versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.25 no.2 Rio de Janeiro fev. 2020 Epub 03-Fev-2020
http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232020252.12512018
Os mosquitos do gênero Aedes têm sua origem descrita no velho mundo, muito provavelmente no nordeste da África, tendo sido originalmente descrito no Egito1. São considerados mosquitos cosmopolitas, com ocorrência nas áreas tropicais e subtropicais do globo, estando sempre associado ao domicílio e peridomicílio humano2. Os espécimes de Aedes spp são considerados vetores de diversas arboviroses como a Dengue, Zika, Chikunguya e Febre Amarela3.
A compreensão da dinâmica populacional dos vetores de interesse médico em uma determinada região geográfica, por meio do monitoramento do vetor, permite o melhor planejamento de políticas públicas em saúde3,4. As estratégias para o monitoramento e controle desses insetos são necessárias para amenizar a circulação viral e garantir qualidade de vida à população5.
No Timor-Leste, a dengue é considerada uma importante arbovirose transmitida pelo Aedes aegypti, e os estudos são escassos principalmente sobre o monitoramento do vetor6. Diante dos consecutivos casos de dengue no Timor Leste, a partir de 2014, principalmente no município de Dili, tornou-se importante o planejamento de um programa de monitoramento do vetor, por meio de armadilhas de oviposição (ovitrampa)7.
O uso da ovitrampa é uma técnica segura, barata, rápida, eficiente e que não agride o ambiente8. Essa ferramenta permite determinar a dispersão geográfica, densidade, frequência, ocupação e sazonalidade do vetor9.
No município de Dili, capital do Timor-Leste que está localizada na costa norte da ilha do Timor-Leste e seus municípios limítrofes são Manatuto a leste, Aileu a sul, Liquiçá a oeste, e o mar de Savu a norte, que integra também a ilha de Ataúro. O município está situado na Latitude de 8º33’31"S e Longitude 125º34’25"E. O clima é tropical húmido com temperatura média anual variando entre 26ºC a 32ºC e umidade relativa do ar entre 60% a 74%.
Segundo o censo demográfico do ano de 2010, o município de Dili possuía uma população de 252.884 habitantes e 39.310 domicílios, e uma área de 372 km2. O município de Dili está dividido em seis Postos Administrativos: Dom Aleixo, Vera Cruz, Nain Feto, Cristo Rei, Metinaro e a ilha de Atauro10.
A infusão utilizada nas ovitrampas, foi preparada com 350 gramas de folhas verdes de Acácia (Leucaena leucocephala) colocada em um balde de capacidade de 15L, contendo 2L de água. O balde permaneceu fechado por 48 horas para obter a fermentação das folhas.
Após este período de fermentação, a infusão foi filtrada em um pano limpo e foi utilizada a proporção de 100mL de infusão e 400 mL de água, totalizando de 500 mL por dispositivo de oviposição.
Como substrato para postura de ovos, foi utilizado tecido (80% de algodão e 20% de poliéster, fabricado na China), de cor marrom claro e medindo 12 cm de comprimento por 6 cm de largura. O tecido apresentava um lado liso e outro rugoso, sendo que o lado rugoso ficou exposto para oviposição das fêmeas de Aedes spp.. As paletas foram colocadas verticalmente e presas por um clip no interior do dispositivo.
Foram instaladas 70 armadilhas ovitrampa em 15 sucos (ruas), de quatro Postos Administrativos (Bairro) de Dili. A seleção dos Postos Administrativos para estudo, levou em consideração a disponibilidade dos recursos humanos, sendo selecionados os Posto Administrativo de Dom Aleixo (36 ovitrampas), Cristo Rei (8 ovitrampas), Nain Feto (11ovitrampas) e Vera Cruz (15 ovitrampas). As armadilhas foram alocadas por conveniência nos imóveis, sendo instaladas 64 dispositivos no intradomicílio (47 no quarto, 12 na cozinha, 5 no banheiro) e seis no peridomicilio do imóvel (na varanda). As instalações e vistorias dos dispositivos ficaram a cargo dos alunos da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e.
As ovitrampas foram vistoriados regulamente a cada sete dias, para troca da paleta e infusão durante as 17 semanas de estudo. Para contagem de ovos de Aedes spp. nas paletas, utilizou a estrutura do laboratório do Departamento de Biologia da Faculdade de Educação, Artes e Humanidades da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e.
