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Comparação da aplicação de bandagem elástica e esparadrapo na redução da dor em professores de ensino fundamental e médio

Comparação da aplicação de bandagem elástica e esparadrapo na redução da dor em professores de ensino fundamental e médio

Autores:

Debora Mottin,
Cássio Preis,
Luiz Bertassoni Neto

ARTIGO ORIGINAL

BrJP

versão impressa ISSN 2595-0118versão On-line ISSN 2595-3192

BrJP vol.1 no.4 São Paulo out./dez. 2018

http://dx.doi.org/10.5935/2595-0118.20180064

INTRODUÇÃO

A síndrome dolorosa miofascial é uma condição muscular desencadeada por pontos-gatilho (PG), atribuída ao esforço repetitivo, manutenção de posturas incorretas, distúrbios musculoesqueléticos, doenças sistêmicas, sedentarismo e distúrbios do sono1,2.

Os professores representam um grupo ocupacional com alta prevalência de dores musculoesqueléticas. As causas são multifatoriais. Entre elas, cita-se o esforço físico intenso, mobiliário inadequado e longas horas de trabalho. Também está associada a fatores psicossociais, como alto nível de estresse, baixo apoio social e satisfação profissional3,4.

Para o tratamento da síndrome da dor miofascial inclui-se o método Kinesiotaping®, que utiliza como material uma bandagem elástica (BE)5,6. Originalmente desenvolvido no Japão, por Kase, tornando-se, nos últimos anos, cada vez mais popular7.

A banda elástica é aumentada até 140% do seu tamanho natural, igualando assim à elasticidade da pele, sendo que sua espessura e peso também são comparáveis a mesma. A banda também é hipoalérgica e resistente à água. Igualmente importante é que não contem fármacos, sendo que todos os benefícios relatados vêm da elasticidade do material8.

Os efeitos da BE não são totalmente elucidados. A proposta desse método é que proporciona analgesia, melhora a função muscular por meio de regulação do tônus muscular, ajuda na função articular, elimina os bloqueios na circulação sanguínea e auxilia na drenagem linfática. Os estudos demonstram que é eficaz quando aplicada de forma única. Esse fato pode ser associado ao efeito placebo. Quando combinada à fisioterapia, teoricamente forma ideal para o tratamento, não houve diferença significativa7,9-13.

A combinação da capacidade de distensão da BE e a aplicação sobre o músculo alongado cria circunvoluções na pele do paciente quando ele retorna à posição neutra. Essas circunvoluções reduzem a pressão nos mecanorreceptores que estão localizados abaixo da derme, assim diminui o estímulo nociceptivo14,15. Essas circunvoluções também aumentam o espaço entre a pele e o músculo, auxiliando nos fluxos sanguíneo e linfático16.

Há evidência de que a dor é parcialmente mediada por meio de um mecanismo endógeno do cérebro, denominado sistema nociceptivo medial, que pode contribuir para o componente emocional da dor. Esse sistema pode ser influenciado por expectativas do paciente, o que, por sua vez, reduz a dor por meio da inibição descendente e da liberação de opioides. Esses resultados sugerem que um placebo tem um efeito fisiológico verdadeiro17.

Se a BE de fato atua inibindo a via descendente, ou outro mecanismo similar, é possível que a aplicação de esparadrapo forneça estímulo suficiente para ter efeito terapêutico em termos de redução da dor14.

O objetivo deste estudo foi comparar o efeito da aplicação da BE com a aplicação de esparadrapo na dor miofascial na região das fibras superiores do músculo trapézio de professores.

MÉTODOS

Estudo aplicado, experimental, qualitativo, quantitativo e descritivo, realizado no período de março a junho de 2015, com professores de quatro escolas da rede pública e privada de ensino, situadas na região metropolitana de Curitiba.

