versão impressa ISSN 1414-462Xversão On-line ISSN 2358-291X
Cad. saúde colet. vol.26 no.4 Rio de Janeiro out./dez. 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1414-462x201800040375
The investigation of child deaths performed through specific files, contributes to the availability of information on the occurrence of such events. Assessments on these instruments are scarce in the country, limiting the use of such information in the development of public policies aimed at reducing child mortality.
To evaluate the completeness of variables in child death investigation records by mortality age group, in the city of Recife, Pernambuco, Brazil.
The completion of 183 child deaths investigation records was analyzed, mainly of mothers living in this capital, by the proportion of ignored or blank fields of the 123 variables contained in seven blocks of the research records and by age group (early neonatal, late neonatal, and post-neonatal).
The average of overall file completion was 85.5% (regular), with higher completeness in the neonatal component, late (88.4%) as early (85.9%) and worse in the post-neonatal period (80.7%). The identification of variable blocks had the highest completeness (98.3% = excellent), while the care of children and previous diseases was the lowest (68.6% = poor).
There is a regular completeness of variables in child death investigation records; however, the essential information to clarify death circumstances was poorly completed.
Keywords: child mortality; vital statistics; health evaluation; epidemiological surveillance
A mortalidade infantil é um indicador clássico reconhecido por expressar o nível de vida de uma população. Apesar das dificuldades de obtenção de estimativas fidedignas, a taxa de mortalidade infantil (TMI) tem sido amplamente utilizada na avaliação do perfil de saúde materno e infantil devido à influência direta dos fatores socioambiental, econômico e de saúde 1 .
O Brasil tem apresentado avanços contínuos na diminuição da TMI, com declínio de 50% em 20 anos (1996-2016). Todas as regiões brasileiras reduziram os óbitos infantis, tendo como destaque o Nordeste, onde foi observada uma queda de 51,1%, superior à encontrada no país no mesmo período. No Estado de Pernambuco, registrou-se uma diminuição de 64%, passando de 38,6 óbitos infantis por 1.000 nascidos vivos (NV), em 1996, para 13,9/1.000 NV, em 2016. Durante esses anos, no Recife, também foi verificada uma queda de 55,2% (de 26,6/1.000 NV para 16,5/1.000 NV), sendo mais expressiva no componente pós-neonatal (28 a 365 dias), com declínio de 43,2% 2,3 .
Com o propósito de contribuir para a prevenção das mortes de crianças e a qualificação da assistência à saúde, implantou-se no Brasil a vigilância dos óbitos infantis (VOI) 4,5 . A VOI foi regulamentada em 2010 seguindo a mesma perspectiva das auditorias de mortalidade realizadas internacionalmente 5-7 . Por meio dessa estratégia, reconstitui-se o percurso assistencial da mulher e da criança com base no resgate de informações sobre o período pré-gestacional e gestacional, parto, puerpério e puericultura 6,8,9 . O processo de operacionalização da VOI envolve a identificação dos óbitos, a aplicação dos critérios de inclusão e de exclusão, a investigação epidemiológica, o resumo, a discussão e a conclusão do caso, a análise da evitabilidade, a identificação dos problemas e das medidas de prevenção e de intervenção necessárias 6 .
A investigação dos óbitos infantis é realizada utilizando fichas específicas, cuja qualidade das informações depende do preenchimento legível, adequado e consistente dos prontuários hospitalares e ambulatoriais, dos registros médicos dos serviços de necropsia e da efetividade das entrevistas domiciliares. A coleta de dados completa e precisa favorece a compreensão da cadeia de eventos que contribui para a ocorrência do óbito 8,10,11 .
As avaliações sobre as investigações do óbito infantil são escassas no país, sobretudo aquelas sobre a completitude das fichas de investigação. As pesquisas que tratam do tema frequentemente abordam o perfil epidemiológico e a evitabilidade das mortes por meio da análise das declarações de nascidos vivos e de óbitos ou inquéritos populacionais 12,13 .
Para enfrentar o desafio da redução dos óbitos infantis, é necessário dispor de informações válidas e confiáveis que possam subsidiar a análise dos fatores associados à mortalidade nesse grupo etário. Diante da magnitude do problema, a avaliação da qualidade do sistema de vigilância do óbito infantil se torna necessária para que esse importante instrumento de pesquisa venha a ser utilizado como fonte de dados que subsidiem a elaboração de políticas públicas de saúde e estratégias efetivas direcionadas à redução dos óbitos infantis. Este estudo teve por objetivo avaliar o grau de preenchimento das variáveis da ficha de investigação dos óbitos infantis por componente etário da mortalidade no Recife, Pernambuco, Brasil, em 2014.
