versão On-line ISSN 2317-6431
Audiol., Commun. Res. vol.19 no.3 São Paulo jul./set. 2014
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312014000300006
Em condições de repouso, a respiração de um indivíduo é predominantemente nasal, o que leva ao selamento labial, com raras exceções às situações de exercício, ou condições obstrutivas nasais(1). Este padrão de respiração nasal é o ideal para manter o equilíbrio do sistema estomatognático, incluindo a harmonia das estruturas intra e extrabucais. No entanto, quando a respiração se torna predominantemente bucal, pode afetar a saúde e a vida cotidiana das crianças, principalmente em uma faixa etária de maior desenvolvimento e crescimento(1,2).
A respiração oral leva à introdução de ar frio, despreparado e seco, que insulta a mucosa bucal, nasofaringe e pulmões(1,3).
O termo “respiração oral” pode ser empregado para definir pacientes que substituem o padrão fisiológico de respiração nasal pela respiração predominantemente oral ou mista (nasal e oral). A boca tende a permanecer entreaberta, os lábios predominantemente ressecados, a língua rebaixada e hipotônica, o nariz achatado e as narinas pequenas(4).
Essa mudança no padrão respiratório pode estar associada a várias causas, que, geralmente, têm origem obstrutiva física. Uma das causas mais frequentes da respiração oral é a rinite alérgica, seguida pela hipertrofia das adenoides(5,6).
A prevalência de crianças com respiração oral é alta, oscilando entre 53,35% e 55%(2,5) e requer uma atenção maior do cirurgião-dentista, uma vez que pode causar diversas alterações intra e extrabucais, tais como atresia maxilar, protrusão da arcada dentária superior, mordida cruzada, falta de selamento labial, face alongada, além de outras alterações de ordem geral(7,8).
Dentre as alterações que a respiração oral pode causar na cavidade bucal, estão as patologias, comumente encontradas na criança, como cárie e gengivite. Em relação a essas patologias, existem divergências na literatura, que tentam comprovar uma relação positiva entre o maior acúmulo de biofilme bacteriano, maior susceptibilidade de cárie e maior grau de inflamação gengival, em pacientes respiradores orais(9,10).
Existem poucos estudos na literatura que relacionam a respiração oral à maior prevalência de cárie e à doença gengival em crianças(3,11-16). Um estudo realizou a contagem de streptococcus mutans, principal bactéria relacionada à cárie dentária, e a análise do fluxo salivar em crianças com respiração oral e nasal. Os autores concluíram que o fluxo salivar em respiradores orais foi maior que no grupo controle, formado por respiradores nasais, indicando um mecanismo compensatório pelo ressecamento da mucosa. Além disso, foram encontradas menos imunoglobulinas salivares IgA e IgM anti-streptococcus mutans em respiradores bucais, levando-se a pensar que estes indivíduos têm menos resistência à cárie dentária que os do grupo controle (respiradores nasais). Quanto à contagem do microrganismo, foram detectados números maiores em respiradores orais do que em respiradores nasais, porém, não significativos(16).
Outro estudo encontrou maior número de lesões de cárie iniciais em dentes posteriores, nas crianças que respiravam pela boca. Além disso, os autores não observaram diferenças nos índices de cárie inicial em dentes anteriores, nem na contagem de streptococcus do grupo mutans, e determinaram que os níveis salivares de streptococcus mutans apresentaram-se maiores em crianças respiradoras orais, do que em respiradoras nasais. Porém, esses dados não mostraram diferença em crianças com dentição decídua, o que pode indicar que as alterações causadas pela respiração oral se desenvolvem ao longo do tempo(10).
As crianças com respiração oral tendem a permanecer com a boca entreaberta, produzindo um efeito prejudicial na mucosa e tecidos gengivais. Como a saliva contém fatores que inibem a atividade de cárie, sua diminuição pode acarretar maior risco a essa doença, especialmente se a dieta for cariogênica, podendo levar a piores estados bucais nas crianças que respiram pela boca, constantemente(14).