Foram incluídas professoras, que apresentavam PG e queixas álgicas na região das fibras superiores do músculo trapézio, com idade de 20 a 50 anos, que trabalhavam no mínimo há 2 anos e com carga horária semanal de no mínimo 25h. Foram considerados critérios de exclusão as gestantes, as participantes que possuíam alergia ao esparadrapo e apresentavam doenças associadas na área de aplicação da BE. Foi excluída uma participante que apresentava tendinite do músculo supraespinhoso e duas que estavam acima da faixa etária. Todos os voluntários foram esclarecidos quanto aos procedimentos realizados e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

O cálculo amostral foi baseado no pressuposto de que para populações com mais de 150 pessoas deve-se utilizar uma amostra de 10% e em populações com menos de 150 pessoas, uma amostra de 20%. Sabendo que há uma média de 80 professores e que não é a totalidade que apresenta as características necessárias, a amostra mínima para o estudo foi de 16 participantes, que representam 20% da população.

Os participantes foram divididos de acordo com a ordem da realização das avaliações, sendo o primeiro avaliado pertencente ao grupo A e o segundo ao grupo B, e assim sucessivamente. Durante o intervalo entre as aulas, os participantes foram avaliados de forma idêntica. Foram coletados os dados pessoais (idade, peso, altura, estado civil). Na anamnese, foi investigada a queixa principal, informações sobre a atividade profissional e o histórico da dor, utilizando, para isso, o questionário da dor de McGill-Melzack18 e a escala numérica (EN). O PG foi identificado através da palpação como um ponto circunscrito, que apresenta espontaneamente ou a digito-pressão, hipersensibilidade, bandas tensas e dor referida. Para a mensuração da amplitude de movimento (ADM) de flexão lateral da cervical, utilizou-se o programa Goniometer Pro Preview instalado no telefone Galaxy S5, marca Samsung. Com a participante sentada, cabeça em posição neutra, o aparelho foi posicionado sobre o processo espinhoso da sétima vértebra cervical para estabelecer o 0º articular e, em seguida, foi solicitado o movimento desejado. Para mensurar o movimento de abdução do ombro, também foi utilizado o programa citado, onde a participante estava sentada, membros superiores em posição anatômica e o aparelho foi posicionado na região distal e anterior do antebraço. Por fim, foi aplicado o teste de força no músculo trapézio superior, utilizando os princípios da escala de Oxford19.

No primeiro momento, o grupo A recebeu a aplicação da BE, de acordo com o Manual de Aplicação8. As participantes do grupo B, no primeiro atendimento, receberam a aplicação da mesma técnica descrita, entretanto com esparadrapo. No término da aula e no dia seguinte, todas as voluntárias foram reavaliadas seguindo os mesmos procedimentos da avaliação. Duas semanas após a primeira aplicação, o grupo A recebeu a aplicação com esparadrapo, e o grupo B, a BE, do mesmo modo como no primeiro momento, e foram reavaliados. Vale ressaltar, que as participantes da pesquisa não foram informadas sobre qual material estava sendo aplicado, apenas foram orientadas que estava sendo colocado uma fita na região.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, sob o parecer número 987.607 e respeitou a integralidade a resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/12.

Análise estatística

Os dados foram tabulados e em seguida foram tratados estatisticamente utilizando-se o software SPSS 20.0. A normalidade das variáveis foi testada utilizando o teste Shapiro-Wilk. Para as comparações intragrupos, utilizou-se o teste de Friedman quando os dados não se apresentaram dentro dos padrões de normalidade, e o teste ANOVA para variáveis com normalidade dos dados. Os testes de pós-significância utilizados foram de Wilcoxon e Tukey HSD. A comparação entre os grupos A e B foi realizada após o cálculo das diferenças entre os três momentos de avaliação (pré-pós, pré com 24h após; pós com 24h). Para a comparação entre os grupos foram utilizados os testes Mann-Whitney (distribuição não normal dos dados) e t de Student para amostras independentes (distribuição normal dos dados). Foi adotado o valor de p igual ou menor que 0,05 para significância estatística.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 16 participantes. Nos dados demográficos da população em estudo, a diferença estatística entre os grupos foi encontrada somente no peso (p=0,04). Todos os participantes eram dominantes à direita e apresentavam banda tensa ou PG desse lado.

