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Avaliação da implantação do Sistema de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Resultados (Sistema e-Car) na Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, no período de 2012 - 2015

Avaliação da implantação do Sistema de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Resultados (Sistema e-Car) na Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, no período de 2012 - 2015

Autores:

Juliana Amorim Ubarana,
Marly Marques da Cruz,
Santuzza Arreguy Silva Vitorino

ARTIGO ORIGINAL

Epidemiologia e Serviços de Saúde

versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622

Epidemiol. Serv. Saúde vol.28 no.2 Brasília 2019 Epub 27-Jun-2019

http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742019000200006

Resumen

Objetivo:

evaluar la implantación del Sistema de Control, Monitoreo y Evaluación de Resultados (e-Car) en la Secretaría de Vigilancia en Salud (SVS) del Ministerio de Salud de Brasil, en el período de 2012 a 2015.

Métodos:

estudio de evaluación de métodos mixtos para la recolección de datos primarios y secundarios, seguido de la definición del grado de implantación del sistema y análisis de la influencia del contexto político-organizacional.

Resultados:

el sistema e-Car fue considerado implantado en la SVS, alcanzando un 75,4%; las peores actuaciones de la dimensión de estructura fueron el servicio de mantenimiento de las computadoras y del sistema operacional, así como el bajo conocimiento del manual del sistema; en la dimensión de proceso, la existencia de instancias colegiadas fue considerada benéfica para el monitoreo.

Conclusión:

el sistema e-Car fue implantado en la SVS; todavía, su sostenibilidad se mostró frágil, recomendándose la institucionalización y el fortalecimiento de las prácticas de monitoreo y evaluación por la SVS.

Palabras clave: Evaluación en Salud; Sistemas de Información; Política Pública; Planificación en Salud; Vigilancia en Salud Pública

Introdução

Nas democracias ocidentais, de um modo geral, e na América Latina em particular, nos anos 1990, houve uma busca por fortalecimento da função ‘avaliação’ na gestão governamental. Em diversos países, inclusive no Brasil, esse movimento propiciou a construção de sistemas de escopo variável, para avaliação das políticas públicas, o que se justificava pela necessidade de ‘modernização’ da gestão pública em um contexto de busca de dinamização e legitimação da reforma do Estado.1 Tais iniciativas reafirmaram a necessidade de uma política de avaliação para subsidiar os sistemas de planejamento e gestão e o fortalecimento do controle social.2,3

Diante desse cenário, os sistemas de monitoramento e avaliação da gestão pública dos sistemas de saúde têm sido priorizados nas iniciativas governamentais comprometidas com os modelos de gestão e avaliação por resultados.4 No Brasil, a ‘contratualização de resultados’ foi proposta em 1995, pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado; mais do que uma ferramenta isolada, foi apontada como alavanca para melhoria da gestão pública em direção a resultados.5

Esse movimento institucional complexo, questionador dada sua potencialidade reflexiva, implica renegociação e repasse de responsabilidades e atribuições. Embora com atraso, relativamente à implementação da descentralização de gestão técnica e financeira, discute-se hoje a pertinência da construção de uma política de monitoramento e avaliação (M&A) do Sistema Único de Saúde (SUS).6 A adoção das práticas de monitoramento na administração pública brasileira manifestou-se de forma mais institucionalizada a partir do Plano Plurianual (PPA) 2000-2003. Desde então, a instrumentalização desse monitoramento é servida de sistemas informacionais, os quais disponibilizam aos gestores informações para fortalecer o planejamento e a gestão governamental de políticas públicas.7-9

Em 2011, o Ministério da Saúde pactuou agenda orientada por resultados, alinhando o Plano Plurianual ao Plano Nacional de Saúde;6 em 2012, adotou o Sistema de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Resultados (e-Car)10,11 como ferramenta do monitoramento governamental, sendo incumbência de suas secretarias alimentá-lo mensalmente. O e-Car foi elaborado a partir de um software livre, de fácil customização, para atender às necessidades do governo. O preenchimento do sistema ocorria por pareceres predominantemente qualitativos, com informações sobre a evolução de metas e resultados pactuados no planejamento, destacando-se o cenário atual, pontos críticos e recomendações.