O fluxo salivar proporciona limpeza mecânica dos resíduos presentes na boca, tais como bactérias não aderentes, restos celulares e restos de comida. Assim, a falta do fluxo salivar resulta em acúmulo desses resíduos e em placa bacteriana, promovendo a acidose bucal e o aumento da microflora, que contribui para o desenvolvimento de cárie. A saliva também possui propriedades reológicas (viscosidade e elasticidade), como resultado da sua composição química, física e biológica, características estas, essenciais para manutenção das condições de equilíbrio da cavidade bucal. A queixa de secura bucal é muito comum em respiradores orais e, normalmente, este sintoma é associado à diminuição do fluxo salivar(3). Esses fatores, em conjunto, também ocasionam inflamação, presença de edema, superfície gengival brilhante e sangramento fácil(14).
Os indivíduos com a boca ressecada, aberta durante o sono, com prevalência dos lábios separados, em repouso, e com diminuição do lábio superior, foram associados com os maiores níveis de placa encontrados(11).
Tanto o odontólogo quanto o fonoaudiólogo precisam ter conhecimento, não apenas dos sintomas, mas das variáveis socioeconômicas e até ambientais que levam a criança à respiração oral.
A grande maioria dos profissionais de saúde não tem conhecimento do impacto que a obstrução das vias aéreas superiores causa no crescimento facial e na saúde geral das crianças. Se não tratada, a respiração oral pode causar face estreita, boca estreita, má oclusão dentária, sorriso gengival e outros problemas de saúde. Crianças com obstrução nasal, geralmente dormem de boca aberta, o que afeta o sono, podendo prejudicar as atividades escolares(3).
Frente à divergência de opiniões sobre o assunto na literatura, o presente estudo teve por objetivo avaliar se os indicadores clínicos de saúde bucal e sociodemográficos de crianças em idade escolar, em fase de dentição mista, estão associados com os principais sinais clínicos indicativos de respiração oral. Esta análise favorece o desenvolvimento das atividades dos diversos profissionais de saúde, como equipe multidisciplinar, focando, tanto na prevenção dos agravos causados pela desordem respiratória, como na melhor identificação desses pacientes.
A metodologia seguiu o proposto pelo manual da Organização Mundial de Saúde (OMS)(17) para levantamentos epidemiológicos, com algumas adaptações propostas pelos autores pesquisados(15).
A população inicial do estudo era constituída por 155 estudantes - estimando-se 10% de recusas de um total de 167 indivíduos necessários para o estudo -, na faixa etária de 8 a 12 anos, matriculados em uma escola estadual do município de Cachoeira do Sul (RS).
A amostra final foi composta por 55 crianças, sem tratamento ortodôntico e que entregaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais, ou responsáveis. Todas as 55 crianças foram examinadas entre os meses de agosto e dezembro de 2012 e suas informações pessoais foram removidas da composição, cumprindo as determinações éticas de pesquisa.
Inicialmente, foi realizado um encontro teórico com quatro duplas de examinadores (estudantes de odontologia e respectivos anotadores), para a discussão dos métodos de cada exame e os códigos a serem anotados na ficha de coleta, seguindo o proposto pela Organização Mundial da Saúde(17) para levantamentos epidemiológicos. Depois, realizado foi realizado um treinamento, composto por exame de 10 estudantes, e a calibração, propriamente dita, com 15 crianças da mesma idade proposta pelo estudo, e obedecendo aos mesmos critérios de inclusão. Tanto o treinamento, quanto a calibração, ocorreram em uma escola municipal de 1ª a 8ª série, do município de Cachoeira do Sul (RS).
Foi calculado o percentual de concordância para o índice de sangramento gengival – ISG e índice de placa visível – IPV. Para o índice de cárie dentária – CPOD/ceo (dentes permanentes e decíduos cariados, perdidos e restaurados), foi calculado o coeficiente Kappa ponderado, para cárie dentária intraexaminador e interexaminador. O Kappa ponderado ficou entre o valor mínimo de 0,66 e o máximo de 0,85.
A identificação dos principais sinais clínicos indicativos de respiração oral crônica foi realizada por uma fonoaudióloga, que classificou cada integrante da amostra em duas categorias: crianças com características de Respirador Oral (RO) ou com características de Respirador Nasal (RN). Os critérios para classificação de um indivíduo com sinais de respirador oral foram: olheiras profundas, musculatura orofacial hipotônica, face longa e estreita, lábios entreabertos e ressecados, lábio superior aparentemente curto, com alteração funcional de fechamento, deglutição atípica, lábio inferior com eversão e volumoso, nariz pequeno, atrofiado, afilado, mandíbula posicionada para trás, com falta de movimento e/ou menor que o tamanho ideal, mento retraído, assimetria facial visível, atresia da maxila, ou formato de “V”(15).