A tabela 1 mostra que o grupo A reduziu a dor (McGill e EN) de forma significativa. No teste pós-significância, a variável McGill apresentou diferença estatisticamente significativa entre a avaliação inicial e pós-aplicação (p=0,04) e entre a avaliação inicial e pós-24h (p=0,03) na primeira aplicação, com uso de BE. Já na segunda aplicação, com esparadrapo, houve redução da dor entre a avaliação inicial e pós-24h (p=0,03).

Tabela 1 Avaliação da dor e goniometria do grupo A (n=8) 

Primeira aplicação
Avaliação inicial Avaliação pós-aplicação Avaliação pós-24h Valor de p
McGill 10,50±6,21 8,75±6,88 3,38±3,34 0,00 a*
Escala numérica 5,50±1,41 4,25±1,49 2,75 ±1,98 0,01 b*
Goniometria
Ombro direito 162,75±14,06 163,88±11,00 160,38±9,02 0,83 b
Ombro esquerdo 159,50±15,21 154,38±13,51 157,75±10,67 0,74 b
Cervical direita 27,38±5,60 29,50±5,18 33,13±3,04 0,07 b
Cervical esquerda 30,63±6,93 31,38±5,55 33,50±4,78 0,60 b
Segunda aplicação
McGill 6,38±4,66 4,00±3,55 3,50±4,28 0,01 a*
Escala numérica 4,13±1,64 3,13±1,36 2,25±1,67 0,03 a*
Goniometria
Ombro direito 160,63±12,29 164,38±11,24 164,75±12,14 0,75 b
Ombro esquerdo 155,50±14,07 153,50±15,30 157,75±16,46 0,27 a
Cervical direita 30,38±5,45 32,25±7,05 34,63±4,21 0,34 b
Cervical esquerda 32,63±5,15 32,25±8,01 35,00±5,68 0,65 b

Fonte: dados da pesquisa.

aFriedman;

bANOVA;

*p<0,05.

A EN apresentou diferença estatisticamente significativa entre a avaliação inicial e pós-aplicação (p=0,01) e entre a avaliação inicial e pós-24h (p=0,01) na primeira (BE) aplicação. Na segunda aplicação, com esparadrapo, houve redução da dor entre a avaliação inicial e a avaliação pós-aplicação (p=0,04) e entre a avaliação inicial e pós-24h (p=0,04).

Na detecção do PG e da tensão da banda muscular, nos três momentos de avaliação, a tensão muscular diminuiu em relação à avaliação inicial, porém, o PG estava presente na avaliação pós-aplicação e pós-24h na totalidade das participantes.

Outra questão levantada pelas participantes foi a sensação de que a dor aumentou no membro contralateral à aplicação. Vale salientar que duas participantes referiram que a aplicação de esparadrapo foi mais eficaz, enquanto o restante do grupo não manifestou preferência.

Na comparação dos três momentos de avaliação do grupo B, também ocorreu redução estatisticamente significativa da dor (McGill e EN) (Tabela 2). A variável McGill apresentou diferença estatística entre a avaliação inicial e pós-24h (p=0,02) e entre avaliação pós-aplicação e pós-24h (p=0,02) no primeiro atendimento, com uso de esparadrapo. Já na segunda aplicação, com BE, a diferença ocorreu entre a avaliação inicial e pós-24h (p=0,03).

Tabela 2 Avaliação da dor e goniometria - Grupo B (n=8). 

Primeira aplicação
Avaliação inicial Avaliação pós-aplicação Avaliação pós-24h Valor de p
McGill 10,50±6,21 8,75±6,88 3,38±3,34 0,00 a*
Escala numérica 5,50±1,41 4,25±1,49 2,75±1,98 0,01 b*
Goniometria
Ombro direito 162,75±14,06 163,88±11,00 160,38±9,02 0,83 b
Ombro esquerdo 159,50±15,21 154,38±13,51 157,75±10,67 0,74 b
Cervical direita 27,38±5,60 29,50±5,18 33,13±3,04 0,07 b
Cervical esquerda 30,63±6,93 31,38±5,55 33,50±4,78 0,60 b
Segunda aplicação
McGill 6,38±4,66 4,00±3,55 3,50±4,28 0,01 a*
Escala numérica 4,13±1,64 3,13±1,36 2,25±1,67 0,03 a*
Goniometria
Ombro direito 160,63±12,29 164,38±11,24 164,75±12,14 0,75 b
Ombro esquerdo 155,50±14,07 153,50±15,30 157,75±16,46 0,27 a
Cervical direita 30,38±5,45 32,25±7,05 34,63±4,21 0,34 b
Cervical esquerda 32,63±5,15 32,25±8,01 35,00±5,68 0,65 b

