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Bullying e uso de substâncias psicoativas na adolescência: uma revisão sistemática

Bullying e uso de substâncias psicoativas na adolescência: uma revisão sistemática

Autores:

Cristina Lessa Horta,
Rogério Lessa Horta,
Ariela Mester,
Daniele Lindern,
João Luís Almeida Weber,
Daniela Centenaro Levandowski,
Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561

Ciênc. saúde coletiva vol.23 no.1 Rio de Janeiro jan. 2018

http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018231.20932015

Abstract

Bullying and psychoactive substance abuse are prevalent phenomena among adolescents and identified as health problems that may jeopardise the development of all those involved. This systematic review of the literature aims to identify the extent to which involvement in bullying and psychoactive substance use during adolescence are associated, as well as check for differences regarding the social roles of bullying. From the search for empirical articles published between January 2009 and December 2014 in seven electronic databases, 585 records were identified. After the criteria for inclusion and exclusion were applied, the remaining 40 studies were analyzed based on the design, characteristics of the sample and results of the relationship between bullying and psychoactive substance use. Most studies are quantitative and cross-sectional, and they showed mixed samples of boys and girls in the school environment, which was the place where the phenomena are studied by preference. The association between the perpetration of bullying and psychoactive substance use for adolescents of both sexes is revealed. In relation to victimization by bullying, it was not possible to determine the direction and characterization of the relationship with psychoactive substance use.

Key words Bullying; drugs; adolescent; systematic review

Introdução

Bullying e uso de substâncias psicoativas são temas recorrentes na literatura científica nacional e internacional, apontados como importantes problemas de saúde, que podem comprometer o desenvolvimento de todos os envolvidos1-5. A sua alta prevalência entre adolescentes, somada aos prejuízos associados à sua ocorrência, leva-os a serem considerados como sérios problemas de saúde pública6.

Considerado como um tipo de violência interpessoal, que ocorre repetidamente, nota-se no bullying a intenção de ofender (agressão verbal), machucar (agressão física) ou humilhar (agressão relacional) alguém de idade igual ou semelhante, sem motivação evidente, causando dor, angústia e humilhação7-9.

Entre adolescentes norte-americanos, as prevalências de envolvimento em situações de bullying podem variar de 8,9%, referentes ao cyberbullying, até 37,9% para bullying verbal10. Um estudo transcultural, realizado com adolescentes de 40 países, indicou que cerca de 11% deles são vítimas de bullying2. No Brasil, estima-se que 30,8% dos adolescentes com idade entre 13 e 15 anos já sofreram bullying em algum momento de suas vidas, dos quais 5,4% quase sempre ou sempre nos últimos 30 dias. Neste mesmo estudo, meninos são referidos como sofrendo ou protagonizando mais bullying do as que meninas8.

O envolvimento em situações de bullying, seja como vítima, agressor, vítima-agressor ou expectador, está associado a prejuízos físicos, sociais, afetivos e cognitivos, não só a curto, mas também a longo prazo4. Entre os prejuízos causados por este fenômeno, estão: problemas de autoestima, de relacionamento com os pares, dificuldades na aprendizagem, evasão escolar, comportamentos violentos, transtorno de conduta, sintomas psicossomáticos, depressão, risco de suicídio e uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas4,11,12.

Enquanto os comportamentos de bullying tendem a ser rejeitados pela maioria da população, embora aconteçam com muita frequência, o consumo de álcool é praticado e, até certo nível, aceito socialmente. Estudos apontam que, embora o uso de substâncias psicoativas enfrente certas limitações e constrangimentos, este ainda é um hábito largamente praticado, especialmente a partir da adolescência1,3. O álcool, substância mais consumida nessa etapa do desenvolvimento, tem seu consumo na vida referido por 60% a 70% dos adolescentes brasileiros1,3. Desconsiderando-se tabaco e álcool, 22,8% dos 7.939 adolescentes entrevistados, no II Levantamento domiciliar sobre uso de drogas psicotrópicas no Brasil – 2005, já fizeram uso de drogas na vida13. Neste mesmo levantamento, a estimativa de adolescentes dependentes de álcool foi de 12,3% e, de tabaco, 10,1%. Além disso, a adolescência foi apontada como a etapa do desenvolvimento em que se dá o início do uso de substâncias psicoativas: entre 12 e 17 anos já se percebe o uso das mais variadas substâncias e, entre o sexo masculino, um terço declarou já ter se submetido a tratamento para dependência de drogas. Nesta faixa etária, o álcool já foi consumido por 54,3% dos adolescentes, sendo 7% considerados dependentes. Ainda, 15,2% já experimentaram cigarro, sendo 2,9% dependentes de tabaco. Por fim, a maconha já foi utilizada por 4,1% dos adolescentes13.

Assim como o bullying, o uso de substâncias psicoativas pode prejudicar o desenvolvimento físico, emocional e social dos indivíduos. Estudos associam este hábito a envolvimento em acidentes e brigas, problemas no desempenho acadêmico e profissional, prática de relações sexuais com maior número de parceiros e de risco (sem uso de preservativos), depressão, ansiedade, baixa autoestima, distúrbios psiquiátricos menores e transtornos de conduta11,14,15.

Percebe-se que o envolvimento em situações de bullying e o uso de substâncias psicoativas constituem-se em fatores de risco na adolescência e que vários problemas de saúde são comuns como consequência do envolvimento com esses fenômenos. Além disso, ambos apresentam grande prevalência nessa etapa da vida e, portanto, estão presentes de forma significativa no ambiente escolar, prejudicando o desempenho acadêmico dos envolvidos, além de aparecem frequentemente relacionados a um dos grandes problemas de saúde pública: a violência de um modo geral2,4,8,12,13. São, ainda, fenômenos que influenciam e são influenciados pelos grupos de iguais, uma vez que tanto o bullying como o uso de substâncias psicoativas costumam ser situações que o jovem vivencia junto com amigos, seja pela simples oferta ou pela função integradora que o envolvimento nesses comportamentos pode representar16,17.

Uma compreensão mais profunda destes fenômenos e da relação entre eles, necessária na promoção de cuidados dirigidos à prevenção ou ao manejo de situações típicas, depende ainda de uma sistematização das evidências disponíveis que reflitam em que medida bullying e uso de substâncias estão associados e se esta relação se modifica segundo os diferentes papéis sociais identificados entre os envolvidos em bullying (vítima, vítima-agressor ou agressor). Para responder a isso, foi realizada uma revisão sistemática da literatura sobre bullying e uso de substâncias.

Método

O presente estudo, baseado no método Prefered Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses – PRISMA18,19, foi conduzido por quatro pesquisadores, de forma independente e cega. A busca de artigos foi realizada em duas etapas: em janeiro de 2014 para publicações de janeiro de 2009 a dezembro de 2013 e, em março de 2015, para publicações de janeiro a dezembro de 2014. Foram pesquisadas as seguintes bases de dados eletrônicas: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), American Psychological Association (APA), Education Resources Information Center (ERIC), Index Psi Periódicos (IndexPsi), EBSCO Information Services (EBSCO), Web of Science e Oxford University Press. Os descritores utilizados para a busca de artigos foram definidos a partir dos termos indexados no vocabulário estruturado DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e no vocabulário de indexação de artigos da PubMed, o Medical Subject Headings (MeSH terms), estabelecendo-se a seguinte sintaxe: bullying AND drugs OR drug abuse OR substance OR dependency OR alcohol OR cannabis OR crack OR cocaine OR tobacco.

