versão On-line ISSN 2317-1782
CoDAS vol.27 no.6 São Paulo nov./dez. 2015
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20152014223
A perda auditiva na infância acarreta grandes prejuízos ao desenvolvimento infantil, sobretudo da linguagem oral1.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2005, 278 milhões de pessoas apresentavam perdas auditivas de grau moderado a profundo, 80% das quais vivem em países em desenvolvimento2. No Brasil, dados do censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) apontam que 9,7 milhões de brasileiros possuem deficiência auditiva, e cerca de 1 milhão desses são crianças e jovens até 19 anos3. Os estudos epidemiológicos, no Brasil, demonstram que a prevalência da deficiência auditiva tem sido de 1 a 2:1.000 na Triagem Auditiva Neonatal Universal e de 20 a 50:1000 em triagens auditivas em unidades de Terapia Intensiva Neonatal4 5
Grande parte dos casos de deficiência auditiva poderia ser prevenida e seus efeitos minimizados se o diagnóstico e a intervenção fossem realizados precocemente. A Triagem Auditiva Neonatal (TAN) representa uma grande contribuição na identificação precoce da deficiência auditiva, possibilitando uma intervenção mais efetiva. Nesse sentido, partir da década de 1980, foram instituídos no Brasil os primeiros programas de TAN, contando atualmente com cerca de 237 programas em 22 estados do país6.
Contudo, somente com o estabelecimento de políticas públicas nacionais voltadas para a saúde auditiva foi possível verificar grandes avanços na área. Em 2004, a publicação da Portaria de nº 587, de 7 de outubro 2004, que instituiu a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva constituiu um marco importante no direito à saúde auditiva do brasileiro. A publicação da Lei nº 12.303 em 2010, que dispõe sobre a obrigatoriedade da realização da TAN em hospitais e maternidades públicas do país, também pode ser considerada um passo importante para a consolidação do diagnóstico e intervenção precoce da deficiência auditiva7 8.
No entanto, a realidade dos serviços de saúde auditiva ainda apresenta um grande número de diagnósticos tardios da deficiência auditiva. Diversos fatores contribuem para essa realidade, como: programas de TAN ainda em estruturação no país; a distribuição desses programas nos grandes centros urbanos; dificuldades na continuidade do diagnóstico e intervenção em razão de um sistema de referência e contrarreferência ineficaz; dificuldade de adesão das famílias; possibilidade de ocorrência de perdas auditivas tardias ou progressivas; inexistência de programas de acompanhamentos do desenvolvimento auditivo dessas crianças, entre outros fatores9.
Diante dessa problemática, uma medida de grande importância e complementaridade aos programas de Saúde Auditiva Infantil seria o acompanhamento dessas crianças pela equipe da Estratégia de Saúde da Família, em especial, pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS), o que possibilitaria um contato mais direto com as famílias e maiores chances de promoção da saúde auditiva infantil.
Este profissional foi aproximado das ações voltadas à saúde auditiva infantil, num primeiro momento, com a inclusão no Guia Prático do ACS de informações referentes ao "teste da orelhinha", que integra o Programa Nacional de Triagem Auditiva Neonatal10. Contudo, foi a partir do Plano Viver sem Limites (Decreto nº 7.612/2011), que tem como objetivo a ampliação do acesso e a qualificação dos atendimentos às pessoas com deficiência, que o papel do ACS na saúde auditiva infantil foi efetivamente estabelecido. Entre as ações do ACS, esse plano prevê a reestruturação do atual sistema de busca e acompanhamento das crianças diagnosticadas com perda auditiva, indicando a importância de atuação do ACS11.
Infere-se assim que a atuação do ACS é de grande relevância para os programas de saúde auditiva infantil. Tais profissionais, por acompanharem de perto as famílias, podem colaborar na identificação precoce da deficiência auditiva, no resgate das famílias que não dão continuidade ao processo de TAN e/ou diagnóstico audiológico, na identificação de crianças com possíveis desordens auditivas adquiridas, no direcionamento desses pacientes aos serviços de saúde auditiva, bem como na adesão aos programas de reabilitação12. A literatura começa a apresentar então propostas para a capacitação de ACS visando uma atuação mais efetiva deste na promoção da saúde auditiva infantil13 14.
Caracterizar a capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde na área de saúde auditiva infantil por meio de uma revisão sistemática de literatura.
Buscou-se com essa caracterização identificar as possibilidades de atuação do ACS, verificar quais estratégias de capacitação têm sido consideradas as mais efetivas, bem como quais os instrumentos apontados como facilitadores para a atuação desse profissional.