Na Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, os resultados eram debatidos em colegiado de dirigentes, semanalmente, e subsidiavam o planejamento e o monitoramento de seus resultados e alcance de sua missão: coleta, análise e disseminação de dados de saúde. A articulação para esse monitoramento na SVS acontecia sob a condução da Coordenação-Geral de Planejamento e Orçamento (CGPLAN).

Apesar dos avanços no alinhamento dos instrumentos de gestão e no monitoramento de resultados, a informação em saúde necessita de um minucioso olhar técnico, científico e social.7-12 O baixo uso das informações em saúde está relacionado, essencialmente, a bases de dados inadequadas, dificuldades de conexão com a internet, falta de capacitação de pessoal e ausência de investimento em uma cultura informacional.5 Dificuldades são observadas, também, na qualidade e utilização de sistema de monitoramento das informações do PPA.12,13

Considerando-se que o sistema e-Car é importante para a tomada de decisão e que há dificuldades nos processos de implantação de sistemas de informações,11 o presente estudo teve o objetivo de avaliar a implantação do e-Car na Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, no período de vigência do PPA de 2012 a 2015.

Métodos

Tratou-se de uma avaliação de implantação, desenvolvida na forma de estudo de caso, com combinação de métodos para o estabelecimento da estimativa do grau de implantação do sistema e-Car na SVS e a verificação da influência do contexto político-organizacional nesse processo, no período de vigência do PPA 2012-2015.

Este estudo de caso contou com a participação de gestores e técnicos responsáveis pelo monitoramento de ações de vigilância em saúde da SVS, compreendendo os seguintes temas: vigilância, prevenção e controle de doenças transmissíveis; vigilância de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT); vigilância em saúde ambiental e do trabalhador; e análise de situação da saúde da população brasileira.

Inicialmente, foram convidadas a participar da pesquisa 36 pessoas, 100% dos atores envolvidos com o sistema e-Car na SVS: os técnicos, com maior tempo à frente do acompanhamento do sistema; e os gestores, responsáveis pelos resultados pactuados no planejamento de ações de vigilância em saúde.

Em função da transição política e exoneração de alguns trabalhadores, houve uma perda de 30% dos trabalhadores respondentes, restando 25 pessoas entre técnicos, coordenadores, diretores e outros informantes, distribuídos em cinco departamentos componentes da SVS, aqui identificados como departamentos A, B, C, D e E.

O delineamento da avaliação levou em consideração os contextos interno e externo. Para o contexto interno, adotou-se o Modelo Lógico da Intervenção (MLI) com base nos componentes estruturais definidos por Donabedian,14 permitindo a modelização da organização do e-Car nas dimensões de estrutura, processo e resultado (Figura 1).15

Nota: adaptado de Guimarães.15

Figura 1 - Modelo Lógico do Sistema de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Resultados (sistema e-Car) na Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Brasil, 2012-2015 

O MLI orientou a definição de uma matriz de análise e julgamento (Figura 2), com indicadores e parâmetros que foram utilizados como padrão ideal para comparação dos achados na pesquisa. Apesar de o desenho do MLI ter as dimensões de estrutura, processo e resultado, a avaliação decidiu pelo recorte de estrutura e processo. Quanto ao contexto externo, consideraram-se dois dos três vértices do triângulo de governo de Matus:16 capacidade de governo; e governabilidade. Os recortes propostos para avaliação foram necessários, em função do tempo limitado para execução da análise.

Figura 2 - Matriz de análise e julgamento da avaliação da implantação do Sistema de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Resultados (sistema e-Car) na Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Brasil, 2012-2015 

O MLI e a Matriz de Análise e Julgamento foram validados por atores envolvidos com o e-Car na SVS. Esta medida foi determinante para a elaboração dos questionários e roteiros de entrevista. Os dados primários foram coletados por correio eletrônico, mediante questionários semiestruturados aplicados com 20 entrevistados da SVS (cinco coordenadores e 15 técnicos), para definição do grau de implantação.