Trata-se de um estudo transversal realizado no Recife-PE, situado na região Nordeste do Brasil, cidade que, no ano de 2014, possuía 1.608.488 habitantes distribuídos em uma extensão territorial de 218 km quadrados 14 . Recife divide-se em 94 bairros aglomerados em 6 distritos sanitários (DS). O índice de desenvolvimento humano (IDH) do município é de 0,772, conferindo-lhe o 2º melhor resultado no Estado de Pernambuco 15 .
A rede básica de saúde própria do Recife é composta por 122 unidades de saúde da família (USF) e 268 equipes da estratégia saúde da família (ESF). A cobertura da ESF representa 48,4%. Há 3 unidades de pronto atendimento (UPINHAS/USF) que integram a atenção às urgências, 7 unidades de saúde especializadas, 28 equipes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), 22 unidades básicas tradicionais de saúde e 20 núcleos de apoio à saúde da família (NASF), distribuídos no território dos DS. No que se refere à assistência materno-infantil, a rede de atenção à saúde também é constituída por 3 maternidades e 1 hospital pediátrico 15 .
A fonte de dados foi constituída pelas fichas de investigação dos óbitos de menores de 1 ano, à época do estudo, disponibilizadas pelos 6 distritos sanitários (DS) da cidade do Recife, para a elaboração do banco de dados utilizado na realização da pesquisa.
O processo de investigação e de discussão dos óbitos infantis é composto por quatro componentes e envolve a participação multiprofissional e a gestão de diversos setores, como membros da assistência à saúde e equipes de vigilância do nível central, municipal e dos DS. No primeiro componente (identificação dos óbitos infantis), as equipes da ESF e do PACS nas áreas cobertas realizam a validação do endereço da mãe, elegendo os residentes para a investigação.
No segundo componente (investigação epidemiológica), são identificadas as circunstâncias que favoreceram o óbito. Os profissionais da atenção primária e/ou da vigilância dos DS são responsáveis pela consulta aos prontuários ambulatoriais e pelas entrevistas domiciliares, enquanto as investigações hospitalares são atribuídas à equipe da vigilância dos DS e do Núcleo de Epidemiologia Hospitalar. Os serviços de necropsia são verificados pela equipe da vigilância do nível central do município.
No terceiro componente, ocorre a discussão dos casos dos óbitos e a avaliação da influência do setor saúde na ocorrência das mortes. Essa etapa é promovida pelo grupo técnico gestor da vigilância, composto pelo coordenador da vigilância do óbito dos DS, pelas equipes da ESF e do PACS, pelos profissionais dos hospitais envolvidos na atenção à gestante e à criança. Para encerrar o processo de investigação, é elaborado e enviado um relatório com propostas para as áreas específicas de promoção e atenção à saúde e correção das estatísticas oficiais de mortalidade infantil 8,12 .
Em 2014, foram registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) 280 óbitos infantis de mães residentes no Recife, dos quais 76 (27,1%) foram excluídos da investigação por apresentarem malformação congênita, sendo a investigação destes facultativa, devido ao seu menor potencial de evitabilidade. Dos 204 óbitos elegíveis para investigação, 21 óbitos não foram investigados, representando uma perda de 10,3%. Esse fato foi relacionado aos seguintes motivos: 10 (4,9%) óbitos não possuíam informação sobre o endereço de residência da mãe, ou houve recusa da família em participar da investigação, ou não foi possível localizar o prontuário hospitalar. Os 11 (5,4%) óbitos remanescentes tiveram a ficha extraviada, impedindo a sua localização e utilização na pesquisa. As fichas de investigação dos 183 (89,7%) óbitos restantes (94 neonatais precoces, 50 neonatais tardios e 39 pós-neonatais) foram analisadas.
Os óbitos infantis ocorridos em 2014 foram, em sua quase totalidade, hospitalares, representando 174 (95,1%), somados a 1 (0,5%) ocorrido no domicílio e 8 (4,4%) em outros estabelecimentos de saúde. Desse total, 147 (80,3%) óbitos resultaram de parto prematuro. Em relação ao tipo de parto, 112 (61,2%) nasceram de parto vaginal, e 70 (38,3%), cesáreo.
No Recife, a ficha de investigação dos óbitos infantis foi adaptada ao contexto local e contempla todas as variáveis obrigatórias de monitoramento pelo Ministério da Saúde. Esta ficha é composta por variáveis relacionadas com: (i) a identificação da criança e da mãe, (ii) as características da família, (iii) os dados da gestação, (iv) do pré-natal, (v) do nascimento, (vi) da puericultura, (vii) do atendimento ambulatorial e hospitalar à gestante e à criança, e (viii) a ocorrência do óbito 8 .
Foram selecionadas 123 variáveis estruturadas (fechadas) e de múltipla escolha pertencentes a 7 blocos da ficha com dados da identificação (8), características da família (13), pré-natal (20), parto e nascimento (21), puericultura e doenças anteriores (17), ocorrência do óbito (11) e conclusões da investigação (33).
As variáveis foram codificadas e digitadas com dupla entrada de dados para validação (validate), checagem automática e análise de inconsistência para reduzir os possíveis erros, utilizando o programa Epi Info, versão 6.04d.
