versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.114 no.1 São Paulo jan. 2020 Epub 10-Fev-2020
https://doi.org/10.36660/abc.20190810
A terapia anti-infecciosa bem-sucedida de pacientes submetidos ao tratamento contemporâneo do HIV reduziu a mortalidade em 51% entre 2007 e 2017, em associação com uma diminuição de 17% na incidência; uma redução na mortalidade associada a uma menor redução na incidência significa mais pessoas vivendo com a doença causada pelo HIV.1 No Brasil, a taxa anual de mudança na mortalidade foi de -1,2% (-1,4% a -1,0%).2 Em muitos países, a taxa de sobrevivência dos pacientes aumentou.3 Portanto, outras doenças não-infecciosas, como doenças cardiovasculares prevalentes, chamaram a atenção dos médicos responsáveis pelos pacientes.4
A prevenção é uma das bases dos cuidados de saúde dos pacientes. Os pacientes em tratamento bem-sucedido do HIV podem sofrer condições assintomáticas ou sintomáticas que podem ser fatores de risco para doenças cardiovasculares5 ou apresentar anormalidades metabólicas6 que precisam de atenção médica. Além disso, novas tecnologias foram estudadas a fim de investigar mais profundamente a saúde vascular, como triagem ou ferramenta diagnóstica ou estratégias de tratamento.3
Estudos anteriores foram realizados em populações brasileiras de diferentes regiões geográficas. A mediana da espessura da íntima-média da carótida foi de 0,54 (0,49, 0,62) mm em 535 pacientes infectados pelo HIV no Rio de Janeiro, 0,58 (0,52, 0,68) mm em 88 controles saudáveis e 0,57 (0,49, 0,70) mm em 10.943 participantes de uma grande coorte; as diferenças não foram significativas após o ajuste para variáveis de confusão.7
No estado do Paraná, em uma amostra de 538 pacientes, foi diagnosticada hipertensão em 24,4%, hipercolesterolemia em 18,2%, HDL-colesterol baixo em 39,7%, hipertrigliceridemia em 51,3% e glicemia sérica alta em 33,3% dos pacientes.5 No estado de Minas Gerais, o estudo de uma amostra transversal de 133 pacientes em comparação com 20 controles saudáveis demonstrou que a resistência à insulina era mais comum entre os pacientes infectados e sugeriu o índice do Produto da Acumulação Lipídica como um novo biomarcador de risco cardiovascular em pacientes com HIV.8
Na edição atual dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Leite et al.,9 relatam uma experiência brasileira adicional em Recife, estado de Pernambuco. Eles avaliaram uma amostra de conveniência de 99 pacientes assintomáticos com baixo risco cardiovascular e níveis plasmáticos indetectáveis de RNA do HIV em pacientes recebendo tratamento para HIV em comparação com 16 controles para um conjunto de biomarcadores inflamatórios - IFN-g, TNF-a, IL-1b, IL-6, sVCAM-1 e sICAM-1 e espessura íntima-média da carótida. Após análise multivariada, eles encontraram uma associação significativa entre TNF-a e IL-1b com o risco de maior espessura íntima-média da carótida em pacientes infectados pelo HIV. Eles reproduziram os achados negativos de nenhuma diferença em relação à espessura íntima-média da carótida entre os grupos de estudo. Esses achados contribuem para a avaliação de pacientes em terapia bem-sucedida do HIV e enfatizam novamente as realizações do atendimento clínico abrangente contemporâneo dos pacientes, provavelmente incluindo o aconselhamento terapêutico de fatores de risco cardiovasculares, como tabagismo, hipertensão, dislipidemia e diabetes.