Adicionalmente, foram elaborados roteiros-guia da coleta presencial de informações junto a outros cinco informantes-chave, entre diretores e técnicos, permitindo a análise do contexto político-organizacional. As entrevistas foram gravadas em equipamento digital e posteriormente transcritas. A coleta dos dados secundários deu-se por consulta a relatórios extraídos do e-Car, materiais institucionais e artigos científicos publicados. Todo o processo de validação e coleta de dados ocorreu nos meses de julho a setembro de 2016.

A análise dos dados para definição do grau de implantação foi realizada por meio da somatória das respostas relacionadas aos componentes de estrutura e de processo, dividida pela pontuação máxima dada pela matriz de análise e julgamento, multiplicada por 100. O sistema e-Car foi classificado da seguinte forma: implantado (>75%); parcialmente implantado (50 a 75%); incipiente (25 a 49%); e não implantado (<25%).

A análise do contexto político-organizacional foi baseada em documentos e relatos de diretores da SVS e outros informantes. Essas informações foram categorizadas e tratadas por análise de conteúdo. As técnicas de análise e descrição das mensagens basearam-se na presença ou frequência de frases, palavras e resumos com características comuns entre os entrevistados (Figura 3).17 As fragilidades e fortalezas do e-Car foram identificadas pelas entrevistas semiestruturadas e, posteriormente, relacionadas aos aspectos de contexto relatados por dirigentes e outros informantes, e pela observação e análise de documentos.

Figura 3 - Categorias de análise para avaliação do contexto político-organizacional da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Brasil, 2012-2015 

O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fundação Instituto Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz): Certificado de Apresentação para Certificação Ética (CAAE) no 1.542.745, de 13 de maio de 2016. Os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo preservada a confidencialidade dos atores e instâncias de gestão contempladas na avaliação.

Resultados

O e-Car estava implantado em um nível percentual de 75,4% na SVS, no período analisado, proporcionalmente distribuído entre 72,5% de implantação da dimensão de estrutura e 78,3% de implantação da dimensão de processo (Tabela 1). As piores performances de estrutura foram relacionadas ao serviço de manutenção dos computadores e ao sistema operacional, relatadas por 11 dos 20 entrevistados, e a existência de manual de instruções sobre o e-Car, conhecida por apenas oito participantes. Na dimensão de processo, oito dos 20 entrevistados afirmaram receber capacitação periodicamente, uma a duas vezes por ano, e seis revelaram ter conhecimento de capacitações esporádicas, sem regularidade anual. Onze participantes informaram que ocorreu mudança positiva na elaboração de pareceres e mecanismos de monitoramento entre 2012 e 2015.

Tabela 1 - Grau de implantação, por dimensões de estrutura e de processo, do Sistema de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Resultados (sistema e-Car) na Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Brasil, 2012-2015 

Dimensões Pontuação esperada Pontuação obtida Percentual Grau de implantaçãoa
(n) (n) (%)
Estrutura 60 42,8 72,5 Parcialmente implantado
Processo 90 70,5 78,3 Implantado
Total 150 113,3 75,4 Implantado

a) Grau de implantação: implantado, >75%; parcialmente implantado, 50 a 75%; incipiente, 25 a 49%; não implantado, <25%.

O grau de implantação foi influenciado pelo contexto político-organizacional da SVS no período de 2012 a 2015, considerando-se a governabilidade/sustentabilidade e a capacidade de governo. Para os cinco entrevistados por roteiro, o sistema teve uma forte visibilidade dentro da SVS. No entanto, uma incorporação mais concreta que pudesse ser traduzida em sustentabilidade dependia de uma mudança profunda da cultura institucional:

[...] um processo de planejamento desses não é uma coisa banal [...] a mudança de uma cultura institucional é mais difícil [...] por mais que pareça um tempo longo, quando a gente pensa nos prazos brasileiros, cinco anos é um prazo curto pra mudar uma cultura para quem não tá acostumado a planejar. (informante 1)

Segundo os entrevistados, a sustentabilidade do sistema está atrelada à vontade política do gestor. Mesmo que as principais atividades previstas em agenda sejam emanadas de uma decisão política, individualmente, cada gestor tem suas próprias visões e quer deixar sua marca de governo, o que acaba por condenar a vida curta as políticas de planejamento, monitoramento e avaliação especialmente.