Fonte: dados da pesquisa.

aFriedman;

bANOVA;

*p<0,05.

A EN apresentou diferença significativa entre a avaliação inicial e pós-24h (p=0,01) na primeira aplicação (esparadrapo). A segunda aplicação (BE), também apresentou diferença entre a avaliação inicial e pós-aplicação (p=0,04) e entre a inicial e 24h após (p=0,03).

Foi encontrado resultado semelhante ao grupo A em relação à presença de PG e banda tensa após a aplicação. No que se refere à percepção da participante, quatro delas afirmaram que o esparadrapo proporcionou um resultado mais efetivo e rápido. Em contrapartida, duas preferiram a BE.

A tabela 3 apresenta a média das diferenças da comparação entre os momentos de avaliação para os grupos A e B. Na primeira aplicação, onde o grupo A recebeu BE e o grupo B esparadrapo, foi encontrada uma diferença estatística significativa na inclinação lateral da cervical à direita, entre a avaliação inicial e pós aplicação, e entre a avaliação inicial e pós 24 horas. Já na segunda aplicação, nenhuma variável apresentou diferença.

Tabela 3 Avaliação Intergrupo - comparação das diferenças entre os grupos A e B nos dois momentos de aplicação 

Avaliações Diferença após com a inicial Diferença 24h com a inicial Diferença pós-24h
Grupo A Grupo B Valor de p Grupo A Grupo B Valor de p Grupo A Grupo B Valor de p
Primeira aplicação McGill -5,50±5,35 -1,75±2,49 0,13 a -7,625±6,63 -7,125±6,88 0,88 b -2,125±5,19 -5,38±7,58 0,15 a
Escala numérica -2,12±0,83 -1,25±1,04 0,08 b -3,25±1,83 -2,75±2,05 0,62 b -1,125±2,17 -1,50±2,14 0,73 b
Abdução do ombro direito -1,25±8,99 1,13±8,29 0,59 b 1,88±9,26 -2,375±10,29 0,40 b 3,13±5,67 -3,5±8,33 0,08 b
Abdução do ombro esquerdo 2,12±11,33 -5,125±8,43 0,17 b -0,5±14,05 -1,75±8,28 0,83 b -0,5±14,05 -1,75±8,28 0,83 b
Inclinação lateral direita 4,00±4,96 -2,5±3,55 0,01 a* 1,50±5,07 -6,5±6,97 0,02b* -2,5±3,55 -4,00±4,96 0,28a
Inclinação lateral esquerda 1,63±3,25 1,63±3,25 1,00 b 0,13±5,03 0,13±5,03 1,00 a -1,5±6,52 -1,50±6,52 1,00 a
Segunda aplicação McGill -5,25±6,41 -2,38±3,02 0,41a -7,25±7,01 -2,88±3,00 0,14 b -2,00±4,57 -0,50±0,93 0,87 a
Escala numérica -2,75±2,43 -1,00±1,07 0,09 b -2,75±3,11 -1,88±1,89 0,51 b 0,00±1,77 -0,88±1,25 0,35 a
Abdução do ombro direito 5,88±14,11 3,75±8,21 0,92 a 7,75±10,51 4,13±8,46 0,46 b 1,88±11,70 0,38±3,25 0,92 a
Abdução do ombro esquerdo 2,50±12,54 -2,00±10,64 0,45 b 1,50±11,66 2,25±11,93 0,90 b -1,00±8,65 4,25±5,44 0,17 b
Inclinação lateral direita 2,38±2,97 1,88±6,56 0,53 a 1,13±5,99 4,25±3,01 0,21 b -1,25±5,31 2,38±5,53 0,34 a
Inclinação lateral esquerda -1,88±2,10 -0,38±4,21 0,63 a 1,00±2,39 2,38±3,16 0,34 b 2,88±2,23 2,75±4,40 0,94 b

Fonte: dados da pesquisa.

aMann-Whitney,

bt de Student para amostras independentes;

*p<0,05.

