Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194
Acta paul. enferm. vol.29 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2016
http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201600012
A terapia intravenosa é amplamente utilizada em ambientes hospitalares, principalmente por meio da inserção de cateteres venosos periféricos. A maioria dos cateteres são removidos devido a ocorrência de complicações, fim do tratamento ou ausência de uso.1Destaca-se como complicações locais associadas ao uso de cateter intravenoso periférico: hematoma, trombose, flebite, tromboflebite, infiltração, extravasamento, infecção local e espasmo venoso.2 Valores superiores a 70% dos pacientes internados em instituições hospitalares necessitam de cateter venoso periférico. Nos Estados Unidos da América (EUA) cerca de 200 milhões de cateteres são usados anualmente.3 Na Espanha, aproximadamente 50% dos pacientes internados recebem um cateter intravenoso, sendo 95% periféricos.4 Outros estudos apontam taxas de uso de cateter venoso periférico em 86,4%5 e 80,6%6 dos pacientes.
Destarte, o conhecimento técnico-científico dos enfermeiros e equipe de enfermagem sobre a terapia intravenosa garantem a eficácia no tratamento e a qualidade do cuidado prestado, tornando-se imprescindível o conhecimento da melhor tecnologia e das práticas de cuidado cientificamente comprovadas. Justifica-se, portanto, a importância desta pesquisa para a prática de cuidados diários da equipe de enfermagem, por produzir conhecimento e evidências científicas a fim de subsidiar a tomada de decisão do profissional enfermeiro quanto ao cateter venoso periférico mais adequado aos pacientes submetidos à terapia intravenosa. Assim, o objetivo dessa pesquisa foi analisar as complicações decorrentes do uso de cateter venoso periférico em adultos.
Trata-se de um ensaio clínico randomizado controlado realizado em unidades clinicas e cirúrgicas de um hospital universitário de grande porte. A randomização deu-se por amostragem aleatória sistemática, na qual foram compostos dois grupos: cateter de segurança completo (Grupo Experimental) e cateter curto flexível (Grupo Controle). O cateter de segurança completo é constituído por agulha siliconizada com bisel biangulado e trifacetado conectada ao mandril por meio de guia metálico e puxador; confeccionado de biomaterial poliuretano; possui dispositivo de proteção total da agulha, ativado no momento posterior à punção; asas com ranhuras; tubo extensor vinílico transparente; tampa filtro da câmara de refluxo do tipo biosseletivo; clamp de corte rápido; duas vias de acesso composta por conector fêmea em “Y”, sendo uma conexão Luer-Lok® e outra com dispositivo plugue macho removível. O cateter curto flexível é do tipo sobre agulha, com dispositivo de segurança interno (acionado passivamente) e aleta, de uso único e descartável, necessita de um extensor acoplado a ele, para que a infusão ocorra; os extensores utilizados na instituição de pesquisa contemplavam as dânulas, os equipos simples e extensores intermediários de duas ou quatro vias de acesso. A variável complicação local do cateterismo venoso periférico foi o desfecho primário e abrangeu a ocorrência de flebite, tromboflebite, extravasamento, infiltração, obstrução, tração acidental do cateter e infecção local, avaliadas conforme guidelines internacionais.2
Os participantes foram pacientes adultos, maiores de dezoito anos de idade, internados nas unidades que necessitavam de terapia intravenosa periférica. O objeto de estudo foram os cateteres venosos periféricos inseridos. Foram critérios para a inclusão dos participantes: pacientes com necessidade de obtenção de acesso venoso periférico para terapia intravenosa; previsão de permanência de internação superior a 96 horas para tratamento clínico e/ou cirúrgico; não inclusão anterior na pesquisa e utilização do cateter já randomizado. Os critérios de exclusão foram: impossibilidade de punção venosa periférica pela presença de fragilidade capilar, condições clínicas que contraindicassem a punção periférica, especificadas pelo médico responsável, bem como alterações locais que impossibilitassem a punção venosa.
O período de coleta de dados foi de agosto a novembro de 2014, no qual atingiu-se o número de participantes proposto pelo cálculo amostral (nível de significância de 5% e poder de teste 0,80). Previamente à coleta, houve a capacitação dos pesquisadores por meio de reuniões para padronização da coleta e dos conceitos abordados (durabilidade aproximada de 30 horas) e durante a execução do teste piloto realizada em pares. A coleta foi diária, em duplas, na qual ocorria a reposição de materiais, atualização da lista de pacientes internados e solicitação de autorização (TCLE), análise das inclusões e randomização, leitura dos registros, busca ativa de participantes, observação direta do cateter puncionado no paciente e controle das complicações.