Para a inclusão dos artigos localizados nessa busca, foram adotados os seguintes critérios: 1) tratar-se de artigo empírico, 2) publicado entre janeiro de 2009 e dezembro de 2014, 3) realizado com população adolescente, 4) que relacionasse bullying e uso de substâncias psicoativas e 5) publicado em idiomas inglês, espanhol ou português. Foram excluídos: 1) os artigos repetidos, 2) aqueles que enfocavam apenas um dos temas (somente bullying ou somente uso de drogas), 3) os que mencionaram os dois temas sem examinar a relação entre eles, 4) estudos que trataram apenas de cyberbullying, 5) artigos que não estudaram nenhum dos temas e 6) estudos cuja qualidade metodológica foi considerada ruim.

Após a leitura dos títulos e resumos das produções encontradas em cada base, foram aplicados os critérios de exclusão pelos juízes, com consenso de uma terceira juíza. Quando essa leitura não se mostrou suficiente para a definição sobre a adequação ou não do artigo aos critérios de inclusão definidos, os mesmos foram mantidos para a etapa seguinte do estudo, que envolveu a leitura dos artigos na íntegra. Durante esta etapa, outro critério de exclusão foi estabelecido: estudos que abordaram o bullying sem explicitar o conceito utilizado. Assim, foram considerados artigos que abordaram o bullying aqueles que explicitaram alguma definição do fenómeno para o estudo das variáveis relacionadas, correspondendo a algum tipo de violência interpessoal, que ocorre repetidamente, com a intenção de ofender (agressão verbal), machucar (agressão física) ou humilhar (agressão relacional) alguém de idade igual ou semelhante, sem motivação evidente, causando dor, angústia ou humilhação4,7-9. Artigos que empregaram a expressão bullying sem qualquer detalhamento do conceito a quem respondia o instrumento e sem a investigação de detalhes que caracterizassem o conceito assumido aqui, foram excluídos, por não haver garantias de que seus resultados poderiam ser comparados aos resultados de artigos que apresentaram adequada caracterização do fenómeno. Em relação à faixa etária, nos casos em que os autores dos artigos encontrados não apresentaram este dado, considerou-se que o estudo de fato referia-se a uma população adolescente quando a etapa de escolarização correspondia ao esperado para esta fase do desenvolvimento. Por fim, como uso de substâncias psicoativas foi considerada a investigação de qualquer tipo de uso de drogas lícitas e ilícitas. Ainda, a qualidade do artigo foi avaliada durante a sua leitura na íntegra, verificando-se a apresentação e adequação dos procedimentos metodológicos utilizados e os riscos de ocorrência de vieses de seleção, de delineamento, de validade interna, além de possíveis conflitos de interesse dos autores e o relato do controle de vieses em cada estudo analisado20. Não foram incluídos na revisão estudos com vieses detectados pela equipe de pesquisa e percebidos como determinantes de algum prejuízo para as estimativas apresentadas no artigo.

Concluída a leitura integral dos textos, o conteúdo dos artigos foi organizado e categorizado. Foram registradas as seguintes informações: identificação do artigo, delineamento do estudo, características da amostra e resultados obtidos sobre a relação entre bullying e uso de substâncias psicoativas.

Resultados

A estratégia de busca inicial identificou 585 registros. Aplicados os critérios de inclusão, 389 registros foram selecionados. Destes, 161 eram repetidos dentro das bases, gerando um total de 228 registros, cujos títulos e resumos foram analisados. Aplicados os demais critérios de exclusão, 83 registros foram excluídos por abordarem apenas um dos temas, 82 por abordarem os dois temas, sem estudar a relação entre eles, 11 apresentaram dados exclusivos sobre cyberbullying, 04 não estudavam nenhum dos temas aqui abordados, 04 não explicitaram o conceito utilizado para o estudo do bullying e 04 foram considerados de qualidade metodológica ruim. Restaram, assim, 40 artigos, os quais foram selecionados para efetiva análise dos dados. A Figura 1 apresenta o detalhamento deste processo.

Figura 1 Fluxograma das etapas de busca e seleção dos artigos analisados. 

Na análise dos artigos, alguns aspectos destacaram-se: diferentes delineamentos de estudos do tema, processos amostrais envolvendo predominantemente escolares e não a população de adolescentes como um todo, e resultados controversos obtidos sobre a relação entre bullying e uso de substâncias psicoativas, especialmente quanto à vitimização por bullying.

Com relação ao delineamento, a maioria dos estudos é quantitativo, uma vez que apenas um dos 40 artigos apresentou delineamento qualitativo. Entre os estudos quantitativos, 24 (61%) são de delineamento transversal, 10 (26%) são estudos longitudinais, e 5 (13%) apresentaram outros tipos de delineamentos. Quanto às amostras, nota-se que a escola aparece como local onde bullying e uso de substâncias psicoativas entre adolescentes são preferencialmente estudados (87,5%; n = 35). A escola, principalmente em países e em anos escolares nos quais há limitada ocorrência de abandono escolar, pode permitir uma boa aproximação da população adolescente do território onde ela se insere. Contudo, não se pode assegurar essa relação. Portanto, é mais adequado explorar as evidências destes estudos falando da população de escolares. Depois da escola, instituições hospitalares (5%; n = 2) e outros locais (5%; n = 2) foram sede dos estudos. Apenas uma ivestigação (2,5%) era um inquérito de base domiciliar. A maioria dos estudos apresentou amostras mistas, compostas de adolescentes de ambos os sexos (95%; n = 38), havendo dois estudos realizados apenas com meninos (5%).

Entre os estudos de delineamento quantitativo transversal que analisaram o papel de vítima, nota-se que mais da metade (65%; n = 13) evidenciou aumento da ocorrência de uso de substâncias associado à vitimização por bullying. O Quadro 1 apresenta as principais evidências dos estudos com essas características. Há dados que associam a vitimização com uso de ál- cool21-23, tabaco22,24-26 e maconha no mês24, álcool e outras drogas no mês10,12,26,27 e no ano28, tabaco e álcool na vida29, além de uso pesado de álcool no ano22,30. O artigo de Espelage et al.28 explorou a condição de polivítimas, mostrando que esses foram os que mais consumiram álcool e outras drogas.

Quadro 1 Estudos Transversais que evidenciaram aumento da ocorrência de uso de substâncias associado à vitimização por bullying. 