A completitude das variáveis foi analisada, segundo componentes etários, por meio da classificação da proporção de campos ignorados e em branco, considerando o sistema de escore: excelente (menos de 5% de preenchimento incompleto); bom (5 a 9,9%); regular (10 a 19,9%); ruim (20 a 49,9%) e muito ruim (50% ou mais) 16 .
Foi empregada estatística descritiva com distribuição das frequências absoluta e relativa, medida de tendência central (média) da completitude por blocos de variáveis entre os componentes etários da mortalidade. Aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis para verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas nas proporções de completitude das variáveis entre as fichas de cada componente etário do óbito. Foi adotado o nível de significância de 5%. As análises foram realizadas no software R, versão 3.5.0 for Windows®.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (CEP/CCS/UFPE) (Parecer nº 1.702.600), em 30 de agosto de 2016, e obteve anuência da Secretaria de Saúde do Recife (PE).
A média de preenchimento das variáveis das 183 fichas analisadas foi de 85,5% (regular) para todos os óbitos infantis e componentes etários, com melhor completitude no neonatal tardio (88,4%) e pior no pós-neonatal (80,7%). Verificou-se que apenas o bloco de variáveis das “características da família” apresentou significância estatística (p<0,05) na análise da diferença da proporção de completitude entre os componentes etários ( Tabela 1 ).
Tabela 1 Grau de preenchimento por bloco de variáveis da ficha de investigação do óbito infantil por componente etário, Recife-PE, Brasil, 2014
Blocos |
Neonatal precoce |
Neonatal tardio |
Pós-neonatal | Óbito infantil | p-valor* | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
média | Cl* | média | Cl* | média | Cl* | média | Cl* | ||
Identificação | 97,6 | E | 99,5 | E | 98,4 | E | 98,3 | E | 0,37 |
Características da família | 71,0 | R | 76,7 | R | 64,7 | R | 71,0 | R | 0,01 |
Pré-natal | 80,7 | RE | 82,7 | RE | 72,4 | R | 79,5 | R | 0,17 |
Parto e nascimento | 86,6 | RE | 87,0 | RE | 77,4 | R | 84,8 | RE | 0,31 |
Puericultura e doenças anteriores | NA | - | NA | - | 68,6 | R | 68,6 | R | NA |
Ocorrência do óbito | 86,3 | RE | 91,1 | B | 90,2 | B | 88,4 | RE | 0,89 |
Conclusões da investigação | 93,2 | B | 93,2 | B | 92,9 | B | 93,2 | B | 0,73 |
Total | 85,9 | RE | 88,4 | RE | 80,7 | RE | 85,5 | RE |
Nota: Cl* = classificação; NA = não aplicado; E = excelente; B = bom; RE = regular; R = ruim; *Teste de Kruskal-Wallis
Entre os dados da “identificação”, todas as variáveis tiveram preenchimento excelente, exceto raça/cor da mãe (bom), sendo o componente neonatal tardio o que teve melhor preenchimento. No bloco “características da família”, 100% das variáveis foram classificadas como ruim. No componente pós-neonatal, verificou-se, nas variáveis fonte de abastecimento de água, destino do lixo e destino dos dejetos, completitude de 69,2, 66,7 e 64,1%, respectivamente ( Tabela 2 ).
Tabela 2 Preenchimento das variáveis relacionadas à notificação, à identificação e às características da família da ficha de investigação do óbito infantil segundo componente etário, Recife-PE, Brasil, 2014
Variáveis | Neonatal precoce | Neonatal tardio | Pós-neonatal | Óbito Infantil | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | |
Identificação | ||||||||
Momento do óbito | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Idade da criança | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Sexo da criança | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Raça/cor da criança | 89 (94,7) | B | 49 (98,0) | E | 38 (97,4) | E | 176 (96,2) | E |
Idade da mãe | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Raça/cor da mãe | 85 (90,4) | B | 49 (98,0) | E | 36 (92,3) | B | 170 (92,9) | B |
Escolaridade | 92 (97,9) | E | 50 (100,0) | E | 38 (97,4) | E | 180 (98,4) | E |