As equipes de enfermagem das unidades pesquisadas também participaram de capacitação. Foram 34 reuniões, de durabilidade de 40 a 60 minutos, presença de 109 colaboradores, e ocorreu mediante aula expositiva dialogada (conceitos padronizados conforme guideline internacional),2 visualização de vídeo ilustrativo e oficina de punção.
Os dados foram coletados em instrumento próprio, estruturado, que continha variáveis sóciodemográficas; clínicas; relacionadas ao cateter e de desfecho. O paciente foi acompanhado diariamente desde a inclusão na pesquisa até a retirada do cateter.
Na análise dos dados descritiva, determinou-se frequências absolutas e percentuais e medidas de tendência central e dispersão (média e desvio padrão). Em análise univariada, as características dos grupos de cateter foram comparadas, mediante os testes do Qui-quadrado, Fisher, G de Willians, U de Mann-Whitney e o teste binomial de proporções. Em todos os testes considerou-se nível de significância de 5%. Confeccionou-se uma curva de sobrevida, da data da punção até o surgimento de complicações, para cada grupo, usando o estimador produto limite de Kaplan-Meier. Para comparar as curvas obtidas, o teste de Mantel-Haenzel (log-rank) foi utilizado a um nível de 5% de significância.
O estudo foi registrado na Plataforma Brasil sob o número do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAEE) 30398914.9.0000.0102.
Foram elegíveis para inserção na pesquisa 193 participantes, destes 23 foram excluídos da análise dos dados, um desistiu da participação, e 169 pacientes foram incluídos (90 do grupo experimental e 79 do controle); avaliou-se somente um cateter por paciente; todos os registros não informados foram suprimidos das análises estatísticas.
A amostra foi homogênea e caracterizou-se em sua maioria de etnia caucasóide, faixa etária aproximada de 50 anos de idade, escolaridade ensino fundamental incompleto, ocupação aposentado, não tabagista e não etilista, com histórico familiar de hipertensão arterial sistêmica. Houve maioria do sexo masculino no grupo controle e sexo feminino no experimental. Predominou o setor de internamento em clínica médica masculina, diagnóstico clínico de doenças do aparelho digestivo, nenhuma comorbidade associada, não realização de procedimentos cirúrgicos durante o internamento, ausência de processo infeccioso e desfecho do internamento a alta hospitalar. Quanto ao tempo de internação, houve maior durabilidade (em dias) no grupo controle (Tabela 1).
Tabela 1 Características sóciodemográficas, clínicas e relacionadas aos grupos de cateteres
Variável/Cateter | Grupo Experimental | Grupo Controle | p-value |
---|---|---|---|
n=90 n(%) | n=79 n(%) | ||
Dados sóciodemográficos | |||
Sexo | |||
Feminino | 48(53,33) | 34(43,04) | 0,2372** |
Masculino | 42(46,67) | 45(56,96) | |
Idade | 90(54,5±18,05) | 79(54,53±16,55) | 0,9159† |
Etnia caucasóide | 79(87,78) | 61(77,22) | 0,2138* |
Ensino fundamental incompleto | 43(47,78) | 29(36,71) | 0,0681* |
Ocupação aposentado | 29(32,22) | 32(40,51) | 0,9375* |
Dados Clínicos | |||
Histórico familiar de hipertensão arterial sistêmica | 47(52,22) | 47(59,49) | 0,4271** |
Tabagismo não referido | 68(75,56) | 49(62,03) | 0,0732** |
Etilismo não referido | 78(86,67) | 64(81,01) | 0,3656* |
Clínica Médica Masculina | 24(26,67) | 25(31,65) | 0,5221* |
Tempo de Internação | 86(11,53±8,40) | 76(13,14±8,82) | 0,1861† |
Diagnóstico de doenças do aparelho digestivo | 29(32,22) | 24(30,38) | 0,6538* |
Nenhuma comorbidade associada | 62(68,89) | 54(68,35) | 0,8618* |
Procedimento cirúrgico não realizado | 73(81,11) | 55(69,62) | 0,1163** |
Ausência de infecção pré-existente | 65(72,22) | 48(60,76) | 0,2320** |
Alta / Transferência de Unidade | 85(94,44) | 74(93,67) | 0,7899* |
Dados do cateter | |||
Calibre 20 Gauge | 66(73,33) | 47(59,49) | 0,2397** |
Local membro superior esquerdo | 62(68,89) | 40(50,63) | 0,0236** |
Região de antebraço | 59(65,56) | 48(60,76) | 0,7233* |
Sucesso de punção na 1ª tentativa | 76(84,44) | 51(64,56) | 0,0427* |
Soluções e planos de soro | 51(56,67) | 42(53,16) | 0,7629** |
Sedativos e analgésicos | 60(66,67) | 51(64,56) | 0,8998** |
Outros medicamentos | 75(83,33) | 65(82,28) | 0,9817** |
Permanência ≥ 72 horas | 54(60,00) | 47(59,49) | 0,9281** |
*Teste G de Williams; **Teste Qui-Quadrado; †Teste U de Mann-Whitney
A predominância nos dois grupos de cateteres ocorreu no calibre de número 20; localização em MSE, região de antebraço e sucesso de punção na primeira tentativa. Com relação à utilização dos dispositivos, nos dois grupos houve uso prevalente de soluções e planos de soro, sedativos e analgésicos e outros medicamentos (os quais não faziam parte das classificações contempladas) (Tabela 1), mas minoritariamente na utilização de antimicrobianos, eletrólitos, anticoagulantes, drogas vesicantes e corticosteróides.