A fonoaudióloga realizou o exame visual das alterações no consultório odontológico, juntamente com o avaliador cirurgião-dentista, que fez as anotações, com luz ambiente e cadeiras dispostas frente a frente. De uma a uma, as crianças ficaram em contato com a fonoaudióloga, que realizou a avaliação das condições físicas, observando a musculatura e a aparência da cavidade oral e facial.
Foram utilizadas luvas de procedimento descartáveis, de látex (Supermax®, Brasil Importadora S/A), máscaras com elástico e gorros (Metalúrgica Fava, São Paulo, Brasil), óculos de proteção incolores (Fênix® EPI’S São Paulo, Brasil) e espátulas de madeira descartáveis, além de um copo simples de vidro (200 ml), contendo água somente até a metade.
A fonoaudióloga inspecionou, com cuidado, a face do paciente em repouso, com postura ereta, bem como da cavidade oral, com auxílio das espátulas de madeira. Após, em frente à criança, a profissional solicitou a ela que tomasse um gole de água e engolisse, sem, no entanto, explicar o motivo, para que a criança não fosse sugestionada.
Para os exames intrabucais, foram utilizadas sondas periodontais preconizadas pela OMS, com esfera de 0,5 mm, odontoscópios e pinças clínicas (Duflex®, São Paulo/Brasil de S.S.WHITE™ Dental Manufacturing, Pensilvânia) autoclavados, luvas de procedimento descartáveis, de látex (Supermax®, Brasil Importadora S/A), máscaras com elástico e gorros (Metalúrgica Fava®, São Paulo, Brasil), além de óculos de proteção incolores (Fênix® EPI’S São Paulo, Brasil). Para as anotações, foram utilizadas pranchetas, lápis, borrachas e a ficha de coleta.
Os exames intrabucais foram realizados por três acadêmicos de odontologia, treinados e calibrados, com o objetivo de determinar o índice de dentes cariados, perdidos e obturados (CPOD/ceod), índice de placa (IP) e índice de sangramento gengival (ISG). Os exames foram realizados no consultório odontológico instalado nas dependências da escola escolhida para o estudo.
Para a determinação do índice CPO/ceo, foram utilizados os critérios propostos pela OMS (1997), sendo o instrumento de coleta de dados uma ficha adaptada, com base no modelo proposto pelo levantamento Saúde Oral (SB) Brasil, 2010(14). Foram empregados códigos recomendados pela OMS, para a avaliação dos dentes decíduos e permanentes.
Os dentes foram examinados por quadrantes, iniciando sistematicamente na seguinte ordenação: 17 a 11; 21 a 27; 37 a 31 e concluindo em 41 a 47. Se permanente e decíduo ocupassem o mesmo espaço, era considerada a condição do permanente.
Para o exame gengival, foi utilizada a sonda periodontal preconizada pela OMS, com esfera de 0,5 mm na ponta. A boca foi dividida em sextantes, sendo examinados, na sequência, os seguintes dentes: 16, 11, 26, 36, 31 e 46. Caso nenhum dos dentes estivesse presente, examinavam-se os correspondentes decíduos, molares ou pré-molares, no final do sextante, ou, no caso de incisivos, o dente correspondente.
Foram examinados seis pontos de cada dente-índice. Os exames iniciaram pela face vestibular, que foi dividida em três terços: distovestibular, vestíbulo-vestibular e mésiovestibular. Após, inspecionou-se a face lingual, seguindo a mesma sequência de regiões da face vestibular: distolingual, vestíbulo-lingual e mésiolingual. A sonda periodontal foi introduzida levemente inclinada, com relação ao longo eixo do dente no sulco gengival. O tempo de resposta aguardado após a sondagem seguiu o preconizado pelo estudo SB Brasil, que utiliza o tempo de dez a 30 segundos de espera. Os códigos e critérios para o exame periodontal também foram os preconizados pelo SB Brasil 2010(14) com algumas adaptações.
Por meio de um questionário elaborado especificamente para este estudo e aplicado aos pais ou responsáveis pelas crianças, foram obtidas informações de renda familiar, número de pessoas na casa e escolaridade da mãe.