Os dados meteorológicos de temperatura média, mínima, máxima, precipitação e umidade relativa do ar do município de Dili foram fornecidos pelo Ministério de Obras Públicas do Timor-Leste.
Os ovos coletados nas ovitrampas permitiram calcular o total de ovos de Aedes spp., o Índice de Positividade da Ovitrampas (IPO= Porcentagem de armadilha com ovos de Aedes spp e as armadilhas instaladas), Índice de densidade de ovos (IDO= ovos de Aedes sp e as armadilhas positivas) e o Índice Densidade Vetorial (IDV= ovos de Aedes spp e as armadilhas vistoriadas)11.
Os dados IPO, IDV, IDO e total de ovos de Aedes spp. foram correlacionados com os fatores abióticos (temperatura máxima, média, mínima, precipitação e umidade relativa do ar) através do teste Person. O IDV por Semana Epidemiológica foi submetido ao teste de normalidade de Shapiro-Wilks a 5% de probabilidade, apresentaram distribuição normal e, foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA). As médias entomológicas foram comparadas a posteriori pelo teste de Tukey ao nível de significância p< 0,05.
Os dados foram processados utilizando-se os Programas: IBM SPSS versão 2.4, e os programas Excel e Word da Microsoft® Office 365™.
Durante as 17 semanas de estudo, foram coletados o total de 158.904 ovos de Aedes spp. nos quatro Postos Administrativos: Dom Aleixo, Cristo Rei, Nain Feto e Vera Cruz da capital Dili do Timor-Leste.
A maior proporção de ovos de Aedes spp. (62,5%; 99.317 ovos) foi registrada no Dom Aleixo, seguido de Cristo Rei (16%; 25.396 ovos), Nain Feto (12%; 19.056 ovos) e o Vera Cruz apresentou a menor proporção (9,2%; 14.585 ovos).
A média de ovos de Aedes spp. não apresentou diferença significativa por ambiente de instalação das ovitrampas nas residências de Dili (Anova F(4, 289) = 0,678; p> 0,05) onde no ambiente intradomicíliar representados pelo quarto coletou em média: 129 ovos, na cozinha 141 ovos, no banheiro 146 ovos, e no ambiente peridomicíliar representado pela varanda 134 ovos de Aedes spp..
Através dos indicadores fornecidos pelas ovitrampas, observou que o IDV e IDO apresentaram comportamento semelhante nos quatro Postos Administrativos avaliados, onde o Dom Aleixo variou entre 109,6 a 199,3; Cristo Rei entre 93 a 134,4; Nain Feto variou entre 73,4 a 143,4; e Vera Cruz variou entre 85,5 a 129,4. Ressalta-se o Posto Administrativo Dom Aleixo que apresentou IDO acima de 100 ovos de Aedes spp. durante todo o período experimental e atingindo um pico de 199 ovos na Semana Epidemiológica 43 (Tabela 1).
Tabela 1 Variáveis entomológicas fornecidas pela armadilha ovitrampa na cidade de Dili, Timor-Leste, no período de agosto a dezembro de 2016 (SE 32 a 48).
