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Benefits and challenges of international partnerships in nursing

Benefits and challenges of international partnerships in nursing

Autores:

Joan Tranmer,
Vanessa Silva e Silva

ARTIGO ORIGINAL

Acta Paulista de Enfermagem

On-line version ISSN 1982-0194

Acta paul. enferm. vol.29 no.5 São Paulo Sept./Oct. 2016

http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201600067

Com a crescente globalização educacional, a necessidade de universidades de abordar e criar oportunidades de aprendizagem international é uma prioridade. No início da década de 1950, foram lançadas políticas públicas para criar agências brasileiras, concebidas para apoiar e desenvolver parcerias internacionais entre universidades públicas e instituições estrangeiras.(1) O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) foram criadas para apoiar estudantes brasileiros na busca de estudos em outros países.(2,3) Estes investimentos foram estabelecidos para melhorar a base educacional e a produtividade dos alunos de pós-graduação no Brasil e elevar a posição do Brasil como líder em pesquisa dentre os países latino-americanos.(1) Neste editorial, nós discutimos os benefícios e desafios relacionados com a internacionalização das universidades, ilustrando o processo com a implementação de um acordo de cotutela entre a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e a Queen's University, Kingston, Canadá.

Krawczyk(1) descreveu as diferentes modalidades de bolsas de estudo existentes oferecidas a estudantes brasileiros e estrangeiros pelo governo brasileiro, e mostrou um claro aumento no número de bolsas de estudos ao longo dos anos.(1) No entanto, embora existam muitos incentivos aos alunos para prosseguir os estudos em outro país, a capacidade de estudar em uma segunda língua é o principal fator limitante. Infelizmente, muitos estudantes estão despreparados para fazer um curso em uma segunda língua como o Inglês. Por exemplo, das 92.880 bolsas oferecidas aos níveis de graduação e pós-graduação pelo Programa Ciência Sem Fronteiras (parceria entre o governo brasileiro, CNPq e CAPES) em 2015, só 13.596 (cerca de 15%) foram implementadas a estudantes de graduação que atenderam aos requisitos linguísticos.(4)

Por outro lado, oportunidades de educação e bolsas de estudo podem permitir um melhor conhecimento sobre os diferentes sistemas de saúde e educação. O conhecimento e a experiência trocados são capazes de fornecer novas formas de pensar e melhorar a resolução de problemas. Como coordenadora de Doação de Órgãos e Tecidos, com formação de pós-graduação recebida na UNIFESP, Vanessa Silva (VS) pretendia prosseguir treinamento internacional na pós-graduação e na pesquisa. Com a orientação e o apoio de Janine Schirmer, sua orientadora, VS entrou em um programa de doutoramento com um acordo de Cotutela entre a UNIFESP e a Escola de Enfermagem da Queen's University. Um dos objetivos educacionais de VS era melhorar sua compreensão e conscientização de diferentes sistemas de cuidados de saúde, particularmente em relação à profissão de Enfermagem. Ela está alcançando este objetivo.

Há mais semelhanças do que diferenças entre os sistemas de saúde do Brasil e do Canadá. O Brasil é um país extenso (extensão territorial de 8.516.000 km²) e seu sistema de saúde pública inclui atendimento ambulatorial (primário), de internação (ambulatorial especializado), emergencial, farmacêutico e de reabilitação (intermediário) a todos cidadãos.(5) O Canadá também é um país extenso (extensão territorial de 9.093.507 km2, ou 9.984.670 km2, incluindo as áreas de ilha), com um sistema de saúde público semelhante: atendimento ambulatorial (primário), de internação (ambulatorial especializado), emergencial, farmacêutico, e de reabilitação (intermediário), e cuidados de longa duração.(6) Uma diferença importante é que a assistência farmacêutica no Canadá não é tão integrada como no Brasil. Somente pessoas com idade acima de 65 anos e crianças vulneráveis recebem assistência medicamentosa.

As categorias de Enfermagem têm similaridades. O Brasil tem três categorias regulamentadas de enfermeiros: auxiliar de enfermagem (um ano de estudo), enfermeiro técnico (dois anos de estudo) e enfermeiro diplomado (curso superior). O Canadá também tem diferentes categorias de enfermagem: enfermeiro prático registrado (curso de nível médio), enfermeiro registrado (RN; curso superior) e enfermeiro especialista (NP; pós-graduação). Os NPs são RNs com formação universitária avançada, que prestam uma gama completa de serviços de saúde a indivíduos, famílias e comunidades, tais como: diagnóstico e tratamento de doenças agudas simples, realização de check-ups físicos, gerenciamento de doenças crônicas estáveis, prescrição de certos medicamentos, requisição e interpretação de exames de laboratório e radiografias específicos, e encaminhamentos. Os NPs trabalham em parceria com médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, com foco na promoção da saúde e prevenção e cura de doenças. Os NPs podem trabalhar em quatro especialidades: saúde pública, cuidado adulto e pediátrico, e anestesia.