A estratégia de busca foi direcionada mediante uma questão específica "Como tem sido realizada a capacitação do Agente Comunitário de Saúde na área de Saúde Auditiva Infantil?". Visando identificar os estudos pertinentes com a questão proposta, foi realizada uma busca, entre os meses de janeiro e junho de 2014, nas bases de dados eletrônicas encontradas no Portal de Pesquisa da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP. Dois avaliadores promoveram a busca dos trabalhos, bem como realizaram as devidas análises em cada etapa da pesquisa, de forma independente e cega, a fim de assegurar a qualidade da metodologia aplicada na revisão sistemática de literatura.
Para a realização da busca, foi utilizada a seguinte combinação de descritores: "Agentes Comunitários de Saúde" AND "Audição", "Agentes Comunitários de Saúde" AND "Perda Auditiva", "Agentes Comunitários de Saúde" AND "Surdez", "Agentes Comunitários de Saúde" AND "Capacitação", e ainda "Estratégia de Saúde da Família" AND "Capacitação". Tal combinação foi pesquisada apenas em Português Brasileiro, à medida que o objetivo era conhecer especificamente as ações realizadas pelos ACS em Saúde Auditiva Infantil no Brasil.
Os estudos foram selecionados em duas etapas. Na primeira, foram analisados os títulos e resumos de todos os estudos encontrados. Os critérios de inclusão foram:
1. abordar o tema ACS e saúde auditiva infantil;
2. apresentar estratégias de capacitação dos ACS na promoção da saúde auditiva infantil;
3. ser publicado na língua portuguesa;
4. pertencer à categoria artigo, dissertação ou tese.
Na segunda etapa, foi realizada a leitura completa dos trabalhos potencialmente relevantes, analisando se eles efetivamente atendiam aos critérios de inclusão propostos.
Para cada trabalho selecionado na segunda etapa, foi utilizado um protocolo predefinido abrangendo tópicos como: as estratégias de capacitação dos ACS na área de saúde auditiva infantil, a efetividade das capacitações, as possibilidades de atuação dos ACS na promoção da saúde auditiva infantil, e os instrumentos utilizados pelos ACS na aérea de saúde auditiva infantil.
O processo de obtenção dos estudos potencialmente relevantes para a revisão sistemática consistiu de duas etapas, de acordo com critérios definidos anteriormente na estratégia de busca (Figura 1). Com a conclusão desse processo, foram incluídos na revisão sistemática três artigos e uma dissertação, cuja relevância pôde ser comprovada após rígido processo de leitura. Uma breve descrição dos quatro estudos incluídos na revisão sistemática de literatura é apresentada na Tabela 1.
Legenda: ACS = Agente Comunitário de Saúde
Figura 1: Síntese do processo de obtenção dos estudos selecionados para a revisão sistemática
Tabela 1: Descrição dos estudos incluídos na revisão sistemática de literatura
Estudo/autores | Descrição do estudo | Conclusão do estudo |
---|---|---|
Araújo ES. Ensino a distância na capacitação de agentes comunitários de saúde na área de saúde auditiva infantil: análise da eficácia do CD-ROM9 | O objetivo do estudo foi avaliar a eficácia do CD-ROM como ferramenta de tele-educação interativa na capacitação de ACS na área de saúde auditiva infantil. A casuística foi composta por 43 ACS do município de Bauru - SP (G1) que receberam formação prévia em saúde auditiva e 47 ACS do município de Itajaí - SC (G2), sem formação prévia. O CD-ROM "Saúde Auditiva Infantil" foi desenvolvido em projeto e contém cinco módulos, que abrangiam desde a prevenção à reabilitação auditiva. Execução do trabalho: 1ª fase - treinamento em informática básica; 2ª fase - capacitação dos ACS; 3ª fase - elaboração de um simulador de situações diárias; 4ª fase - validação do CD-ROM como ferramenta de tele-educação interativa: o aproveitamento e o aprendizado do conteúdo foram avaliados por meio da comparação do desempenho no questionário pré e pós-capacitação imediata, do desempenho em um simulador de situações diárias e por meio de um questionário qualitativo acerca da ferramenta de tele-educação interativa utilizada; 5ª fase - análise dos dados. A comparação do desempenho pré e pós-capacitação imediata evidenciou diferença para os dois grupos nos escores total e nos diferentes domínios avaliados pelo questionário. No que se refere ao desempenho dos ACS no simulador de situações diárias, houve diferença entre os grupos, com melhor desempenho do G1. Não foi observada correlação significativa entre o desempenho pós-capacitação imediata e na avaliação por meio do simulador. A análise qualitativa da opinião dos ACS acerca do CD-ROM evidenciou que houve grande aceitabilidade dessa ferramenta de tele-educação interativa. | A autora concluiu que o CD-ROM "Saúde Auditiva Infantil" é uma ferramenta de tele-educação interativa eficaz na capacitação de ACS na área de saúde auditiva infantil, representando um recurso que pode auxiliar os ACS a realizar assistência integral e com qualidade à população em todo o país. |