Situação conjugal | 92 (97,9) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 181 (98,9) | E |
Características da família | ||||||||
Seguro privado de saúde | 63 (67,0) | R | 38 (76,0) | R | 23 (59,0) | R | 124 (67,8) | R |
Renda familiar mensal | 63 (67,0) | R | 36 (72,0) | R | 25 (64,1) | R | 124 (67,8) | R |
Nº de pessoas no domicílio | 71 (75,5) | R | 39 (78,0) | R | 26 (66,7) | R | 136 (74,3) | R |
Nº de crianças < de 5 anos | 48 (51,1) | R | 35 (70,0) | R | 23 (59,0) | R | 106 (57,9) | R |
Nº de cômodos usados como dormitório | 65 (69,1) | R | 39 (78,0) | R | 24 (61,5) | R | 128 (69,9) | R |
Tipo de moradia | 72 (76,6) | R | 39 (78,0) | R | 25 (64,1) | R | 136 (74,3) | R |
Material predominante da moradia | 71 (75,5) | R | 40 (80,0) | R | 26 (66,7) | R | 137 (74,9) | R |
Fonte de abastecimento de água | 72 (76,6) | R | 41 (82,0) | RE | 27 (69,2) | R | 140 (76,5) | R |
Destino dos dejetos | 72 (76,6) | R | 38 (76,0) | R | 25 (64,1) | R | 135 (73,8) | R |
Destino do lixo | 72 (76,6) | R | 39 (78,0) | R | 26 (66,7) | R | 137 (74,9) | R |
Acesso aos serviços de saúde | 68 (72,3) | R | 40 (80,0) | R | 26 (66,7) | R | 134 (73,2) | R |
Disponibilidade de consultas | 64 (68,1) | R | 36 (72,0) | R | 25 (64,1) | R | 125 (68,3) | R |
Quem cuidava da criança | NA | - | NA | - | 27 (69,2) | R | 27 (69,2) | R |
Nota: Cl* = classificação; NA = não aplicado; E = excelente; B = bom; RE = regular; R = ruim
No bloco “pré-natal”, a completitude mais baixa foi observada nas variáveis altura da mãe e peso gestacional (31,7% = muito ruim). O componente neonatal precoce apresentou completitude ruim nas variáveis exames complementares (78,7%) e tratamento (67%). Quanto ao bloco “parto e nascimento”, a melhor completitude foi identificada na variável peso ao nascer (100%), sendo o componente neonatal tardio o que teve melhor preenchimento ( Tabela 3 ).
Tabela 3 Preenchimento das variáveis relacionadas ao pré-natal, parto e nascimento da ficha de investigação do óbito infantil segundo componente etário, Recife-PE, Brasil, 2014
Variáveis |
Neonatal precoce |
Neonatal tardio |
Pós-neonatal | Óbito infantil | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | |
Pré-natal | ||||||||
Realização | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 36 (92,3) | B | 180 (98,4) | E |
Tipo de unidade | 87 (92,6) | B | 45 (90,0) | B | 35 (89,7) | B | 167 (91,3) | B |
Mês de início | 94 (100,0) | E | 48 (96,0) | E | 36 (92,3) | B | 178 (97,3) | E |
Número de consultas | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 36 (92,3) | B | 180 (98,4) | E |
Antecedentes familiares | 72 (76,6) | R | 34 (68,0) | R | 22 (56,4) | R | 128 (69,9) | R |
Antecedentes pessoais | 65 (69,1) | R | 35 (70,0) | R | 23 (59,0) | R | 123 (67,2) | R |
Exames complementares | 74 (78,7) | R | 42 (84,0) | RE | 24 (61,5) | R | 140 (76,5) | R |
Procedimentos | 77 (81,9) | RE | 39 (78,0) | RE | 25 (64,1) | R | 141 (77,0) | R |
Fatores de risco | 63 (67,0) | R | 39 (78,0) | RE | 21 (53,8) | R | 123 (67,2) | R |
Complicações | 81 (86,2) | RE | 44 (88,0) | RE | 30 (76,9) | R | 155 (84,7) | RE |
Tratamento | 63 (67,0) | R | 35 (70,0) | R | 27 (69,2) | R | 125 (68,3) | R |
Visita do ACS | 66 (70,2) | R | 41 (82,0) | RE | 28 (71,8) | R | 135 (73,8) | R |
Nº de gestações anteriores | 93 (98,9) | E | 50 (100,0) | E | 37 (94,9) | B | 180 (98,4) | E |
Nº de partos vaginais | 90 (95,7) | E | 48 (96,0) | E | 34 (87,2) | RE | 172 (94,0) | B |
Nº de cesáreas | 90 (95,7) | E | 48 (96,0) | E | 34 (87,2) | RE | 172 (94,0) | B |
Nº de nascidos vivos | 93 (98,9) | E | 49 (98,0) | E | 38 (97,4) | E | 180 (98,4) | E |
Nº de abortos | 93 (98,9) | E | 49 (98,0) | E | 37 (94,9) | B | 179 (97,8) | E |
Intervalo entre as gravidezes | 72 (76,6) | R | 40 (80,0) | R | 22 (56,4) | R | 134 (73,2) | R |
Peso pré-gestacional | 30 (31,9) | MR | 20 (40,0) | MR | 9 (23,1) | MR | 59 (32,2) | MR |