Em quatro anos, o Ministério da Saúde teve quatro ministros e a SVS dois secretários, o que influenciou a sistemática de monitoramento e de implantação do sistema e-Car. Para o informante 2, essa instabilidade no processo de planejamento e monitoramento pode gerar desconfiança sobre o desempenho da área e, consequentemente, tornar o sistema mais vulnerável quanto a sua sustentabilidade.

No que diz respeito à capacidade de governo, os recursos humanos foram vistos como insuficientes. Para os entrevistados, o grande número de consultores na SVS contribuiu para a instabilidade do serviço: foi relatada alta rotatividade de pessoal, fruto da constante mudança de área dos servidores ou desligamento de consultores. Nem sempre o novo pessoal destinado ao acompanhamento do sistema o conhecia ou estava capacitado a operá-lo.

No que toca às peculiaridades entre os diferentes departamentos da SVS, destacou-se a condição do departamento A, dotado de uma rede tecnológica própria e computadores atualizados, um nível de estrutura diferenciado do restante do Ministério da Saúde. Essa diferença se observou, também, na organização dos processos de M&A: o departamento A contava com a instituição de um comitê específico para monitoramento dos resultados do e-Car.

Os demais departamentos da SVS localizavam-se em um prédio distante da sede do ministério, sustentados por uma estrutura precária, sendo frequente a queda da conexão com a internet. No caso do departamento B, havia mais um agravante: o diretor não se encontrava no mesmo prédio de suas coordenações vinculadas. O relato de um dos informantes evidenciou os prejuízos dessa separação física, dentro da mesma estrutura:

Às vezes [...] tem que fechar o relatório [...] a gente tá sem rede, sem conexão [...] aí a pessoa vai e coloca tudo num pen-drive e leva até o gabinete em outro prédio. Então, isso tudo dava muito sobretrabalho... (informante 1)

A resolução da parte estrutural parecia mais complexa e desafiadora, visto que, à exceção do departamento A, os demais departamentos tinham pouca autonomia nesse campo. Outras dificuldades estruturais em relação à organização do e-Car eram as lacunas encontradas na normatização, desde que não havia uma portaria ministerial para a definição do sistema como ferramenta de monitoramento, e no baixo conhecimento sobre a existência do manual com as instruções de uso do sistema.

A melhoria de qualidade no monitoramento e uso do sistema foi garantida com a oferta de cursos de capacitação e com o esforço pela qualificação e padronização de pareceres na SVS. Ao se realizar a comparação de pareceres formulados entre 2012 e 2015, foi possível observar uma evolução na qualidade de análises realizadas pelos departamentos e coordenações na SVS.

A existência de instâncias de gestão colegiada também foi vista como benéfica ao processo de monitoramento, ao ter possibilitado uma série de mobilizações desde o nível técnico até o nível do secretariado:

[...] na dinâmica que a gente utilizava em 2012-2015, você tinha um movimento de baixo para cima na prestação de informações e de cima para baixo na orientação do plano [...] na reorientação do plano, na tomada de decisão, de priorização, correção de rumos. (informante 3)

Para os entrevistados, o encaminhamento das soluções para os problemas encontrados durante os colegiados de gestão tornou os pareceres mais objetivos. Outro estímulo para esse aprimoramento aconteceu quando os órgãos de controle externo passaram a acompanhar a evolução dos resultados postados no e-Car.

Ressalta-se que o e-Car traz a identificação do responsável pelas metas acompanhadas. O gestor é cobrado em reuniões do colegiado e por órgãos responsáveis pelo acompanhamento das metas, como o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU).

O conteúdo qualitativo do sistema contribuiu com a evolução de metas, esclarecimento dos problemas e resolução dos entraves observados. A lógica de concepção do sistema e a sistemática de alimentação mensal e acompanhamento, esta realizada em discussões semanais no colegiado, subsidiaram a tomada de decisões de forma continuada.

Todo o aperfeiçoamento da sistemática de monitoramento manifestado na época permitiu que os resultados do e-Car fossem utilizados no planejamento e monitoramento, contribuindo para a gestão dos departamentos e para a elaboração do PPA subsequente, de 2016 a 2019.