Os dados foram tabulados e analisados utilizando-se o pacote estatístico Stata 12.0. Foram realizadas análises descritivas e aplicados os testes estatísticos de Fischer e Qui-quadrado, com nível de significância de 5%, para verificação da associação entre as variáveis expositivas e o desfecho do estudo.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Luterana do Brasil, por meio da Plataforma Brasil, e aprovado sob parecer número 183.939.
Todas as crianças que tiveram diagnóstico positivo para respirador oral e/ou para cárie dentária foram devidamente orientadas a procurar o tratamento necessário, por intermédio de comunicação aos pais ou responsáveis.
A prevalência de respiração oral encontrada no estudo foi de 29,9%, número considerado inferior aos 53,35% e 55%, descritos na literatura(2,5). Quanto às informações clínicas de saúde bucal, 61,8% das crianças avaliadas apresentaram, pelo menos, um dente cariado, perdido ou obturado, sendo decíduo e/ou permanente. Quanto ao exame gengival, 67,3% das crianças não apresentaram nenhuma face com sangramento (Tabela 1).
Tabela 1 Descrição das crianças avaliadas no estudo
n | % | |
---|---|---|
Gênero | ||
Masculino | 26 | 47,3 |
Feminino | 29 | 52,7 |
Idade (anos) | ||
8-9 | 30 | 54,5 |
10 | 12 | 21,8 |
11-12 | 13 | 23,6 |
Escolaridade da mãe (anos) | ||
0-4 | 5 | 10,4 |
5-8 | 23 | 47,9 |
>9 | 20 | 41,7 |
Renda familiar (em tercis) | ||
1º tercil (renda mais baixa) | 31 | 56,3 |
2º tercil | 6 | 10,9 |
3º tercil (renda mais alta) | 18 | 32,7 |
Número de habitantes por residência | ||
1- 3 | 11 | 20,0 |
4 | 19 | 34,6 |
5 ou mais | 25 | 45,4 |
Cárie dentária | ||
CPOD mais ceod = 0 | 21 | 38,2 |
CPOD mais ceod ≥ 1 | 34 | 61,8 |
Doença periodontal | ||
Índice de Sangramento Gengival = 0 | 37 | 67,3 |
Índice de Sangramento Gengival ≥1 | 18 | 32,7 |
Respiradores orais | 16 | 29,9 |
Respiradores nasais | 39 | 70,9 |
Nos dados referentes a dentes cariados, perdidos e obturados, tanto na dentição permanente, quanto na decídua, medidos pelo CPOD e ceod, respectivamente, observou-se predomínio do componente cariado, confirmando o levantamento epidemiológico do Ministério da Saúde no Brasil, em 2010(14), onde a cárie se sobressaiu aos demais componentes do CPOD/ceod. Também em conformidade com o esse levantamento, os dentes decíduos se apresentaram mais cariados do que os dentes permanentes. Esses dados são importantes, pois podemos relacioná-los ao baixo acesso da população aos serviços de saúde bucal e à pouca importância que ainda é dada aos dentes decíduos (Tabela 2).
Tabela 2 Descrição das variáveis clínicas de saúde bucal das crianças avaliadas
n | Média | Desvio padrão | Mínimo | Máxima | |
---|---|---|---|---|---|
Cárie Permanente - CPOD | 55 | 0,60 | 1,20 | 0 | 6 |
Componente cariado | 55 | 0,53 | 1,17 | 0 | 6 |
Componente restaurado | 55 | 0,07 | 0,26 | 0 | 1 |
Componente perdido | 55 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Cárie decíduo – ceod | 55 | 1,47 | 1,94 | 0 | 7 |
Componente cariado | 55 | 1,20 | 1,68 | 0 | 6 |
Componente restaurado | 55 | 0,02 | 0,14 | 0 | 1 |
Componente perdido | 55 | 0,25 | 0,95 | 0 | 6 |
Cárie decíduo e permanente ceo+CPO | 55 | 2,07 | 2,60 | 0 | 12 |
Componente cariado | 55 | 1,72 | 2,16 | 0 | 9 |
Componente restaurado | 55 | 0,09 | 0,29 | 0 | 1 |
Componente perdido | 55 | 0,25 | 0,95 | 0 | 6 |
Dentes com sangramento gengival – arcada superior e inferior | 55 | 0,60 | 0,97 | 0 | 4 |
Dentes com sangramento gengival – arcada superior | 55 | 0,24 | 0,47 | 0 | 2 |
Dentes com sangramento gengival - arcada inferior | 55 | 0,36 | 0,62 | 0 | 2 |
Dentes com placa visível – arcada superior e inferior | 55 | 1,53 | 1,76 | 0 | 6 |
Dentes com placa visível – arcada superior | 55 | 0,78 | 1,10 | 0 | 3 |
Dentes com placa visível – arcada inferior | 55 | 0,75 | 0,99 | 0 | 3 |
Medidas de frequência da amostra nas diferentes variáveis avaliadas no estudo (Stata 12.0).