Altura da mãe | 26 (27,7) | MR | 21 (42,0) | MR | 11 (28,2) | MR | 58 (31,7) | MR |
Parto e nascimento | ||||||||
Fonte de dados | 38 (40,4) | MR | 35 (70,0) | R | 26 (66,7) | R | 99 (54,1) | R |
Local de ocorrência | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Tipo de unidade | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Utilização de partograma | 73 (77,7) | R | 46 (92,0) | B | 27 (69,2) | R | 146 (79,8) | R |
Indução do trabalho de parto | 77 (81,9) | RE | 48 (96,0) | E | 34 (87,2) | RE | 159 (86,9) | RE |
Realização de TR-VDRL | 85 (90,4) | B | 47 (94,0) | B | 25 (64,1) | R | 157 (85,8) | RE |
Realização de TR-HIV | 72 (76,6) | R | 36 (72,0) | R | 20 (51,3) | R | 128 (69,9) | R |
Idade gestacional | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Tipo de gravidez | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Tipo de parto | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 38 (97,4) | E | 182 (99,5) | E |
Indicação para cesária | 79 (84,0) | RE | 41 (82,0) | RE | 29 (7,4) | RE | 149 (81,4) | RE |
Intervenção cesária antes do trabalho de parto | 89 (94,7) | B | 47 (94,0) | B | 37 (94,9) | B | 173 (94,5) | B |
Tempo de bolsa rota | 51 (54,3) | R | 27 (54,0) | R | 14 (35,9) | MR | 92 (50,3) | R |
Odor do líquido amniótico | 16 (17,0) | MR | 8 (16,0) | MR | 2 (5,1) | MR | 26 (14,2) | MR |
Aspecto do líquido amniótico | 52 (55,3) | R | 26 (52,0) | R | 16 (41,0) | MR | 94 (51,4) | R |
Peso ao nascer | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 38 (97,4) | E | 182 (99,5) | E |
Apgar no 1º minuto | 92 (97,9) | E | 47 (94,0) | B | 36 (92,3) | B | 175 (95,6) | E |
Apgar no 5º minuto | 93 (98,9) | E | 47 (94,0) | B | 36 (92,3) | B | 176 (96,2) | E |
Nascimento assistido por | 91 (96,8) | E | 47 (94,0) | B | 36 (92,3) | B | 174 (95,1) | E |
Tempo de permanência do RN na maternidade | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 31 (79,5) | R | 175 (95,6) | E |
Motivo de permanência > 48h | 94 (100,0) | E | 49 (98,0) | E | 30 (76,9) | R | 173 (94,5) | B |
Problemas com o RN | 87 (92,6) | B | 48 (96,0) | E | 29 (74,4) | R | 164 (89,6) | RE |
Nota: Cl* = classificação; E = excelente; B = bom; RE = regular; R = ruim; MR = muito ruim; ACS = Agente comunitário de saúde; TR-VDRL = Teste rápido - Venereal Disease Research Laboratory; TR-HIV = Teste rápido - Human Immunodeficiency Virus; RN = Recém nascido
Na análise do conjunto de variáveis relacionadas à “puericultura e às doenças anteriores” do componente pós-neonatal, constatou-se que todas as variáveis apresentaram completitude ruim. No bloco “ocorrência do óbito”, as variáveis da ficha do componente neonatal tardio obtiveram a melhor completitude. As informações sobre hipóteses diagnósticas e diagnóstico final apresentaram preenchimento regular ( Tabela 4 ).
Tabela 4 Completitude das variáveis relacionadas à puericultura, às doenças anteriores e à ocorrência do óbito da ficha de investigação do óbito infantil segundo componente etário, Recife-PE, Brasil, 2014
Variáveis | Neonatal precoce | Neonatal tardio | Pós-neonatal | Óbito infantil | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | |
Puericultura e doenças anteriores | ||||||||
Acompanhamento na atenção básica | NA | - | NA | - | 31 (79,5) | R | 31 (79,5) | R |
Unidade de acompanhamento | NA | - | NA | - | 31 (79,5) | R | 31 (79,5) | R |
Inscrição no programa da vigilância da criança de risco | NA | - | NA | - | 27 (69,2) | R | 27 (69,2) | R |
Acompanhamento preconizado da criança de risco | NA | - | NA | - | 26 (66,7) | R | 26 (66,7) | R |
Tempo de aleitamento materno exclusivo | NA | - | NA | - | 27 (69,2) | R | 27 (69,2) | R |
Nº de consultas de rotina | NA | - | NA | - | 28 (71,8) | R | 28 (71,8) | R |
Nº de consultas de emergência | NA | - | NA | - | 26 (66,7) | R | 26 (66,7) | R |
Recebeu visita do ACS | NA | - | NA | - | 25 (64,1) | R | 25 (64,1) | R |
Possui cartão da criança | NA | - | NA | - | 29 (74,4) | R | 29 (74,4) | R |