Autor/ano Amostra Evidências
Bradshaw et al. (2013)24 N = 16.302 Escolares de Maryland (EUA) afroamericanos e caucasianos.
Idade: 12 a 21 anos.
Regressão linear ajustada com modelo hierarquizado: Nível I: Idade, sexo, raça; Nível II: nível de ensino; Nível III: urbanicidade da escola, ambiente, número de matrículas, percentual de minorias e percentual de suspensões na escola. Exposição: Papéis sociais no bullying. Desfecho: Consumo de substâncias nos últimos 30 dias - Vítimas: Álcool (OR = 1,10; IC95%:0,989-1,217); Tabaco (OR = 1,64; IC95%:1,452-1,860); Maconha (OR = 1,30; IC95%: 1,1451,485); Agressores: Álcool (OR = 3,08; IC95%:2,737-3,457); Tabaco (OR = 2,66; IC95%:2,229-3,167); Maconha (OR = 2,77; IC95%: 2,439-3,155); Agressores-Vítimas: Álcool (OR = 3,20; IC95%:2,651- 3,874); Tabaco (OR = 4,72; IC95%:3,915-5,679); Maconha (OR = 3,71; IC95%: 3,101-4,438).
Espelage et al. (2012)28 N = 992 Escolares do Centro-Oeste (EUA). Idade: 10 a 15 anos. Análise por cluster para definir variáveis de exposição (não vítimas de bullying-NV e vítimas em bullying. relacional-VR, homofóbico-VH e polivítimas-PV). ANOVA para escore de uso de AOD no último ano segundo clusters de exposição: F = 10,7 (p < 0,01), com todas as formas de vitimização com médias maiores que NV (m = 1,12; dp = 0,33). PV foram os que mais consumiram AOD (m = 1,33;dp = 0,53).
Luk et al. (2012)48 N = 7.508 Escolares norte-americanos. Idade média: 14,2 anos. Análise de classes latentes (LCA) para uso de substâncias (cigarro, álcool e maconha nos últimos 30 dias) e vitimização em bullying. Variáveis independentes: idade, sexo, etnia, tempo com amigos, conhecimento dos pais sobre os filhos. A coocorrência entre bullying e uso de substâncias foi de 5.4%, com: maior chance de ocorrer para: maior idade: [OR = 1,38 (IC95%: 1,27-1,50)], menor conhecimento materno: [OR = 5,38 (IC95%:3,73-7,74)], menor conhecimento paterno: [OR = 2,05 (IC95%:1,47-2,88)], mais tempo com amigos: [OR = 3,00 (IC95%:2,19-4,43)]; e menor chance de ocorrer para estudantes do sexo feminino [OR = 0,68 (IC95%: 0,48-0,95)].
McGee et al. (2011)21 N = 6.748 Escolares de San Diego (EUA). Idade: 13 a 18 anos. Análise de correlação entre escore de vitimização por pares (bullying) nos últimos 12 meses e uso de álcool no último mês correlação positiva entre sofrer bullying e uso de álcool: = 0,25 (p < 0,001).
Pan e Spittal. (2013)22 N = 8.182 Escolares chineses, do 7° ao 10° ano. Regressão linear por modelo misto generalizado para comportamentos em saúde, comparando vítimas de bullying religioso, racial e outros que não estes com não envolvidos, ajustada para idade, sexo e nível socioeconômico. Vítimas de bullying não religioso nem racial: Tabagismo: OR = 1,40 (IC95%:1,13-1,73) e álcool moderado e pesado: OR = 1,57 (IC 95%: 1,06-2,32).
Pierobon et al. (2013)23 N = 1.328 Escolares argentinos.
Idade: 13 a 15 anos.
Regressão logística, ajustada por idade, estratificada por sexo. Exposição: ter sido vítima de bullying no mês. Desfecho: uso de álcool no mês. Meninos: OR = 1,51 (IC95%: 1,01 – 2,26). Meninas: OR = 1,90 (IC95%: 1,32 – 2,75)
Radliff et al. (2012)12 N = 74.247 Escolares de Franklin (Ohio/ EUA), do 6° ao 12° anos. Chi-quadrado com Análise de Resíduos Padronizados Ajustados (ASR), estratificada por nível de ensino. Desfechos: uso de tabaco, álcool e maconha nos últimos 30 dias. Exposição: Papéis sociais no bullying no ensino fundamental: Agressores têm maiores prevalências dos desfechos, seguidos por agressores-vítimas. Não envolvidos têm as menores prevalências, inclusive em relação às vítimas. No ensino médio, agressores-vítimas apresentam maior uso de tabaco e álcool que agressores. Outros dados acompanham ensino fundamental.
Ringwalt e Shamblen. (2012)27 N = 53.750 Escolares de Oregon (EUA), do 6°, 8° e 11° ano. Correlação de Pearson para escores de uso e uso pesado de álcool, maconha, inalantes, outras drogas (cocaína, ecstasy, heroína, alucinógenos, anfetaminas e medicamentos) e qualquer droga no mês entre vítimas de bullying, segundo o motivo percebido para a vitimização, no mês (amizades; características físicas; orientação sexual; etnia; outras razões), ajustada para sexo, idade e etnia: Correlações baixas, mas significativas (p < 0,05), entre uso de todas as substâncias e todos os motivos em estudo (r variando de 0,07 a 0,15).
Silva et al. (2012)26 N = 1.145 Residentes em Pelotas / Brasil. Idade: 11 a 15 anos. Chi-quadrado e ANOVA para escores de vitimização por bullying nas últimas duas semanas. Variáveis independentes: uso de álcool no mês, embriaguez no mês, tabagismo no mês, uso de outras drogas no mês, sexo, idade, faltas às aulas, fracasso escolar, atividade sexual, porte de armas, envolvimento em acidentes, envolvimento em brigas. Consumir álcool, embriagar-se e fazer uso de tabaco ou drogas ilícitas no último mês aumentou significativamente a média do escore de vitimização por bullying estudado (p < 0,001 para todos os comportamentos relacionados a uso de substâncias).
Tee e Kaur. (2014)25 N = 25.507 Escolares da Malásia.
Idade: 12 a 17 anos.
Regressão logística multivariável ajustada. Exposição: Vitimização por bullying em 12 meses. Desfecho: Tabagismo Tabagismo entre vítimas de bullying, comparado a não vítimas: OR = 1,41 (IC95%: 1,00 – 1,98).
Vieno et al. (2011)29 N = 2.566 Escolares italianos.
Idade: 13 a 15 anos.
Regressão logística ajustada para sexo, ano escolar e nível de educação dos pais. Exposição: papéis sociais no bullying (vítima, agressor e vítima/agressor) em diferentes tipos de bullying (físico, verbal, relacional, sexual, cyber e racial). Desfecho: tabagismo e uso de álcool no presente. Associação_entre o envolvimento em bullying nos diferentes papéis e uso de cigarro e álcool na vida, variando de OR = 1,39 (IC95%: 1,00 – 2,01) para tabagismo e vitimização em bullying relacional, até OR = 5,00 (IC95%: 2,71 – 9,25) para uso de álcool e agressão em bullying por racismo. Não significativo para vitimização em bullying verbal e tabagismo [OR = 1,16 (IC95%: 0,74 – 1,81)] e uso de álcool [OR = 0,84 (IC95%: 0,51 – 1,39)] e vitimização em bullying por racismo e uso de álcool [OR = 0,80 (IC95%: 0,18 – 3,51)].
Yen et al. (2014)30 N = 6.406 Escolares da regiao sul de Taiwan. Idade: 11 a 19 anos. Regressão logística ajustada para sexo e idade, estratificada para tipo de bullying. passivo - BP (exclusão, apelidos e difamação) ou ativo - BA (agressão física, exploração e roubo) no ano. Exposição: papel no bullying (não envolvidos, vítima ou agressor). Desfecho: abuso de álcool.
Em BP: OR para abuso de álcool, comparado a não envolvidos: Vítimas: OR = 1,738 (IC95%: 1,384-2,183) e Agressores: OR = 3,029 (IC95%: 2,372-3,867). Em BA: Vítimas: OR = 1,599 (IC95%: 1,3541,889) e Agressores: OR = 1,753 (IC95%: 1,477-2,080).