Semana Epidemiológica | Variáveis Entomológicas | |||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Dom Aleixo | Cristo Rei | Nain Feto | Vera Cruz | |||||||||
IDV | IDO | IPO | IDV | IDO | IPO | IDV | IDO | IPO | IDV | IDO | IPO | |
32 | 116,5 | 116,5 | 100 | 94,9 | 94,9 | 100 | 84,9 | 84,9 | 81,8 | 95,9 | 95,9 | 100 |
33 | 133,9 | 133,9 | 100 | 93 | 93 | 100 | 106,6 | 106,6 | 100 | 93,7 | 93,7 | 100 |
34 | 123,3 | 123,3 | 100 | 105,8 | 105,8 | 100 | 83,6 | 83,6 | 100 | 86,7 | 86,7 | 93,3 |
35 | 129,5 | 129,5 | 97,2 | 95,3 | 95,3 | 100 | 81,5 | 81,5 | 100 | 95,7 | 95,7 | 93,3 |
36 | 109,6 | 109,6 | 100 | 93,1 | 93,1 | 100 | 82,5 | 82,5 | 100 | 93,5 | 93,5 | 93,3 |
37 | 119,8 | 119,8 | 100 | 98,6 | 98,6 | 100 | 82,1 | 82,1 | 100 | 93,5 | 93,5 | 100 |
38 | 141,2 | 141,2 | 100 | 95,3 | 95,3 | 100 | 73,4 | 73,4 | 100 | 94,6 | 94,6 | 100 |
39 | 153,7 | 153,7 | 100 | 106,9 | 106,9 | 100 | 94,4 | 94,4 | 100 | 96,1 | 96,1 | 100 |
40 | 191,3 | 191,3 | 100 | 109,4 | 109,4 | 100 | 106,2 | 106,2 | 100 | 85,5 | 85,5 | 100 |
41 | 191,7 | 191,7 | 100 | 101,5 | 101,5 | 100 | 97,4 | 97,4 | 100 | 112,1 | 112,1 | 100 |
42 | 194,7 | 194,7 | 100 | 99,6 | 99,6 | 100 | 109,2 | 109,2 | 90,9 | 105 | 105 | 100 |
43 | 199,3 | 199,3 | 100 | 108,8 | 108,8 | 100 | 100,2 | 100,2 | 100 | 108,4 | 108,4 | 100 |
44 | 196,3 | 196,3 | 100 | 126,1 | 126,1 | 100 | 99,7 | 99,7 | 100 | 105,5 | 105,5 | 100 |
45 | 190,4 | 190,4 | 100 | 122,9 | 122,9 | 100 | 115,4 | 115,4 | 100 | 105,3 | 105,3 | 100 |
46 | 194 | 194 | 100 | 118,6 | 118,6 | 100 | 133,3 | 133,3 | 100 | 97,5 | 97,5 | 86,7 |
47 | 191 | 191 | 100 | 120,4 | 120,4 | 100 | 138,5 | 138,5 | 100 | 94,8 | 94,8 | 100 |
48 | 182,7 | 182,7 | 100 | 134,4 | 134,4 | 100 | 143,4 | 143,4 | 100 | 129,4 | 129,4 | 100 |
O IDV no município não observou diferença significativa durante o período experimental (Anova, F(17,68)=1,03; p > 0,05) (Figura 1).
Figura 1 Índice de Densidade Vetorial (µ ± erro padrão) de Aedes spp. por semana epidemiológica na cidade de Dili, capital do Timor-Leste, no período de agosto a dezembro de 2016.
O IPO nos Postos Administrativos Dom Aleixo, Nain Feto e Vera Cruz, variaram entre 98,03 a 100%, e o Posto Administrativo Cristo Rei apresentou durante todo o período experimental 100% das armadilhas positivas com ovos de Aedes spp..
Durante o estudo, as temperaturas médias, mínimas e máximas variaram entre 26 e 32ºC, 16 e 24ºC e 28 e 35ºC, respectivamente. Grandes oscilações foram observadas para a precipitação semanal, entre os meses de agosto a setembro (SE 32 a 39) de 2016, ocorreu uma precipitação média de 0,21mm, enquanto durante as semanas epidemiológicas restantes, uma média de 1,53mm de precipitação representando o período chuvoso de outubro a dezembro (Figura 2). A umidade relativa semanal média variou entre 58% e 72%.
Figura 2 Variáveis meteorológicas semanais na cidade de Dili, capital do Timor-Leste, no período de agosto a dezembro de 2016.
A análise de correlação de Pearson, indicou uma relação positiva e significativa entre total de ovos, IDV e IDO com as variáveis de temperatura máxima, média, e mínima, para o período de estudo. Para as variáveis entomológicas fornecidas pela ovitrampa e correlacionada com a umidade relativa do ar e precipitação na mesma semana não foi observada uma correlação significativa. Observa-se que umidade relativa apresentou correlação negativa para IDV, IPO e IDO, e a precipitação para total de ovos e IPO (Tabela 2).
Tabela 2 Correlação Pearson entre as variáveis abióticas em relação total de ovos coletados, IDV, IPO e IDO na cidade de Dili, Timor-Leste, no período de agosto a dezembro de 2016.
