versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.113 no.2 São Paulo ago. 2019 Epub 02-Set-2019
https://doi.org/10.5935/abc.20190167
A Organização Mundial da Saúde define biomarcador como qualquer substância, estrutura ou processo que pode ser medido no corpo ou em seus produtos e que influencia ou prediz a incidência ou desfecho de uma doença.1 Os biomarcadores podem servir a múltiplos propósitos: diagnóstico, estadiamento da doença, prognóstico e previsão e monitoramento da resposta a uma intervenção.1
Um biomarcador útil deve permitir medições repetidas e precisas com um tempo de resposta rápido a um custo razoável, fornecer informações que ainda não estão disponíveis a partir de uma avaliação clínica cuidadosa e seu desempenho deve ser superior a outros testes disponíveis e auxiliar na tomada de decisões e melhorar o cuidado clínico.2
Vários biomarcadores têm sido estudados no contexto da insuficiência cardíaca (IC) aguda e crônica. Em 2016, a American Heart Association emitiu uma declaração sobre o Papel dos Biomarcadores para a Prevenção, Avaliação e Manejo da Insuficiência Cardíaca.3 Após uma extensa revisão, eles afirmaram que vários biomarcadores associados à IC são bem reconhecidos, e a mensuração de suas concentrações na circulação pode ser uma abordagem conveniente e não invasiva para fornecer informações importantes sobre a gravidade da doença e ajudar na detecção, diagnóstico, prognóstico e manejo da IC. Estes incluem peptídeos natriuréticos, supressor solúvel da tumorigenicidade-2 (ST-2), troponina ultrassensível, galectina-3, pro-adrenomedulina medio-regional (MR-proADM), cistatina-C, interleucina-6 e procalcitonina. É necessário avaliar melhor os marcadores existentes e também os novos para orientar a terapia.
A Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda de 2018 recomenda o uso de peptídeos natriuréticos com propósitos diagnósticos e prognósticos.3 De acordo com essa diretriz, outros biomarcadores, como troponinas T e I, galectina-3 e ST-2, podem acrescentar informações prognósticas em pacientes com IC.4
Mais recentemente, pesquisadores suecos relataram que níveis plasmáticos elevados de NT-proBNP, MR-proADM, copeptina e cistatina-C estavam associados a maior mortalidade após a alta hospitalar em uma coorte de 286 pacientes hospitalizados por IC recentemente diagnosticada ou exacerbada.5 Entretanto, o NT-proBNP foi o único biomarcador a prever o risco de rehospitalização por causas cardíacas.
A Lipoproteína(a) (Lp(a)) é um biomarcador associado ao aumento do risco de doença aterosclerótica. Em 2016, Kamstrup e Nordestgaard demonstraram uma clara associação gradual de níveis elevados de Lp(a) com aumento do risco de IC em um estudo com mais de 98.000 participantes dinamarqueses.5 Além disso, eles forneceram evidências genéticas de que essa associação era mediada, pelo menos parcialmente, via doença arterial coronariana (DAC) e estenose da valva aórtica.
Esta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia apresenta o trabalho de Jianlong et al.,6 avaliando o valor prognóstico da Lp(a) em pacientes chineses hospitalizados por IC descompensada de origem isquêmica. Um nível de Lp(a) > 20,6 mg/dL foi associado com um aumento de 3 vezes na rehospitalização por IC. Pacientes com níveis mais elevados de Lp(a) também apresentaram níveis mais altos de NT-proBNP, maior classe da NYHA, menor fração de ejeção do ventrículo esquerdo, e mais DAC. Os resultados foram ajustados para essas covariáveis com uma pequena diminuição na razão de risco (hazard ratio).
A Lp(a) pode ser um novo biomarcador relevante em pacientes com IC de origem isquêmica. Mais estudos em diferentes populações são necessários para validar esses resultados.