Quanto aos aspectos socioeconômicos, ficou evidente a inexistência de associação entre os respiradores orais e as variáveis avaliadas no estudo (Tabela 3).
Tabela 3 Relação entre as variáveis expositivas do estudo e a respiração bucal
Respirador oral | Valor de p | ||
---|---|---|---|
Sim n (%) | Não n (%) | ||
Gênero | 0,553* | ||
Masculino | 9 (34,62) | 17 (65,38) | |
Feminino | 7 (24,14) | 22 (75,86) | |
Idade (anos) | 0,615** | ||
8-9 | 8 (26,67) | 22 (73,33) | |
10 | 5 (41,67) | 7 (58,33) | |
11-12 | 3 (23,08) | 10 (76,92) | |
Escolaridade da mãe (anos) | 0,451** | ||
0-4 | 1 (20,00) | 4 (80,00) | |
5-8 | 4 (17,39) | 19 (82,61) | |
>9 | 7 (35,00) | 13 (65,00) | |
Renda familiar (em reais) | 0,614** | ||
Primeiro tercil | 11 (35,48) | 20 (64,52) | |
Segundo tercil | 1 (16,67) | 5 (83,33) | |
Terceiro tercil | 4 (22,22) | 14 (77,78) | |
Número de pessoas na casa | 0,053** | ||
1- 3 | 3 (27,27) | 8 (72,73) | |
4 | 2 (10,53) | 17 (89,47) | |
5 ou mais | 11 (44,00) | 14 (56,00) | |
Cárie dentária | 1,000* | ||
CPOD mais ceod = 0 | 6 (28,57) | 15 (71,43) | |
CPOD mais ceod ≥ 1 | 10 (29,41) | 24 (70,59) | |
Doença periodontal | 1,000* | ||
Índice de sangramento gengival = 0 | 11 (29,73) | 26 (70,27) | |
Índice de sangramento gengival ≥1 | 5 (27,78) | 13 (72,22) | |
Placa visível | 0,223* | ||
Índice de placa visível =0 | 8 (40,00) | 12 (60,00) | |
Índice de placa visível ≥1 | 8 (22,86) | 27 (77,14) |
*Valores significativos (p<0,05) – Teste de Fisher** Valores significativos (p<0,05) – Teste Qui-quadrado
A escolaridade materna prevaleceu entre 5 e 8 anos de estudo (47,9%) e a maioria da amostra (56,3%) apresentou uma renda familiar pertencente ao o primeiro tercil (menor renda), dentre uma divisão composta por três tercis. Quanto ao número de moradores nos domicílios, o estudo encontrou o número dominante de 5 ou mais moradores por residência (45,4%), em comparação com 1 a 3 moradores e 4 moradores.
A respiração oral crônica é um sintoma frequente na infância e sua prevalência tem sido demonstrada em diferentes estudos, variando entre 53,3% a 55,0%(2,5,18), nas crianças em idade escolar. A prevalência elevada destes pacientes implica na necessidade de melhor observação dos sinais e sintomas, pelo fonoaudiólogo e pelo dentista, entre outros profissionais de saúde, pois a falta de diagnóstico precoce pode levar à piora das sequelas e até à redução na qualidade de vida da criança.
O presente estudo encontrou 29,9% de crianças com sinais clínicos, característicos da síndrome do respirador oral, dentre uma amostra de 55 crianças em idade escolar (8 a 12 anos), menor prevalência, quando comparada com a literatura(2,5). Isto pode estar relacionado à seleção não aleatória da amostra do estudo, sendo essa uma limitação da pesquisa, que pode ter levado a um resultado aquém do esperado para crianças com respiração oral.