Alvarenga KF, et al. Prosposta para capacitação de agentes comunitários de saúde em saúde auditiva13 | O objetivo do estudo foi verificar a efetividade de um programa de capacitação de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) do Programa de Saúde da Família, na área de saúde auditiva infantil. Foram constituídos dois grupos: A - 31 ACS da cidade de Bauru, SP, e B -75 ACS de Sorocaba, SP. A capacitação foi realizada por meio de aulas expositivas para os dois grupos, contudo para o grupo A foi utilizada uma apostila adaptada da OMS (2006) para que os ACS pudessem acompanhar as atividades realizadas de forma interativa. A capacitação abordou os temas: audição e deficiência auditiva (DA), tipos, prevenção e causas da DA, técnicas de identificação e diagnóstico da DA e aspectos gerais da DA. Para a validação, foi aplicado um questionário pré e pós-capacitação com perguntas sobre os assuntos que foram abordados no decorrer do curso, a fim de analisar a assimilação do conteúdo. A capacitação foi efetiva, com aumento no escore total obtido nos questionários pré e pós-capacitação. | Os autores consideraram que os resultados comprovaram a eficácia do programa de capacitação com utilização de material e abordagem interativa proposto para os agentes comunitários de saúde dos Programas de Saúde da Família. |
Alvarenga KF, et al. Questionário para monitoramento do desenvolvimento auditivo e de linguagem no primeiro ano de vida.14 | O estudo teve como objetivo validar um questionário de monitoramento do desenvolvimento da função auditiva e de linguagem, aplicado por Agentes Comunitários de Saúde (ACS) no primeiro ano de vida. Setenta e seis ACS, capacitados previamente em saúde auditiva infantil, aplicaram o questionário às famílias de 304 crianças de 0 a 1 ano de idade. O questionário envolve questões sobre o desenvolvimento da função auditiva e da linguagem, e para todas as faixas etárias possui a questão "Seu filho ouve bem?". A validade deste verificada por meio da análise das taxas de falso-positivo e falso-negativo das crianças investigadas. Foi utilizado um estudo duplo-cego em que todas as crianças investigadas pelo questionário foram submetidas à avaliação audiológica realizada por fonoaudiólogos. Foram diagnosticadas 4 crianças (1,32%) com perda auditiva sensorioneural, sendo 2 unilaterais, e 69 crianças (22,7%) com perda auditiva condutiva. O questionário de acompanhamento demonstrou especificidade de 96% e sensibilidade de 67%, com taxa de falso-negativo de 33%, por não identificar as perdas auditivas unilaterais, e falso-positivo de 4%. | A utilização do questionário proposto mostrou-se viável e pertinente às ações desenvolvidas pelos agentes comunitários de saúde da Estratégia de Saúde da Família, demonstrando alta especificidade e moderada sensibilidade. A utilização do instrumento validado deve ser considerada como forma complementar aos Programas de Triagem Auditiva Neonatal, a fim de identificar as alterações auditivas de caráter adquirido ou de início tardio. |
Melo TM, et al. Capacitação de agentes comunitários de saúde em saúde auditiva: efetividade da videoconferência18 | O estudo avaliou a efetividade da capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), por meio da videoconferência, na área de saúde auditiva infantil. Participaram 50 ACS divididos aleatoriamente em dois grupos de acordo com a metodologia de ensino: 31 participaram da capacitação presencial e 19 por meio de videoconferência. A atividade ocorreu em um encontro de oito horas, com aulas expositivas sobre o conteúdo ministrado e a utilização do material adaptado Primary ear and hearing care training resource - basic, intermediate and advanced levels, de forma simultânea para ambos os grupos. A capacitação foi organizada e avaliada de acordo com a proposta de estudo anterior. Ambos os grupos apresentaram diferença quando considerado o desempenho apresentado no instante pré e pós-capacitação, de forma mais expressiva para o grupo que participou da capacitação presencial, tanto na análise do escore total como quando considerados os temas abordados separadamente. | Os autores concluíram que a videoconferência como ferramenta de ensino foi efetiva para a capacitação dos agentes comunitários de saúde na área de saúde auditiva, porém deve ser utilizada de forma complementar à capacitação realizada de forma presencial. |
A Figura 2 apresenta o resultado da análise dos conteúdos que foram abordados pelos quatro estudos incluídos na revisão após verificação individual de cada um.