A influência do contexto político-organizacional da SVS no grau de implantação do e-Car encontrado foi caracterizada por meio de fortalezas e fragilidades, apresentadas na Figura 4. Entre as fortalezas sinalizadas na estrutura, estava o reconhecimento dos responsáveis pelos resultados, enquanto a fragilidade se manifestava em problemas de acesso e de configurações do sistema. Em termos de processos, as informações para a tomada de decisão foram percebidas como fortaleza, enquanto os riscos de o sistema se tornar uma ferramenta burocrática e a falta de uma política que instituísse o M&A foram apontados como fragilidades.

Figura 4 - Influência do contexto político-organizacional no grau de implantação das dimensões de estrutura e de processo, segundo fortalezas e fragilidades do Sistema de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Resultados (sistema e-Car) na Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Brasil, 2012-2015 

Discussão

Na SVS, um mesmo secretário permaneceu no cargo entre os anos de 2012 e 2014, influenciando positivamente o aprimoramento do monitoramento dos resultados pactuados no Planejamento Estratégico de 2012 a 2015,6 por meio do e-Car. Sabe-se que o monitoramento institucionalizado é primordial para a correção de rumos e alcance das metas e resultados previstos para os planos governamentais.11,18,19 Contudo, sua sustentabilidade depende de muitos fatores contextuais.

A partir de mudanças mais consistentes no contexto político do Ministério da Saúde, inclusive na SVS, ocorridas em 2015, o monitoramento passou a ser realizado sem a mesma regularidade. Esse declínio foi sentido com mais profundidade em 2016, quando o processo do e-Car foi desestruturado no Ministério da Saúde, e por conseguinte na SVS, dado o impacto da mudança da Presidência da República, cujo reflexo direto foi o desencadeamento da mudança de gestão em cascata, no nível ministerial e de suas secretarias.

Embora a mudança brusca de direção política tenha ocorrido após a pesquisa, é mister mencioná-la como propulsora de mudanças político-organizacionais no Ministério da Saúde, com a exoneração de dirigentes e o enfraquecimento da área de Monitoramento e Avaliação do SUS. Em 2016, o sistema e-Car passou quase um semestre em atualização da nova base de resultados que deveriam ser monitorados no período de 2016 a 2019, trazendo a descontinuidade de alimentação e, consequentemente, do acompanhamento da SVS.

Tal situação mostra como a institucionalização do M&A ainda é frágil e continua à mercê da vontade política do momento. Leeuw e Furubo20,21 ressaltaram a dificuldade em definir um sistema de avaliação cuja sustentabilidade depende de uma cultura avaliativa mais madura, construída pela tríade ‘tempo, investimento e arranjos permanentes’.21,22 Ao que parece, muitos foram os investimentos no sistema, na capacitações de seu corpo técnico e na sistemática de monitoramento da SVS. Entretanto, esta pesquisa identificou uma fragilidade na capacidade do sistema para institucionalizar e normatizar essas práticas. A cultura organizacional precisa de tempo e investimento para absorver mudanças de forma mais consistente e ganhar estabilidade. Quatro anos pareceram pouco para a internalização, pela administração pública, de um sistema como o e-Car.

A institucionalização da avaliação é perceptível, como se sua integração ao sistema organizacional influenciasse a ação, conectando as atividades analíticas às de gestão das intervenções.23,24 A cultura de uma organização reflete as tradições, valores e premissas compartilhadas por seus membros, e estabelece suas regras de conduta.25 A liderança organizacional também é premissa à construção da sistemática de M&A, sendo considerada como apoio gerencial para implementar e sustentar a capacidade avaliativa nas organizações. Assim, se a liderança organizacional muda e o sistema e a sistemática de monitoramento não estão institucionalizados, sua permanência fica mais frágil e ameaçada.25 Publicação do Ministério da Saúde de 2005 sinalizou a avaliação em saúde como incipiente e pouco incorporada às práticas, demasiado burocrática e distante da cultura institucional. Entre os limites às atividades de monitoramento e avaliação, foi mencionada a fragmentação de suas orientações, dificultando a realização de ações coordenadas.26

Cabe dizer que, quando a conjuntura política foi favorável, entre 2012 e 2015, a implantação do sistema na SVS foi bem-sucedida, sendo considerada implantada, em processo e parcialmente implantada em sua dimensão de estrutura. Ressaltam-se, todavia, frequentes dificuldades estruturais para a implementação de sistemas informatizados.

