versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.111 no.3 São Paulo set. 2018
https://doi.org/10.5935/abc.20180183
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é grave problema de saúde pública, e com frequência está relacionada ao tabagismo.1 Nas fases avançadas da DPOC, a presença de HAP é uma consequência comum. A taxa de progressão de HAP na DPOC é normalmente lenta (um aumento de < 1 mmHg por ano). No entanto, a presença de HAP, mesmo moderada, é um forte preditor de mortalidade.2 Durante os períodos estáveis da doença, o aumento da pressão arterial pulmonar média é geralmente leve a moderado. Entretanto, HAP grave ocasionalmente ocorre em pacientes com DPOC.3
Os parâmetros convencionais do eco bidimensional (2D) possibilitam uma avaliação razoável da Função do VD. Na década de 90, a utilização do Doppler tissular (DT) para medida do gradiente de velocidade intramiocárdica permitiu aferir a taxa de deformação do miocárdio e sua porcentagem (strain rate e strain). Há cerca de dez, anos a técnica do speckle tracking, baseada no rastreamento dos pontos que formam a imagem do eco bidimensional, possibilitou avaliar o strain miocárdico, sem a limitação do ângulo de insonação do sinal do DT.4 O strain por speckle tracking com o 2D (2D-STE) não só viabiliza a quantificação da função global do VD, mas também identifica perdas contrácteis discretas e localizadas, fornecendo informações em relação aos mecanismos fisiopatológicos que conduzem à insuficiência ventricular direita.5 Em um grupo heterogêneo de pacientes, O strain longitudinal da parede lateral do VD mostrou uma forte correlação com a fração de ejeção do VD calculada pela ressonância cardíaca magnética.6 O pico do strain longitudinal é um determinante prognóstico significativo em pacientes com HAP, e fornece valor incremental sobre outros conhecidos preditores clínicos e ecocardiográficos de mortalidade.7
Vários estudos já utilizaram a análise do 2D-STE em doentes com HAP crónica. Diversos autores defendem a utilização do método para avaliação seriada dos doentes com HAP, uma vez que o strain da parede livre do VD mostrou ser um preditor independente de deterioração clínica e mortalidade após a instituição da terapêutica médica.8 Apesar do 2D-STE ser amplamente utilizado em diversas condições clínicas, as Diretrizes para avaliação ecocardiográfica do VD afirmam ser altamente recomendável que outras medidas sejam incorporadas ao exame e ao relatório ecocardiográfico.9 Além de não existir valores de referência correntemente recomendados, o ST2D do VD pode ser influenciado pela qualidade da imagem, reverberação e outros artefatos.10
A literatura disponível mostra claramente o benefício do programa reabilitação pulmonar (RP). Estudo prospectivo randomizado demonstrou a eficácia do treinamento respiratório como tratamento adicional da HAP crônica grave.11 Nessa edição, Kanar et al.,12 avaliaram a função do VD com o 2D-STE em 46 pacientes com DPOC e 32 controles. Os autores compararam os valores do 2D-STE entre os dois grupos e dos pacientes, antes a após programa de reabilitação pulmonar. Os parâmetros convencionais do eco bidimensional e o 2D-STE mostraram correlação semelhante entre os pacientes com DPOC e os controles, mas o strain longitudinal do VD mostrou maior sensibilidade para investigar a relação entre a função do VD e a tolerância ao exercício. As principais limitações estão assinaladas no artigo. Não há informações se as medidas do 2D-STE foram feitas em apneia ou no mesmo momento da respiração pré e pós RP. Sendo o VD sensível às variações da pré-carga, os valores poderiam ser influenciados pela variação respiratória. De qualquer forma, está bem demonstrada a utilidade do ST2D na avaliação do VD na DPOC. Embora haja controvérsia sobre a eficácia dos programas de reabilitação pulmonar na HAP,13 os autores demonstraram, de forma original com o ST2D, que ocorre melhora do VD após a RP, criando novas perspectivas para o uso da RP em pacientes com DPOC.