Legenda: AOD - Álcool e Outras Drogas; ns – Não Significativa.

Por sua vez, o Quadro 2 apresenta dados dos estudos transversais que não evidenciaram aumento da ocorrência de uso de substâncias associado à vitimização ou não estudaram vitimização. Entre os 12 artigos referidos neste quadro, sete (35%) não encontraram aumento da ocorrência de uso de substâncias associado à vitimização. Neste sentido, Garcia-Continente et al.31 identificaram, entre os meninos vitimizados, uma menor chance de uso na vida de maconha, enquanto as meninas vítimas apresentaram menor chance de uso de risco de álcool nos últimos 6 meses. Em outro estudo, Garcia-Continente et al.32 encontraram a menor chance de uso na vida de maconha entre as vítimas estudadas, independentemente do sexo. Outros estudos identificaram, ainda, associação negativa entre vitimização por bullying e uso pesado de álcool33 e uso pesado de álcool e outras substâncias no ano34. Analisando-se conjuntamente os Quadros 1 e 2, nota-se estudos que apontam para a ausência de associação entre vitimização e uso de álcool no mês24,35, tabaco na semana e outras drogas no ano33 e álcool e outras substâncias36. Embora Vieno et al.29 tenham encontrado associação entre vitimização e uso de tabaco e álcool na vida, esta associação não se manteve para vitimização em bullying verbal e tabagismo, assim como para vitimização por racismo e uso de álcool.

Quadro 2 Estudos Transversais que nao evidenciaram aumento da ocorrência de uso de substâncias associado à vitimização por bullying ou não estudaram vitimização. 

Autor/ano Amostra Evidências
Cerezo e Méndez. (2012)50 N = 1.239 Escolares de Murcia (Espanha).. Idade: 11 a 18 anos Chi-quadrado para taxa de consumo de AOD no ano (p < 0,001) e taxa de policonsumo no ano (2ou + substâncias em até duas horas) (p < 0,001) segundo envolvimento em bullying; ANOVA para taxa de consumo F = 12,026 (p < 0,001) e para taxa de policonsumo F = 14,782 (p < 0,001) e comparação entre papéis para taxa de consumo: Neutro/agressor = −0,281(p < 0,001); Agressor/Vítima = 0,428(p < 0,001); Vítmia/vítima-agressor = −0,805 (p = 0,005).
Fossati et al. (2012)34 N = 763 Escolares de Milão (Itália).
Idade Média: 16,7 anos.
Correlação de Spearman para escores de uso pesado de álcool e uso de outras substâncias (OS) no ano qualquer dia da semana (DS) ou finais de semana (FS), comparando agressão e vitimização em bullying, ajustada para idade e sexo: agressor e álcool FS (ρ = 0,24; p < 0,05), álcool DS (ρ = 0,22; p < 0,05), OS FS (ρ = 0,28; p < 0,05) e OS DS (ρ = 0,26; p < 0,05); vítimas e álcool FS (ρ = −0,13; p < 0,05) e OS FS (ρ = −0,13; p < 0,05). Demais resultados: ns.
Garcia-Continente et al. (2010)31 N = 2.727 Escolares de Barcelona.
Idade média: 15,3 anos.
Regressão logística multivariável, estratificada por sexo, para vitimização em bullying segundo uso recente de tabaco, uso na vida de maconha, uso de risco de álcool nos últimos 6 meses, idade, tipo de escola, nível de ensino, nível socioeconomico, coabitação com pai e mãe, ócio noturno, atividades extraclasse, conduta antissocial, estado de animo negativo, conduta violenta.
Meninos: uso na vida de maconha: OR = 0,41 (IC95%: 0,26-0,65); Meninas: uso de risco de álcool: OR = 0,50 (IC95%: 0,32-0,78).
Garcia-Continente et al. (2013)32 N = 3.089 Escolares de Barcelona.
Idade: 13 a 18 anos.
Regressão de Poisson Robusta para uso na vida de AOD segundo papéis sociais no bullying, comparados a nenhum envolvimento, ajustada para idade, sexo, série escolar, escore na Family Affluence Scale, estado de animo, conduta antissocial, IMC.
Uso na vida de maconha: por vítimas [RP = 0,50 (IC95%: 0,320,81)] e por agressores [RP = 1,38 (IC95%: 1,02-1,87)]
Uso na vida de álcool por agressores [RP = 1,54 (IC95%: 1,12-2,13)]. Demais resultados: ns.
Gower e Borowsky. (2013)51 N = 128.681 Escolares de Minnesota (EUA), do 6°, 9° e 12° anos. Regressão logística estratificada por nível de ensino, para uso de álcool, tabaco, maconha e outras drogas nos últimos 30 dias, segundo frenquencia no papel de agressor no bullying, ajustada para sexo, sofrimento psíquico, automutilação, envolvimento em brigas, uso de outras substâncias. Agressores comparados a não envolvidos: maconha [OR = 1,53 (IC95%:1,44-1,63)] para alunos do 12° ano até álcool [OR = 2,84 (IC95%: 2,50-3,23)] para alunos do 6° ano (associações com menor magnitude sempre para séries mais avançadas).
King et al. (2013)52 N = 433 Hospitalizados. Idade: 13 a 17 anos. Teste T de Student para escore na PESQ (abuso de álcool e outras substâncias) na hospitalização por risco de suicídio, comparando agressores e não agressores. Agressores: m = 33,33 (dp = 11,9) e Não agressores: m = 27,54 (dp = 11,5) p < 0,001.
Luukkonen et al. (2010)36 N = 508 Hospitalizados em hospital psiquiátrico. Idade: 12 a 17 anos. Regressão logística para uso de substâncias no presente (tabaco, álcool, maconha e outras drogas), segundo papéis sociais no bullying, comparados a nenhum envolvimento neste, estratificada por sexo e ajustada para idade, morbidade psíquica, tipo de família, ocupação de pai e mãe, uso de substâncias e morbidade psíquica entre familiares: Agressão e uso de tabaco (meninos): OR = 3,02 (IC95%: 1,08-8,41), tabaco (meninas): OR = 14,83 (IC95%: 1,92114,83), álcool (meninos): OR = 2,34 (IC95%: 1,05-5,22), maconha (meninas): OR = 8,28 (IC95%: 2,42-28,32), outras drogas (meninas): OR = 6,43 (IC95%: 1,34-31,01). Demais resultados: ns.
McMahon et al. (2010)33 N = 1.870 Escolares do sexo masculino da Irlanda. Regressão logística multivariável, ajustada por idade. Exposições: Consumo pesado de álcool (quatro ou mais episódios de embriaguez) no ano, tabagismo e uso de outras drogas no ano. Desfecho: vitimização por bullying.
Uso pesado de álcool, comparado a quem não referiu: OR = 0,72 (IC95%: 0,56-0,93). Demais resultados: ns.
Peleg-Oren et al. (2010)35 N = 44.532 Escolares do 6° ao 8° anos, do FYSAS/2008 (Flórida/EUA). Regressão logística multivariável, ajustada para sexo, etnia e série escolar, estratificada para os papéis sociais. Exposição: Uso de álcool no mês. Desfechos: Bullying físico e verbal. Nenhuma associação para o papel de vítima. Agressores: OR = 2,44 (IC95%: 2,11-2,81) para bullying físico e OR = 2,02 (IC95%: 1,76-2,30) para bullying verbal. Entre Agressores-vítimas: OR = 1,77 (IC95%: 1,51-2,07) para bullying físico e OR = 1,42 (IC95%: 1,24-1,61) para bullying verbal.
Rivers et al. (2009)55 N = 2.002. Escolares do norte da Inglaterra. Idade: 12 a 16 anos. Modelo de regressões múltiplas com escore T, ajustado para sexo. Desfecho: Uso de qualquer substancia na vida. Exposição: papel social no bullying, incluindo testemunho, sem vítima-agressor: Correlação positiva para uso de substâncias na vida e os papéis de agressor [β = 0,32 (p < 0,001)] e testemunha de bullying [β = 0,06 (p < 0,05)]. Não houve correlação para o papel de vítima.
Shetgiri et al. (2012)56 N = 13.710 Escolares participantes do HBSC (EUA) 2001-2002, do 6° ao 10° ano. Regressão logística multivariável e Análise de Particionamento Recursivo (RPA) para bullying como agressor (qualquer, moderado e frequente) e uso corrente de álcool, tabaco ou outras drogas na vida, vitimização em bullying, sexo, idade, etnia, depressão, desregulação emocional, desempenho acadêmico, isolamento social, relação com colegas, porte de armas, envolvimento em brigas, relações familiares (FAS): agressor (qualquer padrão): Prevalência (P) = 59,3 % para fumantes, não vítimas de bullying, que não portaram armas e com envolvimento em brigas; agressor (moderado): P = 61,4 % para álcool mais de 5 dias na semana, fumantes e que portaram armas; agressor (frequente): P = 68,4 % para os que referiram irritabilidade diária, escore na FAS moderado ou elevado, desempenho acadêmico acima da média, álcool diário, fumantes e porte de armas.
Wang et al. (2012)37 N = 7.508 Escolares de Columbia (EUA), do 6° ao 10° ano. Análise de classes latentes (LCA) para tipos de bullying entre perpetradores e não envolvidos, estratificada por sexo, e comparação entre proporções para uso de substâncias (cigarro, álcool e maconha nos últimos 30 dias) segundo as classes fixadas. Meninos e meninas perpetradores de todos os tipos de bullying referiram mais uso de substâncias (61,6% e 50,4%), seguidos por perpetradores de bullying verbal/relacional (45,9% e 49,2%), quando comparados a meninos e meninas não envolvidos (29,8% e 33,9%) (p < 0,05).

