Quadro 44 Faixa terapêutica para anticoagulação adequada
Condições clínicas | Posição | INR | Classe |
---|---|---|---|
Fibrilação atrial + válvula nativa | Mitral/aórtica | 2,0-3,0 | I |
Fibrilação atrial + prótese biológica | Mitral/aórtica | 2,0-3,0 | I |
Ritmo sinusal + Prótese mecânica | Aórtica | 2,0-3,0 | I |
Ritmo sinusal + Prótese mecânica | Mitral | 2,5-3,5 | I |
Fibrilação atrial + Prótese. mecânica | Mitral/aórtica | 2,5-3,5 | I |
INR: índice internacional normalizado
Consideramos doença multivalvar o acometimento primário de duas ou mais valvas. Portanto, são excluídas dessa classificação valvopatias consequentes à valvopatia primária, como é o caso da IT funcional, consequente à doença mitral.
No Brasil, a doença multivalvar é resultado do acometimento reumático na maioria das vezes. Em idosos, pode acontecer quando há extensa calcificação do aparelho mitral acompanhando doença valvar aórtica degenerativa.
Quadro 45 Passo 1: diagnóstico de doença multivalvar importante
Características de doença multivalvar importante | |
---|---|
Exame físico | • Presença de sopros distintamente caracterizados como mitral e aórtico - insuficiência, estenose ou dupla lesão • Excluir possibilidade de sopro causado por interferência hemodinâmica (ex.: sopro de Austin-Flint) • Excluir possibilidade de valvopatias que são consequências de uma única valvopatia (ex.: IT secundária à doença mitral • Exame físico especialmente importante para definir a predominância de uma das valvopatias |
Eletrocardiograma | • Sobrecarga de câmaras esquerdas, dependendo da valvopatia predominante com sobrecarga sistólica (pressão) ou diastólica (volume) do VE • FA em valvopatias mitrais importantes |
Radiografia de tórax | • Índice cardiotorácico aumentado, especialmente em associação de valvopatias regurgitantes • Sinais de congestão pulmonar • Sinais de sobrecarga do ventrículo direito em lesão mitral estenótica associada |
Ecocardiograma | • Os achados ecocardiográficos variam de acordo com as valvopatias |
Estudo hemodinâmico | • Indicado na dissociação clinicoecocardiográfica |
IT: insuficiência tricúspide; FA: fibrilação atrial; VE: ventrículo esquerdo.
Quadro 46 Passo 2: avaliação da etiologia
Características etiológicas | |
---|---|
Febre reumática | • > 95% dos casos • Típico de pacientes jovens • Frequente evolução extemporânea • Sintomas entre os 20 e 40 anos • Fusão comissural, espessamento de cúspides, frequente dupla disfunção - fisiopatologia complexa • Comprometimento do aparelho subvalvar |
Endocardite Infecciosa | • Insuficiência valvar por destruição do aparelho mitral e/ou aórtico • Infecção metastática aórtica-mitral |
Calcificação do aparelho valvar | • Pacientes idosos ou muito idosos • Associação com valvopatia aórtica aterosclerótica • Calcificação do anel valvar mitral com calcificação caseosa • Ausência de fusão comissural • Relação com calcificação aórtica e coronariana |
Síndrome de Marfan / Ehlers-Danlos |
• Insuficiências valvares mitral e aórtica • Pesquisar acometimento de aorta ascendente |
Quadro 47 Passo 3: avaliação de sintomas
Sintomas | |
---|---|
Dispneia (NYHA II - IV) |
• Principal sintoma • Inicialmente com eventos que aumentam a pressão venocapilar pulmonar • Pode ser acompanhada por palpitações, hemoptise, disfonia, disfagia e tosse • Insuficiência cardíaca direita associada em portadores de hipertensão pulmonar |
Dor precordial | • Especialmente com associação de valvopatia aórtica regurgitante ou estenótica • Pode ser causada por hipertensão pulmonar |
Baixo débito / síncope | • Presente especialmente na associação EAo + IM |
NYHA: New York Heart Association; EAo: estenose aórtica; IM: insuficiência mitral.
Quadro 48 Passo 4: avaliação de complicadores
Complicadores | |
---|---|
Hipertensão pulmonar | • PSAP ≥ 50mmHg em repouso • Mais presente quando há EM associada • Sintomas de insuficiência cardíaca direita • Relação com aumento do risco cirúrgico |
FA de início recente | • Relação com remodelamento do AE |
Aumento de diâmetros ventriculares | • Considerar diâmetros a depender do tipo de lesão valvar |
FA: fibrilação atrial; PSAP: pressão sistólica da artéria pulmonar; AE: átrio esquerdo.