Também há que se considerar que o método de avaliação da sintomatologia da respiração oral realizado, que seguiu o preconizado pela literatura pesquisada(15), pode ter sido muito restritivo, quanto à identificação dos sinais positivos de respiração oral.
Estudo recente encontrou maior número de lesões de cárie iniciais em dentes posteriores, para crianças que respiravam pela boca. Nesse mesmo estudo, não foram verificadas diferenças nos índices de cárie inicial em dentes anteriores, nem na contagem de streptococcus do grupo mutans. Os autores determinaram que os níveis salivares de streptococcus mutans foram maiores em crianças respiradoras orais do que em respiradores nasais(12).
Dentre os achados do presente estudo, foi encontrada uma prevalência de 70,59% de respiradores nasais com cárie e 29,41% de sintomáticos de respiração oral com cárie. No grupo de sintomáticos, composto por 16 crianças, 62,5% (10 crianças) apresentavam cárie dentária e no grupo de respiradores nasais (39 crianças), 61,53 % (24 crianças), o que torna verdadeira a observação de que crianças com possível diagnóstico de respiração oral têm mais cárie dentária do que crianças com respiração nasal, porém sem significado estatístico. Tal resultado se mostrou em concordância com outro estudo, que avaliou 63 estudantes com dentição mista(15).
Quanto à presença de placa visível, 22, 86% do grupo com sinais positivos de respirador oral apresentou, pelo menos, uma face com placa visível e no grupo respirador nasal, 77,14%, também não havendo diferença entre os respiradores orais e nasais. Estudo semelhante encontrou maior presença de placa em respiradores orais de 10 a 12 anos, na região de dentes anteriores, divergindo do presente estudo(15). Porém, o método de avaliação, a partir de dentes-índices, segundo o SB Brasil 2010(17), é diferente do utilizado pelos autores, com menos dentes anteriores. Já quanto à presença de sangramento gengival, os respiradores orais apresentaram índice de 5 (27,78%) ≥1 e os respiradores nasais 13 (72,22%), concordando com a literatura vigente(15).
Em um estudo caso-controle, 30 indivíduos com idade entre 18 e 22 anos, diagnosticados como respiradores orais, e outros 30 indivíduos da mesma idade, considerados respiradores nasais, foram submetidos a testes para avaliar as condições de saúde bucal, incluindo: cárie, higiene bucal, índice gengival, alterações físicas da saliva e contagem de streptococcus mutans. Os autores concluíram que o grupo de pacientes respiradores orais apresentou mais placa do que o grupo controle, assim como maior contagem de streptococcus mutans. O grupo caso também obteve resultados de taxa de fluxo salivar menor que o grupo de respiradores nasais e pH menor (mais ácido), conforme descrito pela literatura(3).
Quanto aos fatores socioeconômicos, apenas um estudo relacionando a respiração oral ao padrão de vida familiar foi identificado na literatura. Os autores destacaram que, quanto maior o grau de escolaridade do pai e da mãe, menor o percentual de respiração oral, porém, sem diferença significativa. Os autores também constataram que não houve associação entre a respiração oral e as variáveis socioeconômicas e demográficas estudadas, ou seja, a escolaridade dos pais, separação dos pais, número de pessoas que moravam na casa, assistência médica da família, número de cômodos da casa e responsáveis pela criança(8).
A grande maioria das famílias do estudo pertencia ao primeiro tercil de renda (renda baixa) e 89,6% das mães tinham cinco ou mais anos de estudo. No entanto, essas variáveis não apresentaram associação, quando relacionadas ao grupo dos sintomáticos respiradores orais. Houve uma tendência à associação entre o grupo dos possíveis respiradores orais e a variável “número de pessoas que moravam na mesma casa”, na categoria cinco ou mais habitantes. Quanto maior o número de habitantes da residência, maior a tendência de haver uma criança respiradora oral (68,75%), porém sem diferença significativa.
Com os dados obtidos e a metodologia aplicada, pode-se concluir que não houve associação, quando comparados o índice CPOD/ceod, índice de placa visível, sangramento gengival, escolaridade da mãe, gênero, idade, renda familiar e número de pessoas na casa, com as crianças identificadas como possíveis respiradores orais crônicos.