A maioria dos cateteres ficou inserido por dois dias. Ao citar o tempo de permanência em horas, a maioria dos cateteres permaneceu inserido por tempo igual ou superior a 72 horas (Tabela 1). O cateter do grupo experimental permaneceu inserido sem complicações em média 3,73 (±2,25) dias e máximo de dez dias, enquanto que o cateter do grupo controle conservou-se por 3,28 (±1,66) e máximo de sete dias. Dentre os motivos de retirada predominou a alta hospitalar, seguido de flebite. Houve diferença significativa entre os grupos nas variáveis: localização de punção (p=0,0236) e número de tentativas de punção (p=0,0047), ou seja, a proporção de cateteres do grupo experimental puncionados em MSE foi significativamente superior aos do grupo controle, quando comparados ao MSD e a proporção de sucesso de punção na primeira tentativa foi superior nos dois grupos.
As taxas de complicações estão descritas na tabela 2, considerando os dois grupos de cateter, o experimental e controle. Não houve diferença estatística significativa entre os dois grupos quanto à ocorrência de complicações.
Tabela 2 Distribuição das complicações nos grupos
Variável/Cateter | Total | Grupo Experimental | Grupo Controle | p-value |
---|---|---|---|---|
n=169 n(%) | n=90 n(%) | n=79 n(%) | ||
Complicação | 94(55,62) | 50(55,56) | 44(55,70) | 0,4927* |
Flebite | 31(18,34) | 19(21,11) | 12(15,19) | 0,6147** |
Infiltração | 20(11,83) | 11(12,22) | 9(11,39) | |
Obstrução | 19(11,24) | 8(8,89) | 11(13,92) | |
Tração | 16(9,47) | 8(8,89) | 8(10,13) |
*Teste binomial entre duas proporções; **Teste G de Williams
Ao considerar somente os cateteres que desenvolveram complicações (n=94; n=50 Grupo Experimental; n=44 Grupo Controle), evidenciou-se o membro superior direito com maior propensão ao desenvolvimento de complicações no grupo experimental e o membro superior esquerdo no grupo controle (p=0,0234). O sucesso na primeira tentativa de punção foi estatisticamente significativo (p=0,0289) nos dois grupos.
Referente aos cateteres que desenvolveram flebite predominou o calibre 20G, punção em membro superior esquerdo, na região do antebraço, uso de outras drogas e permanência igual ou superior a 72 horas, bem como a não infusão de eletrólitos, anticoagulantes, drogas vesicantes e corticosteróides. No grupo experimental destacou-se o uso de analgésicos e sedativos, soluções e planos de soro e a não administração de antimicrobianos. No Grupo Controle prevaleceu a infusão de soluções e planos de soro e não administração de analgésicos e sedativos. Não houve diferenças significativas entre as variáveis analisadas e a ocorrência de flebite.
A flebite apresentou-se nos diferentes graus, sendo predominante o grau I, seguida de grau II. Somente o Grupo Experimental apresentou o grau III. Não houve desenvolvimento de flebite grau IV em ambos grupos analisados.