A formação de doutores em Enfermagem varia tanto no Canadá como no Brasil. Embora não possamos descrever todos os programas de doutorado canadenses aqui, o programa de doutorado em Enfermagem na Queen's University é típico da maioria. Essa universidade tem reputação internacional com um forte em pesquisa. Seu programa de doutorado tem a duração de 4 anos, como no Brasil. O primeiro ano é predominantemente baseado em cursos, proporcionando um entendimento avançado sobre pesquisa e filosofia. Dois cursos são sobre métodos qualitativos e quantitativos e pesquisa, e um outro sobre filosofia. Além disso, é oferecido um curso prático de estatística avançada, onde os alunos têm a oportunidade de entender a base das abordagens analíticas e o racional para escolha dos métodos. Nos anos seguintes, espera-se que os estudantes completem o exame compreensivo, no qual o estudante escreve e defende dois artigos científicos (um metodológico e outro conceitual e/ou teórico) relacionados com sua área de interesse na pesquisa. No Brasil, os cursos de pós-graduação são flexíveis e os trabalhos de curso geralmente são escolhidos pelos estudantes. Não há o exame compreensivo. No entanto, os terceiro e quarto anos são muito semelhantes. Os estudantes devem desenvolver e defender sua proposta de pesquisa, submetê-lo ao conselho de ética, iniciar a coleta e a análise de dados, escrever e defender a tese. Parcerias internacionais poderiam ser um caminho potencial para melhorar a variedade e a natureza dos cursos oferecidos por ambas universidades. Os cursos brasileiros estão mais focados na prática, enquanto os canadenses estão mais focados na teoria. Seria ideal que mãos e mente trabalhassem juntas, com aplicação conjunta da teoria e da prática para provar e melhorar as alterações necessárias na prática e na pesquisa em Enfermagem.

Vanessa está concentrando sua pesquisa de dissertação em avaliação de programas de doação de órgãos, conforme o acordo de cotutela. Aqui também há mais semelhanças do que diferenças entre os programams brasileiros e canadenses. Por exemplo, os hospitais em ambos países têm enfermeiros coordenadores de doação de órgãos para gerenciar os processos de doação de órgãos com as organizações de procura de órgãos. A diferença entre eles é que os coordenadores brasileiros geralmente não são pagos para trabalhar na função de coordenador da doação de órgãos e tecidos, e geralmente estão assumindo outras responsabilidades de trabalho dentro de outros setores do hospital. Na pesquisa de VS, ela vai explorar, por meio da análise complexa de redes sociais, a influência das relações interpessoais nos times de doação e transplante de órgãos e as influências dessas relações nos resultados dos programas de doação de órgãos. Assim, neste exemplo, demonstra-se que investimentos em pesquisadores brasileiros contribuirão para gerar novos conhecimentos em relação aos programas de doação de órgãos no Brasil. Além disso, tais investimentos permitirão novas parcerias com universidades estrangeiras e colaborações com diferentes programas.

No processo de internacionalização, os maiores desafios estão dentro das diferenças culturais e linguísticas e, infelizmente, com inesperadas dificuldades de financiamento. Estar em um país diferente, cercada de pessoas que você não conhece e aprendendo como se comportar no novo ambiente pode ser muito difícil e estressante. Felizmente, no nosso caso o Canadá é mundialmente conhecido por ser acolhedor a todos os imigrantes e por abrigar uma população multicultural. Deste modo, o ambiente acolhedor proporciona um processo de adaptação mais suave e os estudantes podem desenvolver as habilidades acadêmicas necessárias. Além disso, é necessária uma adaptação ao estilo de redação. Na redação em Português, em geral as pessoas primeiro explicam os fatos e depois passam para a parte central da ideia. Enquanto, na redação em Inglês em geral as pessoas destacam a ideia principal na primeira frase do parágrafo, desenvolvendo-a nas sentenças seguintes. Os brasileiros têm seu próprio estilo de formatação (Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT), enquanto os canadenses baseiam seus artigos nas normas internacionais publicação, tais como as da American Psychological Association (APA). A adaptação a essas mudanças pode ser estressante para estudantes brasileiros, mas a Universidade tem recursos para estudantes internacionais, como o Centro de Redação, que dá orientação e apoio para o desenvolvimento do aluno ao longo do curso.

O desafio final, e o mais duro, é que o financiamento de bolsas no Brasil para estudos no exterior é muito difícil, e não quase impossível de obter. Infelizmente, nem todos pesquisadores brasileiros qualificados e merecedores terão a chance de ser financiados por uma agência governamental para estudar no exterior. Isto lembra a definição de “capitalismo acadêmico” Krawczyk,(1) em que as políticas educacionais estão relacionados com as necessidades das políticas econômicas, em vez do benefício da academia. Além disso, o Brasil vive uma crise política e o setor educacional foi o primeiro a sofrer as consequências. Dentre os cortes orçamentarios necessários para equilibrar a economia do país os programas de bolsas foram suspensos. Infelizmente, esses cortes certamente terão um impacto a médio e longo prazo no desenvolvimento científico e tecnológico nacional.

Com as discussões apresentadas fica claro que um equilíbrio é necessário para construir um programa de bolsas de estudos sólido. Quando analisamos as semelhanças e diferenças entre países, podemos ver se abre espaço para explorar novos caminhos na prática da Enfermagem, os quais não podiam ser vistos usando apenas uma realidade. Parcerias internacionais deveriam ser incentivadas e facilitadas. As trocas de experiência, visões de mundo, cultura, conhecimento e ciência é o futuro que precisamos construir para ter uma profissão e disciplina de Enfermagem ainda mais fortes mundialmente.

REFERÊNCIAS

1. Krawczyk NR. The Policies of Internationalization of the Universities in Brazil: the case of the regionalization of the Mercosur. Jornal de Políticas Educacionais. 2008; 4: 41–52.
2. A Criação: CNPq; [cited 2016 06 de outubro]. Available from: .
3. História e Missão [cited 2016 06 de outubro]. Available from: .
4. Brasil. Painel de Controle do Programa Ciência sem Fronteiras [cited 2016 06 de outubro]. Available from .
5. Teixeira CF. [Health promotion and surveillance in the context of health care regionalization in the Unified National Health System in Brazil. Cadernos de Saúde Pública. 2002;18 [suplemento]:S153-S62. Portuguese.
6. Marchildon GP. Canada: Health system review. Health Systems in Transition. 2013; 15(1).