Legenda: AOD - Álcool e Outras Drogas; ns – Não Significativa.

Embora a relação entre uso de substâncias e vitimização por bullying mostre-se controversa, o mesmo não ocorreu em relação ao papel de agressor. Tanto no Quadro 1 como no Quadro 2, é possível perceber a associação entre ser agressor e fazer uso de substâncias psicoativas, apontada por todos os estudos de delineamento transversal que estudaram este papel social do bullying. Entre os estudos que analisaram também os outros papéis sociais do bullying, os agressores apareceram como sendo os que mais fazem uso de substâncias, seguidos por agressores-vítimas e, por fim, pelas vítimas. Assim como aconteceu em relação aos jovens polivítimas28, agressores envolvidos em todos os tipos de bullying referiram mais uso de substâncias quando comparados a envolvidos em apenas um ou dois tipos de bullying37.

Apesar de algumas discrepâncias entre os resultados, os estudos de delineamento quantitativo longitudinal (Quadro 3) também evidenciaram associação do bullying no papel de agressor com uso de cigarros38, álcool39 ou outras drogas38. Nota-se, ainda, o estudo de Espelage et al.40, que aponta para a perpetração de bullying como fator de mediação entre violência familiar e uso de álcool, cigarro e solventes entre os meninos. No entanto, foi encontrado um estudo mostrando associação com o uso de álcool, cigarro e outras drogas no último ano apenas para bullying verbal e relacional41, e outro indicando que praticar o bullying não prediz o uso de drogas na adolescência, mas prediz na idade adulta42. Apenas no estudo de Weiss et al.43 não foi encontrada associação entre perpetração do bullying e tabagismo.

Quadro 3 Estudos Longitudinais que analisaram a relação entre Uso de Substâncias e Envolvimento em Bullying. 