Quadro 49 Passo 5: tipo de intervenção
Tipo | |
---|---|
Valvuloplastia mitral por cateter-balão | • Casos de EM importante com anatomia favorável e valvopatia aórtica moderada |
Tratamento cirúrgico (comissurotomia / troca valvar) | • Cirurgia conservadora da valva mitral quando há predomínio de estenose • Evitar plástica valvar aórtica - frequente recorrência da valvopatia e sintomas, mesmo com bom resultado imediato • Abordagem da valvopatia anatomicamente moderada concomitante à intervenção da valvopatia importante |
EM: estenose mitral.
Quadro 50 Doença multivalvar: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
---|---|---|---|---|
Valvuloplastia mitral por cateter-balão | • Estenose mitral importante sintomática com anatomia favorável e lesão aórtica moderada | I A | - | - |
Tratamento cirúrgico/troca valvar | • Doença multivalvar sintomática | I B | I B | I B |
• Doença multivalvar com complicadores | IIa C | - | - | |
• Abordagem de lesão valvar moderada concomitante ao tratamento de valvopatia importante ou outra cirurgia cardíaca ou de aorta ascendente | IC | IC | IC |
SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
Após cirurgia de troca valvar, os seguimentos clínico e ecocardiográfico periódicos devem ser realizados para a detecção precoce de disfunção de prótese, assim como para a identificação de sintomas e complicadores anatômicos e funcionais secundários.
Novos procedimentos, como tratamento percutâneo de regurgitação paravalvar e valve-in-valve, já são realidade e estão incluídos nas novas Diretrizes.
Quadro 51 Passo 1: diagnóstico de disfunção de prótese valvar importante
Características da disfunção de prótese valvar importante | |
---|---|
Exame físico | • Sinais clínicos conforme o tipo de disfunção de prótese predominante |
Eletrocardiograma | • Alterações condizentes com o tipo de disfunção de prótese predominante |
Radiografia de tórax | • Alterações condizentes com a disfunção de prótese predominante |
Ecocardiograma transtorácico | • Avaliação do tipo de disfunção valvar e confirmação da gravidade da disfunção: espessamento de folhetos calcificação e mobilidade de folhetos redução da área efetiva do orifício gradiente transvalvar regurgitação valvar • Avaliação da disfunção ventricular sistólica • Avaliação evolutiva dos diâmetros das câmaras cardíacas |
Ecocardiograma transesofágico | • Janela inadequada para ecocardiograma transtorácico • Regurgitação paravalvar importante com anatomia favorável para tratamento percutâneo • Indicado quando necessária melhor avaliação anatômica |
Estudo hemodinâmico com manometria | • Necessário nos casos de dissociação clinicoecocardiográfica |
Tomografia de tórax | • Avaliação da aorta |
Quadro 52 Passo 2: avaliação da etiologia - disfunção de prótese valvar importante
Características etiológicas | |
---|---|
Estenose de prótese | • Prótese mecânica: Trombose Pannus • Prótese biológica: Fibrose de folhetos Calcificação de folhetos Mismatch prótese-paciente (área efetiva do orifício indexada ≤ 0,85 cm2/m2) |
Regurgitação de prótese | • Central: Degeneração de folheto (ruptura e perfuração) Calcificação de folheto • Central: Degeneração de folheto (ruptura e perfuração) Calcificação de folheto |
Quadro 53 Passo 3: avaliação de sintomas - disfunção de prótese valvar importante
Sintoma | |
---|---|
Dispneia (NYHA II-IV) |
Fisiopatologia conforme disfunção predominante, determinando congestão venocapilar pulmonar |
NYHA: New York Heart Association.
Quadro 54 Passo 4: avaliação de complicadores - disfunção de prótese valvar importante
Complicadores | |
---|---|
Ecocardiograma | • Progressão de disfunção ventricular sistólica |
• Progressão de remodelamento de ventrículo esquerdo (caso diâmetros iniciais já elevados) | |
• Hipertensão arterial pulmonar | |
• Calcificação importante de bioprótese | |
Anemia hemolítica | • Ocorre em casos de regurgitação importante de prótese valvar, sobretudo se paravalvar |
Quadro 55 Passo 5: tipo de intervenção - disfunção de prótese valvar importante
Tipo | Considerações |
---|---|
Cirurgia (retroca valvar) | • Tratamento de escolha • Indicações: disfunção importante de prótese valvar, com sintomas e/ou anemia hemolítica |
Intervenção por cateter -valve-in-valve | • Disfunção de bioprótese mitral ou aórtica em pacientes sintomáticos e com alto risco para cirurgia ou inoperáveis (após avaliação do Heart Team) |
Oclusão percutânea de regurgitação paravalvar | • Em caso de regurgitação paravalvar importante, associada à anemia hemolítica ou a sintomas de insuficiência cardíaca (classe funcional III-IV), em pacientes com alto risco para cirurgia e anatomia favorável ao procedimento, em centro capacitado |
Quadro 56 Disfunção de prótese valvar: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
---|---|---|---|---|
Retroca valvar cirúrgica | • Disfunção importante de prótese valvar, com sintomas • Anemia hemolítica • Disfunção importante de prótese valvar, assintomática e com baixo risco para cirurgia |
I B IB IIa C |
I B I B IIa C# |
I C I C IIa C |
Oclusão percutânea de regurgitação paravalvar | • Hemólise ou sintomas, com anatomia favorável e alto risco para cirurgia, após avaliação do Heart Team | IIa B | IIa B | - |
Valve-in-valve | • Disfunção importante de bioprótese, em pacientes sintomáticos, com alto risco para cirurgia ou inoperáveis, após avaliação do Heart Team | IIa B | IIa B | IIa C |
#Bioprótese aórtica com regurgitação; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.