Cartão da criança preenchido integralmente | NA | - | NA | - | 26 (66,7) | R | 26 (66,7) | R |
Preenchido apenas o gráfico de crescimento | NA | - | NA | - | 24 (61,5) | R | 24 (61,5) | R |
Preenchido apenas desenvolvimento neuropsicomotor | NA | - | NA | - | 24 (61,5) | R | 24 (61,5) | R |
Preenchido apenas os registros de imunizações | NA | - | NA | - | 26 (66,7) | R | 26 (66,7) | R |
Vacinação em dia | NA | - | NA | - | 30 (76,9) | R | 30 (76,9) | R |
Curva de peso/idade | NA | - | NA | - | 25 (64,1) | R | 25 (64,1) | R |
Desenvolvimento | NA | - | NA | - | 25 (64,1) | R | 25 (64,1) | R |
Passado mórbido | NA | - | NA | - | 25 (64,1) | R | 25 (64,1) | R |
Ocorrência do óbito | ||||||||
Local de ocorrência | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Tipo de estabelecimento | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 183 (100,0) | E |
Tempo de internamento na unidade onde ocorreu o óbito | 89 (94,7) | B | 49 (98,0) | E | 36 (92,3) | B | 174 (95,1) | E |
Setor de ocorrência do óbito | 76 (80,9) | RE | 47 (94,0) | B | 37 (94,9) | B | 160 (87,4) | RE |
A criança/mãe veio transferida de outra unidade | 91 (96,8) | E | 50 (100,0) | E | 36 (92,3) | B | 177 (96,7) | E |
Hipóteses diagnósticas | 78 (83,0) | RE | 48 (96,0) | E | 37 (94,9) | B | 163 (89,1) | RE |
Condição geral por ocasião do internamento na unidade onde ocorreu o óbito | 35 (37,2) | MR | 19 (38,0) | MR | 21 (53,8) | R | 75 (41,0) | MR |
Diagnóstico final | 75 (79,8) | RE | 50 (100,0) | E | 39 (100,0) | E | 164 (89,6) | RE |
Necropsia | 87 (92,6) | B | 46 (92,0) | B | 36 (92,3) | B | 169 (92,3) | B |
Local da necropsia | 87 (92,6) | B | 46 (92,0) | B | 34 (87,2) | RE | 167 (91,3) | B |
Laudo necroscópico | 86 (91,5) | B | 46 (92,0) | B | 33 (84,6) | RE | 165 (90,2) | B |
Nota: Cl* = classificação; NA = não aplicado; E = excelente; B = bom; RE = regular; R = ruim; MR = muito ruim; ACS Agente comunitário de saúde
No que se refere ao preenchimento do bloco das “conclusões da investigação”, todos os componentes do óbito demonstraram bom preenchimento, mas o maior percentual de completitude foi verificado no neonatal tardio. A variável falhas na assistência ao pré-natal no óbito neonatal precoce e neonatal tardio alcançou completitude de 93,6% (bom) e 96% (excelente), respectivamente ( Tabela 5 ).
Tabela 5 Preenchimento das variáveis relacionadas às conclusões da investigação da ficha de investigação do óbito infantil segundo componente etário, Recife-PE, Brasil, 2014
Variáveis | Neonatal precoce | Neonatal tardio | Pós-neonatal | Óbito infantil | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | n (%) | Cl* | |
Conclusões da investigação | ||||||||
Alteração da causa básica do óbito | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 38 (97,4) | E | 182 (99,5) | E |
Causas básicas depois da investigação | 94 (100,0) | E | 50 (100,0) | E | 38 (97,4) | E | 182 (99,5) | E |
A investigação alterou ou corrigiu outro campo da DO além das causas de óbito? | 93 (98,9) | E | 50 (100,0) | E | 37 (94,9) | B | 180 (98,4) | E |
A investigação alterou ou corrigiu a DNV? | 89 (94,7) | B | 50 (100,0) | E | 37 (94,9) | B | 176 (96,2) | E |
Foram identificados problemas após a investigação | 93 (98,9) | E | 50 (100,0) | E | 38 (97,4) | E | 181 (98,9) | E |
Falhas no acesso: | ||||||||
Ao planejamento familiar | 88 (93,6) | B | 46 (92,0) | B | 38 (97,4) | E | 172 (94,0) | B |
Ao pré-natal | 90 (95,7) | E | 49 (98,0) | E | 38 (97,4) | E | 177 (96,7) | E |
Ao parto | 86 (91,5) | B | 47 (94,0) | B | 38 (97,4) | E | 171 (93,4) | B |
Ao RN na maternidade | 90 (95,7) | E | 47 (94,0) | B | 37 (94,9) | B | 174 (95,1) | E |
À criança no centro de saúde/UBS (PSF) | 92 (98,0) | E | 48 (96,0) | E | 36 (92,3) | B | 176 (96,2) | E |
À criança na urgência | 91 (96,8) | E | 48 (96,0) | E | 37 (94,9) | B | 176 (96,2) | E |