Autor/ano Amostra Resultados
Espelage et al. (2014)40 N = 1.232 Estudantes do Centro-Oeste dos EUA. Idade média: 13,9 anos. Modelo de equações estruturais em três momentos ao longo de um ano, para mediação da perpetração de bullying na relação entre violência familiar e uso de substâncias no ano. Perpetração de bullying mediou a relação entre violência familiar e uso de substâncias (álcool, cigarro ou solventes) apenas para os meninos [β = 0.09 (p < 0,05)].
Farrington e Ttofi. (2011)42 N = 411 Homens residentes de Londres. Regressão logística, multivariável, com diferentes desfechos em diferentes idades, dos 8 aos 50 anos, para perpretação de bullying (exposição). Praticar bullying aos 14 anos foi preditor de uso de drogas entre 27 aos 32 anos de idade [OR = 2,44 (p = 0,010)].
Forster et al. (2013)44 N = 1.167 Escolares hispânicos e latinos da Califórnia (EUA). Regressão logística. Exposição: vitimização por bullying no mês, em T1 (9° ano). Desfecho: uso de álcool, tabaco e maconha no mês, em T2 (10° ano). Associação significativa para tabagismo:
OR = 1,26 (IC95%: 1,04-1,52), seguido de Análise de Mediação, com vitimização em T1 mediando a relação entre coesão familiar e tabagismo em T2 (β = −0,13; p < 0,001).
Hemphill et al. (2011)39 NT1 = 907 Escolares de Victoria (Australia), do 5° ano escolar. Análise de regressão logística ajustada para variáveis independentes. Exposições: vitimização e perpetração de bullying no 7° e no 10° anos. Desfechos de interesse: uso de maconha no mês e uso de álcool nas últimas 2 semanas. Associação significativa apenas para uso de Álcool no 11° ano por agressores no 10° ano, comparados aos nao envolvidos: OR = 1,67 (IC95%: 1,12 – 2,50).
Klomek et al. (2013)45 N = 2.342 Escolares do Estado de Nova York. Idade média:14,8 anos. Test T para amostras pareadas, comparando grupos com riscos psíquicos (que incluia uso de substâncias - AOD) expostos e nao expostos a bullying em follow-up de 2 anos.
Baseline: Agressores com escore maior para AOD (m = 5,4; dp = 5,9) que nao envolvidos (m = 2,7; dp = 3,5) (p < 0,01). Outros papéis, comparados a não envolvidos: ns. Nenhuma diferença no Follow-up.
Low e Espelage. (2013)41 N = 1.023 Escolares (EUA). Idade: 10 a 15 nos. Análise de correlação entre envolvimento em bullying verbal e relacional como agressor no mês, em T1 e T3, e uso de AOD em T2.
Bullying verbal/relacional (T1) X AOD (T2): ρ = 0,35 (p < 0,01).
Bullying verbal/relacional (T3) X AOD (T2): ρ = 0,41 (p < 0,01).
Niemelä et al. (2011)38 N = 2.946 Meninos T1 aos 8 anos e T2 no serviço militar (18 anos) na Finlândia. Regressão logística para uso frequente de álcool, tabagismo pesado e uso de drogas ilícitas aos 18 anos, entre envolvidos em bullying aos 8 anos, ajustada para estrutura familiar, papel no bullying, nível educacional dos pais, Escore de Rutter (morbidade infantil), Escore no YASR (morbidade na adolescência) e uso de outras substâncias. Associação significativa para agressores eventuais e uso frequente de cigarro [OR = 1,7 (IC95%: 1,2-2,3)] e drogas ilícitas [OR = 1,7 (IC95%: 1,2-2,3)], agressores frequentes e uso de drogas ilícitas [OR = 2,5 (IC95%: 1,2-5,4)], vitimização frequente e uso frequente de cigarro [OR = 1,8 (IC95%: 1,1-2,8)].
Tharp-Taylor et al. (2009)46 N = 926 Escolares da Califórnia.
Idade: 11 a 14 anos.
Regressão logística para uso de uso AOD no mês em T2 (primavera de 2005) segundo vitimização por bullying (físico-BF e psíquico-BP) no ano em T1 (outono de 2004): todos associados significativamente, variando de álcool e BF: RR = 1,62 (IC95%: 1,02-2,57) até maconha e BP: RR = 3,56 (IC95%: 1,43-8,85). Efeito de BF mais evidente entre meninas que meninos para álcool, maconha e inalantes.
Topper et al. (2011)47 N = 324 Escolares de Londres (Inglaterra). Idade em T1: 13 a 15 anos; T2: 1 ano depois. Correlação de Pearson para vitimização, uso e problemas devido ao uso de álcool nos últimos 6 meses. Vitimização em T1 esteve significativamente relacionada aos escores para uso de álcool (r = 0,13, p < 0,05) e problemas devido ao uso de álcool (r = 0,22, p < 0,001) em T2. Já o uso e os problemas devido ao uso de álcool em T1 não estiveram significativamente relacionados aos escores para vitimização em T2.
Weiss et al. (2011)43 N = 1.771 Escolares da California (EUA), T1: 6° ano, T2: 7° ano, T3: 8° ano. Modelo linear generalizado misto. Exposição: Papéis sociais agressor e agressor-vítima. Desfecho: ter iniciado o uso de tabaco no 8° ano. Nenhuma associação para comportamento agressor. Agressores- vítimas no 6° ano predominaram entre os que iniciaram uso de tabaco no 7° e 8° ano (F = 5,85, p < 0,05).

Legenda: AOD - Álcool e Outras Drogas; ns - Não Significativa.

Já em relação à vitimização por bullying, há estudos longitudinais (Quadro 3) indicando ausência de associação com uso de álcool e maconha39,44 e álcool e outras drogas45, enquanto outros apontam para a existência de associação entre vitimização por bullying e uso de cigarros38,44,46, álcool46,47, maconha46 e outras substâncias46. Ressalta-se que a vitimização no 9° ano escolar mediou a relação entre coesão familiar e uso de tabaco44, e que vitimização no tempo 1 (T1) do estudo longitudinal foi preditor de uso de álcool para coping (por exemplo, para esquecer tristezas, melhorar o humor ou lidar com sentimentos de depressão ou ansiedade) e também de problemas relacionados ao uso de álcool em T247.

Por fim, o Quadro 4 apresenta os resultados de estudos com outros tipos de delineamento. Aqui foram reunidos os dados do estudo qualitativo e de estudos que aplicaram Modelo de Equações Estruturais ou Análise de Mediação, usualmente aplicadas a estudos longitudinais, sobre dados de estudos transversais. Observa-se associação entre vitimização por bullying e uso de substâncias apenas para os meninos após o controle para presença de sintomas depressivos11 e apenas a vitimização por bullying físico como preditora de uso de álcool e outras drogas49. Há, também, um estudo indicando ausência de associação entre vitimização por bullying e o uso de cigarros53 e outro indicando que ser vítima de bullying contribui para não haver consumo de álcool, enquanto o envolvimento com a perpetração do bullying contribui para o consumo54. Além disso, a inclusão dos motivos para beber no modelo de equações estruturais utilizado pelos pesquisadores evidencia uma relação entre o efeito do envolvimento em algum dos papeis sociais de bullying e o uso de álcool54. Por outro lado, verifica-se, entre os estudos apresentados no Quadro 4, uma maior chance de agressores fazerem uso diário de tabaco53 e o consumo problemático de álcool, ou em grandes quantidades, associado a escores mais elevados de perpetração de bullying57.

Quadro 4 Estudos com outros delineamentos que analisaram a relação entre Uso de Substâncias e Envolvimento em Bullying. 