Na comparação entre os grupos de cateter que desenvolveram infiltração, nos dois grupos de cateteres, o calibre mais usado foi o 22 gauge, puncionados na região do antebraço, infusão minoritária de eletrólitos, anticoagulantes e drogas vesicantes e administração de outras drogas. No grupo experimental o local mais puncionado foi o membro superior esquerdo, ausência do uso de antimicrobiano, infusão de analgésicos e sedativos e soluções e planos de soro, permanência igual ou superior a 72 horas foi predominante. A infiltração foi significante (p=0,0379) para punções em membro superior esquerdo no grupo experimental e membro superior direito no grupo controle.
Dentre os cateteres que desenvolveram obstrução, destacaram-se, nos dois grupos de cateteres, o calibre 22 gauge; inseridos na região do antebraço; ausência de infusão de: antimicrobianos, sedativos e analgésicos, eletrólitos, anticoagulantes, drogas vesicantes e corticosteróides; uso de soluções e planos de soro e outras drogas. No Grupo Experimental, predominou a punção em membro superior direito e permanência por tempo inferior a 72 horas, enquanto que no Grupo Controle, membro superior esquerdo e permanência igual ou superior a 72 horas. Não houve diferença significativa entre as variáveis analisadas para a obstrução.
A comparação entre as variáveis do cateter e a complicação tração, para os dois grupos, foi semelhante. Foram predominantes o calibre 20 gauge, inserção em membro superior esquerdo, na região do antebraço, utilização do cateter para infusão de sedativos e analgésicos, soluções e planos de soro e outros medicamentos, mínimo uso para infusão de eletrólitos, drogas vesicantes, anticoagulantes e corticosteróides, tempo de permanência inferior a 72 horas. Não ocorreram diferenças estatísticas significativas entre as variáveis.
Estimou-se a sobrevida para todas as complicações, bem como para as quatro mais frequentes nessa pesquisa: flebite, infiltração, obstrução e tração. Não houve diferença significativa entre as curvas. Entretanto, para o desenvolvimento de complicações (p=0,0650), após o quarto dia a sobrevida foi maior no grupo experimental. Ao comparar os grupos, quanto à ocorrência de flebite, a função de sobrevida do grupo experimental foi menor somente no terceiro dia de permanência do cateter (p=0,2900). A sobrevida foi semelhante para infiltração até o segundo dia, após o terceiro ela foi superior no experimental, quando comparado ao Grupo Controle (p=0,1650). Para a ocorrência de obstrução a sobrevida do Grupo Experimental foi menor do segundo dia de permanência do cateter até o quinto dia. (p=0,9510). A tração obteve sobrevida maior para o grupo experimental a partir do segundo dia (p=0,3950) (Figura 1).
Quanto aos resultados, a população apresentou-se homogênea, predominantemente de etnia caucasiana, faixa etária 50 anos, similaridade entre os sexos, ausência de relatos de tabagismo e etilismo, histórico de hipertensão arterial sistêmica e ausência de comorbidades, corroborando com diversos estudos que avaliaram os cateteres venosos periféricos.4,7-13
Com relação às características dos cateteres, estudos apontam o calibre 20 como mais utilizado,10-14 localização em membro superior esquerdo3,10 e região de antebraço,1,8,9,13 sucesso de punção na primeira tentativa,1,4 e permanência do cateter acima de 72 horas8-10,13,15 assim como os achados dessa pesquisa. O uso de antimicrobianos, nessa pesquisa, foi divergente de estudos que apontam seu uso frequente.1,3,4,14,15
Taxas semelhantes de complicações no cateterismo venoso periférico são encontradas em 52%7 e em 51,1%4 dos cateteres. Dados apontam maior proporção de complicações no cateter venoso periférico no sexo feminino (p=0,0300), em pacientes com idade igual ou maior de 85 anos, quando comparado à participantes com idades inferiores a 65 anos (p=0,0500), punção na região do antebraço ao comparar com outras regiões de punção (p≤0,0001) e outras regiões puncionadas comparadas às mãos ou pulso (p=0,0300),9 mas nessa pesquisa não houve relações significativas para nenhuma das variáveis analisadas. Quanto ao tempo de permanência, a literatura não recomenda a troca do cateter programada, e sim quando clinicamente indicada, por ser segura, proporcionar conforto ao paciente e reduzir custos à instituição.16-18