O grupo B, na primeira aplicação, apresentou uma evolução mais efetiva na mensuração da inclinação lateral da cervical à direita entre a avaliação inicial e pós-24h, sendo que o grupo A regrediu em relação a essa variável no momento acima citado.

A tabela 4 apresenta a comparação entre o grupo A e o grupo B, considerando o tipo de aplicação, BE ou esparadrapo. Na aplicação de BE, a variável que apresentou diferença estatística significativa foi a EN, entre a avaliação inicial e pós-aplicação. Já na aplicação de esparadrapo, as variáveis que apresentaram diferença estatística foram goniometria da inclinação lateral da cervical à direita, entre a avaliação inicial e pós-aplicação, e entre inicial e pós-24h e, goniometria da inclinação lateral da cervical à esquerda, entre a avaliação inicial e pós-aplicação.

Tabela 4 Avaliação intergrupos - comparação das diferenças entre os grupos A e B para aplicação de bandagem elástica e esparadrapo  

Avaliações Diferença apóscom a inicial Diferença 24h com a inicial Diferença pós-24h
Grupo A Grupo B Valor de p Grupo A Grupo B Valor de p Grupo A Grupo B Valor de p
Grupo A McGill -5,50±5,35 -2,38±3,02 0,24 a -7,62±6,63 -2,87±3,00 0,09 b -2,12±5,19 -0,50±0,93 0,41 b
Escala numérica -2,12±0,83 -1,00±1,07 0,03 b* -3,25±1,83 -1,87±1,89 0,16 b -1,12±2,17 -0,87±1,25 0,78 b
Abdução do ombro direito -1,25±8,99 3,75±8,21 0,26 b 1,87±9,26 4,12±8,46 0,26 b 3,13±5,67 0,38±3,25 0,25 b
Abdução do ombro esquerdo 2,12±11,33 -2,00±10,64 0,46 b -0,50±14,05 2,25±11,93 0,67 b -0,50±14,05 4,25±5,44 0,39 b
Inclinação lateral direita 4,00±4,96 1,87±6,56 0,48 b 1,50±5,07 4,25±3,01 0,21 b -2,50±3,55 2,38±553, 0,07 a
Inclinação lateral esquerda 1,63±3,25 -0,37±4,21 0,31 b 0,12±5,03 2,38±3,16 0,42 a -1,50±6,52 2,75±4,40 0,28 a
Grupo B McGill -5,25±6,41 -1,75±2,49 0,23 a -7,25±7,01 -7,13±6,88 0,97 b -2,00±4,56 -5,38±7,58 0,19 a
Escala numérica -2,75±2,43 -1,25±1,04 0,14 b -2,75±3,11 -2,75±2,05 1,00 b 0,00±1,77 -1,50±2,14 0,17 a
Abdução do ombro direito 5,88±14,11 1,13±8,29 0,66 a 7,75±10,51 -2,38±10,29 0,07 b 1,88±4,00 -3,50±8,33 0,29 a
Abdução do ombro esquerdo 2,50±12,54 -5,13±8,43 0,18 b 1,50±2,00 -1,75±8,28 0,53 b -1,00±8,65 -1,75±8,28 0,86b
Inclinação lateral direita 2,38±2,97 -2,50±3,55 0,00 a* 1,13±5,99 -6,50±6,97 0,03 b* -1,25±5,31 -4,00±4,96 0,30 b
Inclinação lateral esquerda -1,88±2,10 1,63±3,25 0,03 a* 1,00±2,39 0,13±5,03 1,00 a 2,88±2,23 -1,50±6,52 0,06 a

Fonte: dados da pesquisa.

aMann-Whitney,

bt de Student para amostras independentes;

*p<0,05

Percebe-se que tanto no momento BE como esparadrapo, o grupo A apresentou redução da dor (McGill e EN) maior que o grupo B.

