versão impressa ISSN 1806-3713versão On-line ISSN 1806-3756
J. bras. pneumol. vol.41 no.4 São Paulo jul./ago. 2015
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132015000400002
Em uma recente revisão sistemática, Evans et al.1 comparou 728 pacientes com DPOC e 440 indivíduos saudáveis em relação a endurance do quadríceps femoral. Os autores constataram que, de fato, os pacientes com DPOC apresentavam reduzida endurance do quadríceps, independente da atividade medida e solicitada. A disfunção muscular, presente nos pacientes com DPOC, tem se manifestado, dentre outras formas, pelo déficit da força muscular periférica, acometendo a musculatura dos membros superiores e, mais especificamente, o músculo quadríceps femoral.2 3 Essas perdas culminam em piora da funcionalidade e das atividades de vida diária, ao pensarmos em membros superiores, e pior condicionamento físico, quando pensamos em membros inferiores, o que leva a piora da qualidade de vida.2 4 A disfunção muscular é notável também em diversas outras pneumopatias, como a bronquiectasia,5 a fibrose cística,6 a fibrose pulmonar idiopática,7 entre outras. Entretanto, embora bastante abordada, as equações utilizadas e os valores preditivos para a população brasileira estavam, até bem recentemente, sendo calculados por equações propostas para populações distintas.
Neste volume do JBP, Nellessen et al.,8 num estudo envolvendo 56 pacientes com DPOC, elegantemente compararam as características e verificaram a concordância de três diferentes fórmulas de predição do pico de força muscular do quadríceps femoral - Neder et al.,9 Decramer et al.10 e Seymour et al.11- que levam em consideração fatores como idade, peso, gênero e até mesmo massa magra.(9-11) Nesse estudo,8 os autores procuraram trazer a aplicabilidade e a comparação das equações o mais próximo possível da nossa realidade como, por exemplo, em relação à adaptação da mensuração da composição corporal por meio da bioimpedância elétrica e à mensuração da força muscular dos extensores de joelho, fazendo uso de um dinamômetro portátil. Os autores concluem que, embora não haja uma definição clara sobre um ponto de corte, um valor fixo, que determine o grau de fraqueza do quadríceps femoral, as fórmulas apresentaram-se estatisticamente equivalentes, embora a fórmula proposta por Neder et al.9 tenha apresentado um maior valor de pico de força e uma melhor concordância com as outras duas fórmulas estudadas.
É indispensável afirmar a relevância clínica desse artigo8 para profissionais que trabalham com pneumopatas, assim como já se encontram disponíveis equações preditivas para a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos,12 14 shuttle test15 e para o cálculo da força muscular respiratória (pressões inspiratória e expiratória máximas),(16,17) o estudo de Nellessen et al.8vem compor este cenário. Além de maior facilidade para compararmos nossos dados com a comunidade científica internacional, poderemos, num futuro próximo, propor estudos multicêntricos com um excelente tamanho amostral: a população brasileira.
Não é tarefa fácil se propor a avaliar pacientes com DPOC no que tange ao condicionamento físico, funcionalidade e atividades de vida diária.18 Por esse motivo, devemos sempre nos amparar em estudos que nos apresentem, de forma consistente, equações preditivas e valores de referência que nos orientem no momento de propor novas intervenções terapêuticas a esses pacientes.3 4
Culturalmente, temos certa dificuldade em citar estudos demonstrados em nossa própria população. Por outro lado, aumenta a importância, nos dias atuais, de uma maior visibilidade das revistas nacionais. Portanto, deixo aqui um convite: apreciem e façam uso não somente dos artigos apresentados pelo JBP como das demais revistas nacionais. Tenho certeza que encontrarão excelentes abordagens e dados para compartilharem em seus futuros estudos.