Variáveis Abióticas | Variáveis Entomológicas | ||||
---|---|---|---|---|---|
Total de ovos | IDV | IPO | IDO | ||
Coef.Corr. (p) | Coef.Corr. (p) | Coef.Corr. (p) | Coef.Corr. (p) | ||
T | Máx. | 0,907 (<0,0001)* | 0,8736 (<0,0001)* | 0,1876 (0,4708) | 0,8736 (<0,0001)* |
Méd. | 0,805 (<0,0001)* | 0,7954. (0,0001)* | 0,176 (0,4993) | 0,7954. (0,0001)* | |
Mín. | 0,827 (<0,0001)* | 0,7879 (0,0002)* | 0,2178 (0,4011) | 0,7879 (0,0002)* | |
UR | Méd. | 0,369 (0,1444) | (-) 0,2186 (0,3993) | (-)0,3177 (0,2140) | (-)0,2186 (0,3993) |
PP | Méd. | (-)0,2208 (0,3945) | 0,4775 (0,0526) | (-)0,1303 (0,6181) | 0,4775 (0,0526) |
Abreviaturas: T = Temperatura; Máx. = Máxima; Méd. = Média; Mín. = Mínima; UR = Umidade relativa do ar; PP= Precipitação pluviométrica.
*Correlação significativa entre as variáveis
No entanto, os indicadores entomológicos fornecidos pela ovitrampa quando correlacionados com a precipitação pluviométrica, sob o efeito da defasagem de uma, duas, três e quatro semanas, observou que a ação de protelar em duas semanas (r2 = 0,518, p = 0,0332) e três semanas (r2 = 0,5034, p = 0,0394) apresentou correlação positiva significativa para as variáveis IDV e IDO (Tabela 3).
Tabela 3 Correlação Pearson entre a variável meteorológica precipitação em relação total de ovos coletados, IDV, IPO e IDO na cidade de Dili, Timor-Leste, no período de agosto a dezembro de 2016.
Defasagem Semanal | Variáveis Entomológicas | |||
---|---|---|---|---|
Total de ovos | IDV | IPO | IDO | |
Coef.Corr. (p) | Coef.Corr. (p) | Coef.Corr. (p) | Coef.Corr. (p) | |
1 semana | 0,3668 (0,1476) | 0,4321 (0,0832) | (-) 0,0977 (0,7091) | 0,4321 (0,0832) |
2 semana | 0,4113 (0,1010) | 0,518 (0,0332)* | 0,01647 (0,9500) | 0,518 (0,0332)* |
3 semana | 0,3606 (0,1550) | 0,5034 (0,0394)* | (-) 0,129 (0,6218) | 0,5034 (0,0394)* |
4 semana | 0,2253 (0,3847) | 0,1836 (0,4805) | (-) 0,03193 (0,9032) | 0,1836 (0,4805) |
*Correlação significativa entre as variáveis.
A armadilha de oviposição vem sendo empregada em diversos países para o monitoramento de Aedes spp.8,9,11. No município de Dili a ovitrampa revelou-se uma ferramenta com alta sensibilidade para o acompanhamento da infestação do gênero Aedes, proporcionando a obtenção de dados em intervalos curtos (semanais) e de forma continua.
O monitoramento semanal, destacou o Posto Administrativo Dom Aleixo com 62,5% dos ovos coletados em relação aos Postos Administrativos Cristo Rei, Nain Feto e Vera Cruz. O elevado percentual de ovos coletados no Posto Administrativo de Dom Aleixo pode ser atribuído por ser uma área mais urbanizada da cidade de Dili e apresentar crescimento desornado com um sistema de abastecimento de água irregular, provavelmente contribuíram para a maior prevalência de ovos de Aedes spp. nesta área12.
Ao analisarmos os ambientes para instalação das armadilhas de oviposição, não houve constatação de diferenças significativas nas médias de ovos de Aedes spp. coletados nas ovitrampas, instaladas no intradomicílio (quarto, cozinha e banheiro) ou no peridomicílio (varanda). Apesar de não observar uma diferença entre os ambientes analisados, ressalta-se a proporção elevada de fêmeas de Aedes spp. que fazem postura em criadouros dentro dos imóveis. O fenómeno deve-se a más condições das habitações em Dili, moradias construídas com aberturas nas paredes permitindo a livre circulação dos mosquitos do gênero Aedes7. Estes resultados diferem dos achados no Brasil, onde observa-se que as maiorias dos criadouros de Aedes spp. encontram-se no peridomicílio12,13.
O IDV semanal de Aedes spp., fornecidos pela armadilha ovitrampa em Dili (Timor-Leste) não apontou diferenças significativas, com maior e menor infestação, durante o período experimental.