Em 2014, o TCU divulgou levantamento com o índice de maturidade dos sistemas de avaliação de programas dos órgãos da administração direta do Executivo federal.27 Essa pesquisa, realizada com 2.062 gestores de 27 ministérios, obteve 750 respostas (36,4%). Apesar de o índice no Ministério da Saúde ter sido de 73,1 - o mais elevado da Esplanada -, o estudo destaca a necessidade de adequação dos recursos orçamentários e financeiros, da infraestrutura da área de Tecnologia da Informação e do quantitativo de pessoal disponível nas unidades do ministério para a adequada produção de informações.27

De acordo com outra pesquisa, esta sobre a percepção da equipe de Saúde da Família, o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) era utilizado esporadicamente pela equipe, em função da rotatividade de profissionais. Esse problema estrutural da área de Recursos Humanos prejudicava o preenchimento de fichas, gerando dificuldade de análise, monitoramento e avaliação das informações do sistema.28

A influência da estrutura na implementação de sistemas de informações aparece também em estudo de implantação do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) em Pernambuco, no ano de 2010: no nível central do Sinasc/PE, a implantação foi considerada avançada, enquanto nas regionais de saúde, foi avaliada como insuficiente. É possível que essas variações de implantação estejam relacionadas à estrutura insuficiente das regionais e ao pouco conhecimento das normas vigentes pelos operadores do sistema no estado.29

Em mais um estudo digno de menção, a baixa utilização do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS) foi atribuída a dois fatores: (i) a conexão precária da internet; e (ii) a falta de conhecimento sobre a utilização do sistema, avaliada a partir da regularidade de alimentação e do uso do sistema como instrumento de gestão.30

Diferentemente do apontado pelos estudos, no caso do e-Car, a condição de estrutura parcialmente implantada não prejudicou a dimensão de processo, considerada implantada, possivelmente em função dos esforços envidados pela gestão.

O formato de criação do e-Car possibilitava que, além das metas do PPA, metas complementares e de importância para a SVS fossem incorporadas à dinâmica de acompanhamento. A preocupação com a construção de indicadores de resultado coerentes e mensuráveis, citada como um desafio por Santos,13 foi considerada na programação do período. Todas as metas e resultados estratégicos faziam parte do planejamento estratégico do Ministério da Saúde e mantinham relação com os objetivos pactuados entre os gestores.

Como limitações deste estudo, destaca-se a transição de gestão presidencial ocorrida no Ministério da Saúde durante o período analisado. O fato teve impacto na redução do número final de participantes, de 36 para 25 entrevistados. Entretanto, se não contou com a participação integral de seus gestores e técnicos, a pesquisa permitiu compreender a situação de implantação do e-Car na SVS, a partir do conhecimento de suas fragilidades e fortalezas.

Diante dos resultados encontrados, conclui-se que o sistema e-Car foi implantado na Secretaria de Vigilância em Saúde no período de vigência do PPA 2012-2015. Não obstante, a sustentabilidade do sistema foi considerada frágil, necessitando de tempo, investimento e adoção de arranjos mais maduros, capazes de promover a mudança da cultura institucional necessária à incorporação das práticas de monitoramento e avaliação.

Para o aperfeiçoamento do Sistema de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Resultados - e-Car - e da sistemática de monitoramento de resultados governamentais, são recomendadas as seguintes iniciativas: (i) a institucionalização do e-Car e da sistemática de monitoramento de resultados; (ii) a continuidade na formação de profissionais em planejamento, monitoramento e avaliação; (iii) a manutenção da sistemática de monitoramento, para o fortalecimento da tomada de decisões; (iv) a melhoria da estrutura do sistema, com a disponibilização de internet mais rápida e estável; e (v) a manutenção de profissionais capacitados em seu desenvolvimento e apoio técnico.

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