Legenda: ACS = Agente Comunitário de Saúde
Figura 2: Análise dos artigos incluídos para a revisão sistemática
As políticas públicas atuais na área da saúde auditiva infantil visam cada vez mais um diagnóstico precoce da deficiência auditiva, a fim de proporcionar a essa população uma intervenção precoce, maximizando assim suas potencialidades de desenvolvimento auditivo e da linguagem oral. O ACS desempenha um papel importante nesse processo, visto que é o profissional que acompanha de perto essas famílias e atua na vigilância e promoção da saúde auditiva dessas crianças. Nos tópicos a seguir serão discutidos os conteúdos pertinentes a esse tema, analisados nessa revisão sistemática.
Os quatros estudos incluídos nesta revisão apontaram como estratégias de capacitação dos ACS diferentes modalidades de ensino:
1. aula presencial expositiva;
2. aulas a distância com o uso de recursos tecnológicos como videoconferência ou CD-ROM, ambas com a presença do tutor; e
3. o uso de apostilas com conteúdos pertinentes ao assunto estudado para consultas futuras e como forma de reforço.
Outra estratégia de capacitação encontrada, porém não inserida nesta revisão sistemática por não atender aos critérios de inclusão (anais de evento científico), realizou a capacitação por meio de um sistema baseado na web para a tele-educação, o cybertutor15.
As modalidades de ensino identificadas apontam para uma tendência atual de capacitação a distância, que viabiliza o alcance de diferentes regiões do país e possibilita a educação permanente desses profissionais.
A Política Nacional de Atenção Básica, aprovada pela Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, estabelece a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para a Estratégia de Saúde da Família e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde, pontuando a importância da educação permanente. A proposta de educação permanente foi estabelecida pela Portaria nº 2546, de 28 de outubro de 2011, que redefiniu e ampliou o Programa Telessaúde Brasil, o qual passou a ser denominado Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes. Essa portaria ressalta que será oferecida aos profissionais e trabalhadores das Redes de Atenção à Saúde no SUS a teleducação (conferências, aulas, cursos) ministrada por meio da utilização das tecnologias de informação e comunicação16 17.
A efetividade das capacitações realizadas com os ACS foi abordada em três estudos, todos apontando para a efetividade dos treinamentos, analisada por meio da aplicação de questionários pré e pós-capacitação (na sequência do treinamento) no intuito de evidenciar a retenção dos conteúdos abordados9 13 18.
Um estudo18 comparou a retenção do conhecimento entre o grupo de ACS que participou da aula presencial e da aula por videoconferência. Ambos apresentaram retenção significativa dos conteúdos abordados, sendo, contudo, mais expressiva no grupo que participou da capacitação presencial.
Apenas um estudo9 avaliou a retenção do conhecimento dos ACS em longo prazo por meio de uma ferramenta denominada "simulador de situações diárias", que verificava o desempenho do ACS diante de situações relacionadas à saúde auditiva infantil. Apesar de a participação dos ACS na segunda etapa da pesquisa ter sido pequena (apenas cerca de 40% dos profissionais que participaram da capacitação foram avaliados com relação à retenção do conhecimento em longo prazo), os resultados demonstraram que houve incorporação dos conteúdos teóricos nas ações que os ACS desenvolvem diariamente.
Outro estudo19, corroborando esses resultados, verificou a retenção das informações oferecidas aos ACS em um curso de capacitação em saúde auditiva infantil com o uso do cybertutor. Os ACS responderam um questionário imediatamente após a capacitação e outro após 15 meses. Os resultados demonstraram redução no conhecimento geral dos ACS sobre saúde auditiva infantil, demonstrando que a capacitação dos ACS deve ocorrer de maneira continuada.
É importante também considerar, além das avaliações objetivas de desempenho utilizadas em cada estudo, a opinião dos profissionais que participaram dos treinamentos. Em dois artigos13 18 foram apresentados depoimentos e comentários dos ACS, que relataram a importância dos treinamentos realizados, bem como o impacto deles em suas posturas profissionais após as capacitações.