O IPO da ovitrampa permitiu avaliar qualitativamente a presença de Aedes spp., demonstrando que os Postos Administrativos Dom Aleixo, Cristo Rei, Naim Feto e Vera cruz foram similares e variou entre 98 a 100%. O Posto Administrativo Cristo Rei apesar de não ter os maiores IDO e IDV, suas armadilhas ficaram positivas durante todo o experimento. Esse fenômeno de positividade pode estar associado ao comportamento da fêmea de Aedes spp. que não deposita todos os seus ovos em um único criadouro, distribuindo-o em diferentes recipientes13. Este comportamento denominado "oviposição aos saltos" (skip oviposition) permitiu a mesma fêmea depositar os ovos em mais de uma armadilha14.
Os dados de IPO nos Postos administrativos da cidade de Dili, permitiu indicar que as áreas estudadas são de alto risco para transmissão de dengue e outras arboviroses por Ae. aegypti e Ae. albopictus. Segundo a literatura, o indicador IPO igual ou maior que 40% de positividade indica risco de transmissão de arboviroeses11.
O IDO e IDV de Aedes spp. por Posto Administrativo de Dili, variaram de forma semelhante, e na maioria das semanas epidemiológicas foi superior a 100 ovos de Aedes spp. coletados por ovitrampa positiva e inspecionada, respectivamente. Este comportamento dos indicadores IDO e IDV, são atribuídos ao alto índice de infestação populacional de Aedes spp.13,14, encontrados nos Postos administrativos avaliados.
Os altos índices fornecidos pelas armadilhas de oviposição na cidade de Dili, pode estar associado ao crescimento populacional desordenado como consequência da guerra civil que trouxe desequilíbrios na urbanização10. Observa-se que o abastecimento de água na cidade é irregular e a ausência de uma rede coletora de esgoto, onde os resíduos cloacais das residências permanecem em céu aberto, características de ocupação da área urbana que estimulam a proliferação e dispersão do Aedes spp. e outros culicídeos12,13.
Em relação as variáveis abióticas e os índices de infestação de Aedes spp. em Dili, verificou-se que houve uma correlação significativa entre os indicadores IDV, IDO e o número total de ovos de Aedes spp coletados com a temperatura. Não foi observado associação positiva da precipitação na mesma semana epidemiológica e umidade relativa do ar. A precipitação foi correlacionada positivamente com os indicadores IDV e IDO somente quando os dados foram defasados com duas e três semanas. Provavelmente esta desfasagem de tempo permitiu ajustar a variável precipitação em função do ciclo biológico do Ae. Aegypti e Ae albopictus. Esse tempo de duas e três semanas está relacionada com aparecimento de criadouros potências, após o período chuvoso14.
Os dados de correlação positiva com a temperatura que atua como um fator modelador do processo de infestação por Aedes spp estão de acordo com os resultados da literatura especifica15,16, que enfatizou a importância da temperatura sobre a distribuição do Aedes spp.. No Timor-Leste as estações climáticas podem ser divididas em dois períodos, o seco que ocorre entre os meses de maio a outubro e o período chuvoso que ocorre entre os meses de novembro a abril.
As condições climáticas são fatores determinantes da existência e manutenção de Ae. aegypti no meio ambiente16. Desta maneira, a temperatura ideal para o mosquito Ae. aegypti para sua proliferação seria entre 24ºC e 28ºC e a umidade relativa do ar ideal acima de 70%. Nessas condições o Ae. aegypti se reproduz com maior intensidade, aumenta a sua sobrevida, ovipostura, atividade hematofágica e a eficiência da reprodução do vírus em seu interior15. Verifica-se que estes padrões meteorológicos ocorreram durante todo o período experimental na cidade de Dili.
Portanto, o presente estudo sugere a utilização de armadilha de oviposição (ovitrampa) em Dili, Timor-Leste, como um método apropriado de detecção da presença e a variação da densidade populacional de Ae. aegypti em diferentes ambientes. Portanto, o Ministério da Saúde do Timor-Leste poderá utilizar os indicadores fornecidos pela armadilha de oviposição para direcionar as atividades de controle do Aedes spp., permitindo de forma mais eficaz atuar nas áreas de abrangência das armadilhas positivas e nas áreas com valores de IDO e IDV que indiquem risco de transmissão de arboviroses por Aedes spp..