versão impressa ISSN 0101-2800versão On-line ISSN 2175-8239
J. Bras. Nefrol. vol.39 no.2 São Paulo abr./jun. 2017
http://dx.doi.org/10.5935/0101-2800.20170027
A doença renal crônica (DRC) é um importante problema de saúde que afeta cerca de 13% da população adulta global.1 O tratamento da DRC avançada, referido como doença renal terminal (DRT), é dispendioso e pode representar um fardo econômico substancial tanto para países desenvolvidos, quanto para países em desenvolvimento. Não raramente, os países podem gastar mais de 8% do orçamento de saúde com o tratamento de menos de 2% da população.2
As modalidades de terapia renal substitutiva (TRS) na DRT incluem hemodiálise (HD), diálise peritoneal (DP) e transplante renal. A grande maioria dos pacientes com DRT são tratados mundialmente por hemodiálise, mas a modalidade de TRS que oferece a melhor sobrevida e a melhoria da qualidade de vida é o transplante renal.3,4 Dados de países desenvolvidos, e em desenvolvimento, indicam que o transplante renal representa a modalidade de melhor custo-benefício na TRS.5-7
Na presente edição da revista, Gouveia e cols.8 apresentam uma análise interessante do impacto econômico do programa TRS em Curitiba, Paraná, Brasil, empregando revisão de gráficos e análise de custos por procedimento por um período de 6 meses. Os custos relacionados aos medicamentos e admissões hospitalares foram estimados e levados em consideração. Apesar das dificuldades inerentes à estratégia adotada para estimar os custos das diferentes modalidades de TRS, os autores concluíram que, a partir do segundo ano, os custos anuais do transplante renal eram substancialmente inferiores aos de outras modalidades de TRS. Também foram feitas comparações entre DP e hemodiálise, tanto pelo sistema público de saúde como pelas organizações privadas de planos de saúde. Com base em suas descobertas, que estão de acordo com estudos anteriores,5-7 os autores sugerem que as políticas de cuidados de saúde em relação ao tratamento da DRT devem ser direcionadas para a modalidade mais econômica: o transplante renal.
Será o transplante de rim a principal modalidade para tratar a DRT em um futuro próximo? Atualmente, a resposta a esta questão é quase certamente "Não", principalmente por causa da proporção desfavorável entre oferta e procura de órgãos. Mesmo em países com melhores desempenhos, a taxa de doadores falecidos é inferior a 50 pmp, com a maioria dos países do mundo estando muito abaixo desses números.9 Se considerarmos que, nos países desenvolvidos, as taxas de incidência anual de DRT tratada variam de 350 a 450 pacientes pmp,10 pode-se concluir que a diálise continuará sendo a principal terapia para DRT por um longo período de tempo.
A taxa de incidência anual de DRT tratada em países em desenvolvimento é, em geral menor, talvez devido ao acesso restrito ao tratamento, mas, em geral, também excede a taxa de doação anual. No Brasil, por exemplo, a taxa de incidência anual estimada de DRT em 2014 foi de 180 pmp,11 enquanto que a taxa anual de órgãos de doadores falecidos foi de 14 pmp.12
A conclusão de que a diálise continuará como o principal modo de TRS por anos não deve ser vista como um obstáculo para estimular o transplante renal. Em consonância com a conclusão do estudo de Gouveia e cols.,8 é nossa opinião que o sistema de saúde pública, bem como as organizações privadas de planos de saúde, devem empreender esforços para incentivar o transplante renal como principal modalidade de tratamento de DRT, promovendo a expansão do conjunto de doações e fornecendo um financiamento adequado.