DISCUSSÃO

Os resultados demostraram que a BE e o esparadrapo reduzem a dor (McGill e EN) e não há diferença estatisticamente significativa entre ambos.

De acordo com a hipótese proposta por Simons, a região em torno do PG está em um estado isquêmico, resultando em falta de oxigênio e glicose para o metabolismo. Após o relaxamento do PG, o fluxo sanguíneo para o tecido é ativado, permitindo a perfusão de oxigênio para que o músculo esquelético possa recuperar a homeostase20,21.

O mecanismo de ação da BE está correlacionado a essa hipótese pelo fato de a mesma elevar o espaço subcutâneo, o que levaria ao aumento da circulação e remoção do calor produzido pela inflamação. E, devido à redução da pressão nos nociceptores, a sensação de dor diminuiria2.

O estímulo aferente, que é promovido tanto pela aplicação de BE como de esparadrapo, pode ser citado como outro mecanismo de ação. Conforme a Teoria da Comporta de Melzack e Wall, a velocidade do estímulo proprioceptivo é maior, inibindo, dessa forma, a transmissão de sinais nociceptivos ao nível espinhal em condições de dor musculoesquelética crônica, conduzindo à atenuação da experiência dolorosa11,22-24.

Resultado semelhante foi encontrado com a aplicação de BE em pacientes com PG latente no músculo esternocleidomastoideo, sendo que ocorreu redução da dor e aumento da amplitude de movimento da articulação quando comparado ao grupo controle, que não recebeu atendimento1.

Para que ocorra a elevação do espaço subcutâneo, melhora da circulação sanguínea e consequentemente redução da dor, é necessário que a BE seja aplicada com o músculo em alongamento para gerar circunvoluções14. Porém, um estudo obteve redução similar na intensidade da dor e na incapacidade em pacientes tratados conforme o manual de tratamento do Método Kinesiotaping e aqueles que receberam a aplicação de BE sem tensão, e não criando circunvoluções15.

Comparando novamente a aplicação de BE com e sem tensão, a diferença estatisticamente significativa existiu apenas até o terceiro dia, o que indica que os potenciais benefícios da aplicação da bandagem são imediatos. Em relação à mensuração da dor e incapacidade, não foram encontradas diferenças entre os grupos13.

Esses estudos corroboram os resultados encontrados, pois na aplicação de esparadrapo, as circunvoluções não foram geradas e ambos os materiais reduziram a dor (McGill e EN) de forma significativa, remetendo-se esse fato ao efeito exteroceptivo.

Em relação à amplitude de movimento da articulação, o músculo com PG apresenta-se rígido, com os sarcômeros encurtados, que ocasionam a restrição do movimento. Quando tratada a dor miofascial, a função muscular deve aumentar, as fibras musculares relaxam e, por conseguinte, a redução da rigidez muscular e o aumento da amplitude de movimento são de se esperar25-27.

Não foi encontrada alteração estatisticamente significativa na amplitude de movimento na pesquisa. Isso pode ser explicado pelo fato de o PG estar presente na totalidade dos participantes após a aplicação dos materiais, embora a sensação dolorosa tenha reduzido.

O estudo apresentou limitações quanto ao tamanho da amostra e sugere-se para futuras pesquisas utilizar o algômetro para determinar a sensação dolorosa.

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo demonstraram que a aplicação de BE apresentou o mesmo efeito da aplicação de esparadrapo para a redução do quadro álgico e aumento da amplitude de movimento. São necessários estudos futuros para elucidar os efeitos clínicos da BE, visto que o mecanismo de ação, conforme o criador da técnica, são as circunvoluções. Porém, com a aplicação de esparadrapo, elas não são geradas e foram encontrados resultados positivos.

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