A trombose de prótese valvar é evento incomum, sendo mais frequente em próteses mecânicas, principalmente em posição mitral, e cursa com alta morbimortalidade. A manifestação clássica é a insuficiência cardíaca aguda/exacerbada em paciente com anticoagulação ineficaz. As recomendações das Diretrizes internacionais são distintas em relação à conduta e há carência de estudos randomizados. Recentemente, há tendência de priorização da trombólise frente à cirurgia, com base em dados de metanálise fornecidos por 48 estudos. Em geral, procedimento cirúrgico é indicado em casos de trombose de prótese em câmaras esquerdas, com grave repercussão clínica e alto risco de sangramento.
Quadro 57 Passo 1: diagnóstico de trombose de prótese valvar
Características da trombose de prótese | |
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Avaliação clínica | • Sintomas e sinais sugestivos de insuficiência cardíaca aguda/exacerbada • Sopro compatível com valvopatia estenótica • Abafamento do click metálico • Possibilidade de anticoagulação não eficaz (razão normalizada internacional fora da faixa terapêutica) |
Eletrocardiograma | • Compatível com a doença de base que motivou a cirurgia valvar; raramente com alteração aguda |
Radiografia de tórax | • Compatível com a doença de base que motivou a cirurgia valvar; raramente com alteração aguda na silhueta cardíaca; pode ter congestão pulmonar |
Ecocardiograma | • Exame fundamental para diagnóstico; idealmente transesofágico; documentação de trombo aderido à prótese, identificação do local e tamanho da trombose |
Estudo hemodinâmico (fluoroscopia) | • Mobilidade inadequada de um ou mais folhetos da prótese mecânica |
Quadro 58 Passo 2: avaliação da etiologia - trombose de prótese valvar
Características etiológicas | |
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Anticoagulação ineficaz | • Interrupção da anticoagulação |
• Interação medicamentosa/comportamental | |
• Razão normalizada internacional abaixo do alvo terapêutico |
Quadro 59 Passo 3: avaliação de sintomas - trombose de prótese valvar
Sintomas | |
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Dispneia | • Principal sintoma • Distinguir entre discreta piora (classe funcional I) e sintomas mais nítidos (classe funcional II-IV) |
Dor precordial | • Possibilidade de embolia de coronária |
Baixo débito/síncope | • Indicativo de obstrução importante |
Quadro 60 Passo 4: avaliação de complicadores - trombose de prótese valvar
Complicadores | |
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Alto risco de embolização associada a trombólise | • Trombo > 8 mm |
Hipertensão pulmonar | • Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg em repouso • Mais presente quando há estenose mitral associada • Clinicamente - sintomas de insuficiência cardíaca direita • Relação com o aumento do risco cirúrgico |
Fibrilação atrial de início recente | • Relação com o remodelamento importante do átrio esquerdo |
Quadro 61 Passo 5: tipo de intervenção - trombose de prótese valvar
Tipo | |
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Trombólise | • Terapia prioritária • rTPA 10 mg em bolus, seguido por 90 mg em 2 horas • Estreptoquinase 500.000 UI em 20 minutos, seguido de 1.500.000 UI em 10 horas |
Cirurgia valvar | • Reservada para casos com alto risco de complicações hemorrágicas ou embólicas associadas a trombólise |
rTPA: ativador tissular de plasminogênio recombinante (da sigla em inglês, recombinant tissue plasminogen activator)
Quadro 62 Trombose de prótese: recomendações
Intervenção | Condição clínica | SBC | AHA | ESC |
---|---|---|---|---|
Trombólise | • Trombose valvar em câmara direita | IIa B | IIa B | - |
• Trombo pequeno (< 0,8 cm2), NYHA I-III e câmaras esquerdas se houver persistência do trombo após heparinização EV | IIa B | IIa B | - | |
Cirurgia valvar | • NYHA IV e câmaras esquerdas | IB | I B | I C |
• Trombo móvel ou grande (> 0,8 cm2) e câmaras esquerdas | IIa C | IIa C | IIa C (trombo >10mm) |
NYHA: New York Heart Association; EV: endovenosa ; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; AHA: American Heart Association; ESC: European Society of Cardiology.