Autor/ano Amostra Resultados
Archimi e Kuntsche. (2014)54 N = 2.548 Escolares da Suiça.
Idade: 12 a 17 anos.
Análise por modelo de equações estruturais, com dados de estudo transversal, estratificada por sexo. Exposição principal: papéis sociais no bullying comparados a não referir bullying. Desfecho: consumo de álcool no presente:
Meninos (R2 = 9,6%): Agressores [β = 0,368 (0,057)], Vítimas [β = – 0,279 (0,082)] e Vítimas-Agressores [β = 0,290 (0,126)]. Meninas (R2 = 8,4%): Agressoras [β = 0,559 (0,079)], Vítimas [β = – 0,003 (0,081)] e Vítimas-Agressoras [β = 0,490 (0,001)]. Modelo com motivos para beber (DMQ-RSF): Meninos (R2 = 44,0%) e Meninas (R2 = 44,3%).
Ferret et al. (2011)57 N = 140 Escolares da África do Sul.
Idade média: 14,77 anos.
Estudo quase experimental. Exposição: Consumo de álcool - Compara grupo de estudantes com problemas por uso de álcool (consumo na vida de mais de 100 unidades de bebida alcoólica e diagnóstico de abuso ou dependência de álcool segundo o DSM-IV) com pares não usuários. Escore para envolvimento em bullying - agressor: Estudantes com problemas por uso de álcool: m = 11,94; dp = 11,89; Estudantes do grupo controle: m = 4,89; dp = 7,34; ANOVA: F = 19,42 (p < 0,001)
Fletcher et al. (2009)58 N = 30 Escolares de Londres. Qualitativo, por análise de conteúdo e grounded theory. Alguns estudantes, que perceberam a escola como um lugar assustador, de práticas de bullying e outras formas de violência, parecem ter feito uso de maconha como atividade social, a fim de se sentirem integrados e seguros com o grupo de jovens e, assim, se protegerem.
Hanewinkel et al. (2010)53 N = 3.440 Escolares da Alemanha.
Idade: 11 a 16 anos.
Ensaio clínico randomizado para programa de prevenção que desestimula o tabagismo. Regressão logística ordinal para estimar associação entre bullying e tabagismo no ingresso no estudo, ajustada para idade, sexo e nacionalidade. Modelos lineares generalizados mistos para estimar se a intervenção determinaria aumento na ocorrência do bullying. Análise para os papéis de agressor e vítima de bullying nos últimos 60 dias entre fumantes em uso diário, comparados a não fumantes: nenhuma associação para tabagismo e vitimização; OR para agressão = 4,66 (IC95%: 3,386,43). Nenhuma modificação detectada para o registro de bullying após a intervenção.
Litwiller e Brausch. (2013)49 N = 4.693 Escolares de 27 escolas rurais (EUA). Idade: 14 a 19 anos. Análise de mediação Exposição: vitimização por bullying. Desfecho: comportamento suicida. Intervenientes: Uso de substâncias, Violência, Comportamento sexual.
Correlação entre bullying e uso de substâncias = 0,70 (p < 0,001).
Luk et al. (2010)10 N = 1.495 Escolares norte-americanos. Idade média = 16,1 anos. Análise por modelo de equações estruturais com múltiplos grupos, com dados de estudo transversal, estratificada por sexo, para a relação entre vitimização por bullying em 60 dias, depressão em 30 dias e uso de substâncias em 30 dias. Para meninos: vitimização carrega para depressão (β = 0,380; p < 0,001) e para uso de substâncias (β = 0,332; p < 0,001) e depressão não carrega para uso de substâncias (β = 0,052; p = 0,289); Para meninas: vitimização carrega para depressão (β = 0,422; p < 0,001) e depressão carrega para uso de substâncias (β = 0,261; p = 0,003), enquanto vitimização não carrega para uso de substâncias (β = 0,069; p = 0,223).

Ainda, o estudo de delineamento qualitativo sugere que o uso de cigarro, álcool e outras substâncias pode ser influenciado pela experiência pessoal de sofrer algum tipo de bullying58. Apontou, ainda, o uso de maconha como atividade social, favorecendo a integração dos adolescentes com seus pares e a sensação de proteção e segurança dentro do ambiente escolar, quando este é percebido como hostil (Quadro 4).

Embora não seja foco deste estudo analisar os fatores associados à relação entre bullying e uso de drogas, alguns resultados chamaram a atenção e merecem ser destacados. Ainda que a maioria dos estudos de delineamento transversal não tenha encontrado diferenças significativas entre meninos e meninas quanto à associação entre bullying e uso de substâncias, outros estudos evidenciaram diferenças entre adolescentes de ambos os sexos. Por exemplo, Pierobon et al.23 identificaram relação significativa e expressiva entre vitimização e uso de álcool no mês para ambos os sexos. Contudo, as meninas apresentaram quase o dobro de chance de usar álcool no mês em relação aos meninos. Já no estudo de Garcia-Continente et al.31, meninas vítimas apresentaram menor chance de uso de álcool nos últimos 6 meses. Entre meninos e meninas internados em hospital psiquiátrico, Luukkonen et al.36 encontraram chance aumentada para uso de maconha e outras drogas apenas entre as meninas agressoras e, para uso de álcool, apenas entre os meninos, enquanto Garcia-Continente et al.31 encontraram menor chance de uso na vida de maconha pelos meninos vitimizados.

Ainda que os autores utilizem análises estatísticas distintas, é possível estimar a magnitude das associações aqui estudadas, pelo menos para papéis sociais que envolvem o comportamento agressor. Comparados a não envolvidos, foram estimadas Razões de Chance (OR) de 2,44 (IC95%: 2,11-2,81) para uso de álcool no mês entre agressores de bullying físico34, e até 5,00 (IC95%: 2,71-9,25) para uso corrente de álcool entre agressores por racismo29. Para tabaco, as OR variaram entre 1,7 (IC95%: 1,2-2,3) para uso frequente38 e 2,66 (IC95%: 2,229-3,167) para uso no mês24. Em relação ao uso de maconha no mês, a variação foi de 1,53 (IC95%: 1,44-1,63) a 2,84 (IC95%: 2,50-3,23)51. O estudo de Luukkonen et al.36 evidenciou OR bastante distintas destas (Quadro 2), com diferenças entre meninos e meninas, mas seus dados se limitaram a jovens hospitalizados por patologias psiquiátricas, ao contrário dos demais estudos, que entrevistaram escolares.

Discussão

A partir da exposição dos principais achados, considera-se que o estudo atendeu aos objetivos propostos, trazendo resultados e descobertas importantes sobre a relação entre os processos de bullying e o uso de substâncias psicoativas. Fenômenos bastante frequentes na adolescência e que merecem ser estudados nos dias atuais, parecem somar-se ou potencializarem-se enquanto fatores de risco ao desenvolvimento durante essa etapa da vida12,24,29,30,38. Os estudos aqui analisados, em sua maioria de delineamento quantitativo transversal, com amostras de escolares, tanto meninas quanto meninos, evidenciam a associação entre praticar o bullying e fazer uso de substâncias, independente do sexo. O mesmo não se pode afirmar em relação à vitimização por bullying e o uso de substâncias, tema onde persistem controvérsias. Há estudos apontando para a inexistência de associação entre os fenômenos da vitimização por bullying e o uso de substâncias, bem como estudos que propõem associação ou associação inversa.

É limitação deste estudo o número de bases de dados eletrônicos visitadas. Foram escolhidas bases consideradas de referência para publicações científicas na área deste estudo e a investigação se estendeu ao limite da capacidade operacional da equipe, cobrindo sete bases, em sua totalidade, para um intervalo de seis anos completos. É possível que alguma publicação relevante esteja indexada em bases não consultadas, mas o grande número de registros repetidos, equivalendo a 41% do total de artigos inicialmente selecionados, é indicativo de um bom nível de saturação na busca.