À criança no hospital | 90 (95,7) | E | 48 (96,0) | E | 36 (92,3) | B | 174 (95,1) | E |
A dificuldades da família | 85 (90,4) | B | 43 (86,0) | RE | 36 (92,3) | B | 164 (89,6) | RE |
A causas externas | 80 (85,1) | RE | 46 (92,0) | B | 36 (92,3) | B | 162 (88,5) | RE |
Falhas na assistência: | ||||||||
Ao planejamento familiar | 87 (92,6) | B | 47 (94,0) | B | 37 (94,9) | B | 171 (93,4) | B |
Ao pré-natal | 88 (93,6) | B | 48 (96,0) | E | 37 (94,9) | B | 173 (94,5) | B |
Ao parto | 88 (93,6) | B | 47 (94,0) | B | 38 (97,4) | E | 173 (94,5) | B |
Ao RN na maternidade | 89 (94,7) | B | 48 (96,0) | E | 36 (92,3) | B | 173 (94,5) | B |
À criança no centro de saúde/UBS (PSF) | 92 (97,9) | E | 48 (96,0) | E | 35 (89,7) | RE | 175 (95,6) | E |
À criança na urgência | 91 (96,8) | E | 48 (96,0) | E | 37 (94,9) | B | 176 (96,2) | E |
À criança no hospital | 90 (95,7) | E | 48 (96,0) | E | 37 (94,9) | B | 175 (95,6) | E |
A dificuldades da família | 86 (91,5) | B | 43 (86,0) | RE | 36 (92,3) | B | 165 (90,2) | B |
A causas externas | 83 (88,3) | RE | 46 (92,0) | B | 36 (92,3) | B | 165 (90,2) | B |
Identificação de falhas: | ||||||||
Na cobertura da atenção primária | 88 (93,6) | B | 47 (94,0) | B | 35 (89,7) | RE | 170 (92,9) | B |
Na referência e contrarreferência | 82 (87,2) | RE | 41 (82,0) | RE | 34 (87,2) | RE | 157 (85,8) | RE |
No pré-natal de alto risco | 81 (86,2) | RE | 42 (84,0) | RE | 33 (84,6) | RE | 156 (85,2) | RE |
No leito de UTI – gestante de alto risco | 81 (86,2) | RE | 41 (82,0) | RE | 34 (87,2) | RE | 156 (85,2) | RE |
No leito de UTI neonatal | 81 (86,2) | RE | 45 (90,0) | RE | 34 (87,2) | RE | 160 (87,4) | RE |
No centro de regulação | 80 (85,1) | RE | 41 (82,0) | RE | 34 (87,2) | RE | 155 (84,7) | RE |
No transporte inter-hospitalar | 79 (84,0) | RE | 41 (82,0) | RE | 34 (87,2) | RE | 154 (84,2) | RE |
Nos bancos de sangue | 78 (83,0) | RE | 45 (90,0) | RE | 34 (87,2) | RE | 157 (85,8) | RE |
Na classificação do óbito | 94 (100,0) | E | 48 (96,0) | E | 35 (89,7) | RE | 177 (96,7) | E |
Nas evidências de evitabilidade | 94 (100,0) | E | 49 (98,0) | E | 36 (92,3) | B | 179 (97,8) | E |
Nota: Cl* = classificação; E = excelente; B = bom; RE = regular; R = ruim; DO = Declaração de óbito; DNV = Declaração de Nascido Vivo; RN = Recém nascido; UBS (PSF) = Unidade Básica de Saúde (Programa Saúde da Família); UTI = Unidade de Terapia Intensiva
A completitude das variáveis das fichas de investigação dos óbitos infantis foi regular, com as informações dos componentes neonatal precoce e neonatal tardio apresentando melhores preenchimentos quando comparadas as do pós-neonatal, em que a maioria dos blocos de variáveis foi avaliada como ruim. As variáveis do bloco “puericultura e doenças” tiveram a completitude mais baixa entre todas as fichas analisadas, provavelmente relacionada às dificuldades de acesso dos investigadores em resgatar as informações nos serviços ambulatoriais e na realização da entrevista domiciliar 17-19 .
A observação que a quase totalidade das variáveis de “identificação” foi classificada como excelente é consistente com os relatos sobre o crescente nível de adequação das estatísticas vitais brasileiras e a melhoria do preenchimento das declarações de nascido vivo e óbito, facilitando a disponibilidade de dados no processo de investigação 10,20,21 .
As variáveis do bloco “características da família” foram avaliadas como ruim, com a ausência de registros podendo comprometer a análise dos determinantes sociais dos óbitos, em particular dos pós-neonatais. São recorrentes citações do local de residência, posse de bens, condições de moradia e de saneamento entre os fatores demográficos e socioeconômicos relacionados à ocorrência dos óbitos infantis após a alta da maternidade 17-19 . Ademais, condições adversas da vizinhança e moradia também se relacionam ao nascimento prematuro, expondo a criança ao maior risco ao óbito 22-27 .
