versão impressa ISSN 0102-7638
Rev Bras Cir Cardiovasc vol.29 no.1 São José do Rio Preto jan./mar. 2014
http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.20140020
Caro editor,
Li o editorial escrito pelo Prof. Dr. Walter J. Gomes, intitulado "Inovação e excelência: transformando para prevalecer a cirurgia cardiovascular brasileira" [ 1 ], e achei-o muito lúcido e honesto, visto se tratar de algo escrito por quem protagonizou a história contada.
Quero parabenizar o autor pelo seu mandato frente à Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), pelas suas ações e pela sua dedicação às causas que envolvem a cirurgia cardiovascular, de conhecimento de todos, mas de lembrança sempre justa.
Sobre um importante tópico abordado no editorial, reflito: desde que tive a honra de ser presidente da Associação Brasileira dos Residentes em Cirurgia Cardiovascular (ABRECCV), em 2010, toco no ponto que considero nevrálgico na cadeia da cirurgia cardiovascular, a entrada de médicos na especialidade. Naquele ano, numa das reuniões da Sociedade de Cirurgia Cardiovascular do Estado de São Paulo (SCICVESP), tive a oportunidade de apresentar um artigo então recém-publicado na Circulation, intitulado Shortage of cardiothoracic surgeons is likely by 2020 [ 2 ] e, posteriormente, bem comentado no site Heartwire Medscape Cardiology [ 3 ], que previa falta de cirurgiões cardiovasculares no EUA, em 2020. Mas podemos dizer que no Brasil já se sente isso.
No caminho rumo à criação de novos serviços de cirurgia cardiovascular, uma grande dificuldade é encontrar outros cirurgiões com perfil e disposição para tal e tem-se a clara impressão que isso ocorre porque somos poucos. Portanto, seria fundamental que a próxima gestão pudesse se manter firme na exigência da extinção do pré-requisito de cirurgia geral e aumento da qualidade da formação nas residências, creio que isso poderá tornar viável nossa especialidade no futuro.
Após conversas com outros jovens e antigos cirurgiões, traduzo que um ponto a se pensar seria um setor dentro da SBCCV que pudesse orientar cirurgiões (seres criados entre 4 paredes, pouco incentivados a interagir com o mundo a seu redor) a como elaborar e pôr em prática um projeto de serviço de cirurgia cardiovascular viável, que contemplasse as necessidades básicas a serem exigidas do gestor público, filantrópico ou privado, que queira investir na ideia, passando por estrutura, pessoas, protocolos, negociações comerciais com hospitais, convênios, cooperativas e orientação sobre legislação (portarias, leis, SUS), além de ajudar a adaptar modelos à peculiaridades locais.
Um setor como esse poderia ajudar bastante, até mesmo a reestruturar serviços já existentes que perderam qualidade, ânimo e estímulo ao longo do tempo.
Parabéns ao Editor e ao autor pelos seus serviços prestados a nossa causa. Desejo saúde e paz neste ano de 2014.