Ao considerar a taxa de flebite, houve similitude quando comparado a outros estudos com 17,58%19 (n=148); 15,4%13 e 16,9%4 (n=101). Nessa pesquisa não foram encontradas associações significativas entre a flebite e as variáveis relacionadas aos cateteres. Análises independentes de estudos apontam relações significativas para o desenvolvimento de flebite, entre elas: punção de membros inferiores (p=0,015) e uso de antimicrobiano (p=0,009);12 local de punção em fossa cubital foi vulnerável a flebites de graus mais severos, quando comparada ao antebraço (p<0,05);20 zonas de flexão ou grande mobilidade contribuem para ocorrências de flebites traumáticas;12 sistema fechado de infusão reduz as taxas de flebite em 29% (p=0,004);4 idade (entre 60-100 anos), fumo, internação em enfermaria clínica, geriatria e cardiologia, admissão de urgência, uso de antimicrobiano endovenoso, cateter inserido no dorso da mão, calibres 22 e 24 gauge e outros materiais do cateter diferentes do poliuretano;13 fumo (p=0,030), diabetes (p=0,003), calibre 18 gauge (p=0,031), puncionados em região de fossa antecubital (p=0,001), tempo de permanência superior a 49 horas (p=0,0000), infusão contínua (p=0,039), uso de antimicrobianos (p=0,002);21 tempo de internação superior a 18 dias (p=0,002) e tempo permanência acima de 72 horas (p=<0,001).10 Estudo que relacionou o tempo de permanência do cateter e a flebite identificou seu desenvolvimento em 28% dos cateteres entre o quarto e quinto dias de permanência (p=0,03).22 Corroborando aos achados dessa pesquisa, estudo apontou o grau I como o mais incidente em 94,4% dos cateteres e o grau mais grave foi o III.13 Outros estudos apontam o grau I predominante em 77,66%,22 46,2%10 e 41,6%,8 seguido de 22% grau II,22 40%,10 e 37,5%.8 O grau III, encontrado apenas no grupo experimental, foi apontado com taxas de 12%,22 16,7%,819,3%,23 18,3%,10 9,9%15 e 7,2%.12 Contrapondo os dados apresentados nessa pesquisa, na qual não houve desenvolvimento de flebites de grau IV, ocorreram flebites nesse grau, em estudos com taxas de 4,2%,8 2,2%12 e 22,8%.23 Ao relacionar o tempo de permanência e os graus de flebite, os resultados apontam flebite grau I e II para cateteres que permanecem inseridos por até 72 horas e grau III e IV após 72 horas de inserção com diferença estatística significativa (p=0,006), bem como relação significativa (p= 0,0130) para o grau I em região de dorso de mãos e graus II, III e IV em região do antebraço.23
A ocorrência de infiltração teve taxas próximas às encontradas na literatura, as quais foram mensuradas em 12,5%24 e 13%.12 Nessa pesquisa não houve diferença significativa entre as variáveis analisadas para a obstrução, mas estudo realizado em pacientes cirúrgicos apontou que o calibre 22 gauge, utilizado em 8,1% dos participantes, apresentou mais casos de obstrução, com diferença estatística comprovada (p=0,0004).25 Taxas equivalentes foram resultantes em 10%9 (n=11 de 110 cateteres) e em 11,7%12 para obstrução ou perda de função. Para tração, semelhante ao encontrado nessa pesquisa, estudos mensuram taxas de 10,2%,4 7,8%,24e entre 6 e 9%.14
A ausência de registro de informações referentes às punções venosas nos prontuários dos pacientes foi fator limitante à essa pesquisa. Assim, ao término do teste piloto, além das leituras de anotações de enfermagem, realizou-se busca ativa sobre essas informações, mediante avaliação diária nas enfermarias das unidades pesquisadas, bem como questionamentos direcionados aos funcionários e colaboradores, a fim de sanar vieses de preenchimento do instrumento de coleta de dados, atingindo a precisão das informações necessárias para a condução da pesquisa. Estudo realizado na Austrália, com 327 pacientes, dos quais 190 (86,4%) receberam cateterização venosa periférica, identificou ausência nos registros de cuidados diários dos pacientes sobre as punções venosas e sua utilização e ressaltou a importância da capacitação dos profissionais, bem como a promoção de boas práticas clínicas.5
A aplicabilidade dos resultados dessa pesquisa se dá no sentido de auxiliar o profissional na escolha da melhor ou mais apropriada tecnologia de cateter venoso periférico adequada à terapêutica prescrita ao paciente no processo de cuidar. Os achados podem permear políticas públicas, diretrizes clínicas, protocolos e procedimentos padrões no cuidado ao paciente, com vistas à redução da ocorrência de complicações.
A taxa de complicações no cateterismo venoso periférico foi alta, mas quando comparados, o cateter de segurança completo obteve taxas menores de complicações, obstrução e tração, sem diferença estatística significativa, após o quarto dia de sobrevida.