A análise de especialistas quanto à relevância de variáveis para o esclarecimento e a compreensão sobre as circunstâncias da ocorrência dos óbitos infantis assinalam as relacionadas ao pré-natal como particularmente importantes em contextos em que, mesmo com elevada cobertura das consultas pré-natais, a qualidade da assistência permanece precária, destacando as complicações, os tratamentos e os exames complementares, sobretudo para os óbitos neonatais 28 . O bloco de variáveis do “pré-natal” das fichas analisadas neste estudo quanto à completitude foi classificado como ruim, e sua melhoria é dependente da qualidade do preenchimento dos prontuários ambulatoriais de acompanhamento da gestante, sendo fundamental o registro adequado dessas informações para orientar ações de prevenção e promoção da saúde da mulher e da criança 29-31 .
Em relação à maior parte das variáveis do “parto e nascimento” ter sido classificada como excelentes, considera-se que, em muitos países, os dados do nascimento são registrados mais corretamente do que os sobre as mortes, provavelmente por se tratar de um evento positivo, que envolve grande expectativa dos pais e familiares. Outros fatores envolvem os benefícios sociais imediatos percebidos no registro pelas famílias 32,33 . O acesso aos prontuários hospitalares tem contribuído para o resgate de informações essenciais sobre os momentos do pré-parto, do parto e do nascimento, períodos imprescindíveis para uma adequada compreensão sobre os eventos vitais, nascimento e morte infantil 34 .
Quanto as variáveis sobre “puericultura e doenças anteriores”, a completitude foi ruim em todas as fichas dos óbitos pós-neonatais. Estudo prévio apontou que, sem essas informações, os esclarecimentos sobre as condições favorecedoras do óbito para esse grupo etário ficam prejudicados 35 . Uma pesquisa que avaliou a completitude dos instrumentos de investigação do óbito infantil no nível municipal também identificou menor completitude para o bloco de informações sobre a criança que teve alta da maternidade, classificado como muito ruim 17 . Quando preenchidas de forma adequada, obtêm-se dados sobre aleitamento materno, vacinação, acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento infantil, eixo estruturador de toda atenção à saúde da criança, entre outras questões relevantes. É possível que os resultados encontrados estejam associados à precariedade dos registros ambulatoriais, ausentes, ilegíveis ou ainda à dificuldade de acesso aos prontuários 18,29 .
O bom preenchimento das variáveis sobre a “ocorrência do óbito” em todos os componentes etários pode estar relacionado ao registro adequado dos prontuários e das fichas hospitalares pelas equipes do Núcleo de Epidemiologia Hospitalar, que contribuem para a investigação da assistência clínica prestada e favorecem a realização de uma vigilância completa e efetiva 5 . Assim, a precisão dessas informações permite a ampla utilização dos dados coletados na definição mais específica das causas de óbito. Uma pesquisa que avaliou a completitude das variáveis das fichas de investigação dos óbitos fetais em Jaboatão-PE aponta que os dados sobre a ocorrência dos óbitos, obtidos por meio das fichas de necropsia, contribuem para a melhor compreensão das causas dessas mortes 36 .
Com base no bom preenchimento das variáveis relacionadas à “conclusão da investigação” do óbito identificadas na presente pesquisa, é possível obter informações satisfatórias sobre o registro de óbitos, de nascidos vivos e das circunstâncias de sua ocorrência 17 . A completitude adequada das variáveis falhas na assistência ao pré-natal e à criança nas unidades básicas de saúde permite identificar aspectos fundamentais para a compreensão da ocorrência dos óbitos e classificar corretamente quanto à sua evitabilidade. A análise dessas informações contribui para a qualificação da atenção à saúde ofertada ao binômio mãe-filho, de modo que esta seja oportuna, segura e eficaz 4,28 .
As limitações inerentes a este tipo de estudo, referentes à utilização de dados secundários da ficha de investigação e à subnotificação dos óbitos infantis, podem comprometer a validade externa dos resultados obtidos. Os achados desta pesquisa, contudo, contribuem para a melhoria do sistema de vigilância do óbito infantil no Recife. A carência de estudos nesse tema, no município e no país, justifica a relevância do trabalho na produção de informações sobre a investigação dos óbitos infantis e sinaliza para a pouca atenção conferida pelas pesquisas a esse instrumento relevante para o planejamento das intervenções em saúde e redução dos óbitos evitáveis.
Constatou-se completitude regular para as fichas de investigação do óbito infantil e igualmente para todos os componentes etários. Variáveis essenciais para o esclarecimento das circunstâncias do óbito, entretanto, tiveram preenchimento incompleto, podendo comprometer a análise da cadeia de determinantes que resultam na morte de crianças e, consequentemente, na sua evitabilidade. A realização de avaliações sistemáticas da qualidade dos instrumentos de investigação dos óbitos infantis pode ajudar a melhorar o seu preenchimento com repercussões sobre as proposições que contribuam para o fortalecimento dessa estratégia.