Além disso, devido ao grande número de registros incluídos a partir da busca nas bases, não foi realizada a busca de artigos a partir das referências dos artigos selecionados. Tal decisão foi tomada devido ao entendimento de que já havia um número expressivo de publicações e que os achados em análise atendiam os objetivos da revisão, como sugerido em alguns protocolos de revisões sistemáticas59.

Outro fato a ser destacado refere-se aos quatro artigos excluídos por não apresentarem o conceito de bullying utilizado. É possível que os dados deixados de fora deste estudo apresentem relevância científica e contribuam para a elucidação da relação entre vitimização e uso de substâncias, uma vez que todos apontam para aumento do uso de álcool e outras drogas entre vítimas de bullying60-63. No entanto, assumiu-se este risco por considerar-se que, além da não explicitação do conceito, a forma como o fenômeno bullying foi investigado difere significativamente da forma como os artigos incluídos nesta análise procederam. Assim, a inclusão desses artigos poderia comprometer a comparabilidade dos dados.

Os estudos aqui analisados foram publicados em periódicos que utilizam o processo de revisão por pares para a sua publicação. Apresentam de forma clara os métodos utilizados, com processos de amostragem e mensuração dos dados adequados aos objetivos propostos, tendo sido, por isso, considerados satisfeitos os critérios mínimos de qualidade exigidos para sua inclusão nesta revisão.

Parece suficientemente demostrada a associação entre o envolvimento em situações de bullying em um papel que envolva a sua perpetração (agressor ou agressor-vítima) e o uso de substâncias psicoativas por adolescentes de ambos os sexos. Tal evidência contraria a menor atenção dada aos agressores. Isto pode ocorrer por questões culturais e por um entendimento equivocado de que estes jovens não sofrem ou que apenas obtêm prazer e ganhos com as agressões, o que faz com que mais frequentemente as intervenções sejam direcionadas para a compreensão das vítimas64.

Divergências entre os estudos foram evidenciadas no que se refere à associação entre vitimização por bullying e uso de substâncias, com resultados que apontam para uma associação inversa entre os fenômenos, outros que mostram associação direta e, ainda, estudos que indicam a ausência de associação entre eles. Desta forma, não é possível precisar como é a relação entre vitimização por bullying e uso de substâncias psicoativas na adolescência a partir desta revisão. Estas evidências reforçam a necessidade de novos estudos empíricos, que investiguem e aprofundem o entendimento da associação entre estas duas condições de risco para adolescentes1-4.

Ressalta-se que esta divergência de resultados pode ter sido influenciada por alguns aspectos, os quais devem ser destacados. Primeiramente, embora todos os estudos analisados tenham entrevistado adolescentes, em geral estudantes, nota-se que os mesmos apresentam amostras com características diferentes. Ou seja, há dados que foram coletados exclusivamente com adolescentes hospitalizados, assim como observa-se amostras exclusivamente masculinas, que apresentam diferenças socioculturais e etárias. Desse modo, há evidências de que adolescentes mais jovens, provavelmente por apresentarem menos recursos cognitivos e emocionais, estejam em maior risco em relação aos prejuízos associados ao envolvimento com o bullying, entre eles o uso de substâncias51. Por outro lado, vítimas de bullying com maior idade apesentaram maior chance de uso de álcool, tabaco e maconha que os mais novos, conforme indicado por Luk et al.48 Há, também, indícios de que a existência de sofrimento psíquico interfira na associação entre os fenômenos36,38,56,64, assim como a etnia27,35,48,56. Além disso, os instrumentos utilizados para a mensuração dos fenômenos de interesse nesta revisão são distintos entre os estudos que divergem sobre a relação entre vitimização e uso de substâncias, além de investigarem aspectos diferentes do fenômeno bullying. Assim, é possível que a falta de equiparação entre os instrumentos justifique em parte as diferenças encontradas.

Alguns estudos chamam a atenção também ao indicar outras condições que parecem modificar o efeito do envolvimento em bullying sobre o uso de álcool e outras drogas. Para Archimi e Kuntsche54, resultados diferentes na associação entre bullying e uso de substâncias foram encontrados quando se consideravam diferentes motivos para o uso de álcool (sociais, de reforçamento, coping e conformidade). Já Garcia-Continente et al.31 sugeriram o uso social da maconha como proteção à vitimização por bullying, talvez pelo fato de a vitimização implicar exclusão dos grupos, reduzindo a oferta de drogas pelos pares. Como o estudo é transversal, pensando em reversibilidade causal, também se pode imaginar que o uso da substância se associa a maiores níveis de socialização e formação de vínculos com pares, protegendo seus membros da condição de vitimização por bullying. Por fim, Shetgiri et al.56 evidenciaram que, entre os adolescentes que se envolveram em brigas, não carregaram armas e não foram vítimas de bullying, mas fumaram, a prevalência de perpetração de bullying foi significativamente maior do que entre aqueles adolescentes que não fumaram. A partir desses resultados, é possível pensar a complexidade que envolve os fenômenos aqui estudados, ou seja, os diferentes fatores que se associam à relação entre eles, nem sempre contemplados nos estudos aqui analisados.

Outro aspecto a ser destacado refere-se ao delineamento dos estudos. O fato de a maioria das investigações apresentar delineamento quantitativo transversal permite-nos verificar associações entre os fenômenos bullying e uso de substâncias psicoativas na adolescência, mas pouco poder dizer a respeito de relações de causa e efeito entre eles. Particularmente, faz-se importante compreender o que leva a uma associação positiva entre os fenômenos, assim como o que protege adolescentes vitimizados de se envolverem com o uso de substâncias (associação negativa e ausência de associação), a fim de que estratégias de intervenção adequadas sejam planejadas.

Considerações Finais

Apesar da divergência quanto à vitimização em bullying, é possível afirmar que adolescentes envolvidos em situações de bullying, em qualquer papel social que envolva a agressão, fazem mais uso de substâncias psicoativas em comparação àqueles não envolvidos. Mais especificamente, os adolescentes agressores tendem a ser os que mais fazem tal uso. Essa conclusão aponta para um foco relevante para a intervenção psicológica, pois enfatiza uma maior vulnerabilidade dos adolescentes nesta condição e, portanto, a maior necessidade de atenção e proteção desses jovens. A associação entre estes fenômenos também serve de alerta para o seu diagnóstico precoce em adolescentes. Ainda que não possa ser tomado como regra, indícios de envolvimento em situações de bullying servem como alerta para um possível uso de substâncias psicoativas e vice-versa.

Ressalta-se, ainda, que as inconsistências entre os estudos no que se refere ao comportamento das vítimas podem traduzir o efeito da subjetividade desses jovens sobre as situações externas vivenciadas. Novos estudos empíricos com adolescentes vítimas de bullying são, portanto, necessários, a fim de fornecer subsídios para o preenchimento desta lacuna e avançar para além dos resultados já existentes, que, de certa forma, legitimam a dicotomia entre vítima e agressor e subestimam o sofrimento de ambos.

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