Outro estudo20 analisou a opinião dos ACS sobre o uso da videoconferência na capacitação em saúde auditiva infantil. Participaram 50 ACS divididos em dois grupos, um capacitado de modo presencial e outro por meio de videoconferência. A avaliação da eficácia das duas ferramentas de ensino demonstrou resultados semelhantes. Os profissionais referiram fácil entendimento do conteúdo ministrado e boa interação com o profissional responsável pela capacitação. Assim, a videoconferência foi considerada uma ferramenta válida e aceita pelos profissionais.
No estudo da análise da eficácia do CD-ROM9, foi aplicado um questionário após a capacitação com o objetivo de avaliar a opinião dos ACS com relação ao uso dessa ferramenta. Os ACS referiram que este é um recurso didático, que possibilita o entendimento dos assuntos, desperta o interesse, propicia uma participação ativa no processo de aprendizado e apresenta recursos audiovisuais adequados.
Os dados apresentados apontam para a efetividade das capacitações por meio dos recursos tecnológicos atuais. Diante da grande extensão do programa de Estratégia Saúde da Família (ESF), que em 2011 já apresentava mais de 32 mil equipes distribuídas pelo Brasil, essas propostas de capacitação, que utilizam a tele-educação, parecem ser ideais para alcançar de forma igualitária os mais de 204 mil ACS espalhados pelo Brasil21.
Apenas um artigo14 desta revisão adotou a utilização de um instrumento prático a ser inserido na rotina dos ACS para o monitoramento das habilidades de audição e linguagem no primeiro ano de vida. Os autores desenvolveram um questionário que continha um total de 35 perguntas objetivas, relacionadas aos comportamentos esperados para cada mês, divididas em períodos de 0 a 1 ano, apresentando como possibilidade de resposta "sim" ou "não". Esse instrumento demonstrou ser viável e pertinente às ações desenvolvidas pelos ACS, sendo possível identificar com sua utilização as alterações auditivas de caráter adquirido ou de início tardio.
Em dois estudos13 18 foram utilizadas apostilas, ambas baseadas no material proposto pela Organização Mundial de Saúde, o qual foi adaptado e validado para o Português Brasileiro. Esse material foi utilizado para que o ACS pudesse acompanhar as aulas durante a capacitação e, de certa forma, para que também pudesse ser consultado posteriormente. Na presente revisão de literatura, não foram identificados instrumentos práticos que pudessem auxiliar os ACS na identificação de alterações auditivas em crianças maiores.
Nesta linha, faz-se necessário destacar as ações promovidas pelo Ministério da Saúde, no intuito de fornecer subsídios ao ACS para o desenvolvimento do trabalho, como o Guia Prático do ACS. Com relação à saúde auditiva, esse guia contempla esclarecimentos sobre o teste da orelhinha, orientações quanto ao monitoramento de audição e de fala, informações sobre os encaminhamentos necessários para a avaliação da audição quando identificadas possíveis alterações, bem como informações sobre o Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI)10.
Os trabalhos incluídos nesta revisão9 13 14 18apontaram distintas possibilidades de atuação dos ACS, como:
• motivação das famílias para a saúde auditiva;
• educação e multiplicação de conhecimentos acerca da prevenção da deficiência auditiva (DA);
• identificação de possíveis casos de DA e encaminhamento dos casos pertinentes para serviços de referência para a avaliação da audição;
• apoio às famílias de crianças que já apresentam diagnóstico de deficiência auditiva;
• auxílio às famílias na adesão aos programas de reabilitação auditiva;
• promoção da saúde auditiva.
Fica claro que as possibilidades de atuação do ACS, na área da saúde auditiva infantil, são diversas e contemplam tanto a promoção quanto a vigilância da saúde auditiva, estando em consonância com o que é preconizado pelo Ministério da Saúde acerca da atribuição do ACS10.
Com a caracterização da capacitação dos ACS, foi possível identificar as diferentes modalidades de ensino utilizadas para esse fim, na área da saúde auditiva infantil, todas se mostrando efetivas quanto à retenção do conhecimento.
Foi demonstrada a importância da atuação do ACS na área de saúde auditiva infantil, nas ações de promoção e vigilância, sendo considerada fundamental para a educação continuada, a fim de manter uma atuação efetiva e de qualidade.
Novos estudos devem ser realizados no intuito de elaborar instrumentos práticos a serem utilizados pelo ACS na sua rotina